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Muita coisa divertida acontece numa viagem como a que relatamos nas três colunas anteriores. O grupo era muito unido proporcionando bons momentos durante os deslocamentos ou nas visitas às lojas de vinho da cidade de Mendoza. Vamos contar alguns destes “causos”…
1 – Os grandes vinhos provados
Houve, sem dúvida, um vinho que foi escolhido como o melhor de todos. Esta honraria foi concedida, por unanimidade, ao Paradigma elaborado no Domaine St. Diego pelo enólogo Angel Mendoza, que também foi eleita como a “melhor visita”. O problema foi que qualquer outro vinho provado depois deste ficou em segundo plano…
Para permitir uma avaliação, destacamos os seguintes vinhos degustados:
Bodega Sinfin Guarda de Família – 93 pontos Descorchados
Bodega Melipal Nazarenas Vineyard Malbec – 93 pontos Wine Enthusiast
Dominio del Plata Brioso – 93 pontos Descorchados (mesma pontuação do Bem Marco Expressivo)
Ainda de acordo com o Guia Descorchados o campeão Paradigma recebeu 94 pontos. Outro grande vinho provado, o Mariflor Camille de Michel Roland ainda não foi cotado por nenhum crítico. O Malbec Gran Reserva da Dolium, cotado com 92 pontos por Robert Parker, foi o que menos nos impressionou.
Se a St. Diego não tivesse sido a 1ª visita do dia este resultado poderia ser outro. Estratégias a serem pensadas na próxima viagem…
2 – Quase uma debandada
Estávamos a caminho da última visita do dia onde seria o nosso almoço. Atrasados, como de hábito, pois a cada vinícola multiplicavam-se os interesses, o nosso simpático motorista se perdeu e resolveu fazer uma paradinha para perguntar qual seria o melhor caminho até nosso destino. Vejam onde ele resolveu parar:
(jamon crudo = presunto crú)
O que vocês estão vendo sobre o balcão do reboque é um enorme filão de pão caseiro com uma aparência estupenda. Some a nossa fome e…
Pena que não deu tempo de provar, mas ficou anotado para uma visita futura. A foto é do Fábio.
3 – Final de tarde na cidade
No mesmo quarteirão de nosso hotel, bastando virar a esquina, estava localizada uma das melhores lojas de vinho de Mendoza, a Sol y Vino. Muito sofisticada é mais que uma simples loja de bebidas incluindo no seu leque de produtos itens como conservas, chás, objetos de decoração, etc. Ao contrário do nosso país, onde vinho é considerado um artigo de luxo e taxado de acordo, na Argentina faz parte da cesta básica, é um alimento! A seguir uma foto do salão principal para os leitores avaliarem.
Toda noite havia um evento, aberto, com vinícolas boutiques, degustação de novos produtos ou até mesmo eventos privados como o que fizemos. O grupo resolveu degustar um dos meus vinhos favoritos, o Lagrima Canela da vinícola Bréssia, um excelente corte branco de Chardonay e Semillon escolhido pelo Guia Descorchados como o melhor em sua categoria, recebendo 94 pontos.
Outros vinhos foram provados e várias compras efetuadas: os preços eram ótimos. Não existe nada parecido por aqui, pena… (foto do Marcio)
4 – As opiniões de cada um
Pedi aos companheiros de viagem que resumissem os melhores momentos: reproduzo a seguir alguns comentários:
“Para mim, os harmonizados, todos, foram o alto da viagem. Excepcionais. A qualidade dos pratos aliada à perfeita harmonização dos vinhos, em ambiente extremamente agradável e exclusivo superou todas as expectativas.
A visita ao Angel Mendoza foi também legal, especialmente pela qualidade dos vinhos.
A visita à Dolium me pareceu o ponto baixo. Não era bonita e o vinho não era bom. A Sin Fin, ao menos, tem belíssimas instalações”.
Fábio
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“Concordo com o Fábio, as harmonizações foram o forte: na Melipal, onde a carne estava deliciosa; na Suzana Balbo o lugar é fantástico. A vinícola do Angél Mendonça é realmente especial.
Toda viagem foi muito bem balanceada entre lugares arquitetônicos e produção artesanal”.
Gustavo
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“Nossa viagem foi recheada de momentos especiais, vou destacar alguns:
– Parada em Buenos Aires com almoço relâmpago no Sucre. No retorno, o Ronald resolveu encarnar no taxista que, vendo o grupo de trás rindo aos borbotões, não deixou barato. Os dois, trocando farpas em espanhol, protagonizaram uma cena hilária, impagável!
– Jantar no restaurante Ana Bistrô. Tive a sorte ao escolher um cordeiro fantástico, o melhor prato da viagem.
– Ponto alto da viagem foi a visita ao Domaine St. Diego, local belíssimo e os melhores vinhos da viagem. Considero este vinho (Paradigma) o melhor da viagem, deveria ter comprado mais.
– Gostei muito da loja de vinhos próxima ao nosso hotel, infelizmente não temos algo parecido por aqui, até porque os preços assustam e o vinho ainda é encarado como algo elitizado, uma pena.
– Por fim, não posso deixar de destacar a nossa visita a Susana Balbo. O local é muito bonito, bons vinhos e comida excelente, melhor harmonizado da viagem”.
(Lobianco, Ronald, Márcio e Fábio)
Márcio
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Ronald preferiu dividir com todos os leitores alguns instantâneos especiais. Segundo suas palavras, “pura diversão”:
(Borrachera = Bebedeira)
5 – as “últimas” garrafas
Numa das minhas visitas anteriores provei um vinho chamado Oportuno, uma das muitas aproximações a um Vinho do Porto (o nome é uma referência) produzido em Mendoza. Ficou na memória e sempre o mencionava quanto o assunto era harmonizar sobremesas.
Fiquei todo animado pois visitaríamos a vinícola que o produzia (Domaine St. Diego) e comecei a tecer loas a respeito dele. Todos se interessaram, especialmente o Ronald, apreciador deste tipo de vinho. Para aumentar as nossas expectativas, lá estava ele na carta de vinhos do Ana Bistró, no nosso jantar de boas vindas a Mendoza. Nem pedimos, queríamos provar na fonte!
Mal sabíamos que não era mais produzido. Foi aquele banho de água fria. As uvas originalmente destinadas ao Oportuno são usadas atualmente para o Pura Sangre Nueve Lunas.
Inconformado, pedi ajuda a nossa guia para saber se o Ana Bistró me venderia uma garrafa. María José descobriu que restavam apenas duas na adega do restaurante e as arrematou, me presenteando com elas.
Para não deixar de cumprir a minha promessa, repeti a gentileza entregando uma garrafa para o Ronald.
Provavelmente as últimas deste raro vinho que deixou de ser produzido há quatro anos.
Houve outro episódio semelhante. Tínhamos uma encomenda de um licor Triple Sec (à base de laranja), produzido por uma destilaria mendocina, a Tapaus, localizada do outro lado da rua em frente à Domaine St. Diego. Seria uma compra fácil, era só atravessar a rua…
Não foi bem assim! A destilaria não existe mais, os sócios se desentenderam, venderam todos os equipamentos e o antigo prédio está sendo convertido para uma olivícola e um restaurante. Outra ducha fria…
Lembramo-nos de uma lojinha, em Mendoza, que há muito tempo atrás vendia os produtos desta finada empresa e fomos até lá. Encontramos uma única garrafa à venda. Segundo a vendedora, a última…
6 – A esticada em Buenos Aires
A capital da Argentina tem outros encantos bem diferentes da “capital do vinho”. Sempre vale a pena passar alguns dias desfrutando das boas tradições Portenhas. Não tínhamos uma programação definida como em Mendoza, apenas alguns desejos e uma boa lista de encomendas, inclusive de vinhos.
Os que viajaram para o Rio no próprio domingo compraram seus vinhos nas vinícolas, nas lojas da cidade ou no free shop do aeroporto. Como só retornaríamos no meio da semana, não tinha sentido chegar a Buenos Aires com as malas cheias. Aproveitamos para garimpar em lojas que não conhecíamos. Tivemos boas surpresas.
A primeira delas foi a Alma Terra, localizada em Palermo Soho (Thames 1653 – https://es-es.facebook.com/pages/Alma-Terra/198966506860063), uma “Wine Boutique and Organic Delicatessen”.
Sua proprietária, a simpática Tamara Evans, tem a preocupação de manter um leque de produtos muito interessantes que mistura o que ela classifica como “os mais procurados” e algumas garrafas especiais para os enófilos em busca de vinhos mais exóticos. Boas compras por lá.
A outra descoberta foi ao acaso. Uma das encomendas da nossa lista era o Linda Flor Chardonnay, geralmente uma compra fácil na Tonel Privado ou na Winery, duas lojas tradicionais. Estava em falta o que nos obrigou a pesquisar em outros estabelecimentos. Já estávamos quase desistindo quando descobrimos, ao lado de nosso hotel, uma loja de artigos de couro e vinhos, a Alpataco (Quintana 450 – www.alpatacoweb.com.ar), onde fomos muito bem atendidos e encontramos o que buscávamos. Aproveitei e fiz mais umas comprinhas… Duas novas descobertas que vão entrar na nossa lista de recomendações.
Mais dois destaques, desta vez puro entretenimento:
– na 2ª feira saímos em busca de um show de música folclórica que acontecem nas Peñas, misto de restaurante e casa de show. Neste dia, só havia na La Peña del Colorado (http://www.lapeniadelcolorado.com/) oferecendo um espetáculo “Afro-Peruano”. Sem ter bem certeza do que se tratava, lá fomos nós 4 atrás de boa diversão. Valeu a pena! Apesar do vinho…
Ambiente rústico e familiar, cardápio típico, boa música e uma minúscula carta de vinhos quase desconhecidos. Para não arriscar, optamos por um Malbec Penedo Borges, que depois de todos os bons vinhos provados em Mendoza nos pareceu fora de contexto. Para acompanhar, empanadas (deliciosas) e Choripan (pão com linguiça).
Divertimo-nos muito. “Afro-Peruano” provou ser uma série de boleros e uma pitada de salsa (pista de dança aberta), muito bem interpretados pelo grupo musical que absorvia todos os músicos que apareciam por ali, com especial ênfase nos que tocavam o “cajon peruano”, uma caixa de madeira que se encarregava da percussão. Excelente. Vamos voltar lá sem dúvida.
– Para não perder o ritmo de Mendoza continuamos nossa maratona enogastronômica. Um dos destaques foi um restaurante que reabriu, em novo endereço, agraciado com o título de “melhor cozinha de Buenos Aires – 2013”, o Freud & Fahler (Cabrera y Godoy Cruz – Palermo). Como era hora do almoço, optamos pelo menu executivo da casa, 180 pesos (R$ 36,00) com entrada, prato principal, sobremesa e 1 taça de vinho. Dentre as várias opções escolhemos saladas, carne e massa, escoltados por um bom Chardonnay patagônico (o nome se perdeu em minha anotações).
O restaurante é bem simples e confortável. A base é uma padaria, a cesta de pães oferecidas como couvert era de comer rezando. A tudo estava delicioso e as porções eram mais que suficientes. Muito bom, na próxima visita vamos para o jantar que tem um cardápio muito elaborado.
Na manhã seguinte partimos de volta ao Rio de Janeiro, já sonhando com a próxima viagem. Estamos pensando seriamente em inaugurar o “Boletim Eno Tours”, muita gente interessada.
Cartas para a redação!
Dica da Semana: para não fugir do tema, mais um bom argentino, desta vez branco.
Vinho muito versátil que apresenta aromas de frutas brancas maduras, abacaxi e maçã, notas de baunilha.
Paladar frutado, refrescante, com bom corpo e estrutura.
Harmonização: peixe assado com tomilho e alecrim, espaguete com molho cremoso de queijo, salada de bacalhau, torta de palmito, quiche de alho poro, moqueca, bolinho de arroz.
88 pontos no Guia Descorchados
Nosso último dia em Mendoza seria mais curto, pois o voo de retorno à Buenos Aires era às 17:00. Parte do grupo voltaria no mesmo dia para o Rio de Janeiro enquanto minha esposa e eu, Lu e Gustavo esticaríamos um par de dias na capital da Argentina.
Seriam duas visitas somente. Na primeira, descobrimos o que é uma “vinícola ecológica”, a Bodega Dolium.
A foto mostra o que está sobre o solo, apenas o pequeno restaurante/sala de degustação e os escritórios. A parte de produção está enterrada cerca de 14m no subsolo.
Mostramos, na coluna anterior, algo parecido na Bodega Sin Fin, que colocou embaixo do solo as áreas de entretenimento, loja e degustação. Na Dolium isto foi invertido.
A ideia por trás deste curioso projeto é minimizar o consumo de eletricidade e diminuir emissões ou, no jargão dos ecologistas, reduzir a pegada de carbono (carbon footprint). Interessante notar que esta empresa não trabalha com cultivo orgânico ou biodinâmico nos vinhedos, apesar de serem opções dentro da mesma linha ecológica.
As fotos, a seguir, foram tiradas de um mesmo ponto mostrando o lado esquerdo e o direito: está é toda a área de produção. Fazia muito frio lá embaixo, mesmo a nossa guia, que é mendocina e estava bem agasalhada, não aguentou o frio neste ambiente.
Resumindo: custo zero para manter o processo em baixa temperatura. Os tanques são simples, não usam qualquer tipo de controle de temperatura. Emissões nulas. Neste aspecto é formidável!
Retornamos para a sala de degustação para uma experiência bem diferente do que nos fora oferecido até agora nas outras vinícolas: uma prova comparativa. Os vinhos seriam servidos aos pares para que pudéssemos perceber as diferentes nuances entre formas de elaboração, castas, vinhedos, etc.
A Dolium trabalha com algumas linhas de produtos que começam com a denominação Andes Peak, de viés ecológico, passa pela linha Clássica e termina com os Reserva e Gran Reserva. Nesta degustação experimentamos um rosé jovem e outro envelhecido em carvalho; dois Malbec de diferentes regiões, Lujan e Uco, além de um Tempranillo em confronto com um Cabernet Sauvignon. Ao final, dois vinhos top de linha foram servidos.
Toda esta ação foi comentada pelo nosso anfitrião que sempre se interessava pelas nossas escolhas. Diferente e esclarecedor.
A última visita do dia foi realmente um “Gran Finale”. Embora já conhecêssemos os vinhos da Domínio del Plata (Suzana Balbo), nem em sonhos poderíamos imaginar o que nos aguardava neste deliciosos almoço harmonizado no restaurante da vinícola, o “Osadia de Crear”. (faz jus ao nome…)
Vários aspectos nos chamaram a atenção: um ambiente elegante e acolhedor, a tradicional atenção com que somos recebidos nas vinícolas, a qualidade dos vinhos que seriam servidos e um cardápio cheio de alternativas entre o tradicional e o ousado. Cinco passos e cinco vinhos, com opções para os não carnívoros, o que gerou um interessante debate.
A primeira etapa foi regada pelo sempre bom Chardonnay 2012 da linha Crios. Para harmonizar foi servido um Escabeche de Coelho sobre uma Foccacia de Azeitonas. Equilíbrio correto e delicioso.
O próximo prato foi uma releitura de tradições locais, a Molleja ou glândula Timo dos bovinos, muito apreciada nestas terras. A apresentação era diferente: empanada e colocada num espetinho, acompanhada de cebolas caramelizadas, purê de batatas e alguns verdes. O vinho era o Crios Red Blend 2012, um corte de Malbec, Bonarda, Syrah e Tannat. Um verdadeiro festival de sabores e aromas que preparou o palato para o próximo passo.
Como a estação era supostamente fria, o prato seguinte foi uma sopa de Sobreasada, um embutido de carne de porco levemente picante. Uma harmonização sempre difícil, mas o bom Ben Marco Malbec 2012 cumpriu com galhardia o seu papel.
Para a próxima etapa havia duas opções: com ou sem carne. Cada uma seria acompanhada por um vinho diferente.
Obviamente a grande maioria partiu para o bife de Aberdeen Angus (raça bovina com carne muito macia) acompanhada do típico creme de milho à moda Cuyana (humita). O vinho servido foi o Ben Marco Expresivo 2013, muito bom por sinal e que proporcionou excelente casamento com o prato.
Para os que estavam mais atentos e optaram pelo prato sem carne, uma ótima surpresa estava reservada. Entra em cena o que muitos consideram como o vinho top da casa, o Susana Balbo Brioso 2012, pouco divulgado no nosso país por ter uma produção limitada.
Acompanhando este magnifico vinho, foi servido um elaborado Gnocchi feito com as borras do Brioso, com um pesto vermelho, cogumelos refogados e queijo defumado.
Supimpa! Não poderia ser melhor. Perfeito! (O mais complicado foi desviar os garfos e bocas alheias ao meu prato e vinho!)
Para terminar, foi servida a interpretação da casa sobre o que deve ser a dobradinha “doce com queijo”, harmonizada com um Susana Balbo Late Harvest Malbec 2011.
Equilíbrio inacreditável, todos gostariam de repetir, mas era hora de partir. Ainda passaríamos por algumas peripécias no aeroporto, todas resolvidas a tempo.
Na próxima coluna comentaremos sobre Buenos Aires e alguns episódios curiosos que não se encaixaram neste relato dos 3 dias.
O grupo, da esquerda para a direita: María José, nossa Guia, Diretora da Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar) e organizadora das visitas; eu, minha esposa; Gustavo e Lu; Lobianco; Fabio; Marcio e Ronald.
Dica da Semana: como o Brioso já foi sugerido numa dica mais antiga, indicamos outro bom vinho desta vinícola.
Corte de 55% Malbec, 15% Bonarda, 10% Cabernet Sauvignon, 10% Syrah e 10% Merlot, oriundos de vinhedos em Agrelo, Chacras de Coria (Luján de Cuyo), Los Arboles (Tupungato) e La consulta (San Carlos) com idade média de 36 anos em pés francos.
Apresenta aromas de groselhas, carvalho e baunilha com notas defumadas de cacau, noz-moscada e chocolate. Taninos elegantes.
Acompanha carnes, queijos fortes e molhos intensos.
Tempo de guarda de 10 a 15 anos
No dia 12 de junho deste ano no inacabado Itaquerão, que deveria ter sido chamado de “Curingão”, ocorreu o 1º jogo da tão esperada Copa do Mundo FIFA, na qual o nosso esquadrão “Canarinho” tentará ser hexacampeão, acalmando os nervos de governantes e cidadãos… Vamos torcer, obviamente, mas sem o mesmo entusiasmo observado em outras épocas, notadamente 1970.
Chega de saudosismo!
A grande novidade introduzida pela poderosa D. FIFA foi a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, que era proibida por resolução da CBF e foi, tecnicamente, ratificada pelo Estatuto do Torcedor (existem brechas jurídicas). Como um dos patrocinadores desta Copa é a Cervejaria Budweiser, da Inbev, o nosso Senado aprovou, em regime de urgência, A Lei Geral da Copa que, entre outras benesses concedidas para a D. FIFA, libera a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos.
Além da cervejota, estarão presentes 3 vinhos tranquilos brasileiros e 1 espumante, que a nossa poderosa e arrogante personagem principal decidiu que seria francês: um Taittinger. Uma tremenda deselegância com os nossos excelentes produtos. Só por isto já valia um protesto!
O Sr. Blatter, velho conhecido nosso, é um daqueles personagens que tem até assessor para pegar coisas que caem no chão. Muito necessário no caso dele, pois se abaixar, não levanta mais…
Intriga? Olha a prova aqui:
Para fornecer os vinhos, um branco, um tinto e um rosé, escolheram uma vinícola boutique localizada no Vale dos Vinhedos, a Lidio Carraro. Interessante escolha, pois esta empresa já havia fornecido os vinhos dos Jogos Pan Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Naquela época foram selecionados 5 rótulos da vinícola, entre eles, 2 espumantes.
Para a Copa foi desenvolvida uma linha especial denominada Faces FIFA World CUP™.
Segundo a vinícola:
“A cor, os aromas e os sabores do Brasil. A sua terra e a sua gente traduzidos no vinho. Um “time de uvas” em perfeita harmonia, provenientes de distintos terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade do País verde-amarelo! A combinação de uvas escolhida forma o caráter do vinho onde cada uva é responsável por um atributo na composição da cor, aroma e sabor”.
O Branco
Um corte de três uvas bem adaptadas ao terroir Gaúcho: Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Foram vinificados em separado utilizando-se métodos adequados para cada casta. Depois de amadurecidos em tanques de Inox foi feita uma assemblage na proporção de 1/3 para cada vinho.
Na taça mostra cor amarelo dourada brilhante com lágrimas preguiçosas. As primeiras notas sentidas são as que têm como origem a Moscato: rosas brancas, frutas cítricas e frutas exóticas, complementadas com notas de flor de tília e pêssego maduro passadas pelos demais vinhos. O Riesling Itálico contribui com frescor e persistência, além de uma nota delicada de flores brancas cabendo ao Chardonnay ser a estrutura de ligação entre os vinhos, contribuindo com notas frutadas, volume e consistência em boca. O retrogosto é agradável e convidativo.
O Rosé
Este vinho foi pensado para ser o preferido nas cidades de clima mais tropical. Algo para ser consumido nos dias quentes, em vez da cerveja. Um vinho descompromissado. A embalagem foi estudada para ter pouco peso e ser fechada com tampa de rosca simplificando sua abertura. Ainda assim, é um vinho elaborado com todos os cuidados exigidos e com o padrão de qualidade da Lidio Carraro.
Novamente 3 castas foram selecionadas, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional, representando as diferentes regiões onde se cultivam as viníferas no Rio Grande do Sul. O corte, obtido a partir de vinificações em separado, como no vinho branco, contemplou a seguinte proporção: 50% Pinot Noir, 35% Merlot e 15% Touriga Nacional. Segundo a Enóloga Monica Rossetti, está foi a melhor combinação, obtida após numerosos ensaios.
A coloração rosa salmão produz agradável impacto visual convidando a uma degustação descontraída. Os 50% Pinot Noir produzem um caráter essencialmente frutado, com notas como cereja, groselha e pomelo. Aromas complementares de framboesa e morango, que aparecem depois de alguns minutos de evolução na taça, são devido à casta Merlot, exercendo um papel determinante na boca, conferindo um agradável volume e um perfil refrescante e jovial ao vinho. A casta de menor proporção, Touriga Nacional, marca a personalidade do vinho com uma nota floral de rosas e especiarias orientais.
O Tinto
Foi elaborado com uma interessante característica: 11 castas diferentes, como se fosse um time de futebol, com uma escalação pensada cuidadosamente. Sem dúvida é o vinho mais interessante do grupo. A elaboração foi muito trabalhosa: cada uva foi vinificada de forma independente, utilizando diferentes processos para cada casta. A preocupação da enologia era ressaltar as diferentes combinações de solo, clima e uvas que caracterizam a produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Um resultado interessante. Eis a “escalação”:
Goleiro: Malbec;
Defesa: Tannat, Nebbiolo, Alicante e Ancelotta;
Meio-Campo: Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e Teroldego;
Ataque: Cabernet Sauvignon e Merlot.
Para o corte, os vinhos passaram por fermentação malolática e após vários testes escolheram a seguinte proporção:
50% Cabernet e Merlot;
35% Tannat, Malbec, Pinot Noir e Teroldego;
15% Ancelotta, Nebbiolo, Touriga Nacional, Tempranillo e Ancelotta.
Na taça, este vinho remete imediatamente às duas uvas “atacantes” em cor e aromas marcantes. Como num time de verdade, as “meio-campistas” marcam sua presença através de sutis notas de ameixa, chocolate, framboesa e violetas, além de proporcionar volume. Coube ao grupo da “defesa” cuidar da estrutura e dos aveludados taninos. A Malbec, firme no gol, responde pelo final de boca com suas notas frutadas e de especiarias doces.
Apesar das descrições elaboradas, fornecidas pela vinícola, são vinhos para serem consumidos já. Foram elaborados com todo o cuidado e preocupação com a qualidade, mas isto só não os torna “grandes vinhos” e nem poderia ser diferente. O principal objetivo é comemorar nas vitórias ou consolar nas derrotas. Findo o torneio, serão lembrados como bons companheiros. Tempo de guarda máximo de 3 anos.
Dica da Semana: escolham a sua versão preferida.
Faces FIFA World CUP – $
Com o fim do verão, começa, aqui no Rio de Janeiro, a temporada de eventos para a divulgação dos vinhos de diversos produtores. Fomos convidados para participar de um jantar harmonizado com os vinhos desta boa vinícola chilena. José Paulo Gils (*) representou a coluna.
A Viña Vetisquero é liderada por uma equipe jovem e criativa. Um grupo de enólogos e produtores que decidiram fazer vinhos de qualidade, modernos e fiéis à sua origem. Vinhos que revelam a sua vocação para ir “um passo adiante”.
Sob o olhar de Felipe Tosso, enólogo chefe, a vinícola nasceu no Vale do Maipo e três anos mais tarde, expandiu seus horizontes para os Vales de Casablanca e Apalta, sendo que neste último são elaborados seus vinhos premium.
A partir de vinhedos próprios e a preocupação constante com o terroir, a Viña Ventisquero se propôs a fazer uma linha de vinhos consistentes e de alta qualidade, tendo como uma das principais preocupações o respeito com o meio ambiente, minimizando os impactos decorrentes dos diversos processos de vinificação.
O objetivo do evento era apresentar a linha de vinhos Grey que forma com as companheiras Enclave, Pangea, Vertice, Heru, Queulat, Reserva e Yelcho, seu portfolio principal.
A linha Grey foi concebida como a expressão máxima do terroir, um lugar onde o clima, o solo e a variedade se reúnem sob o olhar atento dos enólogos. São vinhos equilibrados e elegantes que homenageiam cada “Single Block” (parcela única) de suas origens nos vales de Apalta, Casablanca e Maipo.
A apresentação foi dirigida pelo Enólogo Hugo Salvestrini, da Ventisquero. Na organização do evento estava a Enóloga Josi Cardoso da Importadora Cantu. A equipe do La Mole era composta por Antônio Militão, responsável pela filial de Ipanema e pelo Sommelier Ezequias Almeida que se esmerou em todos os detalhes da mesa e do serviço de vinhos, impecável!
Jantar harmonizado
A proposta do Chef Lucas Mendes contemplava opções de entradas e pratos principais, todos harmonizados por Ezequias.
O “Couvert de Queijos” foi harmonizado com o correto Grey Single Block Chardonnay, safra 2011. Obtido a partir de uvas do Vale de Casablanca, estagia em barricas de carvalho francês o que lhe transmite elegância e frescor. Muito equilibrado e com boa acidez, cumpriu sua função corretamente.
Para a “Salada Tropical” foi escolhido o Grey Single Block Merlot. Elaborado com uvas de Maipo, passa 18 meses em barris de carvalho francês. Tem boa tipicidade, intensos aromas frutados de cereja madura e ameixas, taninos na medida certa e um elegante final. Boa escolha.
O Grey Single Block Pinot Noir foi a diferente aposta para acompanhar o “Camarão com Botarga” (ova de tainha) regado ao molho do Chef. Combinação mais ousada e que deu certo. Este vinho, da região do Vale de Leyda, passa 6 meses em barris de carvalho. Mantendo as características desta casta é leve e fresco com aromas de frutas vermelhas. Muito bom.
O “Peito de Pato ao Vinho” e o “Aligot” foram combinados com o clássico Grey Single Block Carménère que amadureceu por 18 meses em carvalho. Bem equilibrado, encorpado, com taninos no ponto certo e acidez correta. Outro acerto.
Destacamos a presença de Maria Helena Dias Gomes Tauhata – Vice-Presidente da ABS Rio; Fábio Soares – Enoteca DOC; Fernando Fama – ABS Rio.
Agradecemos o convite e parabenizamos os organizadores do evento pelo sucesso deste Jantar Harmonizado, no Restaurante La Mole – Ipanema.
Um sucesso!
Dica da Semana: porque não?
Ventisquero Grey Single Block Cabernet Sauvignon
Cor rubi intensa e profunda com aromas de cassis, frutos vermelhos e toques de baunilha.Excelente estrutura de taninos firmes e maduros.Ideal para carnes com molhos sofisticados, queijos muito maduros, escalope de filet mignon, espaguete ao ragu de cordeiro, legumes cozidos, costeleta de javali com batatas amanteigadas.
(*) José Paulo Gils é Diretor da ABS Rio e nosso “comparsa” nas colunas publicadas no site O Boletim.
Recentemente dois grandes críticos publicaram suas relações dos mais pontuados vinhos do país Hermano. Nesta coluna vamos apresentar estes resultados, lembrando que o degustador designado pela Wine Advocate, de Parker, foi Luis Gutierrez.
Começamos com as notas de Stephen Tanzer que trouxeram uma bela surpresa: o vinho mais bem pontuado foi um branco, o Catena Zapata Chardonnay White Bones Adrianna Vineyard 2010, elaborado por Alejandro Vigil, principal enólogo da casa. Recebeu 95 pontos!
Um resumo da relação:
94 pontos
Catena Zapata Malbec Adrianna Vineyard 2010
Achaval Ferrer Finca Bella Vista Mendoza 2011
Viña Cobos Volturno Proprietary 2011
Terrazas de los Andes Cheval des Andes 2009
Nicolas Catena Zapata 2010
93 pontos
Vina Cobos Malbec Bramare Marchiori Vineyard 2011
Bodega Noemia Malbec 2011
Vina Alicia Cuarzo 2010
Catena Zapata Chardonnay White Stones 2010
Malbec Catena Zapata Nicasia Vineyard 2010
Susana Balbo Brioso Mendoza 2010
Casarena Malbec Jamilla’s Single Vineyard 2011
Terrazas de los Andes Malbec Single Vineyard Las Compuertas 2010
Poesia Mendoza 2010
Cabernet Franc Gran Enemigo 2010
Malbec Catena Zapata Argentino 2010
Na relação de Parker, um vinho tinto aparece em 1º lugar: Gran Enemigo Single Vineyard 2010 da Bodega Aleanna, 97 pontos. Esta vinícola pertence a Alejandro Vigil (proprietário e enólogo), o mesmo do Chardonnay escolhido na lista anterior. Interessante coincidência.
Eis a parcial lista dos melhores:
96 pontos
2012 Familia Zuccardi Finca Piedra Infinita
2010 Bodegas Catena Zapata White Bones Chardonnay
2011 Bodega Noemia de Patagonia Malbec
2010 Bodegas Catena Zapata Malbec Catena Zapata Adrianna Vineyard
95 pontos
2010 Bodegas Catena Zapata Cabernet Sauvignon Nicolas Catena Zapata
2011 Achaval Ferrer Malbec Finca Altamira
2012 Familia Zuccardi Finca Los Membrillos
2010 Bodega Aleanna Gran Enemigo Agrelo Single Vineyard
2009 Bodega Aleanna Gran Enemigo Gualtallary Single Vineyard
2011 Casarena Poblacion J M Blanco Cabernet Sauvignon
2010 Bodega Noemia de Patagonia Noemia 2
2011 Achaval Ferrer Malbec Finca Bella Vista
2012 Per Se La Craie
Listei apenas os vinhos mais destacados de cada relação. Como era esperado, há diferenças entre os critérios adotados apesar das fichas de degustação e técnicas padronizadas. Muitos leitores questionam a validade desta metodologia, razão pela qual escrevemos esta coluna. Mais importante ainda, as escolha dos vinhos para analisar foram significativamente diferentes, com poucos vinhos em comum, 4 vinhos apenas:
Certamente o consumidor final é o grande beneficiado. Os vinhos acima são os mais sofisticados de cada produtor e o preço corresponde. Mas em cada lista há opções em conta.
Segundo Gutierrez, existe uma tendência mundial para vinhos com maior frescura e fáceis de beber. Percebe-se um rumo na direção de maior equilíbrio, elegância e distinção.
Dica da Semana: um vinho que recebeu 94 pontos de Parker.
Vinho de cor rubi, profundo. Contem aromas que remetem a frutas frescas e agradaveis de florais. Possui taninos macios e envolventes, paladar marcante.
Harmoniza com carnes vermelhas, massas ao molho sugo.
Harmoniza com carnes vermelhas, massas ao molho sugo.