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Quebrando alguns mitos – V

 #5 – Somente vinhos tintos devem ser adegados
 
Este mito altamente improvável começa com um sonho: uma adega climatizada. Dez entre dez enófilos desejam ter uma para chamar de sua e não importa o tamanho, pode ser de 6 ou de 600 garrafas.
 
O problema começa quando temos que decidir o que vai ser adegado, em geral, opta-se pelos tintos, para ser mais realista, qualquer tinto…
 
Neste momento, do ponto de vista técnico, acabamos por dar um destino nada nobre à nossa adega, que pode ter custado um bom dinheirinho: ficou mais parecida com um “frigobar”. Antes de mergulhar em maiores profundidades, respondam sinceramente a algumas questões:
 
1 – Vocês sabem o que é um “vinho evoluído”?
 
2 – Se responderam “sim”, gostam de um vinho destes?
 
3 – Qualquer vinho (tinto, branco, rose, espumante) pode ser amadurecido na garrafa sem prejuízo?
 
Não existem respostas únicas para estas perguntas. Veja como se coloca Jancis Robinson, uma celebrada especialista em vinhos:

“Na sua maioria, os vinhos de hoje devem ser consumidos tão jovens quanto possível, quando ainda se pode apreciar seu caráter frutado. Mas enquanto persiste o mito de que todos os vinhos vão melhorar com o tempo, a realidade mostra que eles estão sendo bebidos muito mais tarde do que muito mais cedo”. 

 
Excepcional poder de síntese de Robinson, quase tudo que precisamos saber está neste pequeno parágrafo. Não caberia nele comentar sobre aromas e sabores do vinho, características que podem mudar sensivelmente após alguns anos de guarda. Começam a surgir os “terciários” e seus sabores associados, típicos de um vinho evoluído.
 
Para quem não lembra mais destas explicações, estamos falando de couro, tabaco, flores e frutas secas, café, pão torrado, alcatrão, carne de caça, verniz, fungos, etc. Não estranhem, não são predominantes (há exceções), mas eles estão lá e vamos sentir um gostinho. Há que aprecie e vibre com isto, mas a maioria não. No final das contas, é isto que se busca quando adegamos um vinho, qualquer vinho.
 
Muito cuidado e atenção serão necessários, não é uma operação do tipo “esquece este vinho na adega que um dia ele fica bom”. Há muitas regras que devem ser seguidas que vão desde a escolha do vinho certo, passando pelo tempo de guarda e a CNTP (para quem não estudou química, isto significa Condições Normais de Temperatura e Pressão).
 
Para os leitores que já se decidiram por fazer uma experiência nesta linha, seja por curiosidade ou por preferirem vinhos evoluídos e para aqueles que ainda duvidam sobre este tema apresentamos, a seguir, um roteiro desmistificador.
 
I – As castas que costumam envelhecer com dignidade
 
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Syrah;
 
Brancas: Riesling, Chardonnay.
 
Isto não significa que qualquer vinho destas uvas possa ser envelhecido e nem que somente estas varietais devam passar por este processo.
 
II – Vinhos de sobremesa como os de colheita tardia ou os fortificados, podem ser adegados sem problemas.
 
Usando estes como exemplos podemos compreender as razões e aplicar em outros casos:
 
– alto teor alcoólico – com o tempo de guarda este teor cai tornando a bebida mais agradável;
 
– acidez marcante – outra característica que diminui com a idade melhorando o resultado final;
 
– taninos intensos (para os tintos) – definitivamente ficam “domados” com o passar dos anos;
 
– passagem por madeira – este é o ponto crítico uma vez que esta característica não se dilui com o tempo. Ao contrário, pela queda das demais pode sobressair exageradamente desequilibrando o vinho. Portanto é de fundamental importância na escolha de uma garrafa para ser amadurecida.
 
III – Como decidir o que vale a pena adegar
 
Aqui está toda a graça desta experiência, que pode produzir excelentes ensinamentos. Simples conselhos podem ajudar muito:
 
– estabeleçam uma faixa de preços a partir da qual se pode confiar que o investimento valerá a pena;
 
– comprem pelo menos 2 garrafas, 3 seria o ideal. Degustem uma logo (anotem o resultado ou façam um ficha técnica), abram a outra com 2 ou 3 anos de guarda e comparem o resultado com a 1ª. Se valer a pena, guarde a terceira mais um pouco.
 
IV – Seguindo a nossa “Guru” de hoje, Jancis Robinson, eis uma interessante lista por ela compilada.
 
a) Vinhos que devem ser consumidos logo:
 
os europeus classificados como “de mesa”;
 
os de garrafão ou caixa tipo Tetra Pack;
 
os conhecidos como “vin de pays”, relativamente baratos;
 
os do tipo Beaujolais Noveau, ou “en primeur” ou “novelo”;
 
produtos comerciais com preços até 50 ou 60 reais (a grande maioria deles)
 
os rosés;
 
os espumantes mais em conta. 
 
b) Vinhos que ganham com o tempo:
 
Tintos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Agiorgitiko da Grécia (4–10)
Aglianico da Campania (4–15)
Baga da Barraida (4–12)
Cabernet Sauvignon (4–20)
Grenache/Garnacha (3–12)
Melnik da Bulgária (3–7) (este vinho está sendo revivido)
Merlot (2–10)
Nebbiolo (4–20)
Pinot Noir (2–8)
Raboso do Piave (4–8) (DOC italiana)
Sangiovese (2–8)
Saperavi da Georgia (3–10) (outra casta sendo reabilitada)
Syrah/Shiraz (4–16)
Tannat de Madiran (4–12)
Tempranillo da Espanha (2–8)
Porto Vintage (15-50)
Zinfandel (2–6).
 
Brancos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Vinhos Botritizados (5–25)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Semillon australiano do Hunter Valley (6–15)
Chenin Blanc do Loire (4–30)
Petit Manseng de Jurançon (3–10)
Riesling (2–30).
 
Para terminar, a lista não é definitiva e nem pretendia ser. Não foram contemplados os Champagnes e outros espumantes de 1ª linha, que podem ser guardados por alguns anos como foi relatado nesta coluna, recentemente, como os Franciacorta. Nem se falou, tampouco, dos vinhos do Cone Sul das Américas. Já tive ótimas
experiências com Malbecs argentinos, Tannats uruguaios e Carmenéres e Cabernets chilenos.
 
Animem-se, arrisquem, experimentem. Nem sempre dá certo, mas sempre vale a pena.
 
Dica da Semana:  para guardar. O tempo vocês decidem….
 
Vinho Chocalán Cabernet Sauvignon Selección
Coloração vermelha intensa e aroma complexo com notas de frutas negras, amora, cassis e notas de tabaco, café e baunilha. Ao paladar, revela-se equilibrado, encorpado e elegante, com taninos bem maduros e final de boca persistente. Ideal para acompanhar carnes vermelhas assadas e queijos maduros.
 

Rue des Beaujolais: um evento fora de série

Faremos uma pausa na série sobre mitos para relatar o evento que ocorreu nos dias 20 e 21 de novembro, aqui no Rio de Janeiro no espaço Miranda/Lagoon. Participamos do mais tradicional lançamento de um vinho, que acontece sempre na 3ª quinta-feira do mês de novembro:
 
Le Beaujolais Nouveau est arrivée!
 
 
Celebra-se a chegada deste jovem vinho, elaborado com a casta Gamay, que deve ser bebido logo, nada de envelhecimento ou amadurecimento. Busca-se uma bebida refrescante, alegre e sem muitos compromissos. Por isto mesmo ela é a cara do Rio de Janeiro. Depois do Champanhe e do Bordeaux, o Beaujolais é a 3ª marca de vinho e bebidas mais conhecida no mundo.
 
Vamos conhecer um pouco sobre este singular vinho.
 
A casta Gamay é típica da região do Vale do Loire, plantada principalmente na cidade de Beaujolais, que vai dar nome ao vinho. Esta uva tinta tem nome e sobrenome: Gamay Noir à Jus Blanc. É uma cultivar muito antiga, conhecida desde o século XV. Sendo muito produtiva, necessita de solos ácidos para produzir frutos que se transformem em bons vinhos. Atualmente é reconhecida como sendo um cruzamento entre a Pinot Noir e a antiga variedade Gouais.
 
São cerca de 18.000 hectares plantados produzindo dentro de quatro denominações de origem:
 
Beaujolais;
Beaujolais Villages;
Cru Beaulolais;
Beaujolais Blanc (Chardonnay) e Beaujolais Rosé.
 
A primeira denominação (Beaujolais) é a mais famosa e muito comentada a partir de novembro, quando se consome o Noveau. Na França o seu lançamento anual é sempre uma grande festa.
 
O Villages responde por cerca de 25% da produção desta região. Está dividido em 38 “comunas”.
 
Os 10 Crus, tecnicamente os melhores vinhedos, produzem vinhos para serem maturados e têm características muito interessantes. Cada “Cru” tem seu estilo: Broully; Chénas; Chiroubles; Côte de Broully; Fleurie; Juliénas; Morgon; Moulin à Vent; Regnié e Saint-Amour. Tradicionalmente são os vinhos que celebram a Páscoa dos franceses, o que significa que evoluíram por um tempo antes de serem consumidos.
 
 
 
O evento foi dividido em dois dias. No primeiro foi feita a apresentação do Noveau, com direito a cerimônia de abertura da 1ª garrafa, feita por uma das mais antigas confrarias, os Compagnons du Beaujolais, que se apresentou a caráter com seus trajes festivos.
 
A parte gastronômica ficou a cargo de grandes Chefs: Roland Villard do Sofitel; Christian Tetedoie, estrelado e condecorado grande mestre da cozinha; Ricardo Lapeyre do restaurante Laguiole no MAM do Rio de Janeiro e Olivier Malarte que trouxe, para o Brasil, a deliciosa “Quenelle de Lyon”.
 
Com este time, nada podia dar errado. Completando o espetáculo, havia uma tenda com stands de produtores e patrocinadores do evento além de uma cozinha de campanha onde as brigadas de cozinheiros dos chefs convidados serviam deliciosos “amuse bouche” para harmonizar com o vinho.
 
 
No primeiro dia éramos recebidos com um “vin mousseaux” o Rozémoi, espumante produzido com 100% de Gamay. A próxima atração foi a cerimônia de abertura da 1ª garrafa de Beaujolais Noveau pelos confrades da “Compagnons du Beaujolais”.
 
Coube à Vinicola Jean Tete representar os diversos produtores desta região. Em seguida o vinho passou a ser servido bem como uma enorme variedade de acompanhamentos com o objetivo de demonstrar a grande versatilidade gastronômica desta singular bebida.
 
 
Dentre as várias opções, as que mais agradaram ao meu paladar foram o Ceviche e um cone de massa recheado com Tilápia e um creme de banana da terra, sabor que se assemelha muito ao do Noveau.
 
Um conjunto musical interpretava canções brasileiras e francesas promovendo um agradável clima nostálgico. Para encerrar a noite, a empresa que organiza o evento Rue des Beaujolais fez uma doação para uma ONG de cunho social. A Air France, uma das patrocinadoras, sorteou uma passagem Rio–Lyon–Rio e houve o leilão de uma garrafa Magnun.
 
 
O dia seguinte foi igualmente movimentado. Na primeira parte do evento várias celebrações e a “entronização” de diversas personalidades do vinho na confraria dos Compagnons du Beaujolais, o que gerou divertidos momentos.
 
Em seguida foram servidos os vinhos dos Crus de Beaujolais e o Villages. Os produtores apresentados foram previamente selecionados. O resumo do que foi degustado ficou a cargo do José Paulo Gils:
 
· Beaujolais Noveau – simples.
 
· Beaujolais Villages – melhor que o primeiro, nada de extraordinário.
 
· Juliénas – Rubi vermelhão, a cor e olfato bom na boca, nada demais.
 
· Moulin à Vent: Este vinho surpreendeu. Cor bela, no nariz intenso e persistente, final longo e agradável. O melhor da noite.
 
· Chiroubles – Muito bom.
 
· Morgon – Na boca muito mineral. Também muito bom.
 
· Brouilly – Outro vinho bom.
 
· Fleurie – Como vinho leve é bom.
 
· Côte de Brouilly – Normal.
 
Os vinhos Chénas e Saint-Amour não foram degustados. O meu predileto foi o Morgon. Nenhum destes produtores têm representantes no país.
 
Na semana que vem retomamos a série sobre mitos.

Dica da Semana: os Crus não são exatamente baratos, mas vale a pena o investimento. Infelizmente o Noveau, por conta do modismo, tem preços superiores…

Beaujolais Morgon 2009 Maison Coquard

Coloração rubi de média intensidade, luminosa. Traz no olfato cereja fresca, pêssego e couro sob marcado fundo mineral.
Ótima estrutura gustativa, os taninos são tradicionalmente mais firmes neste cru, sápido, cativante final.

Quebrando alguns mitos – II

#2 – Espumantes só em ocasiões especiais ou “macho” não bebe Champagne
 
Este é dos melhores mitos para serem derrubados, apesar do forte marketing dos produtores do Champagne que se identificam como “fabricantes de uma bebida única que deve ser servida em festividades, particularmente para as mulheres”…
 
A esta altura dos acontecimentos só resta ao outro sexo fazer como o apedeuta cachaceiro, beber 51, que na minha modesta opinião está longe de ser ‘uma boa ideia’.
 
Pior, há circunstâncias agravantes: já imaginaram um brutamontes do MMA segurando uma delicada ‘flute’ de espumante para comemorar um espetacular nocaute? No mínimo ridículo.
 
A verdade é outra. Espumantes são capazes de transformar até mesmo uma entediada segunda-feira em algo espetacular, basta imaginar que você esteja comemorando, simplesmente, ter sobrevivido à ressaca do fim de semana. A taça pode até ser dispensada.
 
Não acreditem no bordão que intitula esta coluna e invertam a ordem da sentença: Espumantes transformam tudo em ocasiões especiais.
 
Quer um bom conselho? Tenha sempre uma garrafa na sua geladeira, pronta para ser consumida. Se houver uma companhia do sexo oposto, melhor! Eu não conheço uma dama capaz de recusar uma taça. Se aparecer uma, recuse-a…
 
Este preconceito, que espumantes são bebidas femininas, está muito longe da realidade. Produtores e profissionais de Champagne e de outras regiões produtoras de espumantes em todo o mundo, consideram este vinho (sim! é um vinho) como um dos mais versáteis, agradáveis e com boa relação custo x benefício que se pode adquirir.
 
Se segurar uma ‘flute’ lhe incomoda, descarte-a e use uma taça de vinho branco, garanto que as diferenças serão mínimas: só olfato e paladares muito treinados poderão fazer objeção (o ‘perlage’ pode mudar consideravelmente).
 
Para fechar a tampa do caixão e enterrar de vez esta bobagem, responda: porque você não quer degustar o mesmo que sua companheira?
 
Os Espumantes da Le Marchesini
 
Seguindo no tema, nada melhor que relatar um delicioso evento com os espumantes da Franciacorta (Itália), realizado na Enoteca DOC, dos amigos Fabio e Chris.
 
Esta região da Lombardia, próxima à cidade de Brescia, tem as condições apropriadas para o cultivo de viníferas e produção de bons vinhos, entre eles os melhores espumantes italianos. A denominação Franciacorta DOCG, de 1995, é exclusiva para os borbulhantes vinhos de lá. Tem uma longa tradição e história.
 
Os primeiros vinhos tranquilos ali produzidos datam de 1277, conhecidos como “Franzacurta”, provavelmente para fazer referência a uma Zona Franca (do Latim: Franchae – livre de pagar impostos e Curtae, de côrte) ali criada pelos monges de Cluny, da Borgonha, que se estabeleceram no século XI. Os espumantes só seriam produzidos a partir de 1961, usando rigorosamente as mesmas castas, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc e técnicas da região de Champagne. Até hoje é mantida uma estreita cooperação com a tradicional região francesa.
 
A “Azienda Agricola Le Marchesini”, pertence à família Biatta, tradicionais negociantes desde 1196, profissão que passou de pai para filho por cinco gerações. Em 1985, Giovanni Biatta adquiriu 3 hectares na região de Franciacorta para dar início à produção dos melhores vinhos que pudesse desejar. Hoje contam com 47 hectares de vinhedos com denominações DOC e DOCG, produz cerca de 450.000 garrafas por safra, entre espumantes e tranquilos, tendo recebido as melhores análises, notas e prêmios de seus consumidores e críticos.
 
Além de receber alguns “3 bicchieri” por seus espumantes, concedidos pelo rigoroso guia Gambero Rosso, e o título de Melhor Produtor da Itália em 2012, recentemente o Guia Vinibuoni d’Italia 2014 coroou o Franciacorta Docg Millesimato Brut Blanc de Noir 2009 Le Marchesine, como o melhor espumante do concurso.
 
 
Esta moderna vinícola não mede esforços para trabalhar com o que há de melhor neste setor. Além de trazer as mudas das castas e os equipamentos da França, seu enólogo, Jean Pierre Valade é membro do prestigiado Instituto Enológico de Champagne. O resultado não poderia ser outro: espetacular!
 
A apresentação foi feita pelo atual Diretor, Loris Biatta, que rapidamente esclareceu que, apesar da estreita colaboração com os franceses, o produto italiano não é uma cópia do Champagne, mas uma bebida que tem suas próprias características e personalidade. Como diriam os franceses, “Vive la différence!”
 
 
O primeiro a ser servido foi o Ópera Brut, seu espumante básico.
 
 
Por usar uvas de vinhedos que estão fora da região demarcada, não recebe a denominação Franciacorta. Um corte de Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc, com boa acidez e um perlage finíssimo. Aromas francos de Acácia, Cítricos e leveduras. Saboroso e refrescante, Preço na faixa de R$ 90,00. (preços de 2013)
 
O segundo espumante foi o Franciacorta Le Marchesini DOCG Brut, outro belo corte das mesmas castas, de vinhedos dentro da região demarcada. Elaborado com os mesmos cuidados técnicos do anterior, consegue ser um vinho mais sério e elegante. Coloração amarela com reflexos esverdeados, oferecendo aromas e sabores intensos com uma longa permanência em boca. Mantém o mesmo perlage finíssimo. Seu custo é bem superior, situado na faixa de R$ 150,00.
 
 
O terceiro espumante foi uma grata surpresa: o premiado Franciacorta Brut Millesimato Blanc De Noir 2009, considerado o melhor da Itália. Um vinho surpreendente em vários sentidos. Esta era a única garrafa disponível, trazida pessoalmente por Loris em sua bagagem. Ainda não está à venda no Brasil.
 
Elaborado unicamente com a casta Pinot Noir e fermentado a partir de leveduras indígenas, apresenta aromas de frutas vermelhas como framboesa e amora com o característico perlage da vinícola, No palato é mineral com notas de chocolate. Nota-se em sua cor leves traços rosáceos. Estupendo!
 
 
Por último o espumante que Loris o considera como “seu filho”, o Franciacorta D.O.C.G. Rosé Brut Millesimato 2007. Com uma elaboração muito complexa que exige algumas noites sem dormir para obter as características corretas de cor, aroma e sabor, este é um produto singular e delicioso. Uma bela coloração rosada, aromas florais e de framboesa que remetem a sabores delicados e complexos. Sua faixa de preço é alta, na casa dos R$ 200,00. Ideal para fazer uma extravagância.
 
 
Estes espumantes, importados pela Sicilianess (http://www.sicilianess.com.br/), podem ser adquiridos na Enoteca DOC ((21) 2516-4220).

Dica da Semana: um bom espumante nacional que não faz feio frente a estas maravilhas.
 

Quinta Dom Bonifácio Brut

Composto pelas variedades Merlot e Chardonnay
Visual – Coloração amarelo palha, perlage fina e delicada.
Olfato – Aroma persistente, lembra maçã, pêssego e pão torrado
Paladar – Fresco, amanteigado e muito delicado.

Os Vinhos da Anakena, Chile

No dia 16 de outubro, a convite da Winebrands, participamos da apresentação dos vinhos da Viña Anakena. O evento aconteceu no restaurante Mira, anexo à Casa Daros em Botafogo, no Rio de Janeiro.
 
 
A apresentação foi feita pelo Gerente Comercial Nicolás Saelzer e pelo Enólogo Gavin Taylor, de origem sul- africana, radicado no Chile. A vinícola, relativamente jovem, foi fundada por dois amigos de infância, Felipe Ibañes e Jorge Gutiérrez, em Alto Cachapoal, com o objetivo de produzir vinhos de alta qualidade e com uma personalidade que distinguisse esta inovadora empresa.
 
Com uma enorme variedade de terroirs, 145 hectares em Alto Cachapoal, 125 hectares em Leyda, 43 hectares em Peumo e 44 hectares plantados no Vale de Colchagua, tem seus vinhos consumidos em mais de 50 países, recebendo as melhores críticas de seus consumidores.
 
Sua linha de produção está dividida em diferentes filosofias, que começam nos Varietais, vinhos jovens que enfatizam as características das cepas. O próximo degrau, a linha ENCO tem por objetivo oferecer boa relação custo x benefício. Os TAMA buscam representar as características de todos os terroirs da empresa, sendo a linha que oferece o maior número de produtos. Os vinhos da categoria ONA, já considerados como “top”, são inovadores e audaciosos, enquanto os ALWA são únicos, o melhor que se pode obter. O ótimo portfólio se completa com um expressivo Late Harvest.
 
Chama a atenção o cuidado com a apresentação de seus produtos. Os rótulos são elegantes e trazem uma representação icônica das denominações de suas linhas que remetem à história dos povos que habitaram estas regiões antes de existir o Chile com um país.
 
O próprio nome é uma homenagem ao “homem-pássaro” da cultura Rapa Nui, uma bonita lenda:
 
Anakena seria a caverna deste homem pássaro, o Tangata Manu, uma metáfora da gaivota da Ilha de Páscoa, que depositava seu ovo neste local secreto. Todo ano, bravos guerreiros nadavam desde Rapa Nui até a ilhota de Moto Nui em busca do precioso ovo. Aquele que conseguisse trazê-lo intacto era outorgado com o título de Homem-Pássaro, recebendo honrarias e fortuna.
 
 
Foram servidos oito vinhos, numa sequência que crescia dentro da filosofia de produção.
 
O 1º foi o Anakena Varietal Sauvignon Blanc 2012. Jovem, fresco, boa fruta e fácil de degustar. Com um custo muito competitivo, abaixo de R$ 50,00, se torna uma opção para dias de calor. (preços de 2013)
 
 
Subindo um degrau na escala, o próximo vinho degustado foi o Anakena Enco Reserve Chardonnay 2012. Muito bem elaborado, com boa acidez e permanência. Outro bom companheiro para o dia a dia no quente verão do Rio de Janeiro. Preço ligeiramente acima dos R$ 50,00.
 
 
A próxima degustação foi uma boa surpresa: o Anakena Tama Vineyard Selection Pinot Noir 2011 chamou a atenção de todos. Um vinho refinado, muito aromático e que passa por madeira. Boa acidez e perfeitamente balanceado com seus taninos. Ótimo! Custo na faixa de R$ 80,00.
 
 
Seguimos com os tintos. Voltando ao segmento ENCO, provamos o interessante Anakena Enco Reserve Carménerè 2011. Este vinho, obtido com a casta emblemática do país foi elaborado com um cuidado todo especial para fugir a características que enfatizam sabores “verdes” típicos da casta. A colheita foi deliberadamente atrasada obtendo-se uma fruta com qualidade ímpar para a vinificação. O resultado é perfeitamente sentido em aromas e sabores. Delicioso. Na mesma faixa de preço do Sauvignon Blanc. Ótima compra.
 
 
O 5º vinho apresentou uma casta diferente: Anakena Tama Vineyard Slection Carignan 2010. Uma uva algo rara no mercado, mas que tem bons resultados nas mãos do competente Gavin Taylor. Premiado com boas notas de diversos críticos (90 pontos ou mais) é uma bebida equilibrada, com boa acidez, maduro e um quase dulçor muito agradável. Uma alternativa a ser considerada. Seu custo acompanha o de outros produtos da mesma linha.
 
 
Em seguida, até para permitir uma comparação direta, for servido o Anakena Tama Vineyard Selection Cabernet Sauvignon 2010, outro produto premiado. Esta uva tem uma adaptação perfeita em território chileno, produzindo vinhos de classe mundial. Este é um deles. Generoso, intenso, taninos suaves e longa permanência em boca. Companheiro ideal para carnes de sabor marcante. Pela faixa de preço será difícil encontrar concorrentes à altura.
 
 
Os dois últimos vinhos representam o que há de melhor desta empresa. O Anakena Ona Special Reserve Red Blend é um sofisticado corte de cabernet Sauvignon (55%), Carménerè (25%) e Syrah (20%) que passa de 14 a 16 meses em barricas de carvalho. Um vinho sofisticado que combina a potência do Cabernet, a delicadeza da Carménerè e a complexidade da Syrah. Bem estruturado e complexo, chama a atenção por sua cor clara, ao contrário do que se espera. Excelente! No mercado do Rio de Janeiro será vendido na faixa de R$ 90,00. Uma pechincha.
 
 
O Anakena Alwa 2009 é realmente um vinho único, só produzido em safras ideais. Um corte de Cabernet Sauvignon, Carménerè, Syrah, Carignan e a branca Viognier. Premiado nesta safra com Medalha de Ouro no Concurso Nacional do Chile é autêntico, elegante e muito equilibrado entre seus taninos e acidez. Um produto de luxo que não deixa a desejar. Ainda assim, fica numa faixa de preço cara, mas não absurda (R$ 200,00), valendo cada centavo pago.
 
 
Foi uma tarde instrutiva e agradável. Só tenho que agradecer ao amigo Menandro Rodrigues, da Winebrands, pela lembrança do convite.

Dica da Semana: vamos respeitar as tradições chilenas.
 
Anakena Enco Reserve Carménère 2011
 
Vermelho-rubi profundo, com reflexos violetas. No aroma revela notas de frutas negras, chocolate amargo e especiarias. Em boca apresenta médio corpo, frutadas e especiarias bem mescladas e taninos macios.
Harmonização: Ideal para acompanhar carnes guisadas, massas, lasanha e queijos.
 
 
 Winebrands – www.winebrands.com.br

Um Convite Irrecusável!

Uma das melhores coisas que pode acontecer com um enófilo, como eu, é ser convidado para uma prova de avaliação de novos vinhos. Esta, em particular, foi especial.
 
Começou com o local, a agradável adega e restaurante Enoteca DOC, anexa à tradicional Chapelaria Esmeralda, situada no centro do Rio de Janeiro. Os atuais donos, Fabio Soares e sua esposa Christiane Faria, entraram neste negócio quando Chris herdou a chapelaria, propriedade de sua família desde 1920. Ouvindo os clientes que comentavam que “ficariam por ali se houvessem charutos e vinhos à venda” promoveram uma alinhada reforma dividindo a loja em dois charmosos segmentos. De um lado a renovada loja de chapéus que funciona de 9:00 às 18:30. Do outro a adega com ênfase em vinhos e cervejas que atende seus clientes de segunda a sexta a partir das 11:00 até as 21:00.
 
 
Marcada para às 15h, ao chegar já encontrei Fabio, José Paulo Gils e Alexandre Ventura, da importadora DOCG, finalizando uma garrafa de um belo tinto português que não deu nem para sentir o gostinho. O confortável e aconchegante ambiente do andar superior da casa pedia que fosse aberto mais um vinho. Desejo realizado! Alexandre propôs que enquanto aguardávamos os demais participantes, derrubássemos uma garrafa de um dos seus melhores vinhos, um excelente tinto do Douro, o Mapa.
 
 
Este nome foi inspirado pelos mapas da região do Douro elaborados pelo Barão de Forrester, um empresário inglês radicado em Portugal que promoveu importante reforma no comércio de vinhos em 1831.
 
Sua morte, em condições no mínimo curiosas, aconteceu num naufrágio em 1861. Relatos de época dão conta que ele teria sido “arrastado para o fundo por causa do cinto com dinheiro que levava consigo, nunca tendo sido encontrado o seu corpo. Nessa derradeira viagem, fez-se acompanhar por D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, que segundo reza a história, não se afogou porque as saias de balão que então vestia, a fizeram flutuar até à margem do Rio Douro”.
 
Fácil perceber que este vinho é cheio de referências, a mais importante delas a região (e as famílias) onde era produzido o aclamado vinho Barca Velha, ícone da vinicultura portuguesa. O MAPA é um projeto pessoal de Pedro Garcias, jornalista e crítico de vinho do Jornal Público.
 
Começou a ser desenhado há cerca de uma década, com a compra das primeiras terras em Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, na mesma região da famosa Quinta do Vale Meão que forneceu, durante muitos anos, as uvas para a elaboração do Barca Velha. Hoje a Quinta produz seu próprio vinho, homônimo, carinhosamente apelidado de Barca Nova.
 
O MAPA é no mínimo excepcional!
 
Um corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz, passa 20 meses em barricas de carvalho francês. São produzidas apenas 2.900 garrafas. Joia rara. Para harmonizar optamos por pequenos pedaços de queijo tipo Grana Padano regados levemente com um Vinagre Balsâmico de Modena 18 anos, um luxo.
 
 
Isto nos criou um pequeno problema. A degustação seguinte seria para avaliar um Champagne que, em breve, será trazido para o Brasil pelas mãos de Soraya Vasconcelos. Embora de origem francesa, as garrafas são exportadas para a Califórnia onde recebem um acabamento em malha de cobre, obtida com reciclagem de materiais. Muito interessante, vejam a foto.
 
 
Nosso palato precisava ser ‘limpo’ para apreciarmos corretamente as duas “Beau Joie”, uma Rosé e outra Brut. A solução foi degustar uma cerveja. A escolhida foi a “Blanche de Bruxeles”.
 
 
Devidamente preparados, partimos para as duas garrafas que restavam.
 
Este Champagne tem uma trajetória bem diferente. Concebida para ser um produto de alto luxo, é produzida em Epernay pela Maison Bertrand Senecourt. Exportada para os EUA, recebe um revestimento em malha de cobre que tem múltiplas funções. Funciona como a armadura de um cavaleiro dos tempos medievais. Segundo seu produtor norte americano, esta era a época de Reis, Rainhas e seus Cavaleiros, onde se valorizava o romance, o amor, a honra e as paixões. A ideia por trás desta rica embalagem é nos remeter a estes tempos, como uma mágica. Além disto, a malha por ser feita com cobre (reciclado) é ótima condutora do frio ajudando a manter a garrafa na temperatura ideal por mais tempo e aumentar a segurança no manuseio. Um programa especial deste produtor reutiliza os revestimentos de garrafas usadas.
 
A Brut é um corte de 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, sem dosagem de licor de expedição (sem adição de açúcar) garantindo sabores marcantes desde o primeiro gole. Alguns degustadores deste painel acharam que a amostra estava levemente oxidada, o que não comprometia em nada o produto. O perlage era perfeito, acidez equilibrada, como deve ser um Champagne seco.
 
A Rosé foi a que mais agradou. Com um corte em partes iguais das duas castas já citadas, tem uma bela e sedutora coloração, suave como pétalas de rosa. Perfeitamente equilibrada com um delicioso sabor frutado. Ideal para ocasiões muito especiais. Bom perlage e boa acidez.
 
Um produto único e para poucos, sua produção não é grande. Mas o espetáculo visual é incrível. Torcemos para que Soraya consiga vencer todos os entraves burocráticos deste nosso país e traga este produto com preços competitivos.
 
 
A foto abaixo foi tirada ao final da prova. Em pé estão Chris e Soraya, sentados, da esquerda para a direita Luis Miguel Duarte, da Duaber, José Paulo e eu.
 
 
Só nos resta esperar…

Dica da Semana: mais que um vinho, um investimento. Vale cada centavo. Melhor: podemos guardá-lo para grandes ocasiões.

 
MAPA Reserva Tinto 2009

CLASSIFICAÇÃO: Douro DOC CASTAS: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz. VINIFICAÇÃO: Desengace total seguido de pisa a pé. Estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês. De cor vermelho carregado, apresenta uma boa paleta aromática e um buquê intenso e convidativo. Na boca, taninos presentes, boa acidez. O teor alcoólico (14,5%) induz alguma sensação de doçura.

Importado pela DOCG Vinhos.
 
Enoteca DOC – Fabio Soares – Av. Marechal Floriano, 32 – Centro.

Tel.: (21) 2516-4220 – www.enotecadoc.com.br

 
DOCG Vinhos – Alexandre Ventura – www.docgvinhos.com.br

Tel.: (21) 3936-321

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