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Com organizar uma confraria

Seguindo no tema da coluna anterior, alguns leitores se mostraram interessados na organização e funcionamento de uma confraria. Nas ‘Cartas dos Leitores’ há algumas respostas interessantes. Hoje vamos explorar alguns aspectos menos visíveis.
Quantos participantes?
Esta é a questão fundamental, vai ditar o número de garrafas a serem degustadas, objetivo da confraria. Obviamente, todos os confrades ou pelo menos a maioria deles deve apreciar esta bebida, mas nada impede que alguns não a bebam. Isto é muito comum nas damas, sejam esposas, namoradas ou ficantes.
Tecnicamente, uma garrafa serve bem 4 pessoas, O volume padrão de 750ml, dividido por este quociente resulta em 187,5ml, aproximadamente 2 taças. No texto da semana passada ficou claro que cada garrafa serviu até 9 confrades. Isto significa que cada confrade degustou apenas 80ml, de cada vinho, o que é pouco e não pôde haver repetições.
Com estes parâmetros já é possível ter uma noção do tamanho da confraria e também da regra inicial: quantas garrafas vão ser servidas.
Para começar o ideal são 4 pessoas. Pode expandir, sem problemas, até 8. Seguindo a regra, comecem com 1 garrafa para 4, duas para oito, mantendo a proporção.
Quem leva o vinho?
No início, 1 confrade escolhe o vinho. Na segunda reunião, passa o bastão para outro e assim por diante. Pode-se fazer reuniões temáticas que são muito divertidas e instrutivas: define-se o tema, por exemplo: Itália. Um grupo vai cuidar da comida e outro da bebida. Neste caso, vale a pena estabelecer limites de gastos e ratear as despesas. Uma variação interessante é indicar um dos membros para explicar a harmonização.
Confrarias informais
Este é outro caminho: alguém oferece um churrasco e pede para os convidados trazerem 1 garrafa de vinho. A confraria do nosso almoço começou assim.
Obviamente, serão trazidos vários tipos de vinhos: de brancos a tintos e de bons a ruins. Mas é justamente esta mistura desordenada que vai criar, naturalmente, a organização deste grupo. A primeira lição a ser aprendida é que os vinhos devem ter um mesmo patamar de qualidade. A melhor maneira de conseguir é estipular um valor mínimo para a garrafa de vinho, deixando a escolha livre para cada um.
O segundo passo é sugerir uma divisão mais objetiva entre espumantes, brancos, rosado e tintos. Se não for assim, só vai aparecer vinho tinto. Uma boa regra é sempre começar uma degustação por um espumante para, como costumamos dizer: ‘fazer a boca’. Seguem-se na ordem dos vinhos mais claros para os mais escuros.
Harmonizar ou não?
Este é o último passo. No fundo, ninguém escapa de tentar uma reunião ‘azeitadinha’, tudo bem dentro das regras clássicas. Mas não é fácil! Se o número de confrades for grande, pode ser uma missão impossível. Um bom caminho é escolher um restaurante típico e tentar levar os vinhos que se encaixem com o que vai ser servido.
O Bacalhau é um bom desafio, já que não existe uma regra generalizada: tanto brancos mais encorpados, que passaram por madeira, como tintos leves, podem combinar muito bem. Se a receita do peixe for, por exemplo, um ao “Zé do Pipo”, até mesmo um bom Syrah ou Malbec podem ser degustados. Há campo para muita experimentação.
Conselhos finais:
Não compliquem! Quanto mais simples as regras, mais divertido, e todos vão querer repetir o encontro e este é o objetivo;
Não se preocupem se este ou aquele vinho ‘não combinou’, faz parte do aprendizado;
Escolham um companheiro para ser o ‘escriba’: caberá a ele fazer as fichas do que foi provado. Escolham o melhor e o pior vinho.
Caso várias garrafas diferentes forem levadas, discutam muito a ordem de abertura delas. Se ninguém conhecer um dos vinhos, usem seus tablets e smartphones para descobrir – o Google é ótimo para isto;
Se tudo der certo, habituem-se de abrir a reunião com um bom espumante e terminá-la com um vinho de sobremesa ou um Porto. Um dos confrades pode ser o encarregado desta função;
Negociem a ‘rolha’ nos restaurantes. A maioria deles aceita que se tome um vinho da casa, em geral o espumante, em troca de liberar a taxa;
Escolham um nome simpático para a Confraria, é motivo agregador;
Por último, divirtam-se e lembrem: “A variedade é o tempero da vida”.
Dica da Semana: um vinho que foi escolhido o melhor de 2012 pela revista Prazeres da Mesa

Ile de Beauté 2011 
Produtor:Francois Labet 
Pais/Região:França/Córsega 
Uva:Pinot Noir
Rubi intenso e luminoso. Limpo e vibrante no olfato, com frutas vermelhas frescas, violeta e minerais (granito). A incursão em boca é sedosa, com taninos charmosos revigorados por acidez suculenta. Harmoniza com codorna ou vitela assados com ervas ou risoto de carne de caranguejo com tomates e açafrão.

Um grande almoço

Uma das confrarias que participo sempre aproveita a data do aniversário de um confrade para organizar uma de suas reuniões. Uma divertida regra faz tudo começar com o pé direito: além de não pagar sua cota na conta, o aniversariante pode indicar o local de sua preferência.
Neste mês de janeiro, o local escolhido foi um simpático restaurante italiano, a Casa do Sardo, localizado em São Cristóvão-RJ. Nunca havia sido feito um encontro por lá, embora 2 confrades já conhecessem a casa. As recomendações eram muito boas, são dois chefes, um Sardo e outro Siciliano, que tocam magistralmente a cozinha. O local é simples, rústico, mas muito confortável. Atendimento de 1ª linha – a equipe foi treinada pelos proprietários nos padrões europeus de qualidade. A grata surpresa é que a casa permite que os clientes levem seus vinhos, nada é cobrado.
Reservamos uma mesa e chegamos pontualmente às 12:30h, dentro do horário previsto para garantir a reserva. E começou a festa!

Enquanto aguardávamos a chegada do nosso Diretor de Gastronomia, encomendamos o antepasto do dia, uma boa tábua de queijos e frios acompanhada por um delicioso pão italiano feito na casa. Abrimos o ‘Vinho da Diretoria’, algo muito especial, só para os madrugadores… Um excelente branco argentino, o Lagrima Canela, um corte de Chardonnay com Semillon elaborado por Walter Bressia. Foi escolhido pelo guia Descorchados 2013 como o melhor branco daquele país.

Com a chegada do responsável pela parte gastronômica, foram selecionadas algumas entradas: carpaccio de tentáculos de polvo com pimenta rosa; mix de bruschettas; presunto Parma. A esta altura, o único branco já havia sido devidamente enxugado. Entramos nos tintos. O primeiro foi o Tribal, um tinto sul-africano, elaborado a partir de uvas viníferas das variedades Pinotage e Pinot Noir. Sua cor é rubi claro, límpido e brilhante, aromas com notas de morango, pimenta do reino e frutas vermelhas. Macio, bom corpo, taninos elegantes e final seco.

Com 9 pessoas presentes, as garrafas secavam rapidamente. Foi a vez do Conti Neri Valpolicella. Com uma coloração vermelha rubi intensa, tendendo a granada. Buquê característico com perfume delicado. Seco com corpo médio. 
Começamos a encomendar os pratos principais. Mesmo sabendo que só haviam tintos, a turma preferiu encomendar frutos do mar, nas diversas variações oferecidas no cardápio. Com poucas exceções, ninguém se importou em harmonizar nada, ou melhor: “partimos para grandes experimentações…”.

A próxima vítima foi o excelente Paulo Laureano DOC Premium, um corte Alentejano de 20% Alicante Bouschet, 40% Aragonez, 40% Trincadeira. Coloração granada intensa apresentando aromas de compotas de frutos negros mesclados com notas de chocolate escuro. Outro excelente vinho. Em termos de aceitação estava ‘empatado’ com o anterior.
Os dois próximos vinhos fizeram o cacife subir bastante. Abrimos o 100% Tempranillo Marqués de Riscal. Um vinho vermelho intenso com borda rosada e aromas inicialmente fechados que rapidamente se abrem revelando frutas maduras, especiarias e toques de carvalho e tostado. No palato, toques de caramelo e tostado típicos desta casta. Houve um momento de silêncio na mesa. A coisa estava séria. A comida foi servida. Tudo estava perfeito. Que me desculpem os conservadores, simplesmente esquecemos até mesmo as mais simples regras de harmonização. Só um adjetivo: delicioso!

Próximo vinho: na abertura do Miguel Escorihuela Gascon um momento de drama: a rolha, com quase 10 anos, se esfarelou e teve que ser empurrada para dentro da garrafa. A equipe do restaurante trouxe um decantador e o vinho foi vertido delicadamente. Pela cor, estava tudo em ordem, o que foi confirmado no palato – excepcional! Este é um dos grandes vinhos argentinos. Coloração rubi muito profunda, com a tonalidade púrpura típica da Malbec. A estrutura tânica, os toques de especiarias da Cabernet e os toques de frutas vermelhas da Syrah complementam em perfeita harmonia a forte personalidade da Malbec, o que torna esse vinho intenso, bastante complexo e muito fácil de beber. Certamente o melhor vinho do almoço.

Como o movimento do restaurante já havia diminuído, recebemos a visita do Chef Silvio Podda que se interessou pelos nossos vinhos, provando alguns e solicitando indicações para sua boa carta. O aniversariante foi agraciado com uma sobremesa.

Já no capítulo final da farra, abrimos o argentino Dignus Malbec, macio e agradável, com aroma fresco de frutos vermelhos e o uruguaio Don Pascual Pinot Noir, redondo, com frutas vermelhas intensas, taninos presentes e aveludados. Outros dois bons vinhos, corretos e ótimos coadjuvantes para o Marqués de Riscal e o Miguel Escorihuela Gascon, escolhidos como os melhores deste encontro.

Para brindar e encerrar, Villaggio Grando Brut, um dos bons espumantes da serra catarinense.
Todos os confrades voltaram para suas residências sem problemas…
Fotos: Pedro Costa e Enoeventos
Dica da Semana: uma proposta: que tal trocar a cerveja do carnaval por um delicioso Rosé?

Languedoc AOC Rosé 2010

Produtor: Hecht & Bannier

País: França/Languedoc-Roussillon

Uva: Syrah (maior parte), Grenache e Cinsault

Este delicioso rosado é saboroso e fresco com muita fruta e um ótimo final de boca. Temperatura de serviço: 13º a 16º

Uvas autóctones da Itália – Algumas uvas brancas

Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!

Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.

O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.

Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.

Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – Final

Alsácia
Para finalizar, vamos conhecer um pouco desta curiosa região francesa de forte influência germânica. Localizada entre as montanhas Vosges a oeste e o Rio Reno e a Alemanha a leste, este pequeno paraíso, que já mudou de nacionalidade pelo menos 4 vezes, foi declarado território francês após a Grande Guerra.
Verdadeiro caldeirão cultural absorveu o que havia de melhor do cenário vinícola dos dois países o que poderia ser definido como um modo alemão de fazer vinhos franceses: o formato das garrafas tem enorme significado. Uma legislação rigorosa impõe limites que asseguram esta excepcional qualidade de seus vinhos.
Apenas 9 varietais são oficialmente permitidas: Riesiling, Pinot Gris, Gewüztraminer, Muscat, Pinot Noir, Pinot Blanc, Auxerrois Blanc, Sylvaner e Chasselas.
Existem outras castas plantadas, mas não são significativas. As seis primeiras são as mais importantes. A Muscat desempenha o papel de 4º Mosqueteiro no trio apresentado enquanto a Pinot Noir é a que produz o único tinto da região, muito diferente daqueles da Borgonha. Além deste são elaborados vinhos brancos, rosados e um excelente espumante o Cremant d’Alsace.

Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores…

O vinho alsaciano é tipicamente gastronômico, perfeito para acompanhar saborosas refeições. A grande surpresa fica por conta da pouca popularidade destes brancos. Alguns especialistas apontam a garrafa longa com um fator que trás grande confusão com os vinhos alemães, nem sempre bons e muito falsificados. Por outro lado o marketing da dupla Chardonnay e Sauvignon Blanc é tão forte que vale a pena perguntar: “Quem conhece Gewürztraminer, Muscat ou Pinot Gris?” Uma pena, pois são grandes vinhos em todos os sentidos, infelizmente, muito caros no nosso país.
Os vinhos mais simples, ainda assim muito saborosos, são um corte denominado Edelzwicker. As classificações seguintes são AOC Alsace e AOC Alsace Grand Cru (AOC = Denominação de Origem Controlada). Importante notar que nos rótulos é obrigatória a presença do nome da varietal. Esta é a única região francesa com esta exigência. Duas outras classificações são a “Vendange Tardive” (colheita tardia) e “Sélection de Grains Nobles” (colheita de grãos Botritizados) que são os vinhos de sobremesa.
Para os leitores aventureiros, fazer a Rota dos Vinhos Alsacianos é um dos melhores passeios que conhecemos. O centro de tudo é a cidade de Colmar. Pode-se partir dali ou optar por começar em Thann acompanhado o Rio Reno até Marlenheim, próximo a Strasbourg.
Esta rota existe a 60 anos e todo visitante é bem vindo em qualquer época do ano. Os alsacianos se esmeram para mostrar os seus vinhos e uma fantástica culinária. Somos recebidos de braços abertos até mesmo durante as pesadas fainas da colheita e vinificação.
As localidades de Colmar, Kaysersberg, Riquewihr e Illhaeusern são pontos obrigatórios. Lá estão alguns dos melhores Chefs de cozinha, com pratos perfeitos para harmonizar com os vinhos de produtores como Kuentz-Bas, Trimbach, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Beyer, Rolly Gassmann, Weinbach, Bruno Sorg, Marc Kreydenweiss, Hugel, Domaine Ostertag, Albert Boxler, Schlumberger entre outros.  
A seguir, alguns produtores e seus vinhos icônicos.
Maison Trimbach
Produzindo desde 1626, está na 12ª geração de vinhateiros dando continuidade a uma impecável reputação. Um dos seus Riesilngs o Clos Sainte Hune é considerado como o melhor do mundo por críticos do calibre de Jancis Robinson e Hugh Johnson.
Segundo o produtor, “para se regalar com um Clos de Sainte Hune, é necessário esperar pelo menos 10 anos para que ele mostre seu verdadeiro potencial, 15 anos, em geral, ele está perfeito ao início de seus 20 anos, ou até mais”…
Proveniente de um verdadeiro Clos, plantado em anexo à igreja da família em Hunawihr, o Sainte Hune não é produzido em volume maior que 10.000 garrafas, devido à baixíssima produção das videiras de 50 anos em um restrito terroir.
Opinião dos Especialistas:
Wine Spectator: 94 pontos (2001) 96 pontos (1996)
Robert Parker: 94 pontos (2000) 95 pontos (1998)
Wine Enthusiast: 93 pontos (1998)

Domaine Zind-Humbrecht
Porduzindo vinhos desde 1620, esta vinícola é considerada como o melhor produtor de vinhos brancos do mundo. Uma unanimidade tão grande que é mesmo surpredente: Bettane & Dessauve (entre os mais respeitáveis críticos na França) o considera “como um produtor excepcional, representante da qualidade mais absoluta.”
Robert Parker diz: “Não sei o que é o mais extraordinário, a qualidade dos vinhos ou a dedicação completa de seu proprietário Olivier Humbrecht. Esse grande homem, forte e intelectual é provavelmente o melhor produtor do mundo”.
Jancis Robinson: ” Sou admiradora de sua incessante procura pela a melhor qualidade”.
Seu vinho mais conceituado é o Sélection de Grains Nobles Pinot Gris Clos Jebsal

O vinho precisa de alguns minutos para revelar sua extraordinária textura. O nariz é muito sutil, com notas confitadas, aeradas. A boca, untuosa, é duma pureza e densidade impressionantes. Nesse nível de concentração qualquer desvio seria perceptível. Mas aqui o açúcar e a acidez são concentrados num equilíbrio perfeito. O material é denso, aveludado. Tem uma riqueza extrema, um acidez excitante. É a pureza de equilíbrio e persistência quase infinitos. Provavelmente um dos melhores licorosos já produzidos, que recebeu os elogios de todos os grandes críticos (Parker: 97/100, Bettane & Dessauve 19/20 etc…). 
Se tornou um vinho ícone.
Domaine Schlumberger
É o maior produtor da Alsácia. Em atividade desde 1810. O vinhedo já existia na Idade Média e algumas das adegas, ainda em uso, datam daquela época. Há um perfeito casamento entre tecnologia e tradição – carroças puxadas por cavalos e helicópteros se unem no mesmo esforço de qualidade. A coerência e a harmonia do processo de produção são obras de várias gerações dedicadas a esses “terroirs” privilegiados e orgulhosos de uma fama internacional. Dentre sua inacreditável linha de vinhos destacamos o Gewurztraminer Grand Cru Kitterlé.

Produzido num espigão rochoso, com inclinação de 30 a 60% e excelente exposição sul-oeste a sudeste. O solo leve e arenoso é segurado por muros de pedras secas. Rendimento de 25 hectolitros por hectare. Colheita manual e prensagem das uvas inteiras. Criação sobre borra durante oito meses em tonéis de carvalho, com controle de temperatura.
Sua coloração é amarelo ouro claro, com reflexos verdes. No nariz é intenso porem delicado, com notas tropicais (lichia, manga) e especiarias (gengibre). Com a evolução percebem-se notas florais (rosa) e cítricas (grapefruit). Na boca é Um vinho amplo, vivo e bem equilibrado. A complexidade dos aromas se desenvolve fiel aos apresentados ao nariz. Bom equilíbrio, persistência surpreendente.

Dica da Semana:para celebrar tudo isto, mais um vinho de lá!
Crémant d´Alsace – $
René Muré, pequeno produtor da Alsácia, explora o domaine familiar situado em Rouffach. O solo de calcário argiloso confere a este espumante Brut seus aromas cítricos e de frutas amarelas (damasco, mirabela) e sua estrutura elegante. As parreiras tem idade media de 20 anos.
Uvas: Pinot Blanc; Pinot Auxerrois; Riesling; Pinot Gris; Pinot Noir.
Cor amarela pálida, com reflexos verdes. Perlage fina, numerosa e regular. No nariz trás aromas delicados florais (tília) e de frutas (maçã); notas de canela e baunilha. Na boca é bem equilibrado e redondo. Seco e aromático, com final vivo. Persistente.

 

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 1ª parte


Três uvas importantes que produzem fenomenais vinhos brancos. A primeira já passou por estas páginas quando visitamos os vinhos alemães, mas ela brilha em outros terrenos a ponto de fazer uma dura concorrência e gerar milhões de apaixonados pela sua versão francesa, produzida na Alsácia. 

Vamos conhecer um pouco mais sobre esta curiosa região franco-alemã, sua uvas, e seus vinhos. 
Riesling 
Originária da região do Reno, esta uva é considerada como a verdadeira rainha dos brancos em franca oposição à Chardonnay. Produz vinhos muito aromáticos, perfumados, com claras notas florais e alta acidez. Dados estatísticos de 2004 mostram que esta varietal é a 20ª mais plantada no mundo e seus vinhos estão sempre entre os melhores brancos do planeta. 
Isto se deve a uma característica muito particular: é a uva que melhor expressa o terroir em que está plantada. Um Riesling do Reno é diferente do Alsaciano que é diferente do Australiano e assim por diante. Para os apreciadores, a disputa pelo melhor fica restrita entre França e Alemanha. Podem ser produzidos desde vinhos secos até os doces, de colheita tardia bem como espumantes. Raramente são envelhecidos em madeira o que sugere que devem ser consumidos jovens, mas devido sua acidez característica, suportam muito bem um longo período de guarda. Os secos duram de 5 a 15 anos, os meio-doces de 10 a 20 anos e os late harvest duram 30 ou mais anos. Há registros de Riesling alemães com mais de 100 anos. 
Chegaram à Alsácia em 1477 adaptando-se ao tipo de solo mais calcário desta região. Tecnicamente o Riesling alsaciano é considerado uma variação de sua irmã germânica. Seus vinhos são mais alcoólicos e mais redondos devido às técnicas francesas de vinificação. 

Rieslings maduros tem uma tendência a apresentar aromas e sabores de derivados de petróleo, querosene principalmente. Existe uma discussão interminável se esta característica é uma qualidade ou um defeito. Podemos ter certeza, apenas, que é um autêntico. Esta uva é encontrada nos principais países produtores, entre eles Austrália e Nova Zelândia, Áustria, Estados Unidos e Canadá, Chile, Argentina e Brasil. 
Seus vinhos são de fácil harmonização sendo muito versáteis: do peixe à carne de porco, passando sem problemas pelos sabores condimentados das culinárias Thai e Chinesa. 

Resposta ao Desafio da semana passada 
Como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar, eis a resposta. Quando se trata de proteger seus domínios, os franceses são imbatíveis. Em 1954, após o relato de numerosos casos de OVNIs, o Prefeito da comuna de Châteauneuf-du-Pape, Lucien Jeune, editou um decreto municipal: 

“Art. premier. Le survol, l’atterrissage et le décollage d’aéronefs dits soucoupes volantes ou cigares volants de quelque nationalité que ce soit, sont interdits sur le territoire de la commune. 
Art 2. Tout aéronef, dit soucoupe volante ou cigare volant, qui atterrira sur le territoire de la commune, sera immédiatement mis en fourrière. 
Art 3. Le garde champêtre et le garde particulier sont chargés, chacun en ce qui le concerne, de l’exécution du présent arrêté”. 

Tradução: 
1º – Ficam proibidos no território desta comuna, o sobrevoo, a aterrissagem ou a decolagem das aeronaves conhecidas com discos voadores ou charutos voadores, de qualquer nacionalidade que seja. 
2º – Toda aeronave denominada disco voador ou charuto voador que aterrissar neste território será imediatamente arrestada. 
3º – A Guarda Campestre e a Guarda Particular estão incumbidas, cada uma em sua área, da execução do presente decreto. 
O curioso é que esta postura está válida até hoje, ninguém se deu ao trabalho de revogá-la! 
Do outro lado do mundo, na Califórnia, um moderno e atrevido produtor, Bonny Doon, lançou em 1984 uma família de vinhos elaborados nos moldes dos Châteauneufs. Bem ao seu estilo informal e quase debochado, o nome escolhido não poderia ser outro Le Cigarre Volant, ou Disco Voador… 

Cantinho do Gils: Nosso sempre atento comparsa nos traz uma preciosa informação sobre o 6º Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, ocorrido em Bento Gonçalves entre os dias 03 e 06 deste mês de Julho. Reuniu 503 amostras de 17 países que foram avaliadas por um júri formado por 45 degustadores de 11 nacionalidades. Foram premiados 148 vinhos de 12 países. A relação completa está neste link: (download formato PDF) www.enologia.org.br/pt/component/kd2/item/download/3 

Dica da Semana: vinhos da Alsácia são maravilhosos, mas muito caros. Depois de uma boa pesquisa encontramos esta joia: 

Riesling 2009 
Produtor: P.E. Dopff & Fils 
País: França/Alsácia 
Uvas obtidas em vinhedos próprios, rendimento limitado e colheita manual. A vinificação é tradicional em tanque de aço inoxidável com controle de temperatura. Não sofre fermentação malolática e nem passa em barrica. Um Riesling, seco e marcante, bem típico da Alsácia. Mostra notas floras e minerais e uma ótima acidez. Pode ser guardado por até 10 anos. 
Harmonização: Frutos do mar e pratos orientais.

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