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Syrah a poderosa


Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores. 
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa. 
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado. 
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:

África do Sul –> Califórnia –> Sul da França –> Vale do Rhône –> Austrália 
Delicado —————————————————————> Intenso 

Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras. 
Onde ela brilha? 
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon. 

Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio. 

O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte. 
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis! 

Semana que vem trataremos deles. 
Desafio da Semana passada: 
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho) 

“Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões”: 
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio). 
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis. 
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante. 
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando. 

Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo: 
2 – Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano. 
Correto, já explicado acima; 
3 – Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho. 
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites; 
4 – Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada. 
OK! Já explicado; 
5 – Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas. 
Está mais para lenda… 
6 – Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho. 
Outro uso inventado por “gente de muito requinte”…, não é uma boa forma de servir vinhos; 
7 – De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável. 
Lenda; 
8 – Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho. 
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente; 
9 – As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente. 
Outro uso não confirmado, mas plausível; 
10 – A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa. 
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte. 
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem. 
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso. 
Desafio para esta semana: 
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca? 

Dica da Semana:um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar. 

Côtes du Rhône St Esprit 2009 
Produtor: Delas Frères 
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache 
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos. 
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas. 
RP – 90 pontos

Atendendo aos pedidos

Vários leitores, por e-mail, expressaram suas dúvidas sobre a coluna da semana passada. Como o tema é interessante, preparamos esta nova página em cima dos questionamentos. A pergunta mais recorrente foi: 
As garrafas de vinho poderiam indicar a qualidade, a idade ou a origem? 
Com relação à qualidade ou à idade, a resposta é pura e simplesmente um não. Com relação à origem, em certos casos, é perfeitamente possível saber de onde vem o vinho. Vamos elaborar um pouco mais estes pontos. 
Não há como saber, pelo menos para o consumidor final, qual a qualidade do conteúdo, usando apenas a garrafa como indicador. Talvez nos brancos, em cascos claros, seja possível avaliar se o vinho está passado (cor âmbar), e nada mais. Este é o grande trunfo dos falsificadores, ninguém quer arriscar desarrolhar uma garrafa e prová-la antes de colocar num leilão de vinhos antigos… 
Mas há indicadores confiáveis que podem ser usados para qualificar um produto como melhor que outro. O mais visível é o rótulo: procurem por material mais encorpado e impressão nítida. Outro ponto a ser considerado é a chamada cápsula que envolve o gargalo protegendo a rolha: os melhores vinhos usam estanho ou lacre de cera, os vinhos comuns, plástico. A garrafa, hoje, funciona mais como um apelo mercadológico: pode haver novos formatos e rótulos em impressão direta sobre o vidro; o peso, muitas vezes, é usado para passar a sensação de que este é um produto superior – garrafas de mesmo formato com pesos bem diferentes. Dentro, o mesmo vinho… 
Falando em rótulos, nem sempre foram de papel: 

Seguindo certos parâmetros, poderíamos avaliar se uma garrafa é antiga ou nova, mas nada do que vamos aprender, a seguir, vai estar no nosso dia a dia de apreciador de um bom vinho. Observem a próxima foto: 

Está seria uma garrafa de Chateau Lafite, safra de 1789 da adega do Presidente Thomas Jefferson. Era uma fraude, embora a garrafa fosse antiga. Reparem no formato, não é uma bordalesa com pediria o Lafite, se aproximando do formato da Borgonha. 
Um outro exemplo de garrafa nitidamente antiga (ou pelo menos mal cuidada): 

Quanto ao conteúdo… 
O terceiro ponto: se uma garrafa pode indicar a origem do vinho, a resposta é um possível sim, dentro de certos limites. Os formatos descritos na semana passada têm origem precisamente neste fato – os produtores buscavam uma identidade visual para seus produtos. Com a chegada dos vinhos do novo mundo, esta lógica sofreu uma alteração: os novos produtores gostariam que a identidade visual dos seus vinhos remetesse aos vinhos franceses. 
Resumindo: o que se pode esperar de um vinho, numa garrafa Bordalesa, é que ele tenha sido elaborado com uma ou mais castas originárias de lá: Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc, Malbec e Carmenére. O mesmo raciocínio vale para as varietais da Borgonha e do Vale do Ródano (Rhone). Já estamos escutando a nova dúvida: Há exceções? Sim, muitas! 
Não precisamos ir muito longe, Itália, Portugal e Espanha. Quais a garrafas para os vinhos de Touriga Nacional, ou do Tempranillo ou ainda das inúmeras castas italianas? O melhor a fazer, neste caso, é interpretar por aproximação. Por exemplo: vinhos portugueses em garrafa bordalesa são vinificados, com as castas locais, à moda de Bordeaux. 
Podemos ir mais longe: há garrafas italianas que são quase exclusivas. Dois exemplos abaixo: 

A primeira é o clássico Chianti e a segunda o formato usado para os vinhos produzidos na região de Alba, um meio-termo entre os formatos de Bordeaux e Bourgone. 
Algum dos leitores sabe a razão do corpo em palha da 1ª garrafa acima? 

Uma única linha sobre cores: alguns vinhos, principalmente tintos, devem ser protegidos da luz, logo, as garrafas escuras. 
Por que 750 mililitros? 
Esta foi outra dúvida que tem múltiplas respostas; não há consenso entre os pesquisadores. Começamos com um pouco de história. As primeiras garrafas variavam desde 600 ml até 800 ml. Quem mais se preocupava com isto, naquela época, era a Inglaterra: direito do consumidor é coisa séria até hoje. Eventualmente eles teriam padronizado um volume de 1/5 de galão, medida básica do sistema vigente de então. Os norte-americanos copiariam a ideia, adaptando-a para o seu galão (US gallon), o que dava aproximadamente 757 ml, mais tarde arredondada para 750 ml pelo Canadá e EUA, no início da adoção do sistema métrico por estes países (1979). Mas isto não explica a escolha por este tamanho. Eis algumas possibilidades: 
1 – como as primeiras garrafas eram sopradas individualmente, esta medida era equivalente à capacidade pulmonar média dos sopradores; 
2 – o peso de uma garrafa deste volume se aproxima de 1,5 Kg o que é conveniente para o transporte; 
Esta última é a mais curiosa; 
3 – 1/5 de galão era considerado como uma quantidade aceitável para um adulto consumir numa refeição! 
Os Grandes Tamanhos 
Esta foi uma pergunta intrigante: como servir as garrafas de grandes tamanhos? 
A resposta é meio sem graça: como se serve uma garrafa padrão! (mesmo que seja necessária a ajuda de outra pessoa) 
Mas vale a pena levantar outras dúvidas, por exemplo, quando devemos usar tamanhos maiores? 
Se vamos servir durante um evento apenas o mesmo vinho, tinto ou branco, vale a pena usar garrafas Magnum em lugar de várias garrafas normais. A Magnum dupla é mais complicada e servirá melhor para fazer uma performance. Os produtores gostam de exibi-las, é um chamariz! 
Mas se o assunto for espumante, surge um novo problema para ser resolvido: como gelar uma garrafa como a Melquisedec com seus 1,5 metro e 40Kg ou mais? Sinceramente, não é para os pobres mortais. Mas nos grandes restaurantes do mundo, isto não parece ser um grande problema! 

Para futuras referências, uma coleção de diversos formatos: 

Da esquerda para a direita: Bordeaux, Bourgogne, Flauta, Champagne, D’Alba, Marsala, Porto, Húngara, Bocksbeutel (Francônia). 

Dica da Semana: para deixar todo mundo sem entender nada! 

Chianti DOCG 2009 
Produtor: Piccini 
País: Itália 
Região: Toscana 
Fermentação tradicional com controle de temperatura e um longo período de maceração. Maturação: Não passa por madeira. 
Este eterno Best Buy, para a Wine Enthusiast, mostra um bouquet cheio de frutas maduras. No palato é rico e macio, com um toque fresco que o deixa perfeito para acompanhar comida. 
Combinações: Carnes, queijos, massas, risotos e aperitivos. 

(Cadê a garrafa típica?) 

Agradeço a colaboração dos leitores: Sérgio Pirilo, Felipe Carruncho, Augusto Escobar e Giancarlo Marreti, esperando que suas dúvidas tenham sido esclarecidas.

Conhecendo as garrafas de vinho

Para os menos avisados, o nosso apreciado vinho só começou a ser servido em garrafas de vidro a partir de 1630, na Inglaterra. Antes disto, o vinho era guardado em ânforas cerâmicas, depois em tonéis de madeira. Vamos conhecer um pouco desta curiosa evolução. 

Tudo gira em torno da tecnologia de fabricação de vidros. Os Romanos armazenavam seus vinhos nas famosas ânforas, utilizando pequenos jarros de cerâmica ou estanho para servi-los (canjirões). Conheciam o vidro, mas era um material frágil e inadequado para armazenar ou para o serviço do vinho. 

No início do século XVII, após um período de escassez de madeira, surgiriam os fornos a carvão que podiam atingir a temperatura ideal (1500ºC) para a fabricação de vidros espessos e resistentes usados nas garrafas. Estas eram sopradas individualmente. Como havia a necessidade de decantar o vinho antes de servi-lo, os primeiros formatos eram bojudos, conhecidos como acebolados: sua forma lembrava o contorno da cebola. 

Este formato, em pouco tempo, ganharia laterais mais retas, com um contorno semelhante a um malhete ou massa, como preferem alguns autores. 

À medida que o vinho foi se popularizando, as pessoas passariam a comprá-lo em garrafas e não mais em barricas. Não existiam formatos ou quantidades padronizadas. O descontrole era de tal ordem que na Inglaterra de 1860, foi proibida a venda do vinho engarrafado. Como alternativa, o consumidor levava o seu recipiente que era preenchido com quantidades medidas pelo vendedor. Na França, os vinhos da Borgonha e as Champagnes eram vendidos em garrafas de 800ml, os de Beaujolais em garrafinhas de 500ml. Não havia um consenso. 
Somente a partir de 1970 houve uma mudança importante: por exigência dos Estados Unidos, as garrafas exportadas para lá deveriam ter um volume padronizado de 750ml, que acabou se tornando o padrão universal. 
Os Formatos 
Após a padronização do volume, surgiria uma plêiade de diferentes formatos. Alguns se tornaram tradicionais e as garrafas passaram a ser designadas pelos nomes destes vinhos: 
Garrafa Bordalesa – a mais conhecida: 

Os vinhos da Borgonha e do Vale do Ródano tem outro formato: 

A Flauta, típicas dos vinhos Alemães ou Alsacianos: 

Esta garrafa bojuda é da região alemã da Francônia (norte da Baviera): 

Não chega a ser um conceito universal estando mais próximo de uma tradição. Outras garrafas características são as de vinho do Porto e as de espumantes.  

Outros tamanhos 
Muito comum em comemorações esportivas, as grandes garrafas, principalmente as de espumantes, recebem denominações especiais. Eis uma lista resumida. 
Para quase todos os vinhos:  
Magnun – 1,5 l (duas garrafas);
Doble Magnum – 4 garrafas. 
Para os espumantes: (eventualmente podem ser usadas com outros vinhos) 
Jeroboão – 3 l (equivale a Double Magnum) 
Roboão – 6 l 
Matusalém – 8 l 
Salmanazar – 9 l 
Baltazar – 12 l 
Nabucodonosor – 20 l

Acima deste tamanho existem ainda a Melchior, a Salomão, a Soberano e a Melquisedec, com impressionantes 30 litros (fabricadas por encomenda). 

A foto a seguir mostra uma Melquidesec da Maison Drappier, especialista em grandes tamanhos. Tem aproximadamente 1,5m de altura, pesando mais de 40 quilos. São produzidas apenas 20 garrafas por ano. Quem vai encarar? 

Dica da Semana: depois deste exagero todo, ficamos com água na boca. 

Espumante Cave Geisse Brut Nature 
Elaborado pelo método champenoise, este espumante é apropriado para todos os momentos. Por não receber a adição de licor de expedição, acompanha muito bem qualquer refeição. 
Localização: Pinto Bandeira/Serra Gaúcha 
Açúcar Residual (aprox. 1,0 g/l) 
Vinho Base: 70% Chardonnay 30% Pinot Noir

Porque não consumimos vinhos diariamente?

Aproveitando a onda provocada pelas recentes tentativas de encarecer, ainda mais, a nossa apreciada bebida, vamos mergulhar num tema que está por trás de toda esta discussão: o baixo consumo de vinho no Brasil. 
Não é preciso ter muita imaginação para deduzir que o fator clima tem um papel preponderante – vinho é uma bebida adequada para climas mais frios. Este é um bom argumento, sem dúvida, mas não é determinante. Poderíamos consumir vinhos brancos leves ou espumantes, substituindo o nosso velho Chopp, por exemplo. 
Nos estados da região sul, onde o consumo é significativamente maior, encontramos o fator cultura: os imigrantes que colonizaram majoritariamente estes estados consumiam vinho na sua origem. Devemos a eles a existência da nossa indústria vinícola, que começou produzindo para consumo dos colonos. Este é outro fator de grande importância, para eles, o vinho faz parte da dieta, é um alimento como arroz ou feijão, e isto faz toda a diferença. O mesmo fator pode ser observado nos vizinhos Argentina e Uruguai que foram colonizados de forma semelhante. 
Alguns podem confrontar esta posição afirmando que é redundante, ou seja, não faz parte da dieta por razões climáticas (ou vice versa). Mas o X do problema é outro: o vinho é enquadrado pelo governo, como bebida alcoólica, um artigo de luxo, e não como um alimento. E isto muda tudo! 

O Custo de uma garrafa de vinho importado 
Didú Russo, fundador da Confraria dos Sommeliers e coordenador do Comitê do Vinho da Fecomercio SP, publicou em seu blog um estudo sobre a hipotética viagem de uma garrafa de vinho, do velho mundo, desde o seu produtor até ser consumida por alguém. O quadro a seguir faz um resumo destes custos: (valores em R$) 

O primeiro subtotal mostra desde o preço pago ao produtor até os custos obrigatórios para embarque num transporte marítimo. Alguns itens são fatores de encarecimento, como o container refrigerado, sem o qual o produto chegaria estragado. 
A partir do subtotal 2 vamos verificar o tamanho da bocarra governamental. A enxurrada de taxas, impostos e burocracia não tem outra função que alimentar a insaciável máquina. Copiando Didú Russo: 
“O Governo não faz nada além de burocratizar a operação, gerando corrupção, cobra IPI, PIS, COFINS, ICMS, IPI, CSLL, IRPJ, Imposto de Importação, sobreposições de IPI e de ICMS, taxas de registro do rótulo, de análise dos vinhos, Selo Fiscal, ST”. 
O importador pouco pode fazer e precisa administrar muito bem os seus custos para não onerar demasiadamente o vinho, sob o risco de torná-lo inacessível. Para muitos, estes custos não são visíveis; eis uma pequena amostra: viagem de compra, despesas de envio, frete nacional, armazenamento em local apropriado, enfrentar toda a burocracia estatal, divulgação, degustações e até o financiamento da venda para lojas, restaurantes e mercados. Por tudo isto, cobra R$ 8,92… Honestamente, nem sempre é um bom negócio! 
Chega a vez dos maiores gulosos: lojas, restaurantes, supermercados e assemelhados. Os custos são semelhantes aos do importador, mas outros problemas aparecem. Precisam manter a garrafa em local adequado, contratar Sommeliers ou vendedores especializados, ter o equipamento de serviço do vinho (taças, decantador, saca-rolhas, etc.) e por último, fixar um preço de venda final que cubra isto tudo e torne o vinho um produto de qualidade. Aquela garrafa que custou R$ 3,60 na origem nos será ofertada por R$ 60,00. Uma margem de R$ 38,62 sobre o preço de compra no importador. Nada mal (se alguém pagar). 
Resumindo: só de impostos pagamos 40% sobre o preço de venda aos lojistas (R$ 23,17), sem que nenhum benefício tenha sido gerado por este custo. Alimentou a burocracia somente. 
Comparando o valor na origem com o preço final de venda, o aumento foi de quase 17 vezes, um absurdo! 
Se um dia vingar a ideia de taxar o vinho como alimento, pagaremos menos de 20% em taxas e impostos (dependendo do estado) o que poderia alavancar um maior consumo. Este é o caminho a seguir. 

Dica da Semana: para estimular o consumo diário, nada melhor que o clássico bom e barato. 

HEMISFERIO CABERNET SAUVIGNON 2009 
País: Chile/Curicó 
Produtor: Miguel Torres 
Envelhecimento: 50% em carvalho Francês durante 6 meses. 
Tempo de guarda: 3 a 5 anos 
Harmonização: embutidos, carnes e churrascos. 
Coloração rubi intensa. No olfato remete a aromas do bosque e especiarias, sobre ricos fundos de couro. No palato os taninos são redondos, cheio de fruta e plantas. Miguel Torres foi um dos pioneiros na produção de vinhos finos no Chile, com vários prêmios em sua diversificada linha de vinhos.

Aberta a temporada de enogastronomia!

Com a chegada das temperaturas mais amenas do outono e inverno, podemos passar a consumir mais vinhos e comidas ricas que combinem com tintos potentes que não seriam as escolhas na época do verão. Os estados da região sul são mais privilegiados com variações de temperaturas menos marcantes. Mas outros cantos deste país, sudeste, norte e nordeste, entre outros, são castigados por inclementes verões e, consumir vinho nestas temperaturas exige alguma engenharia térmica… 
Como aproveitar bem esta temporada? 
Uma das opções mais interessantes, do momento, são os Wine Bars, bastante populares nas grandes capitais. Podem ser descritos como um meio termo entre um restaurante e um bar. Alguns podem ser focados num único tipo de vinho, como as Champanherias, outros se especializam em oferecer um simpático cardápio de acepipes para harmonizar com a carta de vinhos, cheia de interessantes opções. 
Marcio Martins e sua esposa Andréa Svaiter, ele um enófilo, ela jornalista, resolveram fazer uma guinada em suas vidas entrando para o ramo da gastronomia. Aproveitando o espaço de uma antiga lavanderia na Rua Bolivar, em Copacabana, deram partida no projeto de um pequeno bistrô que atendesse a este segmento onde não havia opções como as de seus sonhos. Do nome até o cardápio, passando pela decoração, tudo foi pensado para atender, com categoria, o mais exigente cliente. Contrataram a consultoria dos experientes Chefs Ciça Roxo e Joca Mesquita, responsáveis pelo sucesso do bar de tapas Venga e puseram mãos à obra. 
Vamos conhecer o Zot (*), que apesar de ser homônimo de uma excelente cerveja Belga, tem se tornado uma referência nas harmonizações com vinho. (e cerveja) 

A casa é um charme só com uma decoração moderna, clean, bem iluminada. Simpáticos quadros negros nas laterais oferecem desde as sugestões do dia até criativas mensagens que ajudam na ambientação. O cardápio, pensado para oferecer pequenas porções, é o ponto alto proporcionando diversas experiências a um custo bem adequado ao bolso da maioria dos mortais. Entre opções quentes e frias, destacam-se as crocantes Bombas de Camarão, a saborosa Brandade de Bacalhau com Baroa, o espetacular Salame de Atum e a Degustação de Queijos de Cabra da Fazenda Genève. 

Para harmonizar uma enxuta carta de vinhos com interessantes opções: bons espumantes brasileiros, brancos, tintos e até um solitário rosé. Todos com preços justíssimos. Um fator importante que demonstra a preocupação de Márcio com a sua adega é a presença de vinícolas boutiques brasileiras como Máximo Boschi e Don Guerrino, este último, um dos indicados nesta coluna. 
Para os não enófilos, há uma boa carta de louras… 
Como opção, para os que não desejam consumir uma garrafa inteira, a casa oferece as garrafinhas de 187 ml de vinho com se fossem taças. A política de rolha é correta, o lugar é wine friendly, ou seja, sua garrafa é benvinda. (consulte antes, por favor). 

Não existe um Wine Bar em sua cidade? 
Nas principais capitais ou grandes cidades há sempre uma boa opção. Mas o que falar sobre cidades menores onde o vinho é um artigo raro e difícil de ser adquirido? 
Não desanimem! Está na hora de abrir aquelas garrafas que guardamos diligentemente à espera de uma boa oportunidade. Convide alguns amigos (nada mais triste do que beber um bom vinho sozinho), organize alguns acompanhamentos, queijos, frios, pães, patês e aproveitem a degustação. Sejam simples, sem preocupações com sofisticação. Uma excelente opção para os dias mais frios é uma boa sopa, como um Creme de Cebolas ou um prato de massa, na manteiga e sálvia. 
Saúde e Bon Apetit! 
Contem para a gente se houver um bom bar em sua cidade. 
Cantinho do José Paulo Gils, meu comparsa nesta coluna: 
Concurso Mundial de Bruxelas 2012 elege vencedores 
Nos dias 4, 5 e 6 de Maio, os jurados do Concurso Mundial de Bruxelas 2012, provaram 8.397 vinhos oriundos de 52 países. Para avaliá-los, a organização chamou sommeliers, compradores, importadores, jornalistas e críticos de vinhos. Ao todo foram 320 os jurados, provenientes de 40 países diferentes. 
Os melhores prêmios -Best Wine Trophy, são atribuídos aos vinhos que, dentro de cada categoria (foram seis), receberam a maior pontuação. A que será certamente mais importante, a de vinhos tintos, foi ganha pelo vinho do Alentejo Poliphonia Signature 2008, da Granacer (Reguengos). A Espanha foi o país que mais levou medalhas Grande Ouro – 21 – cabendo à França 15. Portugal e Itália ficaram com 10 cada. 
Eis os vencedores de cada categoria: 
Melhor Espumante: Joly-Champagne Cuvée Spéciale (Champagne – France) 
Melhor Vinho Branco: Hacienda Zorita Verdejo 2011 (Rueda – Spain) 
Melhor Vinho Rosé: Theopetra Estate Rosé 2011 (Meteora – Greece) 
Melhor Vinho Tinto: Poliphonia Signature 2008 (Vinho Regional/Alentejo – Portugal) 
Melhor Vinho de Sobremesa: Samos Nectar White 2008 (Samos – Greece) 

Dica da Semana: um bom tinto de Portugal, preferência nacional. 

Esteva Tinto 2009 
Pais: Portugal/Douro 
Produtor: Casa Ferreirinha 
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca 
Atrativo e elegante, alia carácter e versatilidade numa escolha muito acessível, ideal para o dia a dia. Esteva integra a gama de vinhos da celebrada Casa Ferreirinha, a marca especialista com mais tradição de vinhos de qualidade no Douro e uma das suas maiores referências mundiais. Segundo o Wine Advocate, o newsletter de Robert Parker, mostra boa profundidade para sua faixa de preço. 

Fotos do texto obtidas no site Enoeventos. 

(*) Zot Gastro Bar Rua Bolívar, 21 – Copacabana Tel: (21)3489-4363 Horário Terça a quinta: 18-24h Sexta e sábado: 18-01h Domingo: 12-24h

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