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Vinhos uruguaios sempre foram muito bons. Existe uma grande tradição vinícola naquele país e, nos moldes de Argentina e Chile, também cultivam uma uva emblemática, a difícil Tannat, que parece ter encontrado seu terroir ideal.
Apesar de só estarmos falando de vinhos tintos nestas três ultima colunas, chamo a atenção para os vinhos brancos uruguaios que andam conquistando os paladares mais exigentes mundo afora. Algumas cepas nada comuns no hemisfério sul como a italiana Arneis, a ibérica Alvarinho, as francesas Marsanne, Petit Manseng e Sauvignon Gris, além da alemã Gewurtztraminer, têm produzidos vinhos muito interessantes.
Seguindo no estilo das colunas anteriores, apresentamos os melhores vinhos começando pela Tannat, que tem o seu melhor terroir bem na fronteira com o Brasil. Do lado de cá é a conhecida região da Campanha Gaúcha, terra de alguns de nossos melhores tintos.
17 vinhos foram laureados, eis os 3 melhores:
95 pts – Amat 2009 (R$ 245,00 – eleito o melhor tinto do Uruguai, título que conquista há alguns anos);
94 pts – Massimo Deicas Tannat 2008 (indisponível);
94 pts – Jano Tannat 2012 (R$ 173,00)
As tradicionais Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc também fazem sucesso, mas foram as assemblages que obtiveram as melhores pontuações:
94 pts – Libero Reserva 2011 – Tannat, Nero D’Avola e Sangiovese (R$ 70,00);
94 pts – Eolo 2010 – Tannat, Ruby Cabernet (R$ 85,00);
94 pts – Primo 2008 – Tannat, Cab. Sauvignon, P. Verdot, Merlot (indisponível)
O Brasil voltou ao Guia Descorchados nesta edição, mas só com espumantes e apenas os do Rio Grande do Sul. Destacaram-se entre os 18 melhores:
93 pts – Cave Geisse Terroir Nature 2009 (R$ 130,00);
92 pts – Adolfo Lona Pas Dose Nature (R$ 80,00)
92 pts – Casa Valduga Gran Reserva Nature 2009 (R$ 120,00)
Na dica de semana selecionamos mais um bom vinho do Uruguai.
Vinhos Verdes no Rio de Janeiro
No dia 2 de julho de 2015 a Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes promoveu, no Hotel Pestana – Rio de Janeiro, um evento de apresentação de produtores desta região que buscam representação no Brasil.
Atualmente os Vinhos Verdes são modernos, pouco tendo em comum com alguns tradicionais produtos que ainda encontramos à venda nos mercados. Um vinho que tem características adequadas para ser consumido no nosso clima tropical: são leves, refrescantes, descontraídos e de baixa caloria com um teor alcoólico ligeiramente menor que o encontrado em outros vinhos.
Oito vinícolas estavam presentes com uma gama de produtos que incluíam brancos, tintos, rosés, espumantes e até um IG Minho de Touriga Nacional, único “não verde” neste evento:
Adega Ponte de Lima;
Adega Vale de Cambra;
Casa das Fontes;
Caves Campelo;
Quinta da Calçada – Adega do Salvador;
SAVAM – Solar de Serrade;
VERDECOOPE – União das Adegas Coop. da Região dos Vinhos Verdes;
Vinhos do Norte.
A variedade e a qualidade impressionaram. Destaque para alguns espumantes, entre eles o Terras de Felgueiras tinto, bem diferente.
As nossas escolhas ficaram com estes aqui:
Via Latina Alvarinho;
Tapada dos Monges Loureiro;
Solar de Serrade Reserva Alvarinho;
Dica da Semana: direto da relação “Super-Preço” do Descorchados. Recebeu 92 pts e tem um precinho muito camarada.
Viñedo de Los Vientos Tannat 2012
Apresenta cor rubi escuro.
No olfato percebem-se frutas negras maduras, notas de cacau e pimenta do reino.
Bem estruturado, taninos firmes, fresco, equilibrado, final persistente.
Harmoniza com: costela bovina no bafo, penne à carbonara, rabada, carne ensopada com polenta mole, lasanha à bolonhesa gratinada, pizza portuguesa.
La Selecione del Sindaco, que poderia ser traduzido com A Seleção do Prefeito, é um concurso enológico internacional que tem por objetivo promover empresas e regiões que produzem vinhos de qualidade com denominações DOC, DOCG e IGT, em pequenas quantidades, entre 1000 e 50.000 garrafas. Uma interessante característica é que participam, conjuntamente, as municipalidades e as vinícolas de cada região.
Patrocinado pela Associazione Nazionale Città del Vino, e pela Recevin (Rede Europeia da Città del Vino), conta com supervisão científica da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) e a chancela do Ministero per le politiche agricole (Ministério da Agricultura da Itália). A primeira edição foi em 2002 na cidade de Siena e já percorreu a Itália de norte a sul passando por Conegliano (2003), Alba (2004), Roma (2005), Ortona (2006), Monreale (2007), Cividale del Friuli (2008), San Michele all’Adige (2009), Brindisi (2010), Torrecuso (2011), Lamezia Terme (2012), Castelfranco Veneto e Asolo (2013) e Bolzano (2014).
Em 2015 foi escolhida a cidade de Oeiras, Portugal como a sede da 14ª edição do evento. O Brasil foi o convidado de honra devido à sua identidade cultural com o povo português e aos fortes laços que nos ligam à Itália, origem de um grande número de imigrantes que ajudaram a moldar o nosso país, principalmente na região sul. Sem eles não teríamos vinhos, com certeza!
Para sediar as seções de degustação foi escolhido o Palácio Marquês de Pombal, construído pelo arquiteto húngaro Carlos Mardel, na segunda metade do século XVIII, e que serviu de residência do histórico Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, “pai” do vinho do Porto, por ter demarcado e protegido a região do Douro.
Construção de rara beleza, o edifício é conhecido por seus mosaicos e cerâmicas contidos e está rodeado por jardins maravilhosos.
Foram três participantes brasileiros:
– Vinicola Fazenda Santa Rita de Vacaria, RS, (www.vinicolafazendasantarita.com.br) com dois vinhos, o Chardonnay Família Lemos De Almeida e o espumante, Casa Portuguesa Brut Rosé, produzido com um corte de Chardonnay 60% e Pinot Noir 40%.
– Vinicola Armando Peterlongo, de Garibaldi, RS (http://www.peterlongo.com.br/pt/introducao/), que trouxe quatro vinhos, dois espumantes, método tradicional, à base de Chardonnay e Pinot Noir e outros dois obtidos pelo método Charmat, um rosé 100% Merlot e outro 100% Pinot Noir.
– Cooperativa Vinicola Garibaldi,RS, (http://www.vinicolagaribaldi.com.br/pt/) com três espumantes, um 100% Chardonnay, método clássico, um Moscato (corte de amarelo e branco) e um Prosecco.
A premiação distribuiu 27 Grandes Medalhas de Ouro, 141 Medalhas de Ouro e 129 Medalhas de Prata, sendo a primeira vez que o número de medalhas de ouro foi maior que as de prata, um resultado que deixou os organizadores extremamente satisfeitos, afinal a busca pela qualidade é o objetivo final.
O melhor vinho desta avaliação foi um Ice Wine da Moldávia, mostrando a força dos vinhos doces que ficaram com quatorze Grandes Medalhas. Os tintos receberam onze, os brancos e os rosados receberam uma, cada.
A relação completa dos premiados está aqui, para download: (em italiano)
O espumante brasileiro, Privillege Peterlongo Brut Rosé – método Charmat, recebeu 87,8 pontos e uma importante Medalha de Ouro, para esta tradicionalíssima vinícola da Serra Gaúcha, uma das poucas no mundo que ainda pode utilizar a denominação Champagne nos seus produtos. Uma pioneira neste segmento que durante muitos anos abasteceu as adegas do Palácio de Buckingham.
Este espumante foi elaborado para comemorar os 100 anos da empresa, em 2013: produziu o 1º Champagne brasileiro em 1913 pelas mãos de Manoel Peterlongo.
Dica da Semana: não poderia ser outro!
Privillege Brut Rosé Peterlongo
Elaborado com a variedade Merlot, possui um estilo muito especial, complexo, evidenciando frutas vermelhas.
Harmoniza com carnes brancas no geral, pato, salmão, pratos à base de frango e queijos leves.
Sua produção ficou limitada em 5.700 garrafas o que o torna um vinho difícil de encontrar.
Neste link, há uma relação dos representantes nos estados brasileiros.
Considerado o principal evento da nossa maior feira de vinhos, o “Top Ten” é um concurso aberto a todos os produtores que desejarem participar, que seleciona os melhores entre as amostras recebidas.
A premiação é dividida em 10 categorias, havendo uma distinção entre os vinhos nacionais e os estrangeiros.
Nesta edição foram analisadas 125 amostras, assim distribuídas:
16 Espumantes brasileiros;
8 Espumantes importados;
15 Vinhos Brancos importados;
12 Vinhos Brancos nacionais;
10 Vinhos Rosados;
18 Vinhos Tintos brasileiros;
13 Vinhos tintos do Novo Mundo;
11 Vinhos Tintos de Portugal e Espanha;
15 Vinhos Tintos de França e Itália;
7 Vinhos Fortificados e Doces.
A difícil tarefa coube a um júri composto por importantes nomes do cenário enológico atual:
Hector Riquelme – Sommelier chileno; Mario Telles Jr – ABS-SP; Beto Gerosa – Blog do Vinho; Celito Guerra – Embrapa; Jorge Carrara – Revista Prazeres da Mesa; José Luis Borges – ABS-SP; José Maria Santana – crítico de vinhos da revista Gosto; José Luiz Paligliari – Senac; Manoel Beato – Sommelier do grupo Fasano; Marcio Pinto – ABS-MG; Ricardo Farias – ABS-RJ e Tiago Locatelli – Sommellier do Varanda Grill.
Aqui estão os nossos representantes premiados:
Espumante:
Aracuri Brut Chardonnay 2014
Região: Muitos Capões, Campos de Cima da Serra – RS
Uva: 100% Chardonnay, método Charmat
Produtor: Aracuri Vinhos Finos (www.aracuri.com.br)
Elegante e refrescante de perlage fina e abundante. No aroma destacam-se as notas de damasco, raspas de limão e pão fresco. O paladar é envolvente e cremoso com acidez cativante.
Harmoniza com frutos do mar, peixes em geral, carnes brancas, molhos pouco condimentados, legumes crus e queijos leves.
Outras Premiações:
– Medalha de Prata – VII Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, 2014.
– Medalha de Prata – Effervescents du Monde, França, 2013.
– Medalha de Prata – Vinus del Bicentenario – Concurso Internacional de Vinos Y Licores, Argentina, 2014.
Vinho Branco:
Pericó Vigneto Sauvignon Blanc 2014
Região: Vale do Pericó, São Joaquim – SC
Uva: 100% Sauvignon Blanc
Produtor: Vinícola Pericó Ltda (www.vinicolaperico.com.br)
Apresenta coloração amarelo palha brilhante. Aroma complexo, franco e muito intenso com notas de frutas tropicais, (melão, mamão papaia, casca de grapefruit e uma nota discreta de maracujá). Paladar harmônico e muito persistente.
Harmoniza com peixes em geral, camarão, crustáceos, culinária oriental, carnes brancas, risotos, comidas leves/picantes, queijos brancos (Brie e Camembert).
Outras premiações:
Medalha de Prata – 7º Concurso Internacional de Vinhos do Brasil – Edição 2014, Safra 2013;
Primeiro lugar na premiação Top Ten – Prêmio Melhores do Vinho, na categoria Branco Nacional – Expovinis 2014, Safra 2013.
Vinho Tinto:
Valmarino Ano XVIII Cabernet Franc 2012
Região: Pinto Bandeira, RS
Uva: 100% Cabernet Franc
Produtor: Vinícola Valmarino (www.valmarino.com.br)
Lançado como edição comemorativa dos 18 anos de fundação da Valmarino, apresenta coloração vermelha com tons violáceos, límpido e brilhante. Aroma frutado e complexo aparecendo especiarias (pimenta preta, cravo, café e chocolate) com presença harmônica da madeira. Seu paladar é untuoso, com taninos de qualidade e boa acidez. Corpo e estrutura elegantes.
Harmoniza com massas condimentadas, queijos fortes, e vários tipos de carnes incluindo as exóticas e de caça.
A seguir, a relação dos vinhos estrangeiros premiados nesta edição:
ESPUMANTES IMPORTADO – Georges De La Chapelle Cuvee Nostalgie N/V
VINHO BRANCO IMPORTADO – Casas Del Toqui Terroir Selection Sauvignon Blanc 2014
VINHO ROSADO – Saint Sidoine Côtes Du Provence Rosé 2014
VINHO TINTO, Novo Mundo – Renacer Malbec 2011
VINHO TINTO, Espanha e Portugal – Pêra Grave Reserva Tinto 2011
VINHO TINTO, Itália e França – Sangervasio A Sirio 2007
FORTIFICADOS E DOCES – José Maria da Fonseca Alambre Moscatel de Setúbal 20 Anos
Dica da Semana: façam suas escolhas nesta deliciosa lista. Todos saem ganhando!
Uma das mais complexas harmonizações no mundo do vinho. Tradicionalmente o Vinho do Porto é o mais recomendado, mas não é a única opção. Vamos conhecer algumas regrinhas para aproveitar as duas delícias desta época, vinhos e chocolate.
1 – A regra básica desta harmonização é equiparar a doçura do vinho com a do chocolate. Um truque muito simples pode ajudar na escolha de um ou outro:
– faça uma provinha; se achar que o vinho ficou amargo significa que ele é menos doce do deveria ser.
2 – escolha produtos de qualidade. Existem 3 tipos básicos: branco, ao leite e amargo. Cada um exigirá um vinho diferente. Esqueça os chocolates comuns preferindo os de procedência conhecida que declarem o teor de cacau em sua composição.
3 – a outra regra importante relaciona o teor de cacau com o corpo do vinho: quanto mais escuro o chocolate, mais encorpado o vinho. Prefira os tintos com taninos muito redondos e suaves. Esta sensação de maciez ajuda na harmonização.
4 – vinhos brancos podem ser usados eventualmente, principalmente com misturas que combinem dois ou mais tipos de chocolate além de frutas, nozes, etc. Procure por vinhos frutados e intensos.
Uma ideia saborosa e divertida é organizar uma degustação com tipos variados.
Comece pelos chocolates brancos seguindo até os mais escuros. Os vinhos serão servidos nesta mesma lógica: do mais leve até o mais encorpado.
As sugestões a seguir são pontos de partida bem seguros, para começar. O segredo é experimentar muito, sem medo de errar.
Chocolates brancos: Jerez; vinhos tipo Moscatel; Chardonnay frutado; Moscato D’Asti. Para os mais corajosos, uma boa pedida pode ser um tinto mais tânico – vai ajudar a compensar o gordura deste tipo de chocolate.
Chocolate ao leite: um tinto mais robusto é o ideal. Experimente com Cabernet Sauvignon, Zinfandel ou Pinot Noir. Um bom Chianti pode dar certo com chocolates que contenham 65% de cacau, pelo menos.
Chocolates amargos (70% a 100%): este é o preferido dos especialistas e o vinho não pode ficar atrás. Boas indicações incluem vinhos de Bordeaux, Beaujolais Cru, Syrah ou Shiraz, Vinho do Porto, Malbec e Zinfandel 1ª linha.
➤ Espumantes e outros vinhos fortificados costumam harmonizar com vários tipos de chocolates, não deixe de experimentar uma destas combinações.
Boa Páscoa!
Dica da Semana: um excelente Malbec para harmonizar com carnes e com chocolate 100% de cacau.
Luca Malbec 2012
Elaborado pela talentosa Laura Catena, este Malbec poderoso e cheio de personalidade é sem dúvida um dos grandes vinhos da Argentina.
Mostra muita classe, elegância e fantástica pureza, tendo recebido nada menos do que 92 pontos de Robert Parker, premiado com 93 pontos pela Wine Spectator na safra 2012 e escolhido como um dos “100 Melhores Vinhos do Mundo em 2014”.
Um vinho profundo e com muita alma, que enche a boca com camadas e mais camadas de fruta madura e finos taninos.
Algumas das últimas colunas provocaram uma saudável relação de perguntas dos leitores, todas respondidas por e-mail. Mas ficamos sempre com impressão que faltou alguma explicação. Ter dúvidas sobre determinados temas não só é absolutamente normal como desejável. Entretanto, algumas questões propostas são de difícil resposta, por exemplo, quando recebemos indagações deste calibre:
Há algum vinho de corte que esteja colocado entre os melhores do mundo?
Qual o vinho de safra mais antiga que você conhece que certamente pode ser consumido ainda com qualidade?
Com quantos anos podemos considerar um vinho impossível de beber?
A esta relação poderíamos acrescentar sem nenhum problema as eternas questões como “Qual o Melhor?” ou “Qual o mais caro?” e outras no gênero.
Para sermos completamente corretos, nenhuma destas perguntas tem uma única resposta. Pior, as diversas opiniões sobre cada uma podem ser até mesmo conflitantes.
Existe uma razão: nenhum vinho é igual a outro, nem dentro de uma mesma vinícola. A cada nova colheita as uvas terão diferentes níveis de açúcar o que vai implicar, no mínimo, em quantidades de levedura e/ou tempo de fermentação e maceração diferentes. Só isso já define vinhos de características distintas, embora oriundos do mesmo vinhedo.
Produzir um vinho não é um ato mecânico e repetitivo, como fabricar uma peça de metal ou plástico, aos milhares, numa máquina especialmente projetada para tal. Na enologia, cada partida de uvas é um caso único e deve ser tratado desta forma, não pode haver padronização. Nem nos vinhos de entrada que são produzidos em grandes volumes para atender à demanda das principais redes de mercados. Um mínimo de cuidados específicos é necessário, caso contrário o produto final não será aceito por ninguém.
Com isto em mente, imaginem como é difícil responder a uma questão como “Qual o melhor Cabernet?”.
Se colocarmos esta dúvida dentro de uma vinícola, o enólogo é capaz de responder que o seu melhor vinho é este ou aquele, respeitada uma condição como faixa de preço ou volume produzido. Mesmo assim entra nesta equação um fator muito subjetivo: o gosto pessoal dele. O nosso pode ser outro…
Caso mudemos a escala e tentarmos entender qual o melhor vinho de um país produtor, por exemplo, “Qual o melhor Cabernet do Chile?”, dificilmente vamos obter uma resposta objetiva.
Teríamos primeiro que selecionar, com todas as dificuldades mencionadas no parágrafo acima, quais os melhores de cada sub-região: Maipu, Puente Alto, Vale Central, etc. (e isto envolve todas as vinícolas). Depois, decidir qual o melhor entre estas escolhas.
Mas quais os critérios que vamos adotar para fazer esta seleção?
A palavra de cada enólogo?
As notas dos grandes críticos?
O nosso gosto pessoal?
Todas as acima?
Tarefa hercúlea!
Imaginem tentar saber qual o melhor do mundo…
Só mais uma lembrança: para muitos enófilos já é difícil determinar qual é o melhor vinho de sua adega!
Quando se trata de saber qual o mais antigo vinho ainda em condições de ser consumido, o nível de complicações se multiplica exponencialmente. Para respondermos esta pergunta, com alguma objetividade, teríamos que conhecer todas as adegas do planeta e ter o seu conteúdo devidamente catalogado. Mas há uma curiosa pegadinha: no momento que identificarmos este vinho e o abrimos, ele automaticamente deixa de ser “o mais antigo”…
Honestamente, nem as grande vinícolas sabem o quê ainda tem em estoque e se aquelas raridades são viáveis para consumo. Uma simples destampada de um barril ou garrafa para tirar uma amostra pode ser o fim de todo o resto.
Um exemplo bem atual vem de Portugal. Em 2008, um dos enólogos da Taylor’s localizou, na vila de Prezegueda, duas barricas de vinho do Porto produzido antes da Filoxera, com mais de 150 anos, pertencentes a uma família de vinhateiros. Um tesouro passado de geração para geração.
Em 2009 o último descendente decidiu vendê-las. Levadas para as caves de Vila Nova de Gaia, o vinho se mostrou em perfeitas condições e simplesmente maravilhoso. A Taylor’s optou por comercializá-lo com o nome de Scion: poucas garrafas e um custo perto do absurdo. (não existe mais nenhuma à venda…)
Este fato gerou um verdadeiro frenesi entre os outros produtores e uma busca insana por estas raridades foi iniciada. Vinhos do Porto ou Madeira com mais de 100 anos estão na moda. O que mais vão encontrar?
Dois outros vinhos, muito antigos, ficaram mundialmente conhecidos por fatores “extracampo”. O primeiro foi um lote de míticas garrafas de Chateau Lafite 1787, que teriam pertencido ao Presidente Thomas Jefferson, e que estariam, ainda, em perfeitas condições de consumo.
Um grupo de quatro delas foi leiloado em 2008, pela respeitada casa Christie, e arrematado por cerca de US$ 500,000.00 (quinhentos mil dólares). Mais tarde descobriram que era uma falsificação o que gerou um longo e milionário processo, investigações policiais altamente sofisticadas, culminando com a prisão e desmascaramento do hábil falsificador, além de artigos, livros e provavelmente um filme.
Outra raridade conhecida é uma garrafa de Chateau d’Yquem, o mais famoso dos Sauternes, datada de 1811 e arrematada em 2011 por astronômicos 120.000 dólares, provavelmente o mais caro vinho até então. Não será aberto, apenas ficará exposto em uma vitrine no restaurante de seu proprietário em Honk Kong.
Mitos à parte, nem mesmo uma simples reposta sobre o mais caro vinho pode ser respondida sem ressalvas: quando, onde, como?
Um dos sites mais utilizados por quem vive o mundo do vinho é o Wine Searcher (http://www.wine-searcher.com/), em inglês, que localiza vinhos nos mais importantes mercados. As lojas especializadas, vinícolas e casas de leilão se encarregam de fornecer as informações. É gigantesco! Uma pesquisa pode gerar diversas páginas de resultados, muitas vezes cansativos de ler. Mas nelas é que podemos descobrir algum tesouro enterrado. Periodicamente publicam pesquisas bem objetivas, curtas e muito interessantes.
Uma delas, que vamos reproduzir a seguir, procurou por vinhos que receberam, em qualquer época, as notas máximas atribuídas pelos seguintes críticos ou publicações: Jancis Robinson, Robert Parker, Jamie Good, Stephen Tanzer, Jeannie Cho Lee, Michel Bettane e as revistas Wine Spectator, Cellar Tracker, Falstaff (Áustria) e Revue du Vin de France. Um time de muito respeito.
Foi calculada uma média simples de todas as notas, por vinho, e elaborada a lista apenas com aqueles que conquistaram, neste resultado final, 99 ou 100 pontos. Somente 7 (sete) vinhos passaram nesta peneira.
Seriam eles os maiores de todos os tempos?
1 – Château d’Yquem, 1811
Um Sauternes elaborado a partir de uvas botritizadas. Talvez o mais famoso vinho doce do mundo.
2 – E. Guigal Côte Rôtie La Mouline, Rhône, 1978
Um vinho da região mais premiada com 100 pontos Parker, o vale do rio Ródano. Um corte da tinta Syrah com a branca Viognier.
3 – Château Lafleur, Pomerol, 1950 (Bordeaux)
Corte Bordalês, margem direita, predominância de Merlot.
4 – Paul Jaboulet Ainé Hermitage La Chapelle, Rhône, 1961
Um varietal, 100% Syrah, com as parreiras plantadas como se fossem arbustos (Globet). Região do rio Ródano, novamente.
5 – Quinta do Noval Nacional Vintage Port, 1963
Vinho do Porto.
6 – Krug Clos du Mesnil Blanc de Blancs Brut, Champagne, 1979
Quem não aprecia um bom Champagne?
7 – Domaine Jean-Louis Chave Ermitage Cuvée Cathelin, Rhône, 2003
Outro vinho do Ródano e novamente 100% Syrah. Notem a safra.
Analisar esta lista em profundidade nos forneceria assunto para várias semanas. Faríamos novos amigos e certamente ganharíamos outros inimigos: nunca haverá uma unanimidade sobre este resultado.
Chamamos a atenção para alguns detalhes:
– A França domina a lista com 6 vinhos. A exceção é um vinho de Portugal;
– 5 tintos e 2 brancos: um doce e o outro espumante;
– um único Bordeaux… (baseado em Merlot)
– 3 vinhos da região do Rhone, todos com Syrah, que nem mesmo entra numa relação de castas nobres…
– entre os tintos, 3 (três) vinhos de corte e 2 (dois) varietais.
Resumindo tudo isto numa única frase:
“Não existem verdades absolutas no mundo do vinho”.
Entenderam como funciona?
Dica da Semana: em homenagem aos vinhos de Portugal que ontem, hoje e sempre estão entre os melhores.
Seguindo na linha desta semana, este vinho é um varietal, coisa rara entre os tintos portugueses, elaborado com a casta Baga (100%). Proveniente da Bairrada, ótima região produtora ainda sem o reconhecimento como o Douro ou o Alentejo.
Um vinho potente, estruturado, com taninos marcantes a altamente gastronômico.
Imperdível!