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Desafio Vencido!

Participar de uma ou mais confrarias de enófilos é sempre bom, divertido e uma oportunidade de se degustar ótimos vinhos. Mas ser considerado o “especialista” da turma pode ser complicado…
 
Na Confraria da Lagoa, um dos confrades tem a (justa) fama de ser um excelente cozinheiro, um verdadeiro ‘Chef’, como gostamos de brincar. Ele já havia sido intimado, diversas vezes, a produzir o seu prato de referência, uma (con)fusão entre as culinárias Indiana, Baiana e Grega que leva o artístico nome de “Arroz de Afrodite e Iemanjá”, elaborada cocção com camarões, curry e uma infinidade de outros temperos e acompanhamentos cuja combinação ele, sabidamente, guarda a sete chaves.
 
Como seria necessária uma cozinha completa para o nosso mestre cuca desenvolver a sua arte, encontrar um local para este almoço ou jantar era de importância capital, com várias exigências impostas pelos demais confrades: fácil acesso, opções de estacionamento e temperatura amena ou ar refrigerado. Para dificultar um pouco mais esta sonhada reunião, um último complicador: coordenar agendas…
 
Para resolver o problema só mesmo o Papai Noel! Pensando nisto, decidimos fazer o último encontro do ano e trocar os presentes de amigo oculto ao sabor dos quitutes do nosso “piloto de fogão”. Para apimentar ainda mais a reunião, eu e o meu comparsa da coluna, José Paulo, que gentilmente ofereceu a sua mansão para sediar o almoço, fomos desafiados a harmonizar o prato principal. Desafio aceito, sem mais delongas.
 
 
As dificuldades de conciliar os sabores deste prato, particularmente picante, com uma bebida, de modo a não prejudicar nem um nem outro começam com o ingrediente predominante, o “curry”, de origem indiana, que é um condimento composto por diversas especiarias e pimentas. Escolher um vinho para enfrentar esta avalanche de sabores exigiu uma pesquisa detalhada.
 
Primeiro olhamos o ponto de vista cultural. Na gastronomia da Índia o vinho não aparece como um aliado. Boa parte da população, por motivos religiosos, não consome álcool. Ampliamos o campo de buscas. Outras culturas produzem misturas de condimentos semelhantes, com variações nos ingredientes, obtendo currys mais ou menos picantes, intensos ou saborosos. Conseguimos elaborar uma tabela:
 
Curry amarelo – Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, bem cítrico, é o preferido. Há a opção do Cabernet Franc para acompanhar camarões ou frango. Para carnes vermelhas a aposta seria um Rioja espanhol.
 
Curry tipo Massamam (leva tamarindo) – Viognier, Vouvray ou até mesmo um Chardonnay nos estilos Chileno ou Australiano.
 
Curry verde (em geral muito forte) – espumante Demi-Sec, Gewurtztraminer ou vinho Rosé.
 
Curry vermelho – Riesling Kabinett, Vinho Verde ou Beaujolais Cru de Broully. 
 
Pad Thay (culinária tailandesa) – Prosecco ou Pinot Noir do Oregon.
 
Caso a preparação usasse leite de coco, uma boa aposta seria o Chardonnay madeirado ao estilo californiano.
 
A base do Arroz de Afrodite era o Curry Amarelo, mas o Chef insinuou que usaria outros condimentos picantes o que me fez arriscar e apostar num Gewurtztraminer Alsaciano. José Paulo optou pela linha mais tradicional e indicou um Chablis, excelente Chardonnay francês. Haveria um prato opcional, Penne ao Gorgonzola, para os de paladar sensível ou para os que não apreciam frutos do mar. Para este, a nossa indicação era um tinto de corpo médio. A sorte estava lançada!
 
Marcado para às 13:00, abrimos os trabalhos com uma rodada de espumantes para “fazer a boca”. Para exercitar o maxilar, pastinhas temperadas, pães diversos, torradas e um belo pedaço de gorgonzola. O problema foi que ninguém fixou um horário para que o almoço fosse servido, deixando a cargo do Chef que decidiu pelas 15:00. Até lá…
 
Sucederam-se as garrafas de espumantes!
 
 
Servidos os pratos e abertos os vinhos a surpresa foi total. O Arroz de Afrodite era tudo que fora prometido, estava simplesmente delicioso. O 1º vinho a ser degustado foi o Alsaciano.
 
Perfeito!
 
Podíamos sentir todos os sabores do curry, dos camarões e os do vinho. Excelente equilíbrio. Harmonização tão completa que surpreendeu inclusive ao Mestre Cuca que não estava muito convencido que daria certo. O caráter muito frutado deste vinho faz com ele se apresente quase adocicado, balanceando corretamente o sabor intenso dos condimentos.
 
 
O segundo branco, o Chablis, também cumpriu muito bem sua função, mas com outra perspectiva. Com uma presença cítrica muito intensa, amenizava o lado picante enquanto realçava os sabores dos frutos do mar. Experiência muito interessante. Desafio vencido!
 
 
Para o prato de massa foi selecionado um Montepulciano D’Abruzzo que caiu como uma luva. Como alternativa havia um Merlot que acabou sendo aberto mais tarde.
 
Para completar o banquete era chegada a hora das sobremesas que, obviamente, seriam acompanhadas por uma plêiade de vinhos de colheita tardia, entre eles um Vin Santo branco além de um Brandy de Jerez e um Cointreau: uma maravilhosa torta de goiabada e Mascarpone, e outra especialidade do Chef, morangos flambados ao Cognac Remy Martin.
 
Um luxo!
 
 
Literalmente a “farra foi completa”, a troca de presentes hilária e a vontade de repetir a experiência o mais breve possível.
 
 
Esta coluna entre em recesso até o ano que vem desejando a todos um ótimo Natal e um feliz 2014.

Dica da Semana:  já pensando no inclemente verão que vem por aí, uma opção diferente e gostosa, um vinho rosé argentino.
 
Carmela Benegas Rosé
Este vinho nasce da primeira sangra dos vinhos de guarda da vinícola.
Com atraente cor rubi, tem aromas de flores (violetas) e perfume de frutas.
No paladar é intenso e refrescante. Os sabores são combinados entre frutas vermelhas. É o que provoca sua grande duração na boca.
Um corte de 50% Cabernet Franc e 50% Petit Verdot
 

Quebrando alguns mitos – V

 #5 – Somente vinhos tintos devem ser adegados
 
Este mito altamente improvável começa com um sonho: uma adega climatizada. Dez entre dez enófilos desejam ter uma para chamar de sua e não importa o tamanho, pode ser de 6 ou de 600 garrafas.
 
O problema começa quando temos que decidir o que vai ser adegado, em geral, opta-se pelos tintos, para ser mais realista, qualquer tinto…
 
Neste momento, do ponto de vista técnico, acabamos por dar um destino nada nobre à nossa adega, que pode ter custado um bom dinheirinho: ficou mais parecida com um “frigobar”. Antes de mergulhar em maiores profundidades, respondam sinceramente a algumas questões:
 
1 – Vocês sabem o que é um “vinho evoluído”?
 
2 – Se responderam “sim”, gostam de um vinho destes?
 
3 – Qualquer vinho (tinto, branco, rose, espumante) pode ser amadurecido na garrafa sem prejuízo?
 
Não existem respostas únicas para estas perguntas. Veja como se coloca Jancis Robinson, uma celebrada especialista em vinhos:

“Na sua maioria, os vinhos de hoje devem ser consumidos tão jovens quanto possível, quando ainda se pode apreciar seu caráter frutado. Mas enquanto persiste o mito de que todos os vinhos vão melhorar com o tempo, a realidade mostra que eles estão sendo bebidos muito mais tarde do que muito mais cedo”. 

 
Excepcional poder de síntese de Robinson, quase tudo que precisamos saber está neste pequeno parágrafo. Não caberia nele comentar sobre aromas e sabores do vinho, características que podem mudar sensivelmente após alguns anos de guarda. Começam a surgir os “terciários” e seus sabores associados, típicos de um vinho evoluído.
 
Para quem não lembra mais destas explicações, estamos falando de couro, tabaco, flores e frutas secas, café, pão torrado, alcatrão, carne de caça, verniz, fungos, etc. Não estranhem, não são predominantes (há exceções), mas eles estão lá e vamos sentir um gostinho. Há que aprecie e vibre com isto, mas a maioria não. No final das contas, é isto que se busca quando adegamos um vinho, qualquer vinho.
 
Muito cuidado e atenção serão necessários, não é uma operação do tipo “esquece este vinho na adega que um dia ele fica bom”. Há muitas regras que devem ser seguidas que vão desde a escolha do vinho certo, passando pelo tempo de guarda e a CNTP (para quem não estudou química, isto significa Condições Normais de Temperatura e Pressão).
 
Para os leitores que já se decidiram por fazer uma experiência nesta linha, seja por curiosidade ou por preferirem vinhos evoluídos e para aqueles que ainda duvidam sobre este tema apresentamos, a seguir, um roteiro desmistificador.
 
I – As castas que costumam envelhecer com dignidade
 
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Syrah;
 
Brancas: Riesling, Chardonnay.
 
Isto não significa que qualquer vinho destas uvas possa ser envelhecido e nem que somente estas varietais devam passar por este processo.
 
II – Vinhos de sobremesa como os de colheita tardia ou os fortificados, podem ser adegados sem problemas.
 
Usando estes como exemplos podemos compreender as razões e aplicar em outros casos:
 
– alto teor alcoólico – com o tempo de guarda este teor cai tornando a bebida mais agradável;
 
– acidez marcante – outra característica que diminui com a idade melhorando o resultado final;
 
– taninos intensos (para os tintos) – definitivamente ficam “domados” com o passar dos anos;
 
– passagem por madeira – este é o ponto crítico uma vez que esta característica não se dilui com o tempo. Ao contrário, pela queda das demais pode sobressair exageradamente desequilibrando o vinho. Portanto é de fundamental importância na escolha de uma garrafa para ser amadurecida.
 
III – Como decidir o que vale a pena adegar
 
Aqui está toda a graça desta experiência, que pode produzir excelentes ensinamentos. Simples conselhos podem ajudar muito:
 
– estabeleçam uma faixa de preços a partir da qual se pode confiar que o investimento valerá a pena;
 
– comprem pelo menos 2 garrafas, 3 seria o ideal. Degustem uma logo (anotem o resultado ou façam um ficha técnica), abram a outra com 2 ou 3 anos de guarda e comparem o resultado com a 1ª. Se valer a pena, guarde a terceira mais um pouco.
 
IV – Seguindo a nossa “Guru” de hoje, Jancis Robinson, eis uma interessante lista por ela compilada.
 
a) Vinhos que devem ser consumidos logo:
 
os europeus classificados como “de mesa”;
 
os de garrafão ou caixa tipo Tetra Pack;
 
os conhecidos como “vin de pays”, relativamente baratos;
 
os do tipo Beaujolais Noveau, ou “en primeur” ou “novelo”;
 
produtos comerciais com preços até 50 ou 60 reais (a grande maioria deles)
 
os rosés;
 
os espumantes mais em conta. 
 
b) Vinhos que ganham com o tempo:
 
Tintos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Agiorgitiko da Grécia (4–10)
Aglianico da Campania (4–15)
Baga da Barraida (4–12)
Cabernet Sauvignon (4–20)
Grenache/Garnacha (3–12)
Melnik da Bulgária (3–7) (este vinho está sendo revivido)
Merlot (2–10)
Nebbiolo (4–20)
Pinot Noir (2–8)
Raboso do Piave (4–8) (DOC italiana)
Sangiovese (2–8)
Saperavi da Georgia (3–10) (outra casta sendo reabilitada)
Syrah/Shiraz (4–16)
Tannat de Madiran (4–12)
Tempranillo da Espanha (2–8)
Porto Vintage (15-50)
Zinfandel (2–6).
 
Brancos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Vinhos Botritizados (5–25)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Semillon australiano do Hunter Valley (6–15)
Chenin Blanc do Loire (4–30)
Petit Manseng de Jurançon (3–10)
Riesling (2–30).
 
Para terminar, a lista não é definitiva e nem pretendia ser. Não foram contemplados os Champagnes e outros espumantes de 1ª linha, que podem ser guardados por alguns anos como foi relatado nesta coluna, recentemente, como os Franciacorta. Nem se falou, tampouco, dos vinhos do Cone Sul das Américas. Já tive ótimas
experiências com Malbecs argentinos, Tannats uruguaios e Carmenéres e Cabernets chilenos.
 
Animem-se, arrisquem, experimentem. Nem sempre dá certo, mas sempre vale a pena.
 
Dica da Semana:  para guardar. O tempo vocês decidem….
 
Vinho Chocalán Cabernet Sauvignon Selección
Coloração vermelha intensa e aroma complexo com notas de frutas negras, amora, cassis e notas de tabaco, café e baunilha. Ao paladar, revela-se equilibrado, encorpado e elegante, com taninos bem maduros e final de boca persistente. Ideal para acompanhar carnes vermelhas assadas e queijos maduros.
 

Rue des Beaujolais: um evento fora de série

Faremos uma pausa na série sobre mitos para relatar o evento que ocorreu nos dias 20 e 21 de novembro, aqui no Rio de Janeiro no espaço Miranda/Lagoon. Participamos do mais tradicional lançamento de um vinho, que acontece sempre na 3ª quinta-feira do mês de novembro:
 
Le Beaujolais Nouveau est arrivée!
 
 
Celebra-se a chegada deste jovem vinho, elaborado com a casta Gamay, que deve ser bebido logo, nada de envelhecimento ou amadurecimento. Busca-se uma bebida refrescante, alegre e sem muitos compromissos. Por isto mesmo ela é a cara do Rio de Janeiro. Depois do Champanhe e do Bordeaux, o Beaujolais é a 3ª marca de vinho e bebidas mais conhecida no mundo.
 
Vamos conhecer um pouco sobre este singular vinho.
 
A casta Gamay é típica da região do Vale do Loire, plantada principalmente na cidade de Beaujolais, que vai dar nome ao vinho. Esta uva tinta tem nome e sobrenome: Gamay Noir à Jus Blanc. É uma cultivar muito antiga, conhecida desde o século XV. Sendo muito produtiva, necessita de solos ácidos para produzir frutos que se transformem em bons vinhos. Atualmente é reconhecida como sendo um cruzamento entre a Pinot Noir e a antiga variedade Gouais.
 
São cerca de 18.000 hectares plantados produzindo dentro de quatro denominações de origem:
 
Beaujolais;
Beaujolais Villages;
Cru Beaulolais;
Beaujolais Blanc (Chardonnay) e Beaujolais Rosé.
 
A primeira denominação (Beaujolais) é a mais famosa e muito comentada a partir de novembro, quando se consome o Noveau. Na França o seu lançamento anual é sempre uma grande festa.
 
O Villages responde por cerca de 25% da produção desta região. Está dividido em 38 “comunas”.
 
Os 10 Crus, tecnicamente os melhores vinhedos, produzem vinhos para serem maturados e têm características muito interessantes. Cada “Cru” tem seu estilo: Broully; Chénas; Chiroubles; Côte de Broully; Fleurie; Juliénas; Morgon; Moulin à Vent; Regnié e Saint-Amour. Tradicionalmente são os vinhos que celebram a Páscoa dos franceses, o que significa que evoluíram por um tempo antes de serem consumidos.
 
 
 
O evento foi dividido em dois dias. No primeiro foi feita a apresentação do Noveau, com direito a cerimônia de abertura da 1ª garrafa, feita por uma das mais antigas confrarias, os Compagnons du Beaujolais, que se apresentou a caráter com seus trajes festivos.
 
A parte gastronômica ficou a cargo de grandes Chefs: Roland Villard do Sofitel; Christian Tetedoie, estrelado e condecorado grande mestre da cozinha; Ricardo Lapeyre do restaurante Laguiole no MAM do Rio de Janeiro e Olivier Malarte que trouxe, para o Brasil, a deliciosa “Quenelle de Lyon”.
 
Com este time, nada podia dar errado. Completando o espetáculo, havia uma tenda com stands de produtores e patrocinadores do evento além de uma cozinha de campanha onde as brigadas de cozinheiros dos chefs convidados serviam deliciosos “amuse bouche” para harmonizar com o vinho.
 
 
No primeiro dia éramos recebidos com um “vin mousseaux” o Rozémoi, espumante produzido com 100% de Gamay. A próxima atração foi a cerimônia de abertura da 1ª garrafa de Beaujolais Noveau pelos confrades da “Compagnons du Beaujolais”.
 
Coube à Vinicola Jean Tete representar os diversos produtores desta região. Em seguida o vinho passou a ser servido bem como uma enorme variedade de acompanhamentos com o objetivo de demonstrar a grande versatilidade gastronômica desta singular bebida.
 
 
Dentre as várias opções, as que mais agradaram ao meu paladar foram o Ceviche e um cone de massa recheado com Tilápia e um creme de banana da terra, sabor que se assemelha muito ao do Noveau.
 
Um conjunto musical interpretava canções brasileiras e francesas promovendo um agradável clima nostálgico. Para encerrar a noite, a empresa que organiza o evento Rue des Beaujolais fez uma doação para uma ONG de cunho social. A Air France, uma das patrocinadoras, sorteou uma passagem Rio–Lyon–Rio e houve o leilão de uma garrafa Magnun.
 
 
O dia seguinte foi igualmente movimentado. Na primeira parte do evento várias celebrações e a “entronização” de diversas personalidades do vinho na confraria dos Compagnons du Beaujolais, o que gerou divertidos momentos.
 
Em seguida foram servidos os vinhos dos Crus de Beaujolais e o Villages. Os produtores apresentados foram previamente selecionados. O resumo do que foi degustado ficou a cargo do José Paulo Gils:
 
· Beaujolais Noveau – simples.
 
· Beaujolais Villages – melhor que o primeiro, nada de extraordinário.
 
· Juliénas – Rubi vermelhão, a cor e olfato bom na boca, nada demais.
 
· Moulin à Vent: Este vinho surpreendeu. Cor bela, no nariz intenso e persistente, final longo e agradável. O melhor da noite.
 
· Chiroubles – Muito bom.
 
· Morgon – Na boca muito mineral. Também muito bom.
 
· Brouilly – Outro vinho bom.
 
· Fleurie – Como vinho leve é bom.
 
· Côte de Brouilly – Normal.
 
Os vinhos Chénas e Saint-Amour não foram degustados. O meu predileto foi o Morgon. Nenhum destes produtores têm representantes no país.
 
Na semana que vem retomamos a série sobre mitos.

Dica da Semana: os Crus não são exatamente baratos, mas vale a pena o investimento. Infelizmente o Noveau, por conta do modismo, tem preços superiores…

Beaujolais Morgon 2009 Maison Coquard

Coloração rubi de média intensidade, luminosa. Traz no olfato cereja fresca, pêssego e couro sob marcado fundo mineral.
Ótima estrutura gustativa, os taninos são tradicionalmente mais firmes neste cru, sápido, cativante final.

Quebrando alguns mitos – IV

 #4 – Tampa de rosca é para vinhos ‘baratos’… 
 
Quem viver verá: as rolhas estão com os dias contados. Como a melhor defesa é o ataque, vamos logo para as cabeças. Conheçam o Henschke’s Hill of Grace, um dos vinhos mais caros e desejados do mundo.
 
 
Atenção para o detalhe apontado pela seta vermelha: tampa de rosca…
 
Este espetacular Shiraz australiano é um vinho caro, com preços que podem atingir facilmente R$ 1.200,00 por unidade, fora do Brasil.
 
Aqui é trazido pela importadora Mistral que assim o descreve:
 
“O mais célebre e conceituado vinho de vinhedo único da Austrália, considerado um dos maiores tintos do mundo.”
 
O preço nacional é proibitivo, beirando os quatro mil reais por garrafa. (safra 2006 – http://www.mistral.com.br/Product.aspx?idProduct=25292)
 
A expectativa de tempo de guarda é de 20 anos. (preços de 2013)
 
O debate
 
A rolha de cortiça tem sido o método de fechamento padrão das garrafas de vinho desde o século XVII, mas neste 21º século está sendo gradativamente substituída pela cápsula Stelvin®, popularmente conhecida como tampa de rosca.
 
Motivos não faltam, nem contra e nem a favor. Eis uma coleção deles:
 
Prós
 
· Extremamente fácil de abrir e as garrafas podem ser fechadas novamente com segurança;
 
· Impede a contaminação por TCA (Tricloroanisol) que provoca o conhecido sabor de rolha nos vinhos (estatisticamente 1 garrafa em cada 12 está contaminada);
 
· Pode ser utilizada indistintamente em vinhos brancos ou tintos;
 
· Preserva todas as características do vinho como aromas e sabores mantendo uma qualidade final constante;
 
· As garrafas podem ser guardadas em pé ou deitadas.
 
Contras
 
· Acaba com o tradicional rito de tirar a rolha. Como ironia, Sommeliers ficam meio sem função e simplifica o serviço do vinho;
 
· No caso de espumantes, cadê o festivo espocar da rolha…
 
· Para adotar a rosca, as vinícolas deverão adquirir novos equipamentos e novas garrafas, o que significa mais investimentos;
 
· A diminuição no consumo de cortiça afetaria diretamente a economia dos países da Península Ibérica e do Norte da África. Por outro lado haverá um significativo ganho ambiental;
 
· Exige uma vinificação cuidadosa para evitar a presença de sulfeto de hidrogênio (subproduto da fermentação) gerando aromas desagradáveis quando a garrafa é aberta.
 
Os defensores das rolhas têm mais um forte argumento a seu favor quando lembram que só garrafas arrolhadas permitem que um vinho envelheça corretamente, ao deixar que micro-quantidades de oxigênio permeiem sua estrutura porosa e cheguem beneficamente ao vinho.
 
Isto está para cair por terra!
 
A empresa francesa Amcor que desenvolveu a cápsula Stelvin® tem dedicado muito investimento na evolução do seu produto.
 
Recentemente apresentou uma nova linha de tampas que deixam entrar quantidades exatas de oxigênio.
 
Inacreditável!
 
O Enólogo, além de toda a parafernália que dispõe para vinificar, poderá dar mais um passo e controlar totalmente o que vai acontecer após o engarrafamento (com rolhas isto era aleatório). A foto é autoexplicativa.
 
 
Na Nova Zelândia, mais de 95% das vinícolas já se converteram para a tampa de rosca sendo quase impossível comprar uma garrafa com rolha. Outros países como França, Austrália e Estados Unidos estão em franca conversão para este moderno método de fechamento.
 
“Tá bom ou quer mais”?
 
A única coisa que me aborrece é não saber que destino darei à minha coleção de saca-rolhas…

Dica da Semana: tampa de rosca, óbvio! 
 

C’est La Vie Rouge 2012 
França – Bourgogne – Albert Bichot

Um vinho agradável, jovem e moderno, perfeito para uma reunião entre amigos ou uma descontraída refeição. Notas de cereja fresca e sutil pimenta preta.
Muito versátil nas combinações com comida. Carnes de porco, aves ou peixes de sabor marcante vão muito bem com esse tinto de rótulo bem humorado e corte irreverente de Pinot Noir e Syrah.

Quebrando alguns mitos – II

#2 – Espumantes só em ocasiões especiais ou “macho” não bebe Champagne
 
Este é dos melhores mitos para serem derrubados, apesar do forte marketing dos produtores do Champagne que se identificam como “fabricantes de uma bebida única que deve ser servida em festividades, particularmente para as mulheres”…
 
A esta altura dos acontecimentos só resta ao outro sexo fazer como o apedeuta cachaceiro, beber 51, que na minha modesta opinião está longe de ser ‘uma boa ideia’.
 
Pior, há circunstâncias agravantes: já imaginaram um brutamontes do MMA segurando uma delicada ‘flute’ de espumante para comemorar um espetacular nocaute? No mínimo ridículo.
 
A verdade é outra. Espumantes são capazes de transformar até mesmo uma entediada segunda-feira em algo espetacular, basta imaginar que você esteja comemorando, simplesmente, ter sobrevivido à ressaca do fim de semana. A taça pode até ser dispensada.
 
Não acreditem no bordão que intitula esta coluna e invertam a ordem da sentença: Espumantes transformam tudo em ocasiões especiais.
 
Quer um bom conselho? Tenha sempre uma garrafa na sua geladeira, pronta para ser consumida. Se houver uma companhia do sexo oposto, melhor! Eu não conheço uma dama capaz de recusar uma taça. Se aparecer uma, recuse-a…
 
Este preconceito, que espumantes são bebidas femininas, está muito longe da realidade. Produtores e profissionais de Champagne e de outras regiões produtoras de espumantes em todo o mundo, consideram este vinho (sim! é um vinho) como um dos mais versáteis, agradáveis e com boa relação custo x benefício que se pode adquirir.
 
Se segurar uma ‘flute’ lhe incomoda, descarte-a e use uma taça de vinho branco, garanto que as diferenças serão mínimas: só olfato e paladares muito treinados poderão fazer objeção (o ‘perlage’ pode mudar consideravelmente).
 
Para fechar a tampa do caixão e enterrar de vez esta bobagem, responda: porque você não quer degustar o mesmo que sua companheira?
 
Os Espumantes da Le Marchesini
 
Seguindo no tema, nada melhor que relatar um delicioso evento com os espumantes da Franciacorta (Itália), realizado na Enoteca DOC, dos amigos Fabio e Chris.
 
Esta região da Lombardia, próxima à cidade de Brescia, tem as condições apropriadas para o cultivo de viníferas e produção de bons vinhos, entre eles os melhores espumantes italianos. A denominação Franciacorta DOCG, de 1995, é exclusiva para os borbulhantes vinhos de lá. Tem uma longa tradição e história.
 
Os primeiros vinhos tranquilos ali produzidos datam de 1277, conhecidos como “Franzacurta”, provavelmente para fazer referência a uma Zona Franca (do Latim: Franchae – livre de pagar impostos e Curtae, de côrte) ali criada pelos monges de Cluny, da Borgonha, que se estabeleceram no século XI. Os espumantes só seriam produzidos a partir de 1961, usando rigorosamente as mesmas castas, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc e técnicas da região de Champagne. Até hoje é mantida uma estreita cooperação com a tradicional região francesa.
 
A “Azienda Agricola Le Marchesini”, pertence à família Biatta, tradicionais negociantes desde 1196, profissão que passou de pai para filho por cinco gerações. Em 1985, Giovanni Biatta adquiriu 3 hectares na região de Franciacorta para dar início à produção dos melhores vinhos que pudesse desejar. Hoje contam com 47 hectares de vinhedos com denominações DOC e DOCG, produz cerca de 450.000 garrafas por safra, entre espumantes e tranquilos, tendo recebido as melhores análises, notas e prêmios de seus consumidores e críticos.
 
Além de receber alguns “3 bicchieri” por seus espumantes, concedidos pelo rigoroso guia Gambero Rosso, e o título de Melhor Produtor da Itália em 2012, recentemente o Guia Vinibuoni d’Italia 2014 coroou o Franciacorta Docg Millesimato Brut Blanc de Noir 2009 Le Marchesine, como o melhor espumante do concurso.
 
 
Esta moderna vinícola não mede esforços para trabalhar com o que há de melhor neste setor. Além de trazer as mudas das castas e os equipamentos da França, seu enólogo, Jean Pierre Valade é membro do prestigiado Instituto Enológico de Champagne. O resultado não poderia ser outro: espetacular!
 
A apresentação foi feita pelo atual Diretor, Loris Biatta, que rapidamente esclareceu que, apesar da estreita colaboração com os franceses, o produto italiano não é uma cópia do Champagne, mas uma bebida que tem suas próprias características e personalidade. Como diriam os franceses, “Vive la différence!”
 
 
O primeiro a ser servido foi o Ópera Brut, seu espumante básico.
 
 
Por usar uvas de vinhedos que estão fora da região demarcada, não recebe a denominação Franciacorta. Um corte de Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc, com boa acidez e um perlage finíssimo. Aromas francos de Acácia, Cítricos e leveduras. Saboroso e refrescante, Preço na faixa de R$ 90,00. (preços de 2013)
 
O segundo espumante foi o Franciacorta Le Marchesini DOCG Brut, outro belo corte das mesmas castas, de vinhedos dentro da região demarcada. Elaborado com os mesmos cuidados técnicos do anterior, consegue ser um vinho mais sério e elegante. Coloração amarela com reflexos esverdeados, oferecendo aromas e sabores intensos com uma longa permanência em boca. Mantém o mesmo perlage finíssimo. Seu custo é bem superior, situado na faixa de R$ 150,00.
 
 
O terceiro espumante foi uma grata surpresa: o premiado Franciacorta Brut Millesimato Blanc De Noir 2009, considerado o melhor da Itália. Um vinho surpreendente em vários sentidos. Esta era a única garrafa disponível, trazida pessoalmente por Loris em sua bagagem. Ainda não está à venda no Brasil.
 
Elaborado unicamente com a casta Pinot Noir e fermentado a partir de leveduras indígenas, apresenta aromas de frutas vermelhas como framboesa e amora com o característico perlage da vinícola, No palato é mineral com notas de chocolate. Nota-se em sua cor leves traços rosáceos. Estupendo!
 
 
Por último o espumante que Loris o considera como “seu filho”, o Franciacorta D.O.C.G. Rosé Brut Millesimato 2007. Com uma elaboração muito complexa que exige algumas noites sem dormir para obter as características corretas de cor, aroma e sabor, este é um produto singular e delicioso. Uma bela coloração rosada, aromas florais e de framboesa que remetem a sabores delicados e complexos. Sua faixa de preço é alta, na casa dos R$ 200,00. Ideal para fazer uma extravagância.
 
 
Estes espumantes, importados pela Sicilianess (http://www.sicilianess.com.br/), podem ser adquiridos na Enoteca DOC ((21) 2516-4220).

Dica da Semana: um bom espumante nacional que não faz feio frente a estas maravilhas.
 

Quinta Dom Bonifácio Brut

Composto pelas variedades Merlot e Chardonnay
Visual – Coloração amarelo palha, perlage fina e delicada.
Olfato – Aroma persistente, lembra maçã, pêssego e pão torrado
Paladar – Fresco, amanteigado e muito delicado.
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