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Os Grandes Vinhos do Mundo – Argentina – 2ª parte

O Enólogo e Consultor Paul Hobbs tem uma história muito interessante. Um dos seus mentores foi o respeitado Robert Mondavi, com quem trabalhou de 1978 até 1984. O ponto alto foi participar da vinificação do grande vinho Opus One, realizado em associação com o Barão Philippe de Rothschild. Em 1985, quando trabalhava para um braço norte americano da Louis Vuitton-Moët Hennessy, a vinícola Simi, foi convidado para prestar consultoria para Nicolás Catena. Apesar de ter realizado este trabalho num período de férias, seu empregador não ficou satisfeito com este desvio de rota, insinuando que ele estaria passando informações para um concorrente. Pressionado, Hobbs optou por tornar-se independente, uma opção muito arriscada na época. Nem seus professores na Universidade de Davis aprovavam tal decisão. 
Ao ser questionado sobre porque ir para a Argentina – lá é muito quente! você só vai produzir zurrapas! diziam, Hobbs respondia com uma desconcertante simplicidade: os vinhedos são tão bonitos e as uvas deliciosas…. A decisão se mostrou acertada. Nicolás Catena foi mais que um patrão. Além de proporcionar a estratégia e os meios necessários, lhe deu total liberdade para experimentar. Hobbs sabia que existia um enorme potencial ali. Sua personalidade inquieta, sempre em busca de maiores desafios, fez com que em 1991, Catena lhe ajudasse a montar sua própria vinícola nos EUA, a Paul Hobbs Winery. Um investimento de alto risco. Naquele ano, a Filoxera havia voltado com força total na Califórnia e ninguém queria arriscar um centavo que fosse numa nova vinícola, exceto Catena. Hoje, esta empresa é um sucesso, produzindo vinhos fantásticos. 
Uma nova mudança aconteceria em 1998 quando um simpático casal de argentinos, Andrea Marchiori e Luis Barraud, o procurou na Califórnia para que os assessorassem num novo empreendimento. Apaixonado por Mendoza, Hobbs associou-se a eles e fundou a Viña Cobos, uma vinícola Super Premium, com vinhos de alta qualidade e pequenas produções.  

O nome é uma homenagem ao imigrante espanhol Juan Francisco Cobos. Coube a ele solicitar, ao reino de Espanha, sementes de álamo, a árvore emblemática de Mendoza. 
O principal vinho é o inacreditável Cobos Malbec, indiscutivelmente o melhor varietal produzido com esta casta. Sua vinificação só é feita em safras consideradas excepcionais. Os frutos são obtidos no vinhedo Marchiori, que pertence à família de Andrea. Com um terroir característico da região de Pedriel, nos pés dos Andes, situado a 995m de altitude, suas parreiras, com mais de 80 anos de idade, produzem frutos no ponto certo de amadurecimento e ligeiramente ácidos, permitindo uma produção de alto nível. 

O processo de vinificação é de um cuidado surpreendente. As uvas são selecionadas uma a uma, por equipes predominantemente femininas (são mais cuidadosas). 

Para a obtenção do mosto, as uvas não são prensadas, mas empilhadas num equipamento e deixadas sob a ação do próprio peso. Um método semelhante ao empregado na obtenção do Tokaj Essenzia. Isto significa um rendimento ultrabaixo. Após a extração deste primeiro sumo, as uvas serão prensadas para a obtenção de outros vinhos. Para o Cobos, só o melhor! 

Na fermentação e maceração são usados métodos naturais em tanques de aço inox com temperatura controlada. O processo todo dura cerca de 30 dias. O envelhecimento é feito em barris novos, de carvalho francês, por 18 meses. Passa por fermentação malolática (transformação do ácido málico em ácido lático = melhor qualidade) em barricas, durante 8 meses, para sua finalização. Não é filtrado e nem clarificado antes de ser engarrafado, onde permanecerá por mais um ano até de ser comercializado. 

A safra de 2006 obteve 99 pontos do rigoroso Robert Parker (Wine Advocate), tornando-se o vinho argentino de maior pontuação até o momento. Só para lembrar, vinho da semana passada conseguiu 98+ em sua melhor safra. Abaixo um resumo das notas obtidas: 
1999 – Wine Advocate 95pts 
2002 – Wine Advocate 96pts 
2003 – Wine Advocate 97pts 
2004 – Wine Advocate 98pts 
2005 – Wine Advocate 98pts 
2006 – Wine Advocate 99pts 
2007 – Wine Advocate 95pts 
2008 – Wine Advocate 95pts 

Notas de degustação safra 2008 
Coloração violácea profunda com reflexos azulados. Destacam-se os aromas de ameixas, mirtilo e (flor) de nogueira. No palato se mostra voluptuoso, encorpado com intensidade e estrutura nobre. Surpreende por seus taninos polidos e sabores de doce de leite, frutos do bosque, cravo da Índia e grãos de café. Um vinho perfeito para alta gastronomia ou para simplesmente pensar na vida. 
Existe um senão: caríssimo, quase R$ 1.000,00 na Grand Cru, seu importador exclusivo. (em 2012)

Qual é o melhor vinho argentino afinal? Escolha Impossível. Como diria um francês, entre les deux mon coeur balance. Para enfrentar esta dura concorrência, apresentaremos mais alguns protagonistas de peso na próxima coluna. 

Dica da Semana: a Viña Cobos produz uma gama de vinhos, em três linhas, todos de excelente qualidade. Escolhemos o chamado produto de entrada, a linha mais em conta. 

Cobos Felino Malbec 2010 
País: Argentina / Luján de Cuyo – Mendoza 
Casta: 100% Malbec 
Envelhecimento: 9 meses em barricas de carvalho. Pode ser guardado por 8 anos. Reflete características argentinas, pelas mãos do casal Andréa Marchiori e Luis Barraud, e californianas, seguindo o estilo de Paul Hobbs. Violeta intenso com reflexos azulados. Notas de pimenta e licor de cerejas. Corpulento, possui taninos marcantes. Harmoniza com carnes e pratos condimentados.

Os Grandes Vinhos do Mundo: Argentina – 1ª parte

A tradição faz a diferença 
A história do vinho neste país começa em 1556 quando o padre Jesuíta Juan Cedrón trouxe mudas das espécies País e Moscatel (Missiones), do vale central do Chile, plantando-as nas regiões que, mais tarde, seriam conhecidas como Mendoza e San Juan. Através de cruzamentos naturais, surgiria um clone conhecido por Criolla Chica, varietal utilizada nos vinhos argentinos por muitos anos e que promove um sabor típico que agrada ao argentino. A primeira vinícola, estabelecida pelos Jesuítas em 1557, ficava em Santiago del Estero. A expansão foi rápida principalmente devido à construção de diversos canais de irrigação para enfrentar o problema de escassez da água. Coube ao Governador da Província, Domingo Sarmiento, contratar o agrônomo francês Miguel Aimé Pouget e incumbi-lo de trazer mudas de castas europeias nobres para a região, entre elas, a hoje emblemática Malbec. 

A construção de uma ferrovia ligando a Buenos Aires e a mão de obra dos emigrantes europeus que fugiam da Filoxera são outros fatores que potencializaram esta indústria. Com um clima semelhante ao do vizinho Chile e protegida das pragas conhecidas, tornou-se outro porto seguro para uvas e vinhos, mas com uma importante diferença: 90% de sua produção eram comercializados no mercado interno – vinhos simples de castas não europeias. 
Esta filosofia de privilegiar a quantidade em lugar da qualidade perdurou até os anos 90. A Argentina sempre foi o maior produtor de vinhos fora da Europa, com um consumo per capita de 46 litros por ano. Mas era um exportador medíocre, seus vinhos não eram respeitados internacionalmente. 
Impressionado com a indústria californiana de vinhos, Nicolás Catena Zapata, professor visitante de economia, na Universidade de Berkeley, decidiu melhorar os produtos da velha Bodega Esmeralda, de sua família. Na sua volta a Mendoza, introduziu diversas modificações no sistema produtivo vigente: queria produzir vinhos finos de qualidade. Com a consultoria do experiente enólogo californiano Paul Hobbs, provocou uma revolução incrível que está transformando a Argentina: será, em breve, o maior produtor de vinhos de qualidade de todo o planeta (se a instabilidade política do país não atrapalhar…). Catena foi chamado de “Loco” por todos, mas como já sabemos, estava certo. 

A primeira observação de Hobbs foi que o sistema de condução das parreiras do tipo pérgola não era irrigado de forma adequada. Pediu que usassem menos água para que os frutos concentrassem mais açúcar, adotando o sistema de gotejamento. Novos parreirais são plantados acima de 1000 metros de altitude, em busca de um amadurecimento perfeito. 
Apesar de ter como missão produzir um Chardonnay de estilo californiano, surpreendeu-se com uma uva para ele desconhecida, a Malbec. Catena deu-lhe total liberdade para experimentar. Recebe 10 barris novos de carvalho francês da tanoaria Taraunsaud e começa a vinificar com técnicas nunca usadas naquela região. Um sucesso espetacular! A Malbec deixava de ser uma uva secundária. 
O Mito e seu vinho icônico 
Nicolas Catena tornou-se um dos personagens mais importantes do mundo do vinho. Um revolucionário, corajoso e inovador. Um Mito. Para vinificar suas joias, construiu uma vinícola em forma de pirâmide Asteca, orientada no terreno de tal forma que, em determinada hora do dia, sua superfície brilha como ouro. Seus vinhos sempre foram de qualidade indiscutível e seus métodos acabaram sendo adotados por todos que o chamavam de louco. 

O resultado mais significatvo e importante foi o estabelecimento de um novo padrão de vinhos: o Malbec Argentino, que não é uma tentativa de ser um vinho do Velho Mundo. Um produto de tipicidade única e que chamou a atenção para este país. Catena havia criado algo novo, uma fusão de estilos que incorporava, inclusive, o antigo padrão argentino. 
Somente em 1997, num excepcional ano e depois de vários enólogos e consultores, consentiu em dar seu nome a um de seus vinhos, como um coroamento de sua ousada aventura: 

Nicolás Catena Zapata 1997 

Um corte de Cabernet Sauvignon e Malbec, fora de série, elaborado unicamente em anos selecionados. A primeira vinificação foi testada exaustivamente, na Europa e nos EUA, em provas às cegas, sendo comparado com os famosos Chateau Latour, Haut Brion, Solaia, Caymus e Opus One. Classificou-se 4 vezes em primeiro lugar e 1 vez em segundo. O melhor vinho da América do Sul e, sem dúvida, um dos melhores do mundo. 
Robert Parker: 98 pontos (safra 07) 
Robert Parker: 97 pontos (06) 
Wine Spectator: 93 pontos (06) 
Robert Parker: 98 pontos (05) 
Robert Parker: 98+ pontos (04) / Wine Spectator: 95 pontos (04) 
Decanter: 5 Estrelas (04)
A safra de 2007 é composta por Cabernet Sauvignon (65%) e Malbec (35%). Utilizaram frutos dos vinhedos La Pirámide, a 940m, Domingo, a 1.130m, Adrianna, a 1.400m e Altamira, a 1.160m de altitude. As uvas, de cada vinhedo e variedade, foram vinificadas separadamente, com controle de temperatura e maturadas por 26 meses em barricas novas de carvalho francês. 
Com uma coloração violeta escura e intensa, oferece aromas de cerejas negras, chocolate escuro e alcaçuz, com notas de minerais, violetas, pimentas e ervas. No palato mostra um vinho muito estruturado e equilibrado, com marcantes sabores de frutas vermelhas e alguma mineralidade. Um final de boca vibrante, intenso e longo. Pode ser guardado por mais de 10 anos. Harmoniza com carnes e alta gastronomia. 
O Futuro 
Mendoza não é a única região que produz vinhos na Argentina, embora seja a mais importante. Salta e a Patagônia, entre outras, vêm se destacando e atraindo investimentos estrangeiros importantes. Na família Catena Zapata, a segunda geração já se destaca: a filha Laura Catena, tem sua própria vinícola a Luca enquanto seu irmão, Ernesto Catena, dirige a vinícola Tikal. Ambos produzem vinhos espetaculares e de muita personalidade. 
Na próxima coluna, vamos conhecer um vinho que faz frente a este. Seu produtor? Paul Hobbs… 

Dica da Semana: A uva Torrontés deve ser a nova sensação entre os brancos. Tipicamente argentina, cai muito bem neste verão brasileiro. 

Tahuantinsuyu Torrontés 2009 
Produtor: Tikal (Ernesto Catena) 
País: Argentina / Mendoza 
Esta esperada novidade de Ernesto Catena promete conquistar quem ainda tinha dúvidas do potencial da uva Torrontés. Elaborado em um estilo mais denso e menos alcóolico que a maioria dos vinhos da casta, mostra o perfil aromático típico da uva, com exuberantes notas exóticas e de frutas maduras. No palato é saboroso e fresco, com uma boa pegada. 
Combinações: Frutos de mar. Peixes brancos. Saladas.

Os Grandes Vinhos do Mundo – Chile – 2ª parte

O Mais conhecido! 
O Chile é um país privilegiado para vinhedos e vinhos. Um solo muito fértil, um clima perfeito para o desenvolvimento das uvas, obtendo-se resultados inigualáveis. Devido à sua curiosa localização geográfica, uma estreita faixa de terra espremida entre os Andes e o Pacífico, ficou imune à maioria das pragas, principalmente a temida Filoxera. Não foi por acaso que se tornou uma espécie de santuário das parreiras, preservando espécies, muitas vezes em pé franco, que já não existem mais em qualquer outra parte do mundo. Talvez nem se saiba, até hoje, a real dimensão deste repositório. A qualquer momento podem surgir novas espécies dadas como extintas. 
O exemplo mais conhecido é o da Carménère, hoje a uva emblemática do país, que só foi identificada corretamente em 1994 graças a um meticuloso trabalho do ampelógrafo francês Professor Jean-Michel Boursiquot. Esta uva, hoje raríssima na Europa, é uma das 6 uvas originais de Bordeaux (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec e Petit Verdot), que foram enviadas para a América do Sul para evitar a temida praga. Mesmo depois de descoberto o sistema de enxertia, ela nunca foi replantada, provavelmente por ser suscetível à outra doença, a Coulure, moléstia que ataca os bagos das uvas logo que começam a florescer. Resultou num belo trunfo para os chilenos, provocando a chegada de importantes vinícolas europeias para ali vinificarem e recuperarem algumas destas verdadeiras joias. 

Uva Carménère 

Em 1997 a Concha y Toro se associou com a bordalesa Baron Philippe de Rothschild SA, para produzirem um vinho excepcional, o Almaviva, talvez o vinho chileno de alta gama mais conhecido internacionalmente. 

Para produzi-lo, construíram uma espetacular vinícola, na região de Puente Alto, próximo a Santiago. 

O Almaviva é um corte de Cabernet Sauvignon vinificado com as mesmas uvas e métodos utilizados na produção do Don Melchor, com vinificações independentes de Carménère, Cabernet Franc e Merlot em proporções que variam a cada safra. A de 2007, que está no mercado, declara: 64% Cabernet Sauvignon; 28% Carménère; 7% Cabernet Franc e 1% Merlot. A decisão final desta mistura é feita por um colegiado de enólogos, chilenos e franceses. Um verdadeiro e respeitado Corte Bordalês produzido fora da França. Talvez o único no gênero. 
De cor vermelha rubi profunda e intensa, revela aromas puros e delicados de groselha maduras, amoras e morangos silvestres, combinados com notas minerais e toques de baunilha, café, alcaçuz, e especiarias. No palato, mostra-se muito equilibrado, taninos firmes e excepcionalmente longos, maduros, refinados e concentrados, contribuindo para densidade e textura elegante. Harmoniosamente perfeito. Excelente! ($$$$) 
Ótimo para acompanhar carnes vermelhas, cordeiro, carne de porco, queijos duros e pratos condimentados. 

Dica da Semana: um chileno delicioso e bem mais palatável no bolso. 

Chocalan Reserva Cabernet Sauvignon 2010 
País: Chile / Valle del Maipo 
Produtor: Viña Chocalan 
Uvas: 85 % Cabernet Sauvignon, 8% Syrah, 5% Carménère e 2% Petit Verdot 
Vinho de cor rubi com tons violáceos. Aromas de frutas vermelhas frescas e um pouco de mentol. No palato amora, cassis, ameixas, cerejas pretas. Saboroso e bem equilibrado, com madeira bem integrada. Grata acidez, bom volume e um final longo. Ideal para acompanhar queijo emmental e brie, carne de boi, carneiro, porco, veados e javalis, ou simplesmente com empanadas. 

Na próxima semana, o chileno predileto dos especialistas.

Um ícone espanhol

Continuamos na Península Ibérica. Pelas águas do Rio Douro, atravessamos a fronteira e chegamos à região espanhola de Ribeira del Duero, terra de um dos mais fantásticos vinhos do mundo. Tudo começou quando mercadores fenícios vinificaram, na região da Andaluzia, a mesma do Jerez, entre 1100 a 500 AC. Os gregos vieram depois, com seus animais e suas vinhas. Os romanos, em 200 AC, transformaram a agricultura familiar em indústria, para suprir suas legiões e a própria Roma. Com a chegada dos Mouros, em 711 a produção seria interrompida. Somente a partir do século XIV a vinificação ganharia novo impulso. Atualmente, a Espanha ocupa uma insofismável posição de destaque no cenário vinícola. 

A região de Ribeira del Duero incorpora-se a este mercado em 1850, época em que os métodos bordaleses são introduzidos. Em 1864, Don Eloy Lecanda funda sua bodega com o objetivo de produzir vinhos que se equiparassem aos de Bordeaux. Plantou 18.000 mudas de videiras dos tipos Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir, castas até então desconhecidas no território espanhol. 

O reconhecimento viria em 1915, graças a Domingo Garramiola, o Txomin, que se encarregou de produzir a primeira safra do fantástico

Vega Sicilia Unico, um dos 10 melhores vinhos do mundo. 

A bodega de Lecanda fora adquirida pela família Herrea que, por sua vez, a alugou a Cosme Palacio, que contratou Txomin. Trabalhando duro, sua primeira providência foi limpar a área e adotar técnicas higiênicas. Ele trocou todos os barris, ou dornas de envelhecimento, por madeiras de carvalho francês. Adotando, estritamente, as técnicas de Bordeaux, nasceria um vinho lendário. Os proprietários não o vendiam, distribuindo as garrafas entre membros da alta sociedade e pessoas amigas, forjando o mito que tal vinho não poderia ser pago com dinheiro, somente com estima. Um vinho único, exclusivo. 
A Evolução do Vega Sicilia 
No início de sua produção, o Único ficava guardado em tonel carvalho por 10 anos, sendo engarrafado a pedidos. Isto dava ao vinho uma madeira exagerada, mas com muita fruta e perfume. Em 1966, o enólogo Mariano Garcia introduz técnicas mais recentes, reduzindo a madeira sem perda de outras qualidades. A Vega Sicilia foi comprada por David Alvarez, em 1982, que promove uma grande modernização, aos moldes do que fez Txomin, no início do século XX. O Veja Sicilia Único não é mais um vinho pesado e amadeirado, embora mantenha uma bela estrutura, harmonioso, com muita fruta escura, grande potência e capacidade de guarda. A tradição se mantém, a ponto de não se fazer sequer a colheita quando a safra não é boa. 

Notas de Degustação – safra de 1999 
Um corte de 80% Tempranillo e 20% Cabernet Sauvignon, envelhecido por 2 anos, em grandes dornas de carvalho, seguido de 16 meses em barris menores, novos, de carvalhos franceses e americanos. Depois, mais 3 anos em uma mistura de diferentes tonéis e, por fim, mais duas rodadas de 3 anos, em barris usados e de volta às grandes dornas. 
É um vinho homogêneo e escuro. Aromas muito complexos e perceptíveis notas de couro, adstringência como a das frutas vermelhas, carnes de caça e a doçura de chocolate e cerejas negras. Na boca é muito elegante, com alguma fruta, inicialmente, complementado por excelentes taninos e corpo que crescem no paladar. Perfeitamente balanceado e integrado. 
Desde sua primeira safra o Único é acompanhado por irmãos menores. Por exemplo, o Valbuena, quase tão famoso e, muitas vezes, confundido; o Vega Sicilia Gran Reserva, produzido somente em anos especiais, e o Reserva, que não é safrado. 

Dica da Semana: um espanhol da região de La Mancha que, como D. Quixote, luta por seus ideais. 

Manon Roble Tempranillo 2008 
Produtor: Bodegas Mano a Mano 
País: Espanha / Região: La Mancha 
Casta: Tempranillo 
Apontado por Robert Parker como uma das melhores compras do mundo do vinho, este cativante tempranillo é maturado 7 meses em barricas de carvalho. Macio e cheio de fruto, dotado de certa elegância, é uma magnífica escolha para ter sempre em casa.

Para onde Vamos? – Enogastronomia

Como todo autor, seja de pasquim, novela ou folhetim, o melhor fica para o final. Visitar uma vinícola não pode ficar só no que interessante ou soltar o clássico “gostei deste”, na hora da degustação. Nosso programa, desta vez, era curtir a Enogastronomia oferecida pelas vinícolas mais importantes, aquelas que visam o segmento de alta gama, onde não se fala em degustar um vinho desacompanhado, seja de boa comida ou de boa companhia. Embora a Finca La Celia tenha nos cativado, não nos ofereceram uma opção de um almoço harmonizado. A pousada só seria inaugurada na semana seguinte à nossa visita. Optamos pela Andeluna Cellars, uma empresa que exporta praticamente tudo que produz. Hoje pertence ao Mr. Lay (é assim mesmo que todos se referem a ele), aquele das batatas fritas. Ali, só vinho top.


Começamos pela arquitetura, uma beleza. Não existe um restaurante, mas uma cozinha, com algumas mesas, preparadas para receber o dono e seus convidados quando estão na terra. Nos intervalos, os pobres mortais podem contratar um almoço, que é preparado de forma exclusiva.

A bossa, neste caso é harmonizar, além dos vinhos, os pães, feitos na hora, com cada prato servido. A seguir, a sofisticação do menu degustado: (tire dúvidas lá no final)
PRIMER PASO
Sopa tibia de maíz, anís estrellado, quinoa, crocante y chips de batatas dulces.
Pan: Tostada de focaccia.
Vino: Andeluna Reserve Chardonnay 2006
 SEGUNDO PASO
Tarta de remolachas asadas, queso azul, ensalada de brotes y pistachos tostados.
Pan: café y pimienta
Vino: Andeluna Merlot 2010
TERCER PASO
Roll de trucha salmonada, queso atuel, verduras de estación asadas, puré dulce de batatas.
Pan: Budín integral con cerezas y semillas de girasol.
Vino: Andeluna Reserva Malbec 2006
CUARTO PASO
MAIN COURS: Pastel de cordero, crocante de parmesano y manzanita com tomillo
Pan: tortita de grasa
Vino: Andeluna Grand Reserve Pasionado 2005
QUINTO PASO
Entre sabores – Pequeño trago.
SEXTO PASO
Postre: Mil hojas de manzanas verdes, arrope de higos y helado de canela ahumada.
Vino: Andeluna Reserva Chardonnay 2006
(o menu pode variar conforme a estação e a disponibilidade de alguns itens).
Embora esteja escrito em espanhol, não é difícil de decifrar. Posso assegurar que foi algo
I.N.E.S.Q.U.E.C.Í.V.E.L!
A foto, a seguir, dá uma ideia da vista. As temperaturas eram baixas e a lareira ajudou a manter tudo num ambiente acolhedor e confortável.

Detalhe da sobremesa e do melhor vinho do almoço: (reparem que está quase vazia…).

Houve outro almoço, no dia seguinte, na vinícola, “Premium”, Terrazas de Los Andes, pertencente ao grupo Chandon. Não vamos entrar em detalhes. A seguir, fotos do local, do cardápio oferecido e de alguns dos pratos. 

Agora só nos resta plagiar, descaradamente, um dos cozinheiros televisivos, o Anonymus Gourmet, que termina seu show com um bordão clássico:

Voltaremos!
Dica da Semana:

Andeluna Malbec 


País: Argentina/Mendoza

Produtor: Andeluna Cellars
Safra: 2009
Rubi intenso com reflexos violáceos. No nariz remete à aromas florais e de frutas, notas de baunilha e toques de doce de leite e chocolate, resultado de sua passagem em barrica de carvalho. Equilibrando estrutura e corpo, apresenta sensações adocicadas com taninos maduros e final de boca muito agradável. Pontuação: 88 Wine Spectator


Pequeno dicionário espanhol – português:
Tíbia – morna
Maíz – milho
Remolacha – beterraba
Brotes – brotos
Budín – pudim, neste caso um pãozinho muito macio
Arrobe – xarope
Helado – sorvete
Pastel – não é a nossa iguaria. A carne do cordero é assada dentro de uma massa, o “pastel” e servida a parte. A massa não é consumida.
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