Tag: Malbec (Page 13 of 16)

Para onde vamos?

Alguns leitores nos escreveram, curiosos, para saber qual o destino da coluna a partir do final da epopeia de produzir um vinho. Uma indagação natural, afinal, parece que fechamos um ciclo. 
Para os apaixonados por vinho, curiosidade, mesmo, é conhecer onde é produzida a nossa bebida predileta. O tema da semana é sobre como conhecer uma vinícola, ou se preferirem enoturismo. 
Este segmento vem crescendo em todo o mundo produtor. Não só ajuda a divulgar os produtos de uma empresa e é uma ótima ferramenta de marketing, como também pode contribuir para o bom rendimento, inclusive financeiro, do empreendimento. Muitos produtores brasileiros já estão preparados para receber visitantes em grande estilo, inclusive com opções de hospedagem. Nossos vizinhos, Chile e Argentina, há mais tempo nesta atividade, se esmeram a cada ano, buscando inovar e cativar mais turistas. Na Europa, a Itália se destaca com as opções de Agriturismo. Espanha, Portugal e França e até mesmo a Grécia, já oferecem programas de visitação e degustação atraentes.
A primeira regra para se decidir sobre um destes destinos é pesar bem o custo x benefício destas viagens. Curiosamente, o nosso turismo interno perde feio para os vizinhos: é mais barato ir a Mendoza do que a Bento Gonçalves, para um morador do Rio ou São Paulo.
Já para visitar uma vinícola europeia, o custo da passagem aérea e hospedagem é alto, o que só seria justificável em caso de um programa mais ambicioso, onde o enoturismo apareceria como uma das atividades.
Como visitar? 
As visitas são sempre agendadas e com horário determinado. Por este motivo, sempre recomendamos que um agente turístico, da cidade que será visitada, seja contratado para organizar o passeio. As opções são múltiplas, além da visita e da degustação básica, pode-se agendar um curso de culinária ou de vinhos, um almoço harmonizado, passeios de bicicleta ou a cavalo pelos vinhedos, participar da colheita, quando for época e, até mesmo, elaborar seu próprio vinho, com rótulo personalizado e tudo.
Cada atividade tem seu custo. Poucas vinícolas oferecem uma visitação gratuita. Mas não é um preço abusivo: eles querem ser visitados e esperam que todos fiquem satisfeitos e comprem seus produtos.
Para deixar os leitores com água na boca, vamos detalhar a visita, realizada recentemente, na Finca La Celia, em Mendoza, Argentina, e o posterior almoço harmonizado feito na vinícola Andeluna.
La Celia
Ao chegar, somos recebidos por um guia da vinícola, neste caso era Federico Colombo, formado em enologia. Ele optou por cuidar da parte turística desta interessante bodega, que está reinaugurando sua pousada e promete, em breve, cursos de fabricação de pães, num antigo curral de criação de cavalos que foi recuperado e convertido para este fim. 

Após as apresentações de praxe, ele nos conta um pouco da história da La Celia, nome da única filha do fundador, Eugenio Bustos, criador de cavalos, que construiu a vinícola em 1890, aproveitando-se de um curioso meio de pagamento vigente, na época, mudas de videira. É a mais antiga da Argentina, hoje, em mãos de capitais chilenos. O logotipo homenageia as duas paixões do Sr. Eugenio: sua filha e os cavalos.
Somos convidados para uma curta caminhada entre os vinhedos, até um pequeno mirante, de onde se descortina toda sua extensão, que chega aos pés da Cordilheira dos Andes.

Todos muito bem cuidados. Infelizmente, nesta época do ano, as videiras dormem e são podadas para entrarem em floração na próxima estação. De volta à sede, vamos conhecer o processo da La Celia. Aqui um fato interessante e importante: o prédio principal, muito danificado num antigo terremoto, foi inteiramente restaurado, ampliado e modernizado. Mantiveram-se as instalações originais, tanques de concreto, mas acrescentando moderna tecnologia. Assim pode-se observar as diferenças entre antigo e novo. Há mesmo uma área não restaurada para que possamos ver como era produzido o vinho antigamente.

Após um percurso pelos meandros do prédio principal, retornamos ao ponto de partida e vamos visitar a futura pousada, que era a casa de D. Celia. Lá também será realizada a degustação contratada. A foto a seguir dá uma ideia do cuidado e carinho com que futuros Hóspedes serão recebidos. O detalhe do chapéu é sensacional!

Já com muita vontade de largar tudo e mudarmos, imediatamente, para lá, passamos à sala de degustação, onde nos aguarda um delicioso espumante, rosé, não só para brindar nossa presença, como preparar nosso palato para os deliciosos vinhos que serão servidos.

Experimentamos 1 branco e 3 tintos. Com as ótimas explicações de Federico, foi possível comparar e entender as sutis diferenças entre os produtos apresentados: Chardonnay, Malbec, Merlot e Cabernet Franc (o melhor). A visita foi finalizada com um belo passeio, de automóvel, pelos vinhedos até chegarmos ao curral, recém-convertido em cozinha de campo.
Despedimo-nos de nosso simpático guia, e rumamos para a Bodega Andeluna, onde contratamos um almoço harmonizado com os vinhos desta importante produtora. Mas esta parte fica para semana que vem… 
Conselhos finais
O ideal é visitar, no máximo, 3 vinícolas num dia – elas são todas muito parecidas e as diferenças estão em pequenos detalhes, muitas vezes técnicos, o que pode não ser do interesse de todos. Há sempre a possibilidade de comprar vinhos e acessórios, a bom preço. Opte pelos produtos diferenciados.
A nossa viagem foi organizada por:
Rojos Divinos – www.divinosrojos.com.ar
Sua dona, María José Machado, é filha de brasileiro e fala muito bem o português. Já está operando no Chile também.
Outras boas operadoras de enoturismo:
Chile
Enotour – www.enotour.cl
Wine travel – http://winetravelchile.com/
Santiago Adventures – http://www.santiagoadventures.com/
Outros destinos
Designer Tours – www.designerstours.com.br (França, Chile, África do Sul e Brasil)
Episode Travel – www.episode-travel.com (Portugal)
Latitudes Viagens – www.latitudes.com.br (grupos capitaneados por enólogos para vários destinos)
Degustadores sem Fronteiras – http://www.degustadoresemfronteiras.com.br/ (idem)

Dica da Semana: 

Finca La Celia Cabernet Franc
Produtor: Finca La Celia
País: Argentina – Mendoza
Uva: Cabernet Franc
Cor: Vermelho profundo e intenso com traços negros. Aroma: Forte presença de madeira, café, tabaco e aromas minerais. Paladar: Taninos fortes e vigorosos. Final de boca longo e intenso.

Vocês sabem como se produz vinho? – Final


Se os leitores chegaram até aqui e não estão terrivelmente entediados, há uma grande chance de se tornarem bons apreciadores da mais nobre das bebidas.

Se o bom vinho começa no vinhedo, é nesta última fase que a mágica acontece.
– Carvalho, o último protagonista

Esta é uma família vegetal numerosa (Quercus), mas nem todos os seus membros podem ser usados na fabricação dos toneis usados na produção vinícola. São empregados unicamente dois tipos, o Carvalho Europeu ou o Americano. Cada uma destas madeiras vai acrescentar aromas e sabores distintos ao vinho. Não é algo simples como contratar uma tanoaria, encher as pipas e aguardar o tempo necessário. Tem suas manhas.

Dorna de envelhecimento (em desuso)

Antes que uma chuva de mensagens inunde o correio do Boletim, tanoaria é a técnica empregada para fabricar barricas de madeira, algo meio artesanal até hoje; pipa, barril, barrica, tonel, tanque, dorna, etc., são sinônimos que se referem a diferentes formas de reservatórios para líquidos.

Tanoeiro em ação
Atualmente, a técnica de envelhecimento mais difundida consiste em distribuir o vinho por inúmeras barricas com capacidade aproximada de 200 l. Estes reservatórios, por sua vez, podem ser todos iguais ou com diferentes características.
E que características seriam estas?
Duas já são nossas conhecidas, madeira de origem europeia ou americana (não se misturam madeiras numa mesma barrica). Além disto, temos as tostas e o número de utilizações.
Já escutamos o xi! complicou!.
Vamos dar um exemplo do que estamos falando, antes de explicações mais detalhadas: um vinho de primeira linha poderia ser envelhecido com 50% carvalho francês, 50% carvalho americano, todos de tosta média e 1º uso. 
Barrica de carvalho francês, tosta média (MT), fabricante Mistral 
Para decifrar isto, precisamos explicar o que vem a ser a tosta. Depois de armado e apesar de ter sido aquecido para vergar suas aduelas formando o barril, outra operação é necessária para preparar a superfície interna que ficará em contato com o vinho. A parte que ficará em contato com o vinho é queimada, em diferentes graus, seja por ação do fogo ou de uma resistência elétrica, caramelizando a superfície. Esta preparação transmitirá, ao vinho, os mais expressivos aromas e sabores. As tostas podem variar de ligeiras até intensas. Cada um destes graus interage de maneira distinta com o nosso caldo. Tudo dependerá do tempo de contato e do número de utilizações de cada pipa. O 1º (primeiro) uso é o melhor. À medida que vai sendo reutilizado, o barril perde gradativamente sua capacidade de agregar aromas e sabores.
Nos grandes, vinhos empregam-se os de 1º ou 2º uso, reservando-se a 3ª utilização, em diante, para vinhos menos sofisticados. Quando não servem mais para vinificação, os barris são vendidos para fabricantes de bebidas menos nobres. Cada barrica nova custa, em média, US$ 600.00 (seiscentos dólares). Numa boa vinícola, há milhares delas.
Caves típicas
Um vinho de alta gama pode ficar fica envelhecendo por até 3 anos, num ambiente com temperatura controlada, a cave, em geral subterrânea. Periodicamente os barris são destampados e o vinho testado. Se for necessário, completa-se o volume. Sempre há uma evaporação através da porosidade da madeira.  
– Filtragem, Colagem e Engarrafmento
Chegamos quase ao final. Está tudo pronto: tanto o vinho jovem quanto o envelhecido já podem ser engarrafados. Mas há um passo adicional.
Apesar de decantado, continuam a existir micro partículas em suspensão, que devem ser removidas usando um processo denominado Colagem ou Clarificação: uma substancia inerte e agregadora, como uma gelatina, é adicionada forçando nova decantação. Depois vem a filtração (opcional), que deixará a nossa bebida límpida.
Finalmente engarrafamos, rotulamos e selamos as garrafas. Tudo pronto?
Ledo engano. O vinho engarrafado vai entrar em nova fase de repouso, por mais alguns meses, pelo menos, para se recuperar do choque ao entrar em contato, abruptamente, com o meio externo, na hora de ir para a garrafa. 
Estiva – garrafas em repouso
Vinho é uma bebida muito sensível!

Dica da Semana – depois de todo este trabalho, merecemos ser bem recompensados.

Don Guerino Espumante Brut Rose – $


ORIGEM: Alto Feliz – RS – Serra Gaúcha
UVA: Malbec.
Aroma com notas de frutas vermelhas, rosas, e levedura.
Paladar refrescante, com notas de frutas vermelhas, bom corpo, com longa persistência e final de boca agradável.
 Acompanha aperitivos, peixes, saladas e sobremesas.






GLOSSÁRIO e Esclarecimentos Finais
Carvalho – árvore da família Fagácea, que inclui a Faia e o Castanheiro. Interessa-nos o gênero Quercus, grupo composto por cerca de 500 espécies. Dentre elas, são utilizados na vinificação o Quercus Petrae (carvalho europeu – francês) e o Quercus Alba (carvalho branco norte americano). Além destas duas, há o Sobreiro (Quercus Suber), do qual se extrai a cortiça.
Aduelas – são as peças longitudinais que formam a estrutura do barril.
Tosta – é a queima realizada prepara a superfície interna do barril. Pode ter quatro intensidades:  
               Leve – 5 minutos a uma temperatura entre 120/130 graus ;
               Média – 10 minutos a 160/170 graus
               Média Escura – 15 minutos a 180/190 graus
               Forte – 20 minutos a 200/210 graus
As tostaduras médias são as que mais transmitem compostos aromáticos. A Forte é a que contribui menos.
Cave – literalmente, caverna, em francês. Local do repouso do vinho enquanto envelhece e incorpora aromas e sabores oriundos do carvalho. As caves devem ter baixa temperatura, pouca iluminação e influências externas. Por esta razão são subterrâneas, como as cavernas.
Colagem ou Clarificação – neste processo podem ser empregados os seguintes coloides: albumina ou clara de ovo (daí, “clarificação”); albumina seca de ovo ou de sangue (nem sempre permitida); sangue fresco; caseína (uma das proteínas do leite); colas de peixe; colas de osso; bentonita, gelatina, etc..
Filtração – o equipamento utilizado é do tipo placa, especialmente fabricado para este fim. Muitas vinícolas modernas abandonaram a Clarificação, utilizando apenas, a filtração. A critério do Enólogo, o vinho poderá ser filtrado ou não, neste caso, o rótulo deverá indicar, claramente, esta opção.
Estiva – técnica de repousar o vinho engarrafado;
Outras técnicas de envelhecimento: com a constante preocupação com o meio ambiente e a cada vez maior produção de vinhos em todo o mundo, buscam-se alternativas para evitar a dizimação das florestas de carvalho. Duas técnicas se destacam e já são largamente empregadas, apesar do grande ceticismo e crítica geral:
1 – cavacos de carvalho são inseridos nos tanques de estabilização. Com isto, abrevia-se o tempo de maturação e envelhecimento;
2 – o mesmo pode ser feito com serragem de carvalho, que é um subproduto da fabricação de aduelas para tanoaria. Beneficia muito o custo de produção do vinho.
Ambas são vistas como práticas inadmissíveis. Quem as utiliza não declara abertamente.


Vocês sabem como se produz vinho? – 2ª parte


– Fermentação

Na semana passada, havíamos mostrado como era produzido o mosto, primeira parte do processo de vinificação. Estávamos na fase em que era colocado em tanques especiais, de aço inox (técnica mais moderna), madeira (técnica tradicional). Faltou mencionar que também se empregam tanques de concreto, revestidos com uma resina, como se fosse uma piscina.
Porque empregamos esta denominação de especiais?
Por uma simples razão: na fermentação, também conhecida como fase tumultuosa, o nosso caldo literalmente ferve. Será necessário manter a temperatura sobre controle, o que estes equipamentos permitem. (fotos a seguir)
Para que tudo isto aconteça, entram em cena as leveduras. Calma pessoal! Não precisamos nos desesperar e nem ir ao dicionário. Usamos leveduras no nosso dia-a-dia, só que são mais conhecidas por outro nome: fermentos…
Ah! Agora sabemos do que se trata. Mas nem pensar em colocarmos Pó Royal no mosto e esperar que saia alguma coisa dali, combinado?
Dois caminhos podem ser seguidos neste momento: usar as leveduras naturais da uva ou acrescentar leveduras especialmente desenvolvidas para o tipo de vinho que se deseja obter. Este é um dos segredos de cada enólogo.
O que vai acontecer, dentro do tanque ou cuba de fermentação, é pura química. Não vamos aborrecer os leitores com detalhes muito técnicos, mas precisamos entender o básico:
Açúcar (da uva) + leveduras => Álcool Etílico + CO2 (gás carbônico) + calor
Além da fermentação, acontece, simultaneamente, a maceração do mosto com as cascas (tintos e rosés). Nas primeiras 24 horas, a fase tumultuosa, há intensa liberação de gás carbônico (CO2) o que faz com que as cascas sejam levadas para a superfície, formando uma camada apelidada de chapéu. Como é importante que estes sólidos mantenham contato com o mosto pelo máximo de tempo possível, são feitas, de acordo com as indicações do Enólogo, várias remontas, processo simples que consiste em misturar o chapéu de volta para a parte líquida.
A fermentação dura de quatro a dez dias e deve ser mantida em temperatura constante (24o a 32o), sendo monitorada, initerruptamente, durante todo o processo (estamos usando, como exemplo, a fermentação de vinhos tintos). Esta fase se encerra quando não há mais açúcares (frutose e glicose) para serem convertidos em álcool, ou a critério da equipe técnica. Procedemos estão a descuba, que é a retirada do mosto fermentado dos tanques, transferindo-o para outros tipos de recipientes. Este processo pode ser feito imediatamente após o término da fermentação ou após um período mais longo de maceração. São as técnicas de cada vinícola.
Vamos ressaltar alguns pontos importantes:
1 – os componentes que entraram nas cubas/tanques de fermentação foram o mosto, cascas e sementes (tintos e roses) e leveduras;
2 – não se adicionou água;
3 – não se adicionou álcool (ele é obtido na fermentação);
4 – dependendo da legislação do país produtor, podem ser feitas correções no mosto antes de fermentar, a mais comum é acrescentar dióxido de enxofre, um inibidor de bactérias;
5 – vinícolas modernas usam uma técnica de micro-oxigenação para acelerar a maceração e eliminar alguns fatores indesejáveis.
Na próxima semana vamos abordar a fase de maturação. 

Dica da Semana: 
Doña Paula Estate Malbec 2009
Produtor: Vinícola Doña Paula
País: Argentina – Luján de Cuyo e Uco Valley
Envelhecimento: 8 meses em barricas francesas.
Vinho de coloração rubi violácea. Aroma de chocolate, fruta madura, baunilha e menta. Em boca é glicerinado, tem taninos redondos e sabor encorpado e frutado.
GLOSSÁRIO:
Espaldeira, Latada, Lira, Gobelet (em vaso) – entre outros, são os chamados sistemas de condução da videira e se aplicam conforme o tipo de uva. Permitem, a seu modo, uma melhor insolação e poda.
Vinhateiro – é todo aquele que participa do processo de produção de vinhos; produtor de vinhos. Especialmente empregado para designar o dono da vinícola, quando este não é um dos técnicos envolvidos. O termo foi usado na Bíblia – A Parábola da Mau Vinhateiro.
Desengaçamento – é ato de remover a estrutura do cacho de uva (engaço), soltando os bagos (frutos).
Maceração – é o processo que se usa para obter mais cor, aromas, taninos, etc., através do contato das cascas da uva com o mosto. Equivale, fazendo uma livre associação, a uma marinada.
Remonta – é o termo empregado para descrever o ato de mergulhar, novamente, a parte sólida que por ação do gás carbônico veio para a superfície formando o chapéu. Pode-se empurrar manualmente, no caso de cubas abertas ou bombeando-se o mosto, de baixo para cima, nos tanques fechados.
Leveduras – as mais comuns são a Sccharomyces cerevisae ellipsoideus e a Sccharomyces oviformis.
Subprodutos da Fermentação – glicerina, ácidos diversos, aldeídos e ésteres (só interessa aos eno-chatos, sub-grupo baú).

Vocês sabem como se produz vinho? – 1ª parte

Este não será um tema para os fracos de coração. Por mais que busquemos uma simplificação, o processo de produção de uma vinícola envolve uma série de etapas que se iniciam no plantio da videira e só terminam quando o vinho é aberto na mesa de algum apreciador.
Por trás de tudo isto, muita arte, muita técnica, muito amor e paixão. Estes são alguns dos elementos que fazem do vinho, a bebida dos deuses.
“O bom vinho começa no vinhedo”, é o mantra dos Enólogos, mas quem cuida das uvas são os Agrônomos. Ambos devem trabalhar em sintonia. São usadas cerca de 200 espécies viníferas na produção de vinhos, e isto é uma pequena parcela do universo desta fruta. Cada uma tem suas particularidades: estão sujeitas a determinadas pragas; podem ser assentadas de diferentes maneiras (espaldeira, latada, etc.); necessitam de enxertos ou são plantadas em pé franco, isto sem levar em conta uma infinidade de outros fatores como clima, solo, topografia, irrigação que, no momento, vamos deixar de lado.
O importante é conhecermos o ciclo das parreiras:
Primavera – brotação e crescimento;
Verão – floração e frutificação;
Outono – amadurecimento, colheita e desfolhagem;
Inverno – dormência.
Agrônomos, viticultores, vinhateiros, enólogos, devem respeitar alguns marcos. Um dos mais significativos é decidir o ponto de colheita da uva: ela tem que estar com o teor dos açucares (frutose e glicose) adequado e baixa acidez. Há diversos métodos para se aferir estes parâmetros, o mais comum utiliza um refratômetro, como o da foto abaixo.
Devemos ter sempre em mente que cada uva tem o seu tempo. As diversas espécies serão colhidas em diferentes momentos. Organização é fundamental para que se obtenha um produto de qualidade. Tradicionalmente, as frutas são colhidas manualmente, sendo depositadas em caixas que, por sua vez, são coletadas e conduzidas para a cantina, onde se inicia o processo de vinificação, que transforma a uva, em vinho. 


De forma muito resumida e simplificada, são estes os principais passos:
Recepção na cantina;
Desengaçamento e esmagamento;
–  Fermentação;
– Maturação;
– Filtração;
– Engarrafamento;
– Amadurecimento na garrafa.
Cada tipo de vinho passa por processos únicos que não serão descritos aqui. Além disso, cada vinícola, através de seus enólogos, cria suas próprias receitas para todos os vinhos que se propõe fabricar.
– Recepção, Desengaçamento e Esmagamento
Uma vez na área de produção, o conteúdo das caixas é inspecionado e despejado num equipamento que vai realizar duas operações: separar os bagos dos talos (engaços) e promover o esmagamento, produzindo um suco de uva, denominado mosto.
A foto a seguir ilustra o início do processo. 

Para os vinhos de alta qualidade, este processo é manual. As uvas são colocadas numa esteira transportadora e são separadas por uma equipe treinada. Além dos engaços, são removidos os bagos defeituosos.
A obtenção do mosto é feita por prensagem mecânica dos frutos, mas, tradicionalmente, emprega-se o sistema pisa-a-pé, ainda bem difundido em Portugal. (foto) 

O resultado deste processo, seja mecânico ou artesanal, é transferido para tanques especiais, de aço inoxidável ou madeira. Este momento é outro marco importante que exige uma decisão do Enólogo: o que fazer com as cascas e sementes. Em linhas gerais, se o produto for vinho branco, elas serão removidas, no caso dos tinto e rosés, elas permanecerão, por um tempo determinado.
A próxima etapa, que para muitos é a principal, denomina-se fermentação. Mas este capítulo fica para a semana que vem. 

Dica da Semana:

Mapema Malbec Tempranillo 2008

Produtor: Mapema
País: Argentina – Mendoza
Esta nova e saborosa criação dos enólogos Pepe Galante e Mariano Di Paola é elaborada com um corte de 50% Malbec e 50% Tempranillo, maturado 12 meses em barricas de carvalho francês e americano. É um vinho exuberante e cheio de fruta, com notas de especiarias e um agradável toque sedoso no palato. Um verdadeiro achado, que já surge como uma das maiores pechinchas da Argentina.
Saúde!

Compreendendo o Vinho – 1ª parte


A grande diferença entre os profissionais do vinho e os enófilos de fim de semana, está no fato de que, os primeiros, fazem degustações didáticas, periodicamente, como uma rotina de seu trabalho. Neste grupo, incluo os vinhateiros, enólogos, comerciantes, Sommeliers, críticos e jornalistas especializados.

Com algum empenho, seremos capazes de treinar o nosso paladar, usando as mesmas técnicas de degustação dos profissionais. Assim, poderemos apreciar todas as nuances que a mais nobre das bebidas pode nos oferecer.
São situações diferentes, beber um vinho num almoço de família ou de negócios ou bebê-lo com intuito educativo: as degustações são sempre comparativas, só assim se aprende as diferenças entre um e outro produto, sejam elas virtudes ou defeitos.
Uma das primeiras degustações a serem experimentadas, por uma confraria ou grupo de amigos, é a que envolve vinhos de diferentes cepas de uva. Devemos manter uma coerência na escolha dos vinhos. Nada de degustar tintos, brancos e espumantes ao mesmo tempo. Selecionamos os produtos de uma região. Se possível, todos de uma mesma safra. Exemplo: tintos do Chile, o que incluiria Carménère, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Pinot Noir, pelo menos. Vamos apenas provar estes vinhos e compará-los. A ideia é poder diferenciar cores, aromas e sabores, etc.. Neste tipo de prova, uma garrafa atende até 12 pessoas. Começamos com 2 ou 3 vinhos de cada vez.
FICHA DE DEGUSTAÇÃO
Devemos registrar as nossas experiências, seja através de notas num caderno ou utilizando uma Ficha de Degustação padronizada. Desta forma, teremos uma maneira de lembrar o que aconteceu e usar esta informação a nosso favor, seja na compra de nossa próxima garrafa ou em outra prova de vinhos.
Na figura que acompanha este texto há um modelo que segue a metodologia criada pelo Engenheiro Químico italiano, Giancarlo Bossi.
É bem simples e didática, contemplando os seguintes aspectos: Aparência, Olfato, Paladar, Evolução e Avaliação Final.
Seu preenchimento é intuitivo.
Há os que preferem usar valores numéricos, neste caso, é possível atribuir um determinado número de pontos para cada item (máximo):
Visual – 16 pontos;
Aromas – 24 pontos;
Paladar – 60 pontos,
Totalizando 100.
A tabela a seguir nos dá uma perspectiva de resultado:
Para a turma do ‘difícil’, ‘muito técnico’ e ‘complicado’, lembramos que nada disto é obrigatório. Uma boa anotação num caderno resolve o problema ou, se houver interesse, podemos criar a nossa própria ficha, simplificando este modelo.
O próximo passo é tentar uma degustação de vinhos que passaram ou não por madeira. Talvez a tarefa mais árdua seja a de descobrir como os vinhos foram produzidos, para incluí-los no teste. A melhor forma é consultar a descrição do produto (ficha técnica), disponível nos catálogos ou sites das vinícolas. Um bom produtor costuma colocar estas informações no contra rótulo. Nas lojas especializadas, qualquer vendedor saberá nos informar. O exercício tem por objetivo treinar a identificação da presença, ou não, de madeira e as nuances adquiridas pela bebida.
Novamente, não devemos misturar brancos e tintos. A situação ideal é aquela com vinhos de um mesmo produtor. Com tempo, poderemos sofisticar este tipo de prova, acrescentando um maior grau de dificuldade, por exemplo, identificar a origem da madeira usada e o tempo de contato. Uma boa sugestão, para começar, é fazer este tipo de prova com diferentes Malbec argentinos.
Na coluna da próxima semana, vamos propor provas mais objetivas ainda. Até lá, que tal começarmos a treinar o nosso paladar, com estes conselhos aqui:
• Coma com calma, não seja apressado.
• Use os olhos quando comer, aprecie, repare no que está comendo.
• Sinta os aromas da comida, habitue-se a usar o nariz quando está comendo.
• Adote o Slow Food, dedique algum tempo às refeições.
• Beba vinho durante a refeição.
• Nunca encha a taça. Fique no 1/3 do volume (menos da metade) e tome pequenos goles.
• Deixe o Vinho passear pela sua boca, aprecie seu sabor.
• Com Fast Food, não tome vinho.
• Beba água regularmente.
• Comece com vinhos mais baratos e simples.
• Introduza novos vinhos, mais caros, aos poucos.
• Compre vinhos no máximo com o dobro do preço do que você consome regularmente.

Dica da Semana I – um bom tinto brasileiro: 

Innominabile Lote III – $

 Produtor: Villaggio Grando – Campos de Herciliópolis – SC
Uva: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir e Petit Verdot
Sua coloração rubi com reflexos violáceos é intensa e brilhante. Seus aromas são amplos e intensos, passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez quase imperceptível. Mas são seus taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado. É um vinho complexo, de guarda, o qual, acreditamos estará na sua plenitude no decorrer de alguns anos, mesmo já sendo possível degustá-lo.
Dica da Semana II – para aqueles que realmente querem se aprofundar neste tema:

“Nez du Vin” – o nariz do vinho (produto francês)
A caixa ajuda-nos a treinar o olfato a reconhecer e identificar os 54 principais aromas presentes no vinho. É muito utilizada pelos grandes Enólogos e Sommeliers de todo o mundo para treinar o olfato na identificação dos aromas do vinho.
Para aqueles que quiserem um kit menor é possível encontrar versões de 24, 12 e 6 aromas. Para os kits menores existem temas variados como “Defeitos”, “Carvalho Novo”, “Vinhos Tintos” e “Vinhos Brancos”.
O preço é salgado, mas vale a pena.
Real Imports e Mistral, entre outros, tem à venda. Este é o mais famoso, mas existem kits de outros produtores, bem mais em conta. Procurem por ‘Caixa de Aromas’.
« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑