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África do Sul – 1ª parte

Última etapa nesta viagem

Classificar o continente africano como Novo Mundo pode parecer um contrassenso. Afinal, várias hipóteses admitem que a origem da humanidade esta ligada a este território. Portanto, nada mais antigo ou velho. Mesmo quando o assunto é vinificação, esta bebida é citada desde os tempos bíblicos.  
Um pouco de história 
Vamos voltar ao ano de 1659 quando o fundador da Cidade do Cabo, Jan van Riebeeck, produziu o primeiro vinho naquela região. A cidade ainda não existia, era apenas um entreposto da poderosa Companhia das Índias para reabastecimento de seus navios em busca das cobiçadas especiarias. O governador que o sucedeu, Simon van der Stel, demarcou, em 1685, a região de Constantia: seu projeto era produzir um vinho de qualidade. Em pouco tempo o Vin de Constance havia conquistado algum respeito nas mesas europeias. Após sua morte, a produção decaiu e só foi retomada a partir de 1778 quando um empresário, Hendrik Cloete, adquire as terras, recupera o vinhedo e inicia nova fase de produção conseguindo obter ótimos resultados com um vinho de sobremesa elaborado a partir das cultivares Muscat de Frontignan também conhecida como Muscat Blanc à Petits Grains, Pontac, Muscadel branca e tinta e Chenin Blanc. A reputação deste vinho foi uma influência positiva na produção sul africana.

A indústria vinícola prosperou até 1860. A partir desta data, por força de alguns acordos comerciais, a produção começou a diminuir. Em 1866 enfrentaram uma epidemia de Filoxera que devastou os vinhedos. Um desastre que levaria mais de 20 anos para ser superado. Somente em 1900 a plantação de vinhedos retomaria sua força. A política da segregação racial (apartheid) fez com a produção de vinhos ficasse escondida por muito tempo: os produtos eram boicotados, mesmo sabendo que não havia restrições para trabalhadores negros neste segmento. Este quadro durou até meados dos anos 90. Com o fim da política segregacionista, a África do Sul entrou no período de renascença. A produção hoje gira em torno de 800 milhões de litros e 3500 produtores. As principais castas plantadas são (% sobre a área total plantada aprox.. 94.000 Ha): 
Chenin Blanc – 18% 
Chardonay – 8% 
Sauvignon Blanc – 10% 
Cabernet Sauvignon – 12% 
Merlot – 6% Pinotage – 6% 
Shiraz – 10% 
Regiões Vinícolas 

A ilustração ao lado nos dá uma bela ideia da distribuição dos vinhedos. Cada área tem suas características climáticas e de solo, produzindo vinhos com tipicidades bem diversas. Existe uma interessante condição geográfica produzida pelo cabo: a separação de dois oceanos, Atlântico e Índico. Cada um vai provocar pequenas alterações climáticas que podem ser percebidas no produto final. 
Existe uma legislação que classifica os vinhos por sua origem, a WO (Wines of Origin), elaborada em 1973. Esta classificação deve aparecer nos rótulos dos vinhos, indicando desde a posição geografia até a sub-região do vinhedo. 
A maior parte da produção de vinhos finos está concentrada em 3 regiões: Constantia (Cape Town), Stellenbosch e Paarl. As regiões mais recentes como Klein Karoo, Olifants River e Robertson vêm se destacando e chamando a atenção dos consumidores mais críticos. 
A região de Constantia ficou famosa por seu Vin de Constantia, produzido desde os tempos imemoriais. Ainda é respeitadíssimo, numa recente degustação o Klein Constantia safra 2006 recebeu 93 pontos da Wine Spectator. 
Paarl foi durante todo o século 20 o centro nervoso da produção vinícola. As sub-regiões de Franschhoek Valley e Wellington ainda se destacam. Mas o foco foi gradualmente mudando para Stellenbosch principalmente por ser a sede de uma Universidade dedicada ao estudo da vinicultura e vinificação. Hoje responde por 14% da produção total do país. Os vinhos mais famosos tem origem nesta região que conta com uma diversidade de cepas, Cabernet, Merlot, Shiraz, Pinotage e a branca Chenin, de fazer inveja a muitos países produtores. 

Paarl e Stellenbosch

Um dos seus principais vinhos é o Rust en Vrede Shiraz, de vinhedo único. O nome que significa Descanse em Paz, indica a vinícola fundada há mais de 300 anos, embora nem sempre tenha produzido neste período. Nos últimos 30 anos, tornou-se muito produtiva e regular trazendo vinhos formidáveis elaborados com Cabernet, Merlot e Shiraz. Seus rótulos foram servidos no jantar de comemoração ao Premio Nobel da Paz recebido por Nelson Mandela bem como no almoço oferecido à Rainha da Dinamarca celebrando este feito. 

O premiado Shiraz É um vinho que se orgulha de ser o melhor representante do terroir de Stellenbosch. Sua vinificação é feita em fermentadores abertos com pelo menos 5 remontas manuais por dia. 
O processo fermentativo dura 7 dias, seguido de 10 dias de maceração. A fermentação malolática é feita parcialmente em tanques de aço inox e em barris de carvalho. Amadurece por 18 meses em barricas 100% novas, na proporção 75% de origem americana e 25% francesa (safra 2009). Depois de engarrafado aguarda alguns meses antes de ser comercializado. 
Notas de Degustação safra 2009, uma das melhores do país até hoje: 

Coloração – Grená profundo; 
Aromas – no primeiro ataque percebem-se Jasmim e doces à base de leite. Esta impressão inicial passa rapidamente para frutas negras, saborosas e suculentas; 
Palato – sabores de ameixa e cereja perfeitamente integrados com os taninos, passando uma deliciosa sensação aveludada no final. 
Harmoniza com carnes grelhadas, assados e cordeiro. 
Um show de vinho, imperdível! 
Mas não é barato, sendo vendido no Brasil na faixa dos R$ 300,00, pena… (e ainda querem salvaguardas) (dados de 2012)

Dica da Semana: Para não ficarmos só nos tintos de lá, há um bom branco que é uma pechincha. 

Pearly Bay Cape White 
Região – Paarl – Suider 
Vinícola – KMV (a maior cooperativa da RSA) 
Vinho de cor amarelo palha claro brilhante, com aromas vivos de verão, flores brancas e feno. Na boca é delicado e refrescante, ideal como aperitivo ou para acompanhar saladas. Perfeita harmonização para fondues. (tampa de rosca)

Austrália e Nova Zelândia – Final

Se os brancos são a grande estrela por aqui, os tintos, embora ainda não tenham obtido o respeito conquistado pelos Sauvignon Blanc, não fazem feio. Duas uvas sobressaem: Pinot Noir e Syrah. 
Esta última cepa é a base para um extraordinário produto da vinícola Craggy Range, localizada em Hawke´s Bay: Syrah Block 14 Gimble Gravels Vineyard. 

O nome original foi simplificado para Gimblett Gravels Vineyard Syrah. No fim da década de 1980, um empresário australiano investiu em terras neozelandesas para a produção de um vinho. Não um vinho qualquer, queria criar algo lendário. Comprou um dos últimos espaços disponíveis na baía de Hawke, ao longo da estrada Gimblett. Gravels, em inglês, significa cascalho indicando o tipo de solo da região. 

Na época, foi considerado o maior investimento em vinicultura do país. As parreiras utilizadas eram clones das mudas trazidas há cerca de 150 anos. O vinho produzido de suas frutas tem características peculiares e representam o terroir perfeitamente. Sua vinificação é feita em tanques de aço inoxidável, com controle de temperatura, usando somente os frutos (nenhum engaço). O amadurecimento passa por barris de carvalho francês, 25% de primeiro uso, durante 16 meses. 

Notas de degustação da Safra de 2005, a mais famosa: 
Com uma coloração púrpura profunda e aparência viscosa, sugere um vinho potente, porém se mostra leve no palato. Os aromas presentes remetem a especiarias como tradicionalmente encontrado em rótulos congêneres. Na boca apresenta taninos vivos, com textura de cetim, sem nenhum vestígio de ardência ou álcool exagerado, típico dos tintos neozelandeses. Um excelente vinho! Perfeito para acompanhar pratos condimentados de carnes. 
Recebendo sempre notas muito boas dos críticos (Parker 93 pontos), não é um vinho caro tendo ótima relação custo benefício. No Brasil, é importado pela Decanter com preço de catálogo de R$ 172,00 (em 2012). Outro bom investimento para um ocasião especial. A vinícola produz uma série de outros vinhos, brancos e tintos, inclusive um sofisticado corte denominado Le Sol, que já foi comparado com o mítico Cheval Blanc. 

Dica da Semana: Assim com os brancos, os tintos da NZ são caros no Brasil. Para contrastar com o vinho apresentado, selecionamos um Merlot típico. 

One Tree Merlot 
País: Nova Zelândia / Hawke’s Bay 
Castas: 88% Merlot, 10% Cabernet Franc, 1% Malbec, 1% Cabernet Sauvignon 
Coloração vermelho rubi intenso com reflexos granada. Aromas de frutas escuras maduras (cereja e amora), sândalo, chocolate amargo e tomilho. Paladar seco, boa acidez, encorpado, taninos finos e macios com retrogosto de frutas. Amadurecimento em barricas de carvalho francês por 15 meses antes do engarrafamento. 
Harmonização: ideal para carnes vermelhas, carnes de caça e massa com molho untuoso.

Austrália e Nova Zelândia – 3ª parte

Os Brancos são a Grande Estrela

Um país onde tudo é especial, desde a beleza natural até a forma como seus habitantes fazem referência à sua terra natal: Kiwiland, terra do Kiwi, esta deliciosa fruta que ganhou o mundo é o jargão mais conhecido, mas não é o único. Os produtores locais afirmam que provar um vinho neozelandês é uma experiência única, como é único o seu país. Uma combinação especial onde solos, clima, água, inovação, pioneirismo e comprometimento com a qualidade se unem para proporcionar a mais pura, intensa e diversa experiência. Em cada taça de um vinho da Nova Zelândia existe um universo de descobertas. 

Um pouco da história 
As primeiras mudas de videiras foram trazidas pelos colonizadores em por volta de 1836. Em 1851, missionários católicos franceses fundaram uma vinícola pioneira. Mas, como em muitos países produtores, estas não foram iniciativas de muito sucesso. Três fatores influíram fortemente para que o vinho não fosse mais que uma indústria marginal: o foco na criação animal, legislação restritiva com proibições e temperança (Lei Seca) e fatores culturais que faziam da cerveja e dos destilados as bebidas prediletas. 
No início de século XX, imigrantes Dálmatas trouxeram o conhecimento agrícola e as técnicas de vinificação mais modernas dando inicio à produção de vinhos fortificados e doces, como Sherry e Porto, que caíram no gosto local. A explosão do setor só aconteceria com o ingresso da Inglaterra na Comunidade Econômica Europeia (1970) o que obrigou a revisão de diversos acordos bilaterais com a NZ provocando uma interessante reestruturação na economia local. A rigorosa legislação sobre bebidas foi modificada, acabando com o limite de 1 hora nos bares após o expediente que passaram a abrir também aos domingos. Nos restaurantes permitiram trazer sua própria garrafa de bebida (Bring Your Own Bottle – BYOB), importante contribuição para o espetacular crescimento da indústria vinícola daí em diante. 
Uvas e Regiões Produtoras 

Das 8.000 espécies de uvas existentes no mundo, cerca de 50 são cultivadas no país. A mais popular é a Sauvignon Blanc, com 10.500 hectares, seguida pela Pinot Noir com 4.500 hectares. Outras varietais utilizadas são Chardonnay, Merlot e Pinot Gris, Syrah e Cabernet Sauvignon. 
De modo análogo a outros países produtores, sofreram com a filoxera. Talvez tenham, hoje, a maior experiência no assunto: lutaram bravamente por mais de um século, até serem obrigados a replantar seus vinhedos com uvas enxertadas. Fizeram extensas pesquisas e selecionaram apenas 3 tipos de “cavalo” para serem usados, num projeto concluído somente em 2007. Sem dúvida, outra característica única! O resultado prático são vinhedos de qualidade ímpar o que permite a elaboração de ótimos vinhos. 
As principais regiões produtoras são Marlborough e Hawke’s Bay, considerados como centros nervosos da indústria vinícola. Cada uma das regiões indicadas no mapa têm características próprias e as uvas a serem ali plantadas são estudadas cientificamente obtendo-se os melhores resultados. Por exemplo, foi na região de Martinborough (Wairarapa), após diversas pesquisas, que se iniciou em 1970 o plantio da casta Pinot Noir com enorme sucesso. 
A Sauvignon Blanc foi quem melhor se adaptou neste novo território. Os vinhos produzidos são comparados aos melhores do mundo e muitas vezes considerados superiores. Uma destas preciosidades se tornou uma lenda e estabeleceu um novo patamar de qualidade internacional. Vamos conhecê-lo! 
Cloudy Bay Sauvignon Blanc 

A vinícola Cloudy Bay, localizada na região de Marlborough, homenageia a baia homônima. O nome do acidente geográfico, que significa Baía Nublada, foi dado pelo lendário Capitão Cook que navegou por aquelas águas em 1770. 
O Sauvignon Blanc, cuja 1ª safra em 1985 foi vinificada a partir de uvas compradas de outros produtores, teve uma repercusão impressionante, revelando esta região para o mundo. Foi exportado para mais de 20 países, obtendo ótima aceitação pelos mais diferentes consumidores. Com seu estilo peculiar, cheio de fruta e com um caráter bem definido, conquistou até mesmo aqueles que estavam habituados a consumir os tradicionais Sancerre e Pouilly-Fumé do Vale do Loire, vinhos mais fechados e tímidos perto desta explosão de sabores. Hoje é produzido a partir de uvas próprias, plantadas em 140 hectares, divididos em 3 áreas, algumas delas nas margens da baía. Além do Sauvignon, são produzidos um excelente Chardonnay e um Pinot Noir. O poderoso grupo Luis Vuitton Möet Henessy, através da subsidiária Veuve Clicquot, é a atual dona desta importante vinícola. 
Notas de Degustação safra 2011 

Os frutos foram colhidos principalmente à noite e antes de raiar o sol, em temperaturas mais amenas. Uma vez selecionados e desengaçados, são levemente prensados. O mosto obtido é macerado a frio por 48 a 72 horas em tanques de aço inox, quando é introduzida uma levedura. Todo o processo é feito a baixas temperaturas. Para o corte final só são aceitos os lotes com a melhor qualidade. 
Visualmente tem coloração amarelo- palha com reflexos esverdeados, produzindo uma fragrância sedutora que oferece aromas de frutas maduras e cítricos suculentos, com suaves notas herbáceas. No palato tem textura aveludada com sabores picantes de frutas cítricas e uma acidez refrescante. 
Sem dúvida nenhuma um vinho único! 
Seu preço também é palatável, girando em torno de R$ 150,00 nas boas lojas do Brasil. (dados de 2012)

Dica da Semana: Infelizmente os bons brancos neozelandeses não são fáceis de encontrar por aqui. Este pode ser um achado. Importado pela Casa Flora / Porto-a-Porto. 

ONE TREE SAUVIGNON BLANC 
País: Nova Zelândia / Marlborough 
Este Sauvignon Blanc apresenta cor amarelo-palha com reflexos verdeais. Aroma de frutas cítricas, maçã verde e notas de herbáceo. Um vinho seco, leve com boa acidez, meio de boca expansivo e final com retrogosto de groselha e grapefuit. 
Harmonização: ideal para peixes e saladas.

Uruguai: patinho feio ou aposta no futuro?

Retomando nosso passeio pelos países produtores, vamos conhecer os deliciosos vinhos uruguaios. Quarto maior produtor sul americano, vinificam desde 1870 quando o imigrante basco, Don Pascual Harriague, plantou as primeiras mudas. Durante muitos anos, o principal produto eram os vinhos simples obtidos a partir da uva Isabel, não vinífera, vendidos em garrafões. 

A partir de 1980 começou uma grande revolução neste setor que mudaria o perfil do vinho uruguaio: grandes vinícolas iniciam a produção de vinhos finos, de alta qualidade. Vale a pena conhecer este processo que, na verdade, aproveitou uma boa base instalada como a Escola de Agronomia (1906), a Escola Industrial de Enologia (1940), e o Sistema de Controle de Pragas (1957) – ao contrário de Chile e Argentina, a Filoxera fez grandes estragos no país. 
O passo decisivo foi a criação, em 1987, do Instituto de Vinhos do Uruguai, com objetivos simples e metas que todos os produtores podiam alcançar: 
a) difusão e promoção dos vinhos no exterior; 
b) aumento da produção de vinhos de qualidade; 
c) promoção do turismo enológico. 
Criou um sistema de classificação muito simples e extremamente efetivo, sendo considerado, por muitos, uma dos mais perfeitos: duas categorias apenas: 

  • Vino de calidad preferente (VCP) – deve ser obtido obrigatoriamente a partir de uvas viníferas e só podem ser comercializados em garrafas de 750 ml ou menores; 
  • Vino común (VC), ou tradicional vinho de mesa vendido em garrafões, tetra pack e embalagens similares. Em geral um vinho rosado. Os vinhos não podem receber nomes estrangeiros. 

Com estas regras simples, a produção vinícola cresceu de forma segura atingindo as metas propostas. São mais de 100.000 hectares de vinhedos plantados com Tannat (36%), Merlot (10%), Chardonnay (7%), Cabernet Sauvignon (6%), Sauvignon Blanc (6%), Cabernet Franc (4%) além das variedades não viníferas para produção do vinho comum. Existem 270 vinícolas, muitas já se destacando no cenário internacional. Todas com uma excelente relação qualidade x preço nos seus produtos. 
Refletindo sua própria história de lutas e conquistas para se tornarem um país independente, os produtores uruguaios enfrentaram uma série de fatores adversos para atingirem o nível de qualidade de hoje. Uma pergunta comum é saber o que os diferenciam da Argentina e do Chile: o clima é semelhante, geograficamente estão no mesmo paralelo de outras regiões produtoras, a cultura de consumo de vinho se equivale. Perdem, apenas, as defesas naturais proporcionadas pelos Andes, mas compensam com trabalho sério e dedicado, o que chamou a atenção dos principais consultores internacionais que já estão atuando na região. 

As principais empresas e seus vinhos de ponta 
Os vinhos do Uruguai têm personalidade própria, não pretendendo ser isto ou aquilo, o que os tornam únicos. Quase sempre baseados na uva Tannat, conhecida localmente como Harriague, de origem europeia e perfeitamente adaptada ao terroir local. Muito tânica e de complexa vinificação, produz vinhos de cor intensa e muito encorpados, com aromas herbais e frutas negras. Bem vinificado, seus taninos são aveludados e se presta a cortes com outras uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah. 

Destacam-se as vinícolas Pisano, Bouza, Juanicó, Filgueira e J. Carrau, que é considerada a primeira a produzir vinhos finos. Estabelecida desde 1930, quando plantaram seus primeiros vinhedos, passou por várias fases, tendo inclusive produzido bons vinhos no Brasil, entre eles o conhecido Chateau La Cave. Em 1976 iniciaram um projeto de vinhos de alto nível capazes de competir com os melhores do mundo. Fundaram a Vinos Finos Juan Carrau, plantando novos vinhedos na região de Rivera, junto à fronteira com o Brasil, além das plantações existentes em Canelones, próximo à capital Montevidéu. 

Um dos seus vinhos mais conhecidos é o AMAT, elaborado com 100% de Tannat dos vinhedos em Cerro Chapéu, Rivera. Colhidas e selecionadas manualmente, o mosto é fermentado em tanques abertos com remonta manual evitando-se qualquer tipo de bombeamento mecânico. Amadurecido por 20 meses em barris novos de carvalho francês e americano (50% e 50%) é engarrafado sem filtração e descansa por 1 ano antes da comercialização. 

Notas de Degustação:coloração intensa e muito encorpado. Aromas concentrados de frutas vermelhas, ameixa seca e alcaçuz. A madeira aparece em discretas notas de coco e tabaco, domando os taninos que são finos e aveludados o que se traduz em grande elegância e longevidade. Um vinho para ser guardado e apreciado no futuro. Potente, é ideal para acompanhar assados, queijos fortes, embutidos, etc. Recebeu diversos prêmios internacionais. O mais importante foi a medalha de prata na difícil competição International Wine Challenge de 2003, com a safra 1999. 

Como se isto tudo não bastasse, tem uma excelente relação custo x benefício. Na Zahil, seu importador exclusivo:http://www.zahilrj.com.br/vinhos/uruguai/678.aspx Custa menos de R$ 150,00 (dados de 2012). Vale cada centavo! 

Dica da Semana: Para começar a gostar e entender os segredos destes deliciosos vinhos. 

Las Brujas Tannat Reserva 
Safra: 2009 
Produtor: Gimenez Mendez 
Região: Las Brujas, Canelones. 
Uva: 100% Tannat 
Envelhecimento: 3 meses em carvalho americano 
Vinho tinto uruguaio. Excelente equilíbrio entre a acidez, a fruta e os taninos. Sua coloração é vermelha escura com reflexos pretos. Um vinho com estilo, equilibrado e estruturado. Sabores que lembram marmelada, ameixas pretas e que preenchem o paladar. Ótimo acompanhamento para carnes de caça e carnes vermelhas bastante condimentadas.

Bordeaux – Um ícone e outras considerações

Qualquer um dos vinhos classificados como 1º ou 2º Crus seriam excelentes representantes da vinicultura de Bordeaux. Para encerrar esta série, escolhemos o que acreditamos ser o mais icônico produto desta região, rivalizando em fama e carisma com o Romanée–Conti da Borgonha: Château Pétrus. 

Sua origem começa no século 18 pelas mãos da família Arnaud que possuía um pequeno vinhedo de 7 hectares. O primeiro registro de uma safra foi em 1837. Na exposição internacional de Paris de 1878, ganhou a medalha de ouro e a distinção de ser o primeiro vinho da região do Pomerol a receber este prêmio, podendo equiparar seu preço aos melhores do mercado naquela época. 

Nos primórdios do século XX, os Arnaud transformam sua propriedade numa sociedade de capital aberto, vendendo ações. Madame Loubat, dona de um hotel na cidade de Libourne se torna um dos maiores compradores, num investimento que a transformaria, em 1949, na proprietária do Château. Sua atuação foi decisiva em várias fases desta vinícola. Para vender a primeira grande safra do pós-guerra em 1945, contrata o negociante Jean-Pierre Moueix, que recebe direitos exclusivos da comercialização 

Esta nova parceria se mostrou muito acertada. Por um lado, Mme. Loubat foi uma vigorosa vinhateira que se dedicava com afinco e disciplina em manter e melhorar a qualidade de seus vinhos, buscando alcançar o preço dos grandes Châteaus de então, enquanto Moueix se encarregava de abrir mercados internacionais, entre eles os Estados Unidos e a Inglaterra: este foi o vinho servido no casamento do Príncipe Philip com a Princesa Elizabeth em 1947. Uma caixa de Pétrus foi o presente da vinícola para a coroação da Rainha em 1953. 
Após o rigoroso inverno de 1956, 2/3 dos vinhedos do Pétrus haviam sido dizimados pela geada. Mme. Loubat, numa decisão muito arriscada, decidiu não replantar nenhuma das vinhas, mas recuperá-las através de enxertia nas raízes sobreviventes, algo nunca tentado antes na região. Com isto, preservou a qualidade de suas uvas. Após sua morte em 1961, a propriedade foi herdada por duas sobrinhas e uma cota foi deixada, em testamento, para Moueix que se tornaria sócio. Pouco a pouco comprou a parte das herdeiras e passou a controlar todo o processo. 
A força do Pétrus 
Foi o trabalho de Moueix que elevou este vinho ao status que mantém até hoje. Com uma divulgação excelente, ganhou clientes como Aristóteles Onassis que o consumia na sua mesa cativa no famoso Le Pavillon de Nova York. Pedir um Pétrus sinaliza não só o conhecedor de vinhos, mas aquele capaz de compreender o universo vinícola. 
Os vinhos da região do Pomerol nunca foram classificados como os do Medoc ou St. Emilion, o que torna a fama do Pétrus num feito extraordinário: foi obtida por consenso. Junto com o Château Le Pin são os vinhos mais caros desta denominação. 

Vários aspectos chamam a atenção neste vinho. Ao contrário do que se imagina, não é produzido com a rainha Cabernet Sauvignon, mas com a nobre Merlot, quase sempre sem a companhia de nenhuma outra uva ou uma pequena parcela de Cabernet Franc, no máximo. Tecnicamente, não chega a ser um corte Bordalês estando mais próximo de um varietal. Seus métodos de produção são extremamente rigorosos e não é raro o descarte de parte da produção que não atinge os padrões exigidos (o Château não produz um segundo vinho). Dos atuais 11,4 hectares de vinhedos são produzidos, nos melhores anos, 2500 caixas o que o torna um vinho raro, para poucos. Mantém uma regularidade impressionante, tendo sido elogiado na maioria de suas safras. Parker, nosso crítico favorito, premiou as safras de 21, 29, 47, 61, 89, 90, 2000 e 2009 com 100 pontos. Precisamos falar mais? 
Os atuais proprietários fazem um divertido comentário sobre o nome deste vinho: Não deveria ser chamado de Château, não havia nenhum na propriedade, apenas uma modesta casa de fazenda decorada com os símbolos e as chaves de São Pedro. 
Notas de degustação 

“O Petrus 2009 me lembra do que em 1982 tinha gosto em uma idade similar. Taninos doces, juntamente com amora extraordinariamente pura e frutas cereja preta misturadas com notas de alcaçuz e trufas são encontradas neste ano de 2009″… – Robert Parker. 

Este vinho exige muita pesquisa para se adquirir um exemplar no Brasil. O preço médio está em torno de R$ 10.000,00 por garrafa, podendo ser duas ou três vezes mais alto dependendo da safra. 
1982 a outra grande safra de Bordeaux 
Foram há exatos 30 anos! A safra de 2009 ainda tem muito terreno pela frente para podermos afirmar que é uma safra melhor; os prognósticos são ótimos. Mas vamos fazer uma pequena viagem no tempo e olhar para aquele ano. Houve uma mudança inacreditável… 
Antigamente, vinhos respeitados eram os de Bordeaux ou da Bourgogne, nada mais. Champanhes sempre andaram com suas próprias pernas, vinhos do Rhône eram vendidos como vinhos regionais. Da Itália, apenas as garrafas empalhadas de Chianti se destacavam, Barolo era alguma garrafa velha e empoeirada esquecida no fundo de alguma adega. Na Califórnia consumia-se um estranho Zinfandel branco… 
A excepcional safra de Bordeaux (82) provocaria uma enxurrada de críticas positivas, Parker encabeçando o grupo, que a mídia não podia mais ignorar. O mundo do vinho deixava de ser um círculo restrito e abria as suas portas para que novas gerações de consumidores experimentassem suas maravilhas. A globalização do vinho se torna um fenômeno irreversível, para melhor ou para pior. 
Se hoje encontramos as mais diversas vinificações, algumas exóticas e deliciosas, vindas dos quatro cantos do planeta, devemos a esta safra de 1982. Fica a dúvida: será que a de 2009 provocará novas mudanças? 

Dica da Semana: um bom Bordeaux que não é um Château. 

L’Orangerie de Carignan

Produtor: Château de Carignan 
País: França/Bordeaux
Uva: Cabernet Franc (20%), Cabernet Sauvignon (20%), Merlot (60%) 

Coloração vermelho rubi com reflexos púrpura, aroma de frutas negras e vermelhas maduras, intensas notas de especiarias. Em boca apresenta taninos maduros e integrados, notas de frutas negras e tostado. Final longo e persistente

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