Tag: Merlot (Page 14 of 17)

Retomando o tema Grandes Vinhos – O Novo Mundo

Simbolicamente, vamos cruzar o Atlântico e iniciar uma jornada pelo continente americano. Esta segunda etapa vai abranger, também, África e Oceania. Antes de partir e para aproveitarmos bem esta aventura, são necessários alguns importantes esclarecimentos. A coluna de hoje é sobre isto. 
A dispersão das videiras 
Talvez tenha sido Cristovão Colombo quem trouxe as primeiras mudas para as Antilhas em sua viagem de descoberta em 1493. Mas foram os missionários que pregavam a fé cristã que as levaram a todos os países das Américas. O propósito era produzir um vinho de comunhão usado nos ritos religiosos. 

Colombo
No Brasil, coube a Martin Afonso de Souza introduzir as primeiras videiras na capitania de São Vicente em 1532. O primeiro vinho seria produzido por Brás Cubas, em Piratininga, no ano de 1551. 

Na maioria das vezes, estes empreendimentos não tiveram o resultado esperado. Diversos fatores contribuíram, desde o desconhecimento sobre as condições ideais de cultivo até o ataque por diversas pragas, até então inexistentes no continente Europeu. Como existiam uvas nativas, estas foram usadas, com algum sucesso, na produção destes vinhos simples. 
Aclimatação 
A Norte-América chegou a ser chamada de Vinholândia, pelos europeus, face ao enorme número de uvas autóctones encontradas. Vinhos seriam produzidos, regularmente, a partir de 1560, com as uvas locais. Mas o sabor não era, em nada, parecido ao que os colonizadores estavam acostumados. Em 1619 começam as primeiras tentativas sérias de adaptar as viti-viníferas europeias ao continente americano. Muitos problemas foram enfrentados e a solução ideal foi descoberta por acaso: um agricultor da Pensilvânia plantou uvas europeias no meio de um parreiral nativo (1683) dando origem a uma uva híbrida, por cruzamento natural, a Alexander, usada até hoje na produção comercial de vinhos. 
Filoxera e Lei Seca 
A partir desta descoberta acidental, a indústria vinícola na América floresceu rapidamente. Seguindo este modelo de uva híbrida, as videiras foram sendo distribuídas ao longo do continente. Os padres Franciscanos as levaram para a Califórnia onde estabeleceram a 1ª vinícola em 1769. Mas a qualidade do vinho ainda não era o esperado. Novas mudas europeias são trazidas para a costa oeste onde, finalmente, na Califórnia, começam a produzir bons frutos. 
Dois novos fatores iriam alterar de forma drástica este quadro e dar início a uma revolução que mudaria, para sempre, o mundo do vinho: a Filoxera e a Lei Seca nos EUA. 

A Filoxera é uma praga que ataca as raízes das parreiras. Originaria dos Estados Unidos, teria sido levada para a Europa nas mudas, norte-americanas, de uvas híbridas, nas últimas décadas do século XIX. O minúsculo pulgão se espalhou, rapidamente, dizimando os vinhedos europeus. Não havia solução: arrancavam-se as plantas e as queimavam, numa tentativa, desesperada, de evitar a propagação. Como as espécies do novo mundo eram imunes, gerou a única solução conhecida até o momento: replantar os vinhedos enxertando as uvas europeias em raízes vindas das Américas (tecnicamente, não existem mais pés-francos na Europa). 

A Proibição ou Lei Seca, que vigorou em território americano por 14 anos (1920 – 1933) produziu um desastre para a vinicultura local. Como não era mais um bom negócio, a maioria dos vinhedos foram erradicados e replantados com outras culturas. Mesmo depois de cair o veto à produção e consumo do álcool, a indústria vinícola estava quebrada, nada de qualidade seria produzido até a década de 60, quando surgem novos nomes neste cenário. 

O Vinho Moderno 
A recuperação da indústria vinícola norte-americana foi lenta e gradual, mas muito bem conduzida. Da Universidade de Davis, na Califórnia, que se tornaria um dos maiores centros de referência sobre a vinicultura, surgiriam as diversas técnicas que são empregadas, universalmente, no plantio de uvas e produção vinícola. O vinicultor americano transformou a arte de fabricar vinhos num negócio lucrativo. Isto mudaria tudo! 
Argentina e Chile 
A introdução das uvas viníferas nestes dois países se deu de forma semelhante. Entretanto, além do trabalho dos missionários religiosos, foi igualmente importante a introdução da cultura do vinho nas refeições, trazida pelos imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis. 
A região de Mendoza, Argentina, começou a ser colonizada em 1553. O primeiro religioso a se estabelecer por lá trouxe mudas de uva. Exatamente como no norte, as primeiras experiências com castas europeias não frutificaram, mas rapidamente passaram a vinificar com a uva criolla, que resultava num vinho de sabor muito característico e que, até hoje, agrada ao paladar dos nossos Hermanos. 
Coube ao Chile a primazia de criar a primeira indústria de vinhos finos da América do Sul, em 1850, usando castas europeias nobres, algumas em pé franco, que haviam se adaptado perfeitamente ao clima e terreno junto a cordilheira dos Andes. Foram imigrantes franceses que escreveram esta parte da história. A ideia de vinhos varietais (uma só casta) surgiu ali. 
O que mudou e quem foram estas importantes pessoas? 
As técnicas adotadas no novo mundo foram abrangentes e influenciaram, definitivamente, a produção vinícola mundial. Na agricultura, estabeleceram parâmetros para a condução das videiras, observando a influência dos microclimas locais. Adotaram a irrigação por gotejamento, com excepcionais resultados inclusive na preservação do meio ambiente. As uvas do continente americano atingem um ponto de maturação que jamais será igualado no continente europeu, obtendo-se vinhos com surpreendente qualidade. Na área industrial, surgem técnicas e equipamentos que permitem a maceração e a fermentação com controle de temperatura, amadurecimento em barris de menor volume, uma enorme gama de testes e análises durante o processo e uma infinidade de equipamentos auxiliares. 
Entram em cena grandes vinhateiros, até então pouco conhecidos, como o russo radicado nos EUA, André Tchelitscheff, formado em enologia na França; Robert Mondavi o grande incentivador na busca por um vinho de melhor qualidade; Warren Winiarski que deixa de lado sua profissão de cientista político em Chicago para trabalhar e aprender na adega de Mondavi, até fundar sua própria vinícola. Uma decisão acertada: um de seus vinhos, o Stag´s Leap, derrotou os grandes vinhos franceses no famoso Julgamento de Paris. 
Mais recentemente, Paul Hobbs, um dos mais famosos “flying winemakers” (consultores internacionais) que, junto com Nicolas Catena, seria o responsável por introduzir as modernas técnicas, na Argentina, para produção de vinhos finos. Não existem vinhos icônicos como os do velho mundo, ainda. Mas há uma coleção de produtores que estão, sem nenhum favor, entre os melhores do mundo. Basta ver as notas dos principais críticos do setor. 
O mundo do vinho nunca mais foi o mesmo! 
Dica da Semana: Para começar bem o ano, vamos homenagear outro país produtor, o Uruguai. 
Rio de los Pájaros Merlot / Tannat 2008 
Produtor: Pisano /Uruguai 
Tinto saboroso, frutado e macio, elaborado com as castas Merlot e Tannat, a grande estrela do Uruguai. A Merlot, macia e redonda, ajuda a amaciar a tanicidade da Tannat. O bouquet é intenso e concentrado, com bastante fruta. Na boca, é macio, acessível e frutado, bem saboroso. Combina bem com massas, carnes e pizza.

Uma coluna para o Natal e Ano Novo – Final

Na semana passada, falamos de espumantes e lembranças para os amigos. Abrimos a coluna de hoje com um presente para a família. Vamos para a cozinha, vestimos o nosso melhor avental e mãos à obra: 
Gelatina de Vinho 
Vamos precisar de: 
2 envelopes de gelatina sem sabor 
½ xícara de água fria 
3 xícaras de vinho tinto (Merlot de preferência) 
½ xícara de Vinho do Porto ou Madeira (ou substitua tudo por 3 ½ xícaras de Jerez ou Porto) 
½ xícara de suco de laranja coado 
1/3 xícara de açúcar 
Preparo 
Amoleça a gelatina na água. Numa panela, aqueça, sem deixar ferver, o vinho e o suco de laranja. Acrescente o açúcar ao líquido aquecido. Prove e ajuste a doçura ao seu gosto. Acrescente a gelatina, misturando até a completa dissolução. Deixe esfriar e enforme numa forma tipo anel ou com furo central. Se preferir, use taças individuais como na foto. Leve para a geladeira. 
Para acompanhar, prepare um Chantilly batido com Vinho do Porto: 
Bata um xícara de creme de leite (fresco, não serve de lata ou caixa) num recipiente gelado até que comece a firmar. Acrescente, pouco a pouco, 3 ½ colheres de sopa de Porto e 2 ½ colheres de sopa de açúcar de confeiteiro, batendo até firmar. Coloque no centro da forma ou nas tacinhas. Decore com pistachos ou nozes picadas. 

É uma sobremesa fantástica, sem álcool e todos podem se servir. Para que o sucesso seja completo, é muito importante escolher o vinho. O Merlot é uma ótima opção. Uma alternativa seria o Carménère. Antes, um bom conselho: jamais usem um vinho barato para cozinhar, usem o mesmo vinho que vocês beberiam. 
Vinho na ceia de Natal ou Ano Novo 
A data de 25 de dezembro foi estabelecida como o dia de Natal no século IV. Antes disto, frente a uma inexatidão sobre o dia do nascimento de Jesus, as comemorações podiam durar até 12 dias, tempo da viagem dos Reis Magos até Nazaré. 
Embora ainda se copie tradições de outras culturas, Presunto, Peru ou outra ave, Pernil de porco e Bacalhau são os pratos mais comuns nas mesas de fim de ano. O vinho é o acompanhante perfeito ajudando no clima festivo e preparando o nosso paladar. 
Harmonizando com Tintos, Brancos e Espumantes 
Vamos esquecer os tintos encorpados e pesados, mesmo numa região mais fria ou debaixo de um artificial microclima (ar condicionado no máximo!). Os tintos ideais para esta época do ano devem ser leves e saborosos. Os brancos devem ser mais estruturados, preferencialmente com passagem por madeira. Já os espumantes podem funcionar como o ás na manga, servindo para qualquer situação. 
Peru ou Chester – um bom Merlot ou um Pinot sul americano são ótimas opções. São harmonizações modernas. Tradicionalmente, um Chardonnay é sempre bem vindo. Não tente nada além, exceto um espumante. 
Pernil – por ser uma carne versátil, vai bem com tintos leves como Pinot e até mesmo um bom Tempranillo. Novamente, o Chardonnay é o branco de preferência. 
Presunto Tender – os acompanhamentos adocicados determinam esta harmonização. Destacam-se os Merlot frutados sul-americanos. Entre os brancos, prefira um ótimo espumante Brut. 
Bacalhau – esta não é uma harmonização fácil. Tradicionalmente, um bom vinho verde cai muito bem. Outra opção são os Chardonnays amadeirados e envelhecidos. Infelizmente são caros. Entre os tintos, o Pinot seria a melhor escolha. 
Indicações: 

As Sobremesas Neste capítulo, o céu é o limite. As regrinhas tradicionais funcionam perfeitamente: chocolates com vinho do Porto; doces natalinos como tortas de nozes, panetones, casam perfeitamente com brancos de colheita tardia. 
Há uma tradição das mesas natalinas, a Rabanada, doce de origem portuguesa que simboliza o espírito de Natal. Em lugar de propor uma harmonização, que tal um inovação? 
Calda de Vinho do Porto para as Rabanadas 
Vamos precisar de: 
500 g de açúcar 
300 ml de água 
Casca de uma laranja 
1/2 cálice de vinho do Porto 
Preparo
Misture o açúcar e a água com a casca de laranja. Leve ao fogo e ferva por uns 3 minutos. Acrescente o vinho do Porto, espere ferver até o ponto de fio fino. Espere esfriar. 
Sirva as rabanadas acompanhadas da calda.

Estamos na Itália – Terra do Rei dos Vinhos!

A bota é uma região vinícola surpreendente, com uma diversidade de castas que equivale à de Portugal e uma quantidade de diferentes terroirs equiparável a dos franceses. Algumas das uvas italianas só vinificam bem em solo natal, mesmo tendo sido plantadas nos quatro cantos do mundo. Apaixonados por tudo que fazem, os seus vinhos refletem esta intensidade. Cada pequena cidade tem sua uva e vinho característicos e, haja discussão para saber qual é o melhor. 

Talvez o vinho típico mais conhecido seja o Chianti, obtido com a Sangiovese, aquele da garrafa embrulhada em palha. Produto da Toscana que teve a infelicidade de ser (mal) copiado por produtores inescrupulosos. Chegou a ser considerado um vinho de segunda para desespero dos apreciadores. Após alguns ajustes na condescendente legislação local, existem, hoje, dois tipos de Chianti: o clássico e o DOCG. Apesar da evidente melhora na qualidade, houve uma descaracterização. 
O Brunello de Montalcino, toscano como o anterior, é obtido através da vinificação de um clone da Sangiovese, chamado Grosso ou Brunello. É um dos vinhos mais caros da Itália, por isto mesmo, copiado e falsificado. Com o intuito de aumentar a competitividade no mercado mundial, produtores oportunistas incluíram outras uvas, não italianas, como a Merlot e a Cabernet na sua elaboração. Um escândalo nacional! O Ministro da Agricultura perdeu seu cargo por não ter exercido os controles com a devida autoridade. O vinho adulterado foi rebaixado e rotulado como Rosso de Montalcino. Resultado prático: ficou difícil confiar nos vinhos que estão à venda. 

Uva Nebbiolo 

A grande cepa nacional, Nebbiolo, da região do Piemonte, é tão temperamental e difícil de vinificar quanto a Pinot da Borgonha. Dois fabulosos vinhos são produzidos a partir dela. O mais famoso é conhecido como Rei dos Vinhos há, pelo menos, 200 anos, epíteto cunhado por um francês que foi contratado para vinifica-lo: O Barolo. 
Até o início do século XIX, o vinho produzido na região de Barolo era uma bebida doce ou, na versão mais seca, um vinho amargo e tânico. Coube à Marquesa Giuletta Falletti convidar o enólogo francês Louis Oudart para mudar este quadro. Em pouco tempo estava vinificando uma das maravilhas do mundo dos vinhos. Seu grande divulgador foi o Conde Cavour que o apresentou a realeza. Rapidamente os demais vinicultores do Piemonte copiaram o modelo de Oudart. Nascia a lenda. 

Castelo de Barolo 

Pelo método tradicional, utilizado até hoje, as uvas são colhidas prematuramente, seguida de uma longa fase de maceração e fermentação. O vinho é envelhecido por um longo período, acima de três anos, em grandes dornas de carvalho esloveno. Uma vez engarrafado, é necessário esperar mais alguns anos para domar a acidez e o tanino. O resultado final é surpreendente, com aromas de rosas, notas de alcatrão e sabores inebriantes. 

A Guerra dos Barolos 
Com a expansão dos vinhos feitos no Novo Mundo, este e outros monstros tradicionais da vinicultura europeia, rapidamente perceberam que teriam que se atualizar: esperar mais de cinco anos para colocar um vinho no mercado, mesmo que fosse um produto inigualável, começava a deixar de ser um bom negócio. 

Alguns renomados produtores do Barolo modernizaram técnicas e métodos, adotando o modelo que fazia sucesso: tanques de Inox com temperatura controlada, uvas colhidas no ponto ideal, menor rendimento nos vinhedos, maceração a quente, fermentadores rotativos, enfim, tudo que a moderna tecnologia pode oferecer. O produto final foi, novamente, um vinho maravilhoso. Mas gerou uma verdadeira guerra, de um lado, os tradicionalistas, de outro os modernistas. 

Não há vencedores ou derrotados, talvez, o orgulho ferido de um vinhateiro mais arraigado às tradições. Ganham os consumidores. 
Principais Produtores 
Copiando a vida real onde há tantos títulos da nobreza italiana à disposição de quem se dispuser a pagar por eles, há uma infinidade de Reis do Barolo. Vamos apenas citar alguns. 
Os nomes mais respeitados entre os tradicionalistas são: Giuseppe Rinaldi, Giuseppe Mascarello, Giovanni Conterno, Paolo Conterno, Cavallotto, Bruno Giacosa, Luigi Pira e Vietti. 
Os modernistas são: Scavino, Ceretto, Sandrone, Domenico Clerico, E. Pira, Parusso, Silvio Grasso e Pio Cesare. 
Dois produtores fazem uma fusão destas escolas: Roberto Voerzio e Elio Altare. 
O outro vinho, famoso, produzido com a Nebbiolo é o Barbaresco, que tem como expoente o produtor Angelo Gaja, o nome mais conhecido do moderno vinho italiano. Sua versão do Barolo é o Sperss. Mas esta é outra história… 

Vinhos de Angelo Gaja 

Dica da Semana: Não existem Barolos ou Barbarescos com preços acessíveis aos pobres mortais. Procuramos um vinho de um ótimo produtor, Batasiolo, vinificado com a uva Nebbiolo. 

Batasiolo Langhe Nebbiolo 
Da uva cultivada nos vinhedos da prestigiosa zona de Langhe, obtém-se um vinho tinto grená de sabor pleno e harmonioso. O perfume é intenso e delicado, com traços de fruta madura que muda para um agradável traço de especiarias se o vinho for envelhecido. 
Harmonização: Rondelle de ricota e espinafre com molho ao sugo.

Um ícone espanhol

Continuamos na Península Ibérica. Pelas águas do Rio Douro, atravessamos a fronteira e chegamos à região espanhola de Ribeira del Duero, terra de um dos mais fantásticos vinhos do mundo. Tudo começou quando mercadores fenícios vinificaram, na região da Andaluzia, a mesma do Jerez, entre 1100 a 500 AC. Os gregos vieram depois, com seus animais e suas vinhas. Os romanos, em 200 AC, transformaram a agricultura familiar em indústria, para suprir suas legiões e a própria Roma. Com a chegada dos Mouros, em 711 a produção seria interrompida. Somente a partir do século XIV a vinificação ganharia novo impulso. Atualmente, a Espanha ocupa uma insofismável posição de destaque no cenário vinícola. 

A região de Ribeira del Duero incorpora-se a este mercado em 1850, época em que os métodos bordaleses são introduzidos. Em 1864, Don Eloy Lecanda funda sua bodega com o objetivo de produzir vinhos que se equiparassem aos de Bordeaux. Plantou 18.000 mudas de videiras dos tipos Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec e Pinot Noir, castas até então desconhecidas no território espanhol. 

O reconhecimento viria em 1915, graças a Domingo Garramiola, o Txomin, que se encarregou de produzir a primeira safra do fantástico

Vega Sicilia Unico, um dos 10 melhores vinhos do mundo. 

A bodega de Lecanda fora adquirida pela família Herrea que, por sua vez, a alugou a Cosme Palacio, que contratou Txomin. Trabalhando duro, sua primeira providência foi limpar a área e adotar técnicas higiênicas. Ele trocou todos os barris, ou dornas de envelhecimento, por madeiras de carvalho francês. Adotando, estritamente, as técnicas de Bordeaux, nasceria um vinho lendário. Os proprietários não o vendiam, distribuindo as garrafas entre membros da alta sociedade e pessoas amigas, forjando o mito que tal vinho não poderia ser pago com dinheiro, somente com estima. Um vinho único, exclusivo. 
A Evolução do Vega Sicilia 
No início de sua produção, o Único ficava guardado em tonel carvalho por 10 anos, sendo engarrafado a pedidos. Isto dava ao vinho uma madeira exagerada, mas com muita fruta e perfume. Em 1966, o enólogo Mariano Garcia introduz técnicas mais recentes, reduzindo a madeira sem perda de outras qualidades. A Vega Sicilia foi comprada por David Alvarez, em 1982, que promove uma grande modernização, aos moldes do que fez Txomin, no início do século XX. O Veja Sicilia Único não é mais um vinho pesado e amadeirado, embora mantenha uma bela estrutura, harmonioso, com muita fruta escura, grande potência e capacidade de guarda. A tradição se mantém, a ponto de não se fazer sequer a colheita quando a safra não é boa. 

Notas de Degustação – safra de 1999 
Um corte de 80% Tempranillo e 20% Cabernet Sauvignon, envelhecido por 2 anos, em grandes dornas de carvalho, seguido de 16 meses em barris menores, novos, de carvalhos franceses e americanos. Depois, mais 3 anos em uma mistura de diferentes tonéis e, por fim, mais duas rodadas de 3 anos, em barris usados e de volta às grandes dornas. 
É um vinho homogêneo e escuro. Aromas muito complexos e perceptíveis notas de couro, adstringência como a das frutas vermelhas, carnes de caça e a doçura de chocolate e cerejas negras. Na boca é muito elegante, com alguma fruta, inicialmente, complementado por excelentes taninos e corpo que crescem no paladar. Perfeitamente balanceado e integrado. 
Desde sua primeira safra o Único é acompanhado por irmãos menores. Por exemplo, o Valbuena, quase tão famoso e, muitas vezes, confundido; o Vega Sicilia Gran Reserva, produzido somente em anos especiais, e o Reserva, que não é safrado. 

Dica da Semana: um espanhol da região de La Mancha que, como D. Quixote, luta por seus ideais. 

Manon Roble Tempranillo 2008 
Produtor: Bodegas Mano a Mano 
País: Espanha / Região: La Mancha 
Casta: Tempranillo 
Apontado por Robert Parker como uma das melhores compras do mundo do vinho, este cativante tempranillo é maturado 7 meses em barricas de carvalho. Macio e cheio de fruto, dotado de certa elegância, é uma magnífica escolha para ter sempre em casa.

Para onde Vamos? – Enogastronomia

Como todo autor, seja de pasquim, novela ou folhetim, o melhor fica para o final. Visitar uma vinícola não pode ficar só no que interessante ou soltar o clássico “gostei deste”, na hora da degustação. Nosso programa, desta vez, era curtir a Enogastronomia oferecida pelas vinícolas mais importantes, aquelas que visam o segmento de alta gama, onde não se fala em degustar um vinho desacompanhado, seja de boa comida ou de boa companhia. Embora a Finca La Celia tenha nos cativado, não nos ofereceram uma opção de um almoço harmonizado. A pousada só seria inaugurada na semana seguinte à nossa visita. Optamos pela Andeluna Cellars, uma empresa que exporta praticamente tudo que produz. Hoje pertence ao Mr. Lay (é assim mesmo que todos se referem a ele), aquele das batatas fritas. Ali, só vinho top.


Começamos pela arquitetura, uma beleza. Não existe um restaurante, mas uma cozinha, com algumas mesas, preparadas para receber o dono e seus convidados quando estão na terra. Nos intervalos, os pobres mortais podem contratar um almoço, que é preparado de forma exclusiva.

A bossa, neste caso é harmonizar, além dos vinhos, os pães, feitos na hora, com cada prato servido. A seguir, a sofisticação do menu degustado: (tire dúvidas lá no final)
PRIMER PASO
Sopa tibia de maíz, anís estrellado, quinoa, crocante y chips de batatas dulces.
Pan: Tostada de focaccia.
Vino: Andeluna Reserve Chardonnay 2006
 SEGUNDO PASO
Tarta de remolachas asadas, queso azul, ensalada de brotes y pistachos tostados.
Pan: café y pimienta
Vino: Andeluna Merlot 2010
TERCER PASO
Roll de trucha salmonada, queso atuel, verduras de estación asadas, puré dulce de batatas.
Pan: Budín integral con cerezas y semillas de girasol.
Vino: Andeluna Reserva Malbec 2006
CUARTO PASO
MAIN COURS: Pastel de cordero, crocante de parmesano y manzanita com tomillo
Pan: tortita de grasa
Vino: Andeluna Grand Reserve Pasionado 2005
QUINTO PASO
Entre sabores – Pequeño trago.
SEXTO PASO
Postre: Mil hojas de manzanas verdes, arrope de higos y helado de canela ahumada.
Vino: Andeluna Reserva Chardonnay 2006
(o menu pode variar conforme a estação e a disponibilidade de alguns itens).
Embora esteja escrito em espanhol, não é difícil de decifrar. Posso assegurar que foi algo
I.N.E.S.Q.U.E.C.Í.V.E.L!
A foto, a seguir, dá uma ideia da vista. As temperaturas eram baixas e a lareira ajudou a manter tudo num ambiente acolhedor e confortável.

Detalhe da sobremesa e do melhor vinho do almoço: (reparem que está quase vazia…).

Houve outro almoço, no dia seguinte, na vinícola, “Premium”, Terrazas de Los Andes, pertencente ao grupo Chandon. Não vamos entrar em detalhes. A seguir, fotos do local, do cardápio oferecido e de alguns dos pratos. 

Agora só nos resta plagiar, descaradamente, um dos cozinheiros televisivos, o Anonymus Gourmet, que termina seu show com um bordão clássico:

Voltaremos!
Dica da Semana:

Andeluna Malbec 


País: Argentina/Mendoza

Produtor: Andeluna Cellars
Safra: 2009
Rubi intenso com reflexos violáceos. No nariz remete à aromas florais e de frutas, notas de baunilha e toques de doce de leite e chocolate, resultado de sua passagem em barrica de carvalho. Equilibrando estrutura e corpo, apresenta sensações adocicadas com taninos maduros e final de boca muito agradável. Pontuação: 88 Wine Spectator


Pequeno dicionário espanhol – português:
Tíbia – morna
Maíz – milho
Remolacha – beterraba
Brotes – brotos
Budín – pudim, neste caso um pãozinho muito macio
Arrobe – xarope
Helado – sorvete
Pastel – não é a nossa iguaria. A carne do cordero é assada dentro de uma massa, o “pastel” e servida a parte. A massa não é consumida.
« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑