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Uma orquestra afinada

Recentemente assisti a um concerto da famosa Jazz at Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis, o mais importante trompetista deste gênero na atualidade. O que me chamou a atenção foi a incrível afinação do grupo e a consistência do que os músicos apelidaram de “cozinha”, o trio de piano, baixo e bateria. Houve um momento que os demais músicos se retiraram ficando apenas este trio. Honestamente, parecia que a orquestra toda ainda estava no palco. Embora fosse a grande estrela do espetáculo, Marsalis compunha o naipe de trompetes, como qualquer outro músico, sem estrelismos.
 

Foi a melhor definição de equipe, conjunto ou time que pude assistir: todos em uníssono em prol da boa, ou melhor, excelente música. Para os leitores entenderem melhor do que estamos falando, afinal esta é uma crônica sobre vinhos, assistam a este pequeno vídeo onde a orquestra apresenta um tema bem conhecido: “Jingle Bells”.

 

 
 
Percebe-se facilmente que, se cada instrumento desempenhar bem a sua parte, o resultado, mesmo para uma canção quase banal, pode ser espetacular.
 
Produzir um grande vinho é exatamente isto, reunir a melhor matéria-prima, os melhores equipamentos e grandes vinhateiros. Juntando cada uma destas peças em seu devido lugar o resultado só pode ser igual à música para os nossos ouvidos.
 
Esta busca por vinhos cada vez melhores, que não limitem a capacidade de criar e inovar de seus produtores, tem como meta principal encontrar novos territórios para plantar diferentes castas e obter vinhos únicos.
 
São típicas, hoje em dia, as associações de vinícolas do Velho Mundo com seus pares no Novo Mundo. Muitas já se estabeleceram na Califórnia, Chile, Austrália, entre outros, ou buscam parcerias como o que aconteceu na Argentina entre Nicolas Catena e Paul Hobbs que reinventaram a casta Malbec.
 
Outra parceria, não menos famosa, foi feita entre Robert Mondavi, o mais conhecido dos produtores da Califórnia e a Baronesa Philippine de Rothschild, dona de alguns dos melhores Chateaux em Bordeaux, para produzirem o raro vinho Opus One.
 
Um dos empreendimentos mais interessantes nesta área reuniu sete grandes nomes do vinho na mais promissora área do momento, o estado de Washington, EUA, especificamente na região de Walla Walla, considerada como tendo as melhores uvas do planeta.
 
A vinícola, que se chama Long Shadows (grandes sombras), é uma criação de Allen Shoup que dirigiu por muitos anos o Chateau Ste. Michelle e suas vinícolas associadas, ficando muito famoso por ter forjado parcerias com ninguém menos que Piero Antinori (Itália) e Dr. Ernst Loosen (Alemanha), que passaram a produzir nesta região.
 
Inaugurada em 2003 a Long Shadows foi uma aposta ousada que levou alguns anos sendo maturada. A proposta, ao mesmo tempo tão simples quanto complexa, recrutaria alguns dos maiores nomes do vinho para que utilizassem a excelente matéria-prima da região e produzissem seus vinhos de acordo com as especificações de cada um.
 
Um desafio e tanto, uma senhora orquestra para afinar e apresentar um repertório de sete vinhos fantásticos, um verdadeiro “dream team”.
 
Cada vinhateiro convidado se tornou sócio do empreendimento e produz seu próprio rótulo. Como nem todos podem se dedicar integralmente ao projeto, existe um enólogo residente, o competente Gilles Nicault que comanda todas as vinificações com equipamentos de ponta.
 
Estes são os vinhos e seus produtores:
 
Poet’s Leap Riesling
 
Produzido por Armin Diel, um dos mais aclamados produtores de Riesling da Alemanha, responsável pela vinícola Schlossgut Diel, na região do Nahe.
São produzidas 5.000 caixas por ano.
90 pts Parker em 2013.
É o único vinho branco.
 
 
 
 
Chester-Kidder
 
Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Syrah e Petit Verdot vinificado pelo enólogo residente, Gilles Nicault, sob estreita supervisão de Alen Shoup, que homenageia seu avô, Charles Chester com este rótulo.
93 pts de Parker em 2011
 
 
 
 
 
Feather Cabernet Sauvignon
 
Elaborado por ninguém menos que Randy Dunn, pai de grandes Cabernet da Califórnia, entre eles o famoso Caymus.
Simplesmente sensacional, oferecendo tudo que se espera de um vinho desta categoria.
94 pts Parker em 2011.
 
 
 
 
Pedestal Merlot
 
Ninguém melhor para elaborar este vinho que o genial Michel Rolland, o rei desta casta e consultor de 10 entre as 10 maiores vinícolas do mundo.
Embora declare ser um Merlot, recebe pequenas porcentagens de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Petit Verdot.
94 pts Parker em 2011.
 
 
 
Pirouette
 
Um corte bordalês com Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot e Cabernet Franc, produzido pelas mãos de Philippe Melka e Agustin Huneeus.
Melka, trabalhou nas principais casas francesas, entre elas Petrus, Haut Brion e Dominus.
Huneeus, teve sob sua responsabilidade a Veramonte, Concha y Toro, Franciscan Oakville Estate e Mount Veeder, entre outras.
É considerado um inovador. 93 pts Parker em 2011.
 
 
Saggi
 
Interessante corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon, e Syrah vinificado pelos toscanos Ambrogio e Giovanni Folonari (pai e filho).
Saggi quer dizer “Sabedoria” e isto não falta a esta dupla: a família produz vinhos desde 1700.
Ambrogio foi presidente da Ruffino, comprada por seu avô em 1912. Produzem alguns dos ícones do Chianti e dos Supertoscanos.
92 pts Parker em 2011.
 
 
 
Sequel
 
Este nome significa “sequência”, nada mais justo segundo seu enólogo o australiano John Duval, responsável pelo formidável Penfolds Grange, um dos grandes vinhos do mundo.
Um é a continuação do outro.
Um corte de 94% de Syrah com uma gota de Cabernet Sauvignon.
94 pts Parker em 2011.
 
 
 Uma orquestra afinadíssima!
Pena que ainda não chegaram por aqui…
 
Dica da Semana: um bom tinto que não faz feio entre estes citados.
 
Von Siebenthal Parcela #7, 2009 
 
No olfato apresenta notas intensas de cerejas em compota e nítidos matizes a alcaçuz.
No palato é de uma concentração completa, com muita intensidade de sabores e em várias camadas.
A textura dos taninos é de bom nível qualitativo e tem excelente equilíbrio.
Harmonização: carne bovina ou suína em molho saboroso. Confit de Pato. Queijos de consistência firme e sabor forte.

Um concurso italiano, uma cidade de Portugal, um vinho brasileiro premiado

La Selecione del Sindaco, que poderia ser traduzido com A Seleção do Prefeito, é um concurso enológico internacional que tem por objetivo promover empresas e regiões que produzem vinhos de qualidade com denominações DOC, DOCG e IGT, em pequenas quantidades, entre 1000 e 50.000 garrafas. Uma interessante característica é que participam, conjuntamente, as municipalidades e as vinícolas de cada região.
 
 
Patrocinado pela Associazione Nazionale Città del Vino, e pela Recevin (Rede Europeia da Città del Vino), conta com supervisão científica da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho) e a chancela do Ministero per le politiche agricole (Ministério da Agricultura da Itália). A primeira edição foi em 2002 na cidade de Siena e já percorreu a Itália de norte a sul passando por Conegliano (2003), Alba (2004), Roma (2005), Ortona (2006), Monreale (2007), Cividale del Friuli (2008), San Michele all’Adige (2009), Brindisi (2010), Torrecuso (2011), Lamezia Terme (2012), Castelfranco Veneto e Asolo (2013) e Bolzano (2014).
 
Em 2015 foi escolhida a cidade de Oeiras, Portugal como a sede da 14ª edição do evento. O Brasil foi o convidado de honra devido à sua identidade cultural com o povo português e aos fortes laços que nos ligam à Itália, origem de um grande número de imigrantes que ajudaram a moldar o nosso país, principalmente na região sul. Sem eles não teríamos vinhos, com certeza!
 
Para sediar as seções de degustação foi escolhido o Palácio Marquês de Pombal, construído pelo arquiteto húngaro Carlos Mardel, na segunda metade do século XVIII, e que serviu de residência do histórico Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, “pai” do vinho do Porto, por ter demarcado e protegido a região do Douro.
 
Construção de rara beleza, o edifício é conhecido por seus mosaicos e cerâmicas contidos e está rodeado por jardins maravilhosos.
 
 
Foram três participantes brasileiros:
 
– Vinicola Fazenda Santa Rita de Vacaria, RS, (www.vinicolafazendasantarita.com.br) com dois vinhos, o Chardonnay Família Lemos De Almeida e o espumante, Casa Portuguesa Brut Rosé, produzido com um corte de Chardonnay 60% e Pinot Noir 40%.
 
– Vinicola Armando Peterlongo, de Garibaldi, RS (http://www.peterlongo.com.br/pt/introducao/), que trouxe quatro vinhos, dois espumantes, método tradicional, à base de Chardonnay e Pinot Noir e outros dois obtidos pelo método Charmat, um rosé 100% Merlot e outro 100% Pinot Noir.
 
– Cooperativa Vinicola Garibaldi,RS, (http://www.vinicolagaribaldi.com.br/pt/) com três espumantes, um 100% Chardonnay, método clássico, um Moscato (corte de amarelo e branco) e um Prosecco.
 
 
A premiação distribuiu 27 Grandes Medalhas de Ouro, 141 Medalhas de Ouro e 129 Medalhas de Prata, sendo a primeira vez que o número de medalhas de ouro foi maior que as de prata, um resultado que deixou os organizadores extremamente satisfeitos, afinal a busca pela qualidade é o objetivo final.
 
O melhor vinho desta avaliação foi um Ice Wine da Moldávia, mostrando a força dos vinhos doces que ficaram com quatorze Grandes Medalhas. Os tintos receberam onze, os brancos e os rosados receberam uma, cada.
 
A relação completa dos premiados está aqui, para download: (em italiano)
 
O espumante brasileiro, Privillege Peterlongo Brut Rosé – método Charmat, recebeu 87,8 pontos e uma importante Medalha de Ouro, para esta tradicionalíssima vinícola da Serra Gaúcha, uma das poucas no mundo que ainda pode utilizar a denominação Champagne nos seus produtos. Uma pioneira neste segmento que durante muitos anos abasteceu as adegas do Palácio de Buckingham.
 
Este espumante foi elaborado para comemorar os 100 anos da empresa, em 2013: produziu o 1º Champagne brasileiro em 1913 pelas mãos de Manoel Peterlongo.
 
Dica da Semana: não poderia ser outro!
 
Privillege Brut Rosé Peterlongo
 
Elaborado com a variedade Merlot, possui um estilo muito especial, complexo, evidenciando frutas vermelhas.
Harmoniza com carnes brancas no geral, pato, salmão, pratos à base de frango e queijos leves.
Sua produção ficou limitada em 5.700 garrafas o que o torna um vinho difícil de encontrar.
Neste link, há uma relação dos representantes nos estados brasileiros.

O melhor, o mais antigo, o mais mais e etc…

Algumas das últimas colunas provocaram uma saudável relação de perguntas dos leitores, todas respondidas por e-mail. Mas ficamos sempre com impressão que faltou alguma explicação. Ter dúvidas sobre determinados temas não só é absolutamente normal como desejável. Entretanto, algumas questões propostas são de difícil resposta, por exemplo, quando recebemos indagações deste calibre:
 
Há algum vinho de corte que esteja colocado entre os melhores do mundo?
 
Qual o vinho de safra mais antiga que você conhece que certamente pode ser consumido ainda com qualidade?
 
Com quantos anos podemos considerar um vinho impossível de beber?
 
A esta relação poderíamos acrescentar sem nenhum problema as eternas questões como “Qual o Melhor?” ou “Qual o mais caro?” e outras no gênero.
 
Para sermos completamente corretos, nenhuma destas perguntas tem uma única resposta. Pior, as diversas opiniões sobre cada uma podem ser até mesmo conflitantes.
 
Existe uma razão: nenhum vinho é igual a outro, nem dentro de uma mesma vinícola. A cada nova colheita as uvas terão diferentes níveis de açúcar o que vai implicar, no mínimo, em quantidades de levedura e/ou tempo de fermentação e maceração diferentes. Só isso já define vinhos de características distintas, embora oriundos do mesmo vinhedo.
 
Produzir um vinho não é um ato mecânico e repetitivo, como fabricar uma peça de metal ou plástico, aos milhares, numa máquina especialmente projetada para tal. Na enologia, cada partida de uvas é um caso único e deve ser tratado desta forma, não pode haver padronização. Nem nos vinhos de entrada que são produzidos em grandes volumes para atender à demanda das principais redes de mercados. Um mínimo de cuidados específicos é necessário, caso contrário o produto final não será aceito por ninguém.
 
Com isto em mente, imaginem como é difícil responder a uma questão como “Qual o melhor Cabernet?”.
 
Se colocarmos esta dúvida dentro de uma vinícola, o enólogo é capaz de responder que o seu melhor vinho é este ou aquele, respeitada uma condição como faixa de preço ou volume produzido. Mesmo assim entra nesta equação um fator muito subjetivo: o gosto pessoal dele. O nosso pode ser outro…
 
Caso mudemos a escala e tentarmos entender qual o melhor vinho de um país produtor, por exemplo, “Qual o melhor Cabernet do Chile?”, dificilmente vamos obter uma resposta objetiva.
 
Teríamos primeiro que selecionar, com todas as dificuldades mencionadas no parágrafo acima, quais os melhores de cada sub-região: Maipu, Puente Alto, Vale Central, etc. (e isto envolve todas as vinícolas). Depois, decidir qual o melhor entre estas escolhas.
 
Mas quais os critérios que vamos adotar para fazer esta seleção?
 
A palavra de cada enólogo?
 
As notas dos grandes críticos?
 
O nosso gosto pessoal?
 
Todas as acima?
 
Tarefa hercúlea!
 
Imaginem tentar saber qual o melhor do mundo…
 
Só mais uma lembrança: para muitos enófilos já é difícil determinar qual é o melhor vinho de sua adega!
 
 
Quando se trata de saber qual o mais antigo vinho ainda em condições de ser consumido, o nível de complicações se multiplica exponencialmente. Para respondermos esta pergunta, com alguma objetividade, teríamos que conhecer todas as adegas do planeta e ter o seu conteúdo devidamente catalogado. Mas há uma curiosa pegadinha: no momento que identificarmos este vinho e o abrimos, ele automaticamente deixa de ser “o mais antigo”…
 
Honestamente, nem as grande vinícolas sabem o quê ainda tem em estoque e se aquelas raridades são viáveis para consumo. Uma simples destampada de um barril ou garrafa para tirar uma amostra pode ser o fim de todo o resto.
 
Um exemplo bem atual vem de Portugal. Em 2008, um dos enólogos da Taylor’s localizou, na vila de Prezegueda, duas barricas de vinho do Porto produzido antes da Filoxera, com mais de 150 anos, pertencentes a uma família de vinhateiros. Um tesouro passado de geração para geração.
 
Em 2009 o último descendente decidiu vendê-las. Levadas para as caves de Vila Nova de Gaia, o vinho se mostrou em perfeitas condições e simplesmente maravilhoso. A Taylor’s optou por comercializá-lo com o nome de Scion: poucas garrafas e um custo perto do absurdo. (não existe mais nenhuma à venda…)
 
 
Este fato gerou um verdadeiro frenesi entre os outros produtores e uma busca insana por estas raridades foi iniciada. Vinhos do Porto ou Madeira com mais de 100 anos estão na moda. O que mais vão encontrar?
 
Dois outros vinhos, muito antigos, ficaram mundialmente conhecidos por fatores “extracampo”. O primeiro foi um lote de míticas garrafas de Chateau Lafite 1787, que teriam pertencido ao Presidente Thomas Jefferson, e que estariam, ainda, em perfeitas condições de consumo.
 
Um grupo de quatro delas foi leiloado em 2008, pela respeitada casa Christie, e arrematado por cerca de US$ 500,000.00 (quinhentos mil dólares). Mais tarde descobriram que era uma falsificação o que gerou um longo e milionário processo, investigações policiais altamente sofisticadas, culminando com a prisão e desmascaramento do hábil falsificador, além de artigos, livros e provavelmente um filme.
 
Outra raridade conhecida é uma garrafa de Chateau d’Yquem, o mais famoso dos Sauternes, datada de 1811 e arrematada em 2011 por astronômicos 120.000 dólares, provavelmente o mais caro vinho até então. Não será aberto, apenas ficará exposto em uma vitrine no restaurante de seu proprietário em Honk Kong.
 
 
Mitos à parte, nem mesmo uma simples reposta sobre o mais caro vinho pode ser respondida sem ressalvas: quando, onde, como?
 
Um dos sites mais utilizados por quem vive o mundo do vinho é o Wine Searcher (http://www.wine-searcher.com/), em inglês, que localiza vinhos nos mais importantes mercados. As lojas especializadas, vinícolas e casas de leilão se encarregam de fornecer as informações. É gigantesco! Uma pesquisa pode gerar diversas páginas de resultados, muitas vezes cansativos de ler. Mas nelas é que podemos descobrir algum tesouro enterrado. Periodicamente publicam pesquisas bem objetivas, curtas e muito interessantes.
 
Uma delas, que vamos reproduzir a seguir, procurou por vinhos que receberam, em qualquer época, as notas máximas atribuídas pelos seguintes críticos ou publicações: Jancis Robinson, Robert Parker, Jamie Good, Stephen Tanzer, Jeannie Cho Lee, Michel Bettane e as revistas Wine Spectator, Cellar Tracker, Falstaff (Áustria) e Revue du Vin de France. Um time de muito respeito.
 
Foi calculada uma média simples de todas as notas, por vinho, e elaborada a lista apenas com aqueles que conquistaram, neste resultado final, 99 ou 100 pontos. Somente 7 (sete) vinhos passaram nesta peneira.
 
Seriam eles os maiores de todos os tempos?
 
1 – Château d’Yquem, 1811
Um Sauternes elaborado a partir de uvas botritizadas. Talvez o mais famoso vinho doce do mundo.
 
2 – E. Guigal Côte Rôtie La Mouline, Rhône, 1978
Um vinho da região mais premiada com 100 pontos Parker, o vale do rio Ródano. Um corte da tinta Syrah com a branca Viognier.
 
3 – Château Lafleur, Pomerol, 1950 (Bordeaux)
Corte Bordalês, margem direita, predominância de Merlot.
 
4 – Paul Jaboulet Ainé Hermitage La Chapelle, Rhône, 1961
Um varietal, 100% Syrah, com as parreiras plantadas como se fossem arbustos (Globet). Região do rio Ródano, novamente.
 
5 – Quinta do Noval Nacional Vintage Port, 1963
Vinho do Porto.
 
6 – Krug Clos du Mesnil Blanc de Blancs Brut, Champagne, 1979
Quem não aprecia um bom Champagne?
 
7 – Domaine Jean-Louis Chave Ermitage Cuvée Cathelin, Rhône, 2003
Outro vinho do Ródano e novamente 100% Syrah. Notem a safra.
 
Analisar esta lista em profundidade nos forneceria assunto para várias semanas. Faríamos novos amigos e certamente ganharíamos outros inimigos: nunca haverá uma unanimidade sobre este resultado.
 
Chamamos a atenção para alguns detalhes:
 
– A França domina a lista com 6 vinhos. A exceção é um vinho de Portugal;
 
– 5 tintos e 2 brancos: um doce e o outro espumante;
 
– um único Bordeaux… (baseado em Merlot)
 
– 3 vinhos da região do Rhone, todos com Syrah, que nem mesmo entra numa relação de castas nobres…
 
– entre os tintos, 3 (três) vinhos de corte e 2 (dois) varietais.
 
Resumindo tudo isto numa única frase:
 
“Não existem verdades absolutas no mundo do vinho”.
 
Entenderam como funciona?
 
Dica da Semana:  em homenagem aos vinhos de Portugal que ontem, hoje e sempre estão entre os melhores.
 
Vadio Bairrada DOC Tinto 2007
Seguindo na linha desta semana, este vinho é um varietal, coisa rara entre os tintos portugueses, elaborado com a casta Baga (100%). Proveniente da Bairrada, ótima região produtora ainda sem o reconhecimento como o Douro ou o Alentejo.
Um vinho potente, estruturado, com taninos marcantes a altamente gastronômico.
Imperdível!
 
 
 

Quais os reais benefícios do vinho para a saúde?

O vinho tem sido usado como um medicamento há muito tempo. Hoje é fato conhecido que as primeiras vinificações ocorreram 8.000 anos atrás na região da Europa conhecida como Geórgia. Egito e Grécia também já produziam vinhos naquela época.

Particularmente ávidos eram os Egípcios, evidências arqueológicas mostram que elaboravam tintos e brancos. Descobertas mais recentes concluíram que muitos destes vinhos eram infundidos com diferentes ervas, as mesmas usadas pela medicina de então, o que sugere que a bebida era usada como medicamento ou pelo menos como agente para ministrar um remédio. Coentro, salsa, resina de pinho, entre outras, eram comumente usados como analgésicos, preservativos e desinfetantes.

Na Grécia antiga não era diferente. Hipócrates indicava o vinho como um dos seus poderosos medicamentos: auxiliava tanto na cura da diarreia como diminuía as dores do parto. Usava como antisséptico em lugar da água, muito contaminada então. Outro adepto destas técnicas era o naturalista romano Plínio, o velho: “o vinho delicia o estômago e cura aflições”.

Vários textos sagrados mencionam o vinho como uma possível cura. O Talmude afirma que quando não há vinho outros medicamentos serão necessários. Na Bíblia, em Timóteo 5:23 pode-se ler a recomendação de São Paulo:

“Não continue a beber somente água; tome também um pouco de vinho, por causa do seu estômago e das suas frequentes enfermidades”.

Uma interessante curiosidade liga o vinho e a Coca Cola, outra bebida à qual se atribuem alguns efeitos terapêuticos: ela seria uma versão americanizada de um “vinho” Bordalês, conhecido como Vin Mariani, uma mistura de um bom tinto com folhas de coca. Teoricamente o álcool seria capaz de absorver as propriedades da cocaína transformando esta bebida num poderoso tônico. Até o Papa apreciava. Em 1885, um farmacêutico de Atlanta, John Pemberton, começa a produzir sua própria versão que vendia como “French Wine Coca”, mais tarde Coca Cola.

A ideia de pesquisar as propriedades curativas do vinho nunca morreu e até hoje são gastas grandes somas de dinheiro para financiar os mais diversos estudos. Alguns, como a descoberta do antioxidante Resveratrol foram muito divulgados e badalados, mas com resultados efetivos ainda questionados.

Estudos recentes mostram:

1. Estimula a longevidade – de acordo com pesquisa da Escola de Medicina de Harvard, este seria um dos benefícios do Resveratrol. Uma pesquisa finlandesa realizada durante 29 anos demonstrou que houve um decréscimo de 34% na taxa de mortalidade entre os que consumiam vinho, comparados com outras pessoas que preferiam cerveja ou destilados;

2. Melhora a memória – principalmente a memória recente, mais um benefício do Resveratrol;

3. Reduz o risco de doenças cardíacas – um estudo de 2007 sugere que a Procianidina, um composto encontrado nos taninos dos vinhos tintos, ajuda a manter a saúde cardiovascular. As mulheres são mais beneficiadas que os homens neste caso. O consumo do vinho deve ser moderado 1 ou 2 taças por dia;

4. Preventivo da catarata – ficou demonstrado que o consumo moderado e regular de vinho diminuiu em 32% a incidência deste problema ocular;

5. Diminui o risco de câncer – pesquisadores da Universidade da Virginia (EUA) acreditam que o Resveratrol é capaz de inibir uma proteína chave no desenvolvimento de células cancerosas;

6. Previne cáries – os polifenóis presentes no vinho tinto teriam a capacidade de diminuir significativamente o crescimento das bactérias que provocam a cárie;

7. Reduz o colesterol – algumas castas têm fibras benéficas ao nosso organismo, entre elas a Tempranillo, o que induz a redução do LDL (colesterol ruim).

8. Diminui o risco de contrair resfriados – os antioxidantes no vinho tinto teriam esta capacidade, desde que se crie o hábito de consumir, no mínimo, 14 taças por semana (2 por dia). Pesquisas demonstraram que houve uma redução de 40% no índice de resfriados em ambientes controlados.

Mas nem tudo é 100% correto nestas pesquisas. Há sempre alguém preocupado em demonstrar que a realidade pode ser outra. Nosso pseudo vilão é um importante cientista, o Dr. Richard Semba, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. Ele conduziu por 9 anos um abrangente estudo numa pequena vila em Chianti, Itália. Seus voluntários eram os moradores, todos consumidores habituais de vinho, um grupo de 768 homens e mulheres, que foram acompanhados por exames clínicos regulares.

A conclusão é um verdadeiro balde de água fria:

“Nós procuramos estabelecer uma relação entre os níveis de Resveratrol e uma série de problemas de saúde como câncer, doenças cardíacas e até mesmo longevidade. Não foi detectada nenhuma correlação”.

Aparentemente a grande diferença entre este e outros estudos está no fato que foram efetivamente medidos os níveis do antioxidante através dos exames de urina. Os níveis eram extremamente baixos e não trariam nenhum benefício.

Para o nosso organismo absorver uma quantidade significativa e termos alguma vantagem seria necessário consumir cerca de 100 taças por dia, o que nos traria outros problemas.

Ainda há muito a ser descoberto, e este primeiro resultado negativo de uma pesquisa não invalida as qualidades benéficas do vinho. O próprio Dr. Semba admite:

“Eu não creio que este estudo projete uma sombra negativa no vinho (ou no chocolate outra fonte do antioxidante). O que realmente aprendemos é que alimentos são complexos, e o vinho muito mais ainda. Não se pode simplesmente atribuir efeitos benéficos a um único componente como o Resveratrol. Então continue apreciando vinho ou chocolate desde que não os esteja consumindo só para atingir a cota de antioxidante”.

Dica da Semana:  já podemos pensar num bom tinto. Este surpreendeu num recente encontro de apreciadores.
 
Dal Pizzol Merlot 2012
Vinho requintado de cor intensa, potente, vermelha rubi com tons violáceos. Aroma pronunciado harmonizando a fruta com um toque de complexidade. Sabor persistente, com bom “volume de boca”, encorpado, harmônico com taninos aveludados.
Muito versátil, harmoniza com: vitela, rosbife, bacalhau, massas com molhos de carne, aves bem condimentadas, pato ou ganso, carne de porco, cordeiro, foie gras, suflês, queijos tipo gorgonzola, brie, roquefort, port salut.
 

Corte, Assemblage, Blend

Qualquer um dos nomes acima tem o mesmo significado: um vinho elaborado a partir uma mistura de diferentes tipos de uvas ou de vinificações em tinto, branco ou rosado. Por analogia, um Varietal é o vinho produzido com uma única casta. O principal objetivo de um enólogo ao decidir por um corte é obter um produto de melhor qualidade.
 
Não se pode precisar quem foi o primeiro vinhateiro a elaborar uma mistura. Certamente os primeiros vinhos produzidos eram um tipo de corte: os vinhedos, ainda selvagens, eram compostos por diferentes cepas. Num determinado momento, colhiam-se os frutos, mesmo com pequenas diferenças de maturação, e tudo era jogado nas cubas de fermentação.

O vinho de corte como conhecemos hoje decorre de diversos fatores típicos do Velho Mundo. Observando as principais áreas produtoras da França, inegavelmente o berço do vinho moderno, percebe-se que a divisão das terras (vinhedos) é quase uma colcha de retalhos. Não existem gigantescas propriedades como as que são comuns nas Américas, por exemplo.

O famoso Chateau Petrus tem 11 hectares de vinhedos, enquanto um Clos de Los Site, na Argentina, tem gigantescos 850 hectares. Para complicar um pouco, vinhedos são bens de família e estão sujeitos a serem repartidos por herança. Quando isto acontece, o que era pequeno fica minúsculo. Há casos conhecidos em que cada herdeiro foi contemplado com uma fileira de parreiras…

Produzir um vinho a partir destes vinhedos de pequeno porte quase nunca é possível. A alternativa é vender as uvas para um produtor mais estruturado. Mesmo aqueles agricultores que conseguem montar uma pequena cantina e produzem seu próprio vinho, preferem vendê-lo no atacado: o volume é pequeno, não sendo interessante do ponto de vista comercial engarrafar, distribuir e vender.

Outro fator que reforça estas explicações são os Negociants ou Mercadores do Vinho. Empresários que dispõem de alguma estrutura, inclusive uma vinícola, mas que preferem comprar uvas e vinhos no atacado. A partir do que foi adquirido, elaboram suas misturas e as vendem com rótulo próprio. Alguns dos grandes vinhos da França são produzidos assim: Bouchard Père et Fils; Faiveley; Maison Louis Jadot; Joseph Drouhin; Vincent Girardin; Georges Duboeuf; Guigal; Jean-Luc Colombo; Mirabeau; Jaboulet, etc..

Existem diversos tipos de corte e, dependendo da legislação específica do país produtor, um vinho classificado como varietal pode ser um corte, por exemplo: um Cabernet da Califórnia basta ter 90% do volume com esta casta para ser vendido como varietal.

Os cortes mais comuns envolvem duas ou mais castas diferentes, que podem ser vinificadas em separado ou ao mesmo tempo. O conhecido corte Bordalês é o melhor exemplo: em qualquer lugar do mundo significa um vinho elaborado com Cabernet Sauvignon e Merlot, pelo menos, podendo haver mais outras castas como Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère. Mas só estas! Se na composição desta mistura entrar uma quantidade de Syrah ou Tannat ou qualquer outra casta, deixa de ser “Bordalês”.

Atualmente estão na moda os vinhos de parcelas ou vinhedos únicos, o que nos leva a uma outra definição de corte: vinhos produzidos com uma única uva, mas de diferentes terroirs. Um bom exemplo são os Catena DV, abreviatura de “Doble Viñedo”. Outra variedade de corte envolve vinhos de diferentes safras. Dois representantes típicos desta modalidade são os vinhos do Porto e os Champanhes.

Apresentamos a seguir outros cortes clássicos:

GSM – abreviatura de Grenache, Syrah, Mourvèdre. Corte típico da região do rio Rhone.
 
Châteauneuf-du-Pape – também da região do Rhone. A casta Grenache pode ser cortada com até 12 outras, inclusive brancas.

Super Toscanos e Super Piemonteses, são cortes produzidos a partir das clássicas Sangiovese (Toscana) e Nebbiolo (Piemonte) com as mais tradicionais uvas francesas como a Cabernet, Merlot, etc. Durante muito tempo foram classificados como “vinhos de mesa”, mas hoje são o orgulho da Itália.

Amarone, Ripasso, Valpolicella e Reciotto, tradicionais cortes das uvas Corvina, Rondinella e Molinara. O Amarone disputa com o Barolo, o Brunello e o Barbaresco o título de melhor vinho.

Existem infinitas possibilidades, alguns países como Portugal, sempre produziram vinhos de corte: seus vinhedos nunca foram de uma única espécie. Por outro lado, os produtores do novo mundo é que praticamente inventaram o vinho de uma única casta. Mas logo perceberam que a grande arte está no corte: só aqui o enólogo é capaz de mostrar todo o seu potencial.

 

 
 
Dica da Semana:  Um corte bem diferente e saboroso.
 
Viñedo de los Vientos Catarsis 2013
Um versátil corte de Cabernet Sauvignon (70%) e Tannat (30%), podendo ser usado para harmonizar com costela ensopada, penne aos quatro queijos, risoto de cogumelos, polenta cremosa com ricota defumada, carré de cordeiro, ravioli ao molho branco com parmesão gratinado, espaguete ao ragu de linguiça fresca.
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