Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.
Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.
Governo não acata Salvaguardas!
Após uma importante reunião entre o nefando IBRAVIN, um verdadeiro antro de parasitas, acompanhado da Uvibra, Fecovinho e Sindivinho e, do outro lado da mesa, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e duas associações dos importadores de vinho (Abrabe e ABBA), o questionável pedido de salvaguardas para o vinho brasileiro teria sido retirado do Ministério do Desenvolvimento, encerrando temporariamente este lamentável episódio.
A nova proposta é aumentar o consumo de vinhos nacionais atingindo uma meta de 40 milhões de litros em 2016. A estimativa para este ano é de 19 milhões de litros. Meta ambiciosa sem dúvida. Nas entrelinhas ficou claro que uma vez não atingida a meta proposta, o pedido pode voltar.
Para conseguir tal nível de consumo, a exposição de vinhos brasileiros deve aumentar em supermercados e lojas especializadas ao mesmo tempo em que os importadores deixarão de trazer vinhos do segmento mais barato, criando um nicho mais favorável ao nosso produto.
Sem dúvida uma solução de bom senso, ainda assim cheia de pontos duvidosos, o mais importante deles é o custo absurdo do nosso vinho: poderiam diminuir a burocracia e classificar esta bebida como alimento nos moldes dos países civilizados reduzindo a taxação.
Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos…
Quando começamos a usar taças de vidro para os vinhos?
Este tema foi proposto pela leitora Adriana Sampaio, do Rio Grande do Sul. Escreveu num e-mail:
“… aí, lendo a sua historinha me lembrei de uma coisa: quando assistimos a filmes de época, século XIV ou XV vemos a nobreza tomando vinho em canecas ou naqueles copos dourados. Quando exatamente se começou a beber vinho em taças?… e em taças de vidro?”
A história do vidro é mais antiga que a do vinho. Para aqueles que já estão duvidando desta afirmação, vale a pena lembrar que existe um vidro natural, de origem vulcânica, a obsidiana, muito utilizada pelas sociedades da Idade da Pedra para produzir ferramentas de corte. Eventualmente foi usada como moeda de troca.
Pesquisas arqueológicas revelam que a primeira manufatura de vidro pelo homem teria ocorrido na Mesopotâmia. Somente na Idade do Bronze houve um grande desenvolvimento na tecnologia de fabricação: surgem os vidros coloridos que teriam vários usos, principalmente decorativos. Interessante notar que o vidro nesta época não era moldado a quente, mas esculpido a frio com técnicas copiadas das que eram empregadas no trabalho com pedras.
Ao final da era do Bronze, o vidro era um material de alto valor comparável aos mais nobres metais. Por ser muito frágil foi sendo paulatinamente abandonado, criando-se um hiato na sua produção e utilização que só seria retomado no século IX AC, quando foi desenvolvida a fabricação de vidro incolor. O vidro soprado surgiria no século I AC, barateando o custo. Tornaram-se comuns recipientes de vidro que foram muito populares no Império Romano. No ano 100 DC os romanos já usavam vidro em sua arquitetura. Os produtos mais comuns eram vasos e outros recipientes. No exemplo a seguir alguns objetos romanos.
Embora existam vestígios de vinho datados em 6.000 anos antes de Cristo, o serviço desta bebida era feito em potes de barro, bolsas de couro ou mesmo em chifre de animais. Para sermos exatos, bebia-se diretamente do recipiente de guarda, (inclusive nos de vidro quando surgiram).
Os primeiros copos eram adaptações rudimentares de partes animais ou vegetais, como a casca de um ovo de avestruz ou uma cuia vegetal. Por não serem estáveis ao serem colocados sobre uma superfície plana, tomava-se todo o líquido de uma só vez, descartando o recipiente em seguida. O próximo passo foi criar uma base para estes objetos conforme a ilustração a seguir.
Copos de metal seriam produzidos a partir do desenvolvimento das técnicas de metalurgia do bronze. O inicialmente eram canecas, mas logo criariam base e haste tornando-os mais elegantes. Prata, cobre, estanho e ouro foram muito utilizados.
A partir do ano 1300 DC surgem recipientes de vidro, ainda sem a forma de taça. Franceses, Venezianos e Alemães desenvolvem a arte de fabricação de objetos em vidro copiando, naturalmente, os modelos existentes de metal ou cerâmica. A ilustração seguinte nos mostra um copo alemão do século XVII.
A primeira ocorrência de uma taça para vinho, de vidro, vem do Século XVI, produzida na República de Veneza pelos artesãos da ilha de Murano. Eram artisticamente decoradas e perfeitamente transparentes permitindo apreciar a cor da bebida. A foto mostra uma taça produzida naquela época.
Há um interessante registro feito pelo pintor Bonifacio Veronese (1487 – 1553). Sua “Última Ceia”, que está na Galeria Uffizi em Florença, nos mostra claramente vinhos em taças de cristal. A foto abaixo, registrada na abertura de uma exposição na Califórnia, nos permite observar o detalhe.
Até onde a imaginação do autor se confunde com a realidade?
Agradecemos a leitora Adriana Sampaio por sua colaboração.
Dica da Semana: comemorando o bom senso e o fim do pedido de salvaguardas, um bom vinho brasileiro.
Innominabile Lote IV
Produtor: Villaggio Grando
Origem: Campos de Herciliópolis/SC
Castas: Cab. Sauvignon, Cab. Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir, Petit Vernot e Marselan
Coloração rubi com reflexos violáceos. Aromas passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez. Taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado que por apresentar uma boa persistência se faz sentir com elegância e singularidade após ser degustado. É um vinho complexo, de guarda.
Corvina, Rondinella, Molinara
Vamos deixar as brancas descansar um pouco e voltamos a falar de uvas tintas. Este trio é responsável pelo maior volume de exportação vinícola da Itália. Um destes vinhos, o onipresente Valpolicella, rivaliza diretamente com o Chianti em termos de popularidade: não há um supermercado do mundo que não tenha uma garrafa desta à venda. O problema é a qualidade…
Conhecido como Trio de Verona, são típicas da região do Veneto, e responsáveis por diversos vinhos que transitam entre o medíocre e o maravilhoso. Mais adiante vamos falar um pouco mais sobre eles. Primeiro as damas…
Corvina é a uva mais importante. Seu nome deriva de Corvo, talvez por associação de sua escura coloração com as penas da ave. Estudos recentes de DNA apontam para um distante parentesco com a francesa Pinot Noir. Uma casta muito complexa, com alto teor de açúcar, é responsável pelos persistentes sabores frutados de ameixa, cereja e cassis. Mesmo após um longo período em contato com madeira esta característica permanece, evoluindo para ameixa seca, geleia de cereja e similares.
Tentativas de plantar a Corvina fora da Itália foram infrutíferas, esta casta está muito ligada a esta região onde, dependendo dos diferentes solos e micro-climas, surgiram alguns clones. Os especialistas preferem citar Corvinas, no plural, abrangendo todas as variações.
Rondinella, que significa pequena andorinha, tem no formato de suas folhas alguma semelhança com o rabo deste pássaro. É a parceira ideal da Corvina (de quem é um parente distante) na produção dos vinhos de Valpolicella, além do vizinho Bardolino. Embora não tenha um alto teor de açúcar, é responsável por introduzir aromas e sabores herbais e trazer frescor ao vinho. Apesar de fornecer grandes volumes da fruta, é uma casta irregular e não é usada para produzir vinhos varietais.
Molinara, que significa Moleiro (aquele que faz farinha), é a não menos importante terceira uva. O nome foi inspirado pela aparência da casca que apresenta uma fina camada branca que lembra uma farinha. Ao contrário das anteriores, sua cor é clara e contribui com a acidez, maciez e suculência.
Os vinhos
Embora na história de cada uva não tenha nada de especial, brilham na hora de produzir quatro vinhos muito importantes e significativos no cenário vinícola da Itália: Valpolicella, Amarone dela Valpolicella, Ripasso e Reciotto dela Valpolicella. Tecnicamente, um depende do outro.
Começamos pelo básico: o Valpolicella, um corte composto por Corvina (max. 70%), Rondinella, Molinara e outras uvas menos significativas. O nome vem da cidade homônima e tem origem controversa. Num documento de 1117, assinado pelo Imperador Romano-Germânico Frederico I, alcunhado de Barbarossa, aparece a primeira menção a “Val Polesela”. Deste ponto em diante, existem algumas versões, todas elas com algum grau de verdade.
Expressões gregas ou latinas podem ter sido a primeira forma de Valpolicella. Exemplos: do latim “pulcella”, um termo usado para qualificar Santa Eulália – buona pulcela fut Eulália – como escrito em sua cantilena. Pouco provável, ela foi uma mártir da Espanha; do grego “polyzelos” que significa “abençoado” ou ainda “de muitas frutas” termos que se estenderiam por toda a região. Pouco aceita embora a região tenha um solo muito bom para a agricultura.
A versão mais provável hoje, remete novamente ao latim, “pollus”, que genericamente se traduz como fértil ou rico em sementes. “Val-poli-cellae” significaria, literalmente, “vale das muitas cantinas” (cantina = vinícola).
Infelizmente o vinho ali produzido com esta denominação não é de boa qualidade. O alto volume de produção, as leis que permitem adições de uvas sem controle de procedência e até mesmo fatores como baixa qualidade de controles sanitários promoveram um desinteresse geral em melhorar a qualidade deste produto: é um vinho barato de consumo em massa. Curiosamente, tem um concorrente, o Bardolino, elaborado numa região vizinha que não dista mais de 20 km. Na opinião de muitos especialistas, são um desastre.
Há exceções, mas é preciso fazer uma licença poética: vamos falar de “vinhos de Valpolicella” em lugar de “vinho Valpolicella”. Com a consequente queda de preços devida ao alto volume de produção, os vinicultores e vinhateiros resolveram investir em vinhedos de altitude para produzir outros vinhos, com as mesmas uvas. Mas esta história fica para a próxima coluna.
Dica da semana: como tudo na vida, ainda existem produtores que fazem Valpolicellas de primeiríssima qualidade. Este é um deles.
Valpolicella Classico 2006
Produtor: Guerrieri-Rizzardi
País: Itália/Veneto
Uvas: Corvina, Rondinella, Negrara, Molinara e Barbera
Eis um vinho elegante e com bastante personalidade, para surpreender aqueles que ainda não conhecem o estilo dos melhores vinhos de Valpolicella, que nada têm a ver com os exemplares mais comerciais. Um Valpolicella bastante superior à grande maioria dos existentes no mercado, com grande classe e tipicidade, perfeito para acompanhar massas.
Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!
Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.
O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.
Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.
Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.
Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores…
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