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Mais dúvidas dos leitores

Interessante como um assunto puxa outro. Eu gostaria de escrever sobre as diversas listas de melhores vinhos, mas os leitores não deixam.
Vamos responder de forma mais completa aos e-mails de três leitores. São questões diferentes que convergem para um tema central.
Primeiro a Renata, de Manaus, gostou da revisão e teve, segundo ela, coragem de perguntar e pedir mais; depois Cristina, de Goiânia, segue o mote e pede novas colunas sobre ‘serviço do vinho’, harmonização’ e até mesmo ‘taças para vinho’, um assunto tratado bem recentemente. Por último, Rodrigo, de Bruxelas, com coro do nosso Editor Valter, afirma que bulas no vinho seriam bem-vindas, principalmente para ajudar na hora de harmonizar com comida.
Antes de mergulhar em maiores profundidades, uma explicação importante. Um leitor afirmou que tem evitado colocar suas dúvidas em público com medo de receber como resposta algo no gênero “procure numa coluna anterior”.
Esta frase ou sua irmã, “está lá no texto…”, são comuns nas minhas respostas, embora nunca tenha deixado de fazer um novo comentário para esclarecer a dúvida do leitor. Gostaria que a entendessem como um convite para uma releitura do texto (a partir da nova explicação) e não como um puxão de orelhas… Ninguém nasce sabendo e a melhor forma de aprender é perguntando para quem conhece o assunto melhor que você. Não se esqueçam: sua dúvida pode ser a de outros leitores.

Vinho x Comida

Talvez seja esta a mola propulsora do comércio desta bebida. Existem os ‘vinhos de meditação’, algo que é extremamente prazeroso. Mas não há dúvida que reunir amigos em torno de uma boa mesa é altamente satisfatório e nos realiza plenamente. Infelizmente, basta um erro para estragar tudo. Para evitar desastres, precisamos unir conceitos clássicos com as nossas próprias experiências. Lembrem-se: regras são feitas para serem quebradas!
Combinar vinho e comida nunca foi uma ciência exata, está mais para algo empírico onde a experimentação dita o rumo. Os leitores já devem estar perguntando de onde surgiram as harmonizações clássicas, como aquela das carnes com tintos e peixes com brancos. Tudo tem uma origem:
– antigamente os vinhos tintos eram muito mais tânicos que os de hoje e o único alimento capaz de enfrentar tal desafio era um bom pedaço de carne com sua textura pesada e gordurosa;
– por analogia, as carnes brancas (peixes, aves e suínos), cuja delicadeza exigia cozimentos suaves para manter a estrutura mais leve, não eram bem acompanhadas por vinhos tintos – os brancos se tornaram naturalmente a melhor opção.
Vamos elaborar um pouco mais neste assunto, pegando um gancho na mensagem do leitor Rodrigo, quando afirma:
-“Imagine que eu possa comprar um vinho cabernet sauvignon, que é tradicionalmente uma uva para se beber com carne de caça (pelo que sei) e bebo com uma massa com um molho qualquer”.
Esta seria uma das múltiplas possibilidades de harmonizar um bom Cabernet, embora eu prefira combinar carnes de caça com vinhos obtidos a partir da Sirah. Eis a primeira dificuldade a ser contornada: gosto é pessoal!
Pinot Noir seria outro vinho que casaria com este prato perfeitamente. Para sair do dilema, temos que analisar estas combinações do ponto de vista organoléptico, tanto do alimento quanto do vinho.
Complicou?
Ninguém disse que seria fácil, mas não é impossível. Os alimentos podem ser classificados como: leves, pesados, doces, salgados, condimentados, gordurosos, suculentos, untuosos, amargos e ácidos.
Os vinhos seguem uma classificação similar: leves, encorpados, tânicos, alcoólicos, ácidos, efervescentes, persistentes, aromáticos, doces e macios.
Harmonizar é combinar corretamente estas caraterísticas:
Comida leve – vinho leve;
Comida pesada – vinho encorpado;
Vinhos tânicos e alcoólicos combinam com pratos suculentos e untuosos;
Alimentos gordurosos exigem vinhos com acidez e taninos elevados;
Vinhos efervescentes acompanham bem alimentos com um viés adocicado;
Pratos condimentados pedem vinhos aromáticos e persistentes;
Sabores salgados, ácidos ou amargos são equilibrados com vinhos macios;
Doçura com doçura…
As diretrizes são estas, escolher o vinho que se encaixa nelas é outra história: só degustando muito e anotando tudo.

Dica da Semana: um interessante branco espanhol dentro do espírito de vinhos para o verão.

Los Navales Verdejo 2010

Produtor: Viñedos de Nieva
País: Espanha/Rueda
Este 100% Verdejo é um vinho que expressa o estilo e caráter dessa variedade de uva. Apresenta aromas de frutas tropicais maduras como abacaxi, grapefruit e limão, sobre um fundo herbáceo. Na boca, sua entrada revela um vinho fresco, balanceado, de acento mineral e cítrico. Excelente como aperitivo ou como acompanhamento de frutos do mar.

Uma pausa no passeio italiano

Governo não acata Salvaguardas!
Após uma importante reunião entre o nefando IBRAVIN, um verdadeiro antro de parasitas, acompanhado da Uvibra, Fecovinho e Sindivinho e, do outro lado da mesa, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) e duas associações dos importadores de vinho (Abrabe e ABBA), o questionável pedido de salvaguardas para o vinho brasileiro teria sido retirado do Ministério do Desenvolvimento, encerrando temporariamente este lamentável episódio.
A nova proposta é aumentar o consumo de vinhos nacionais atingindo uma meta de 40 milhões de litros em 2016. A estimativa para este ano é de 19 milhões de litros. Meta ambiciosa sem dúvida. Nas entrelinhas ficou claro que uma vez não atingida a meta proposta, o pedido pode voltar.
Para conseguir tal nível de consumo, a exposição de vinhos brasileiros deve aumentar em supermercados e lojas especializadas ao mesmo tempo em que os importadores deixarão de trazer vinhos do segmento mais barato, criando um nicho mais favorável ao nosso produto.
Sem dúvida uma solução de bom senso, ainda assim cheia de pontos duvidosos, o mais importante deles é o custo absurdo do nosso vinho: poderiam diminuir a burocracia e classificar esta bebida como alimento nos moldes dos países civilizados reduzindo a taxação.
Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos…
Quando começamos a usar taças de vidro para os vinhos?
Este tema foi proposto pela leitora Adriana Sampaio, do Rio Grande do Sul. Escreveu num e-mail:
“… aí, lendo a sua historinha me lembrei de uma coisa: quando assistimos a filmes de época, século XIV ou XV vemos a nobreza tomando vinho em canecas ou naqueles copos dourados. Quando exatamente se começou a beber vinho em taças?… e em taças de vidro?”
A história do vidro é mais antiga que a do vinho. Para aqueles que já estão duvidando desta afirmação, vale a pena lembrar que existe um vidro natural, de origem vulcânica, a obsidiana, muito utilizada pelas sociedades da Idade da Pedra para produzir ferramentas de corte. Eventualmente foi usada como moeda de troca.
Pesquisas arqueológicas revelam que a primeira manufatura de vidro pelo homem teria ocorrido na Mesopotâmia. Somente na Idade do Bronze houve um grande desenvolvimento na tecnologia de fabricação: surgem os vidros coloridos que teriam vários usos, principalmente decorativos. Interessante notar que o vidro nesta época não era moldado a quente, mas esculpido a frio com técnicas copiadas das que eram empregadas no trabalho com pedras.
Ao final da era do Bronze, o vidro era um material de alto valor comparável aos mais nobres metais. Por ser muito frágil foi sendo paulatinamente abandonado, criando-se um hiato na sua produção e utilização que só seria retomado no século IX AC, quando foi desenvolvida a fabricação de vidro incolor. O vidro soprado surgiria no século I AC, barateando o custo. Tornaram-se comuns recipientes de vidro que foram muito populares no Império Romano. No ano 100 DC os romanos já usavam vidro em sua arquitetura. Os produtos mais comuns eram vasos e outros recipientes. No exemplo a seguir alguns objetos romanos.

Embora existam vestígios de vinho datados em 6.000 anos antes de Cristo, o serviço desta bebida era feito em potes de barro, bolsas de couro ou mesmo em chifre de animais. Para sermos exatos, bebia-se diretamente do recipiente de guarda, (inclusive nos de vidro quando surgiram).
Os primeiros copos eram adaptações rudimentares de partes animais ou vegetais, como a casca de um ovo de avestruz ou uma cuia vegetal. Por não serem estáveis ao serem colocados sobre uma superfície plana, tomava-se todo o líquido de uma só vez, descartando o recipiente em seguida. O próximo passo foi criar uma base para estes objetos conforme a ilustração a seguir.

Copos de metal seriam produzidos a partir do desenvolvimento das técnicas de metalurgia do bronze. O inicialmente eram canecas, mas logo criariam base e haste tornando-os mais elegantes. Prata, cobre, estanho e ouro foram muito utilizados.


A partir do ano 1300 DC surgem recipientes de vidro, ainda sem a forma de taça. Franceses, Venezianos e Alemães desenvolvem a arte de fabricação de objetos em vidro copiando, naturalmente, os modelos existentes de metal ou cerâmica. A ilustração seguinte nos mostra um copo alemão do século XVII.

A primeira ocorrência de uma taça para vinho, de vidro, vem do Século XVI, produzida na República de Veneza pelos artesãos da ilha de Murano. Eram artisticamente decoradas e perfeitamente transparentes permitindo apreciar a cor da bebida. A foto mostra uma taça produzida naquela época.

Há um interessante registro feito pelo pintor Bonifacio Veronese (1487 – 1553). Sua “Última Ceia”, que está na Galeria Uffizi em Florença, nos mostra claramente vinhos em taças de cristal. A foto abaixo, registrada na abertura de uma exposição na Califórnia, nos permite observar o detalhe.

Até onde a imaginação do autor se confunde com a realidade?
 
Agradecemos a leitora Adriana Sampaio por sua colaboração.
 

Dica da Semana: comemorando o bom senso e o fim do pedido de salvaguardas, um bom vinho brasileiro.

Innominabile Lote IV
Produtor: Villaggio Grando
Origem: Campos de Herciliópolis/SC
Castas: Cab. Sauvignon, Cab. Franc, Merlot, Malbec, Pinot Noir, Petit Vernot e Marselan
Coloração rubi com reflexos violáceos. Aromas passando por fumo em rama, baunilha, coco e amoras silvestres. Em boca há um grande equilíbrio entre o teor alcoólico e acidez. Taninos macios que o definem como um vinho estruturado, redondo e aveludado que por apresentar uma boa persistência se faz sentir com elegância e singularidade após ser degustado. É um vinho complexo, de guarda.

Uvas autóctones da Itália – Um trio da pesada – I

Corvina, Rondinella, Molinara
Vamos deixar as brancas descansar um pouco e voltamos a falar de uvas tintas. Este trio é responsável pelo maior volume de exportação vinícola da Itália. Um destes vinhos, o onipresente Valpolicella, rivaliza diretamente com o Chianti em termos de popularidade: não há um supermercado do mundo que não tenha uma garrafa desta à venda. O problema é a qualidade…
Conhecido como Trio de Verona, são típicas da região do Veneto, e responsáveis por diversos vinhos que transitam entre o medíocre e o maravilhoso. Mais adiante vamos falar um pouco mais sobre eles. Primeiro as damas…

Corvina é a uva mais importante. Seu nome deriva de Corvo, talvez por associação de sua escura coloração com as penas da ave. Estudos recentes de DNA apontam para um distante parentesco com a francesa Pinot Noir. Uma casta muito complexa, com alto teor de açúcar, é responsável pelos persistentes sabores frutados de ameixa, cereja e cassis. Mesmo após um longo período em contato com madeira esta característica permanece, evoluindo para ameixa seca, geleia de cereja e similares.

Tentativas de plantar a Corvina fora da Itália foram infrutíferas, esta casta está muito ligada a esta região onde, dependendo dos diferentes solos e micro-climas, surgiram alguns clones. Os especialistas preferem citar Corvinas, no plural, abrangendo todas as variações.
Rondinella, que significa pequena andorinha, tem no formato de suas folhas alguma semelhança com o rabo deste pássaro. É a parceira ideal da Corvina (de quem é um parente distante) na produção dos vinhos de Valpolicella, além do vizinho Bardolino. Embora não tenha um alto teor de açúcar, é responsável por introduzir aromas e sabores herbais e trazer frescor ao vinho. Apesar de fornecer grandes volumes da fruta, é uma casta irregular e não é usada para produzir vinhos varietais.

Molinara, que significa Moleiro (aquele que faz farinha), é a não menos importante terceira uva. O nome foi inspirado pela aparência da casca que apresenta uma fina camada branca que lembra uma farinha. Ao contrário das anteriores, sua cor é clara e contribui com a acidez, maciez e suculência.

Os vinhos
Embora na história de cada uva não tenha nada de especial, brilham na hora de produzir quatro vinhos muito importantes e significativos no cenário vinícola da Itália: Valpolicella, Amarone dela Valpolicella, Ripasso e Reciotto dela Valpolicella. Tecnicamente, um depende do outro.
Começamos pelo básico: o Valpolicella, um corte composto por Corvina (max. 70%), Rondinella, Molinara e outras uvas menos significativas. O nome vem da cidade homônima e tem origem controversa. Num documento de 1117, assinado pelo Imperador Romano-Germânico Frederico I, alcunhado de Barbarossa, aparece a primeira menção a “Val Polesela”. Deste ponto em diante, existem algumas versões, todas elas com algum grau de verdade.
Expressões gregas ou latinas podem ter sido a primeira forma de Valpolicella. Exemplos: do latim “pulcella”, um termo usado para qualificar Santa Eulália – buona pulcela fut Eulália – como escrito em sua cantilena. Pouco provável, ela foi uma mártir da Espanha; do grego “polyzelos” que significa “abençoado” ou ainda “de muitas frutas” termos que se estenderiam por toda a região. Pouco aceita embora a região tenha um solo muito bom para a agricultura.
A versão mais provável hoje, remete novamente ao latim, “pollus”, que genericamente se traduz como fértil ou rico em sementes. “Val-poli-cellae” significaria, literalmente, “vale das muitas cantinas” (cantina = vinícola).
Infelizmente o vinho ali produzido com esta denominação não é de boa qualidade. O alto volume de produção, as leis que permitem adições de uvas sem controle de procedência e até mesmo fatores como baixa qualidade de controles sanitários promoveram um desinteresse geral em melhorar a qualidade deste produto: é um vinho barato de consumo em massa. Curiosamente, tem um concorrente, o Bardolino, elaborado numa região vizinha que não dista mais de 20 km. Na opinião de muitos especialistas, são um desastre.
Há exceções, mas é preciso fazer uma licença poética: vamos falar de “vinhos de Valpolicella”  em lugar de “vinho Valpolicella”. Com a consequente queda de preços devida ao alto volume de produção, os vinicultores e vinhateiros resolveram investir em vinhedos de altitude para produzir outros vinhos, com as mesmas uvas. Mas esta história fica para a próxima coluna.

Dica da semana: como tudo na vida, ainda existem produtores que fazem Valpolicellas de primeiríssima qualidade. Este é um deles.


Valpolicella Classico 2006
Produtor: Guerrieri-Rizzardi
País: Itália/Veneto
Uvas: Corvina, Rondinella, Negrara, Molinara e Barbera
Eis um vinho elegante e com bastante personalidade, para surpreender aqueles que ainda não conhecem o estilo dos melhores vinhos de Valpolicella, que nada têm a ver com os exemplares mais comerciais. Um Valpolicella bastante superior à grande maioria dos existentes no mercado, com grande classe e tipicidade, perfeito para acompanhar massas.

Uvas autóctones da Itália – Algumas uvas brancas

Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!

Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.

O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.

Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.

Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – Final

Alsácia
Para finalizar, vamos conhecer um pouco desta curiosa região francesa de forte influência germânica. Localizada entre as montanhas Vosges a oeste e o Rio Reno e a Alemanha a leste, este pequeno paraíso, que já mudou de nacionalidade pelo menos 4 vezes, foi declarado território francês após a Grande Guerra.
Verdadeiro caldeirão cultural absorveu o que havia de melhor do cenário vinícola dos dois países o que poderia ser definido como um modo alemão de fazer vinhos franceses: o formato das garrafas tem enorme significado. Uma legislação rigorosa impõe limites que asseguram esta excepcional qualidade de seus vinhos.
Apenas 9 varietais são oficialmente permitidas: Riesiling, Pinot Gris, Gewüztraminer, Muscat, Pinot Noir, Pinot Blanc, Auxerrois Blanc, Sylvaner e Chasselas.
Existem outras castas plantadas, mas não são significativas. As seis primeiras são as mais importantes. A Muscat desempenha o papel de 4º Mosqueteiro no trio apresentado enquanto a Pinot Noir é a que produz o único tinto da região, muito diferente daqueles da Borgonha. Além deste são elaborados vinhos brancos, rosados e um excelente espumante o Cremant d’Alsace.

Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores…

O vinho alsaciano é tipicamente gastronômico, perfeito para acompanhar saborosas refeições. A grande surpresa fica por conta da pouca popularidade destes brancos. Alguns especialistas apontam a garrafa longa com um fator que trás grande confusão com os vinhos alemães, nem sempre bons e muito falsificados. Por outro lado o marketing da dupla Chardonnay e Sauvignon Blanc é tão forte que vale a pena perguntar: “Quem conhece Gewürztraminer, Muscat ou Pinot Gris?” Uma pena, pois são grandes vinhos em todos os sentidos, infelizmente, muito caros no nosso país.
Os vinhos mais simples, ainda assim muito saborosos, são um corte denominado Edelzwicker. As classificações seguintes são AOC Alsace e AOC Alsace Grand Cru (AOC = Denominação de Origem Controlada). Importante notar que nos rótulos é obrigatória a presença do nome da varietal. Esta é a única região francesa com esta exigência. Duas outras classificações são a “Vendange Tardive” (colheita tardia) e “Sélection de Grains Nobles” (colheita de grãos Botritizados) que são os vinhos de sobremesa.
Para os leitores aventureiros, fazer a Rota dos Vinhos Alsacianos é um dos melhores passeios que conhecemos. O centro de tudo é a cidade de Colmar. Pode-se partir dali ou optar por começar em Thann acompanhado o Rio Reno até Marlenheim, próximo a Strasbourg.
Esta rota existe a 60 anos e todo visitante é bem vindo em qualquer época do ano. Os alsacianos se esmeram para mostrar os seus vinhos e uma fantástica culinária. Somos recebidos de braços abertos até mesmo durante as pesadas fainas da colheita e vinificação.
As localidades de Colmar, Kaysersberg, Riquewihr e Illhaeusern são pontos obrigatórios. Lá estão alguns dos melhores Chefs de cozinha, com pratos perfeitos para harmonizar com os vinhos de produtores como Kuentz-Bas, Trimbach, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Beyer, Rolly Gassmann, Weinbach, Bruno Sorg, Marc Kreydenweiss, Hugel, Domaine Ostertag, Albert Boxler, Schlumberger entre outros.  
A seguir, alguns produtores e seus vinhos icônicos.
Maison Trimbach
Produzindo desde 1626, está na 12ª geração de vinhateiros dando continuidade a uma impecável reputação. Um dos seus Riesilngs o Clos Sainte Hune é considerado como o melhor do mundo por críticos do calibre de Jancis Robinson e Hugh Johnson.
Segundo o produtor, “para se regalar com um Clos de Sainte Hune, é necessário esperar pelo menos 10 anos para que ele mostre seu verdadeiro potencial, 15 anos, em geral, ele está perfeito ao início de seus 20 anos, ou até mais”…
Proveniente de um verdadeiro Clos, plantado em anexo à igreja da família em Hunawihr, o Sainte Hune não é produzido em volume maior que 10.000 garrafas, devido à baixíssima produção das videiras de 50 anos em um restrito terroir.
Opinião dos Especialistas:
Wine Spectator: 94 pontos (2001) 96 pontos (1996)
Robert Parker: 94 pontos (2000) 95 pontos (1998)
Wine Enthusiast: 93 pontos (1998)

Domaine Zind-Humbrecht
Porduzindo vinhos desde 1620, esta vinícola é considerada como o melhor produtor de vinhos brancos do mundo. Uma unanimidade tão grande que é mesmo surpredente: Bettane & Dessauve (entre os mais respeitáveis críticos na França) o considera “como um produtor excepcional, representante da qualidade mais absoluta.”
Robert Parker diz: “Não sei o que é o mais extraordinário, a qualidade dos vinhos ou a dedicação completa de seu proprietário Olivier Humbrecht. Esse grande homem, forte e intelectual é provavelmente o melhor produtor do mundo”.
Jancis Robinson: ” Sou admiradora de sua incessante procura pela a melhor qualidade”.
Seu vinho mais conceituado é o Sélection de Grains Nobles Pinot Gris Clos Jebsal

O vinho precisa de alguns minutos para revelar sua extraordinária textura. O nariz é muito sutil, com notas confitadas, aeradas. A boca, untuosa, é duma pureza e densidade impressionantes. Nesse nível de concentração qualquer desvio seria perceptível. Mas aqui o açúcar e a acidez são concentrados num equilíbrio perfeito. O material é denso, aveludado. Tem uma riqueza extrema, um acidez excitante. É a pureza de equilíbrio e persistência quase infinitos. Provavelmente um dos melhores licorosos já produzidos, que recebeu os elogios de todos os grandes críticos (Parker: 97/100, Bettane & Dessauve 19/20 etc…). 
Se tornou um vinho ícone.
Domaine Schlumberger
É o maior produtor da Alsácia. Em atividade desde 1810. O vinhedo já existia na Idade Média e algumas das adegas, ainda em uso, datam daquela época. Há um perfeito casamento entre tecnologia e tradição – carroças puxadas por cavalos e helicópteros se unem no mesmo esforço de qualidade. A coerência e a harmonia do processo de produção são obras de várias gerações dedicadas a esses “terroirs” privilegiados e orgulhosos de uma fama internacional. Dentre sua inacreditável linha de vinhos destacamos o Gewurztraminer Grand Cru Kitterlé.

Produzido num espigão rochoso, com inclinação de 30 a 60% e excelente exposição sul-oeste a sudeste. O solo leve e arenoso é segurado por muros de pedras secas. Rendimento de 25 hectolitros por hectare. Colheita manual e prensagem das uvas inteiras. Criação sobre borra durante oito meses em tonéis de carvalho, com controle de temperatura.
Sua coloração é amarelo ouro claro, com reflexos verdes. No nariz é intenso porem delicado, com notas tropicais (lichia, manga) e especiarias (gengibre). Com a evolução percebem-se notas florais (rosa) e cítricas (grapefruit). Na boca é Um vinho amplo, vivo e bem equilibrado. A complexidade dos aromas se desenvolve fiel aos apresentados ao nariz. Bom equilíbrio, persistência surpreendente.

Dica da Semana:para celebrar tudo isto, mais um vinho de lá!
Crémant d´Alsace – $
René Muré, pequeno produtor da Alsácia, explora o domaine familiar situado em Rouffach. O solo de calcário argiloso confere a este espumante Brut seus aromas cítricos e de frutas amarelas (damasco, mirabela) e sua estrutura elegante. As parreiras tem idade media de 20 anos.
Uvas: Pinot Blanc; Pinot Auxerrois; Riesling; Pinot Gris; Pinot Noir.
Cor amarela pálida, com reflexos verdes. Perlage fina, numerosa e regular. No nariz trás aromas delicados florais (tília) e de frutas (maçã); notas de canela e baunilha. Na boca é bem equilibrado e redondo. Seco e aromático, com final vivo. Persistente.

 

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