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Esta é uma daquelas histórias boas de serem contadas.
Há algum tempo atrás, numa importante data, o Sr. B, foi presenteado, pelo Sr. G, com um belo Fattoria dei Barbi 2007, um Brunello de 1ª linha. (Os nomes de alguns personagens estão sendo omitidos devido a um acordo de confidencialidade)
Não preciso comentar que esta garrafa virou alvo de diversos projetos para consumi-la. Como sempre sou consultado sobre estas ideias, fui empurrando com a barriga o projeto até que, finalmente, com a temperatura do Rio de Janeiro em valores aceitáveis, resolvemos consumar o ato.
‘G’, a quem fui apresentado neste dia, juntou-se a nós e fomos para um bom restaurante italiano. Afinal, segundo a lógica de ‘B’, o que harmonizaria perfeitamente com este famoso vinho seria a culinária daquele país que o produziu. Correto, desde que algumas restrições sejam impostas. Por isto mesmo, esta aventura se tornou muito saborosa e instrutiva.
O VINHO
Brunellos são icônicos e respeitados por enófilos de toda parte, em que pese o recente escândalo que revelou procedimentos inadequados na elaboração de alguns exemplares deste vinho.
Apesar de ser um típico país latino, a Itália respeita as tradições mais que as leis, razão pela qual, alguns de seus produtos são desejados e usados como símbolos de status, riqueza e conhecimento. Não é diferente com seus vinhos e os Brunellos estão no topo da lista ao lado de Barolos, Barbarescos, Chiantes e Amarones, para ficar só nos tintos.
Há uma aura de mistério sobre a casta que dá origem ao vinho e ao seu nome. Admite-se que é um ‘clone’ da famosa uva Sangiovese, que só existiria nos arredores da cidade de Montalcino, sub-região Brunello, na Toscana.
Tecnicamente o nome correto é Sangiovese Grosso, uma das 14 variedades de Sangiovese reconhecidas e aquela que (segundo eles) produz os melhores vinhos. A história não termina nisto: esta mesma casta existe em outras regiões, com novas denominações (Prugnolo Gentile; Sangiovese Lamole; etc) e produzem ótimos vinhos. Mas o marketing de Montalcino é forte, somente os vinhos de lá podem ser Brunellos…
A Fattoria dei Barbi é uma vinícola muito antiga (1352). Em 1790 foi comprada pela família Colombini que a administra até hoje. Stefano Cinelli Colombini é o atual enólogo e o responsável pela modernização da empresa. O processo de elaboração usado hoje em dia é muito sofisticado, recorrendo a macerações a frio (3º a 5º) em ambiente saturado de CO2 obtendo-se excelentes resultados.
Após a fermentação em temperaturas controladas por 15 dias, amadurece alguns meses em barricas novas de carvalho logo sendo trasfegado para os tradicionais tanques onde permanecerá por longos 2 anos. Somente é engarrafado 4 meses antes de partir para o mercado. Uma verdadeira joia!
Resulta num vinho de coloração rubi profunda com aromas de frutas negras, notas balsâmicas e um pouco de tostado. No palato é bem equilibrado com acidez perfeita e taninos marcantes. Tem um final de boca interminável.
Estas características quase que obrigam uma harmonização altamente untuosa: é uma bebida que vai secar a nossa boca; para contrapor, precisamos ingerir alimentos que induzam uma boa salivação. As recomendações passam por carnes vermelhas grelhadas ou assadas com seu próprio molho, ossobuco com polenta, paleta de cordeiro, massas com molhos encorpados e queijos maduros.
O ALMOÇO
A nossa garrafa estava quase na metade de sua vida, os Brunellos são longevos durando até 15 anos. Poderíamos ter esperado mais um pouco, mas quem poderia garantir que estaríamos por aqui ainda?
Para iniciar os trabalhos, encomendamos um antepasto de queijos, frios e pães artesanais, e um belo Prosecco, da casa, para preparar as papilas gustativas.
Na hora de encomendar os pratos principais aconteceram algumas surpresas:
1 – ‘B’ optou por um Curlugiones, uma massa fresca recheada com batatas, queijo pecorino e hortelã, servida com um encorpado molho pomodoro feito na casa;
2 – ‘G’, para surpresa geral, optou pelo peixe do dia, grelhado, com legumes cozidos;
3 – a minha escolha foi um Tortelloni recheado de ricota e ervas, cozido e servido no azeite.
Ninguém pediu uma carne…
De certa forma, a escolha do Sr. G foi a mais difícil de combinar. Mesmo assim ele achou positiva a experiência. Eu e o Sr. B nos esbaldamos, embora eu tenha sentido a falta de uma pedida mais encorpada ainda – a minha boca ainda estava mais para seca do que eu gostaria.
Mas o vinho era delicioso e só poderíamos imaginar o quanto mais ele poderia melhorar com o tempo.
Afinal concordamos que só havia um defeito:
Faltava uma segunda garrafa!
Dica da Semana: para celebrar o Dia do Malbec, 17 de abril.
Catena Malbec 2010
Este grande Malbec argentino já se tornou um verdadeiro clássico, com uma elegância e um senso de proporção raramente encontrado em outros tintos de seu país. Já foi indicado como um dos “100 Melhores Vinhos do Mundo” pela Wine Spectator- um feito surpreendente para um vinho deste preço! Trata-se de um tinto encantador, com concentração e intensidade, mas também charme e muito caráter. Segundo Jancis Robinson, ele “tem a estrutura de um Bordeaux, oferece mais do que o esperado, e é tão bom!”
Robert Parker: 91 pontos (safras 08, 09 e 10)
Stephen Tanzer: 90 pontos (safra 2010)
Wine Spectator: 90+ pontos (safra 08)
Salton Virtude Chardonnay
Vinho com tonalidade amarelo claro. Possui aromas que lembram abacaxi , manteiga, maçã verde, melão e pronunciado aroma de mel, baunilha, coco, nozes e pão torrado, além de notas minerais. Seu sabor é equilibrado e estruturado, com acidez firme, deixando agradáveis sensações de frutas e especiarias na boca. Harmoniza com aves de caça, como perdiz, ema, avestruz, faisão e pato. Massas com molhos de base branca (béchamel) ou à base de ervas (pesto). Acompanha risotos e queijos como brie e camembert. Excelente opção para bacalhoada e cassoulet.
Este volume, mesmo para um apaixonado por vinhos, pode ser um investimento considerável, sem falar no espaço e climatização necessária. Mas é perfeitamente viável criar uma adega básica, que vai atender principalmente ao nosso paladar.
O que vamos adegar então?
Os vinhos que conhecemos e nos dão prazer!
Apresentaremos, a seguir, uma pequena lista com sugestões para organizar uma adega básica. Não vamos indicar nenhum vinho especificamente, mas somente os tipos de vinhos.
Espumantes – para uma adega tradicional seria imprescindível um bom Champagne (francês). Nos dias de hoje, dando um caráter contemporâneo a esta coleção, prefiram os Proseccos, são como curingas do baralho ou os espumantes nacionais, fazem bonito em qualquer lugar do mundo (deixe para comprar o Champagne numa ocasião muito especial…).
Brancos – Chardonnay e Sauvignon Blanc são obrigatórios, seja no perfil clássico ou no contemporâneo. Se o caixa permitir, aposte em mais um varietal. O Torrontés argentino é a bola da vez. Pinot Grigio e Viognier são outras boas escolhas. Para uma linha mais clássica, aposte nos Rieslings e Gerwurztraminers.
Tintos – Estes devem ser a maioria. Tenham, sempre, uma garrafa de um vinho tipo Bordeaux. Pode, perfeitamente, vir da Argentina ou do Chile, escolhas com boa relação custo x benefício. As coleções de tintos atuais trilham o caminho das varietais. Escolham as suas prediletas entre Malbec, Syrah, Merlot, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Tempranillo, Sangiovese, etc.
Um luxo que vale a pena e justifica a existência da adega é adquirir alguns vinhos de guarda. Apostem nos vinhos do velho mundo. Vinhos de 1ª linha, sul-americanos, também se prestam a desempenhar este papel. Para não errar, peçam ajuda na hora de comprar. Nem todo vinho pode ser guardado por longos períodos.
Fortificados e de Sobremesa – Um bom Porto é essencial, tinto ou branco. Os vinhos de sobremesa, chamados de colheita tardia (late harvest) estão muito comuns hoje em dia, mas raramente são abertos e consumidos. Pensem duas vezes antes de incluir um no estoque.
Outras sugestões:
– Um Rosé pode ser muito útil naquele momento de indecisão;
– Para dar um toque bem interessante, acrescente um dos destilados de vinho – Conhaque, Bagaceira, Grappa, ou assemelhados. Na hora certa, tornam-se coadjuvantes importantes numa boa refeição, mas só para os que vivem em climas frios…
Onde e como guardar?
Poderíamos chamar este parágrafo de “Protegendo seu Investimento”. Brincando, brincando, o nosso kit básico pode chegar a algo entre 10 a 20 garrafas, dependendo da disposição de gastar de cada um. Aliás, não comprem tudo de uma vez e reponham sempre que consumirem.
O lugar ideal de guarda deve ser um local seco, arejado e fresco. Em hipótese nenhuma pode pegar sol. As garrafas devem ficar deitadas, molhando a rolha.
Existe uma infinidade de móveis projetados para este fim, o mais comum é na forma de uma treliça onde em cada nicho fica uma garrafa. Se existirem crianças em casa, optem por uma solução com porta ou de difícil acesso. Muito comum hoje são as adegas climatizadas, oferecidas em diversas capacidades. Práticas, mas um luxo nem sempre necessário, além de caras. Exigem o mesmo cuidado como o de uma geladeira comum. Uma alternativa, para aqueles que optarem por este tipo de solução é adaptar um refrigerador velho. Pode ficar muito charmoso e mais em conta.
A foto a seguir mostra um pedacinho da adega do Boletim, onde testamos os vinhos da semana.