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Recapitulando sobre os tipos de vinhos

Chamou a nossa atenção uma dúvida comum de alguns leitores sobre a diferença entre Vinho do Porto e Vinho do Douro.
 
Embora este blog sobre vinhos nunca tenha pretendido ser um curso, foi necessário nas primeiras publicações estabelecer uma linguagem comum entre autor e leitores, razão pela qual alguns textos foram considerados como didáticos. Em várias oportunidades mencionamos os diferentes tipos de vinhos que existem no mercado, inclusive os dois que motivaram a dúvida.
 
Faço um convite a todos os leitores que releiam alguns dos meus textos sobre este tema, que foram publicados em 2001. Para ajudar, aqui estão alguns links:
– Espumantes, Brancos, Rosés, Tintos, Doces e Fortificados;
 
 
– Vinhos Fortificados – 1ª parte (a continuação desta série fala do Jerez e do Madeira);
 
Mais recentemente, nas colunas sobre a viagem por Espanha e Portugal, novos conhecimentos podem ser adquiridos.
 
Para a turma que prefere as respostas diretas:
 
Vinhos do Porto são elaborados adicionando-se, durante a fase de fermentação, uma quantidade de aguardente neutra para interromper o processo. Como nem todo o açúcar é convertido em álcool, o produto final tem sabor adocicado e muito agradável, apesar ao alto teor alcoólico. Este processo é a “fortificação”;
 
Vinhos do Douro são os vinhos, não fortificados, produzidos nesta região vinhateira com as castas típicas de Portugal. Todo Vinho do Porto é, em tese, um “Vinho do Douro”, pois somente lá podem ser elaborados. Mas, dentro desta lógica, nem todo Vinho do Douro seria um Porto.
 
No intuito de não deixar mais nenhuma dúvida sobre este tema, apresento, a seguir, uma extensa relação de tipos de vinhos que são produzidos atualmente. Não pretende ser completa, serão citados, apenas, os produtos mais conhecidos.
 
TIPOS DE VINHOS
 
A primeira grande divisão é quase intuitiva: Espumantes; Brancos; Rosés; Tintos e Vinhos de Sobremesa (doces, fortificados, etc.).
 
1 – ESPUMANTES
 
Podem ser vinificados em Branco, Rosé ou Tinto.
 
Denominações habituais:
 
Champagne – tradicional corte de Chardonnay e Pinot Noir, produzido unicamente nesta região demarcada, utilizando o método Tradicional. Somente estes vinhos podem usar a denominação Champagne.
 
Vin Mousseux – literalmente significa “vinho efervescente”. Logo, o Champagne é um vin mousseux, mas nem todo vin mousseux é um Champagne. Existem outros espumantes franceses que são comercializados com denominações diferentes:
 
    Cremant – produzido no Loire, na Borgonha e na Alsácia;
    Blanquet – elaborado na região de Limoux.  

Cava – típico da Espanha, vinificado com uvas locais como Macabeu, Parellada e Xarel-lo.

 
Prosecco – espumante italiano com denominação protegida. Obrigatoriamente elaborado com a casta Glera, antiga Prosecco, proveniente da região do Veneto (Conegliano, Valdobbiadene).
 
Asti – espumante italiano produzido com a casta Moscato. O mais famoso é o Moscato D’Asti, da região de Monferrato.
 
Lambrusco – vinho frisante italiano produzido a partir das seis variedades da casta Lambrusco, conhecidas como Grasparossa, Maestri, Marani, Montericco, Salamino, e Sorbara. Os mais famosos são os da região da Lombardia (Emilia Romana).
 
Brachetto d’Acqui – espumante tinto e adocicado elaborado na região do Piemonte. Similar ao Lambrusco.
 
Sekt – nome alemão para vinho espumante. Geralmente produzido com Riesling, Pinot blanc, Pinot gris e Pinot noir.
 
Quanto ao teor de açúcar variam de Brut (seco) até Doux (doce)
 
2 – VINHOS BRANCOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Albariño ou Alvarinho
Moscato ou Muscat (*)
Antão Vaz
Pinot Blanc
Assyrtiko
Pinot Gris ou Pinot Grigio
Chardonnay
Riesling
Chenin Blanc
Sauvignon Blanc
Fiano
Semillon
Furmint
Sylvaner
Greco di Tufo
Torrontés
Grüner Veltliner
Verdejo
Malvasia
Viognier

(*) mais de 200 variedades 

Muitas vezes vamos encontrar vinhos brancos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.

Exemplos:
 
Sancerre e Pouilly-Fumé, produzidos com Sauvignon Blanc;
Chablis e Montrachet, obtidos com a casta Chardonnay;
Vouvray, elaborado com Chenin Blanc.
 
VINHOS BRANCOS DOCES: praticamente as mesmas castas produzem algum vinho adocicado.
 
As denominações mais conhecidas são:
 
Sauternes (Semillon, Sauvignon Blanc, e Muscadelle);
Tokaji (Furmint, Hárslevelu);
Gewurztraminer;
Riesling com predicados (Kabinet, Spatlese, Auslese, etc.);
Orvieto Abboccato;
Ice Wines (Eiswein);
Muller-Thurgau;
“Late Harvest” ou “Colheita Tardia”.
 
3 – VINHOS ROSÉS 

As mesmas castas usadas para produzir vinhos tintos podem produzir vinhos rosados. Os mais apreciados são:

 
Cabernet Sauvignon Rosé
Cabernet Franc Rosé
Grenache Rosé (Garnacha)
Pinot Noir Rosé
Syrah Rose
Sangiovese Rose
As denominações mais comuns são:
 
Provence Rosé
Loire Rosé
Bandol Rosé
Rose D’Anjou
Exceções:
 
White Zinfandel, White Merlot, Vin Gris e Blush Wine – são rosados.
 
4 – VINHOS TINTOS
 
As castas mais conhecidas são:
 
Aglianico
Mourvédre
Barbera
Nebbiolo
Cabernet Franc
Nero d’Avola
Cabernet Sauvignon
Petit Syrah
Carménère
Petit Verdot
Dolcetto
Pinot Noir
Gamay
Pinotage
Grenache ou Garnacha
Sangiovese
Cannonau
Syrah ou Shiraz
Malbec
Tannat
Mencia
Tempranillo
Merlot
Touriga Nacional
Montepulciano d’Abruzzo
Zinfandel ou Primitivo
Muitas vezes vamos encontrar vinhos tintos que recebem a denominação das regiões onde são produzidos.
 
Exemplos:
 
Bordeaux – corte com as varietais clássicas de lá: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, entre outras;
Borgonha – sempre Pinot Noir;
Beaujolais – sempre Gamay;
Chianti, Brunello di Montalcino, Vino Nobile di Montepulciano – diferentes vinhos elaborados a partir da casta Sangiovese ou seus clones;
Barolo, Barbaresco – diferentes vinhos elaborados com a casta Nebbiolo;
Châteauneuf du Pape – corte de até 13 varietais típicas do Vale do Ródano, podendo incluir uvas brancas;
Amarone – corte elaborado com base nas seguintes castas: Corvina, Rondinella e Molinara (pode haver outras), previamente passificadas;
Super Toscanos – vinhos elaborados com a uva Sangiovese cortada com uma casta europeia: Cabernet Sauvignon, Merlot, etc..
 
Alguns raros vinhos tintos doces:
 
Ochio di Pernice; Recioto della Valpolicella; Freisa
 
5 – VINHOS DE SOBREMESA (fortificados)
 
A) FORTIFICADOS TINTOS – vinhos que receberam em algum momento do seu processo de elaboração uma quantidade de aguardente neutra.
 
Porto – é uma denominação protegida. Só pode ser elaborado na região vinícola do Rio Douro com castas específicas.
Banyuls – denominação protegida francesa da região de Roussilon
Maury – denominação específica da cidade homônima
Rasteau – denominação protegida do vale do rio Ródano
 
B) FORTIFICADOS BRANCOS
 
Porto Branco – é seco se comparado ao Tinto
Muscat – os mais famosos são os de Frontignan, Beaumes de Venise e Rivesaltes
 
C) FORTIFICADOS E OXIDADOS – além da adição de aguardente são submetidos a processos como altas temperaturas ou Solera para que fiquem com sabor especial.
 
Jerez ou Sherry
Madeira
Marsala
Moscatel de Setúbal
Vin Santo (este não é fortificado)
Dúvidas ainda?
 
Dica da Semana:  nesta época de altos impostos, nada melhor que uma boa relação custo x benefício.

Guatambu Luar Do Pampa Chardonnay
Coloração esverdeada palha com tons platinados.
Aromas de chá verde, notas frutadas, como abacaxi e melão maduros, sobre um final de flores brancas.
Ao paladar, apresenta-se macio, untuoso, frutado e elegante, com acidez pronunciada, que nos brinda um vinho com intensa fruta, como melão e pera, aliado a um grande frescor.
Perfeito para acompanhar frutos do mar, saladas, bruschettas, queijos de pasta branda e frangos.

Vinho na Copa do Mundo 2014

No dia 12 de junho deste ano no inacabado Itaquerão, que deveria ter sido chamado de “Curingão”, ocorreu o 1º jogo da tão esperada Copa do Mundo FIFA, na qual o nosso esquadrão “Canarinho” tentará ser hexacampeão, acalmando os nervos de governantes e cidadãos… Vamos torcer, obviamente, mas sem o mesmo entusiasmo observado em outras épocas, notadamente 1970.
 
Chega de saudosismo!
 
A grande novidade introduzida pela poderosa D. FIFA foi a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, que era proibida por resolução da CBF e foi, tecnicamente, ratificada pelo Estatuto do Torcedor (existem brechas jurídicas). Como um dos patrocinadores desta Copa é a Cervejaria Budweiser, da Inbev, o nosso Senado aprovou, em regime de urgência, A Lei Geral da Copa que, entre outras benesses concedidas para a D. FIFA, libera a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos.
 
Além da cervejota, estarão presentes 3 vinhos tranquilos brasileiros e 1 espumante, que a nossa poderosa e arrogante personagem principal decidiu que seria francês: um Taittinger. Uma tremenda deselegância com os nossos excelentes produtos. Só por isto já valia um protesto!
 
O Sr. Blatter, velho conhecido nosso, é um daqueles personagens que tem até assessor para pegar coisas que caem no chão. Muito necessário no caso dele, pois se abaixar, não levanta mais…
 
Intriga? Olha a prova aqui:
 
 
Para fornecer os vinhos, um branco, um tinto e um rosé, escolheram uma vinícola boutique localizada no Vale dos Vinhedos, a Lidio Carraro. Interessante escolha, pois esta empresa já havia fornecido os vinhos dos Jogos Pan Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Naquela época foram selecionados 5 rótulos da vinícola, entre eles, 2 espumantes.
 
 
Para a Copa foi desenvolvida uma linha especial denominada Faces FIFA World CUP™.
 
Segundo a vinícola:
 
“A cor, os aromas e os sabores do Brasil. A sua terra e a sua gente traduzidos no vinho. Um “time de uvas” em perfeita harmonia, provenientes de distintos terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade do País verde-amarelo! A combinação de uvas escolhida forma o caráter do vinho onde cada uva é responsável por um atributo na composição da cor, aroma e sabor”.
 
O Branco
 
Um corte de três uvas bem adaptadas ao terroir Gaúcho: Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Foram vinificados em separado utilizando-se métodos adequados para cada casta. Depois de amadurecidos em tanques de Inox foi feita uma assemblage na proporção de 1/3 para cada vinho.
 
Na taça mostra cor amarelo dourada brilhante com lágrimas preguiçosas. As primeiras notas sentidas são as que têm como origem a Moscato: rosas brancas, frutas cítricas e frutas exóticas, complementadas com notas de flor de tília e pêssego maduro passadas pelos demais vinhos. O Riesling Itálico contribui com frescor e persistência, além de uma nota delicada de flores brancas cabendo ao Chardonnay ser a estrutura de ligação entre os vinhos, contribuindo com notas frutadas, volume e consistência em boca. O retrogosto é agradável e convidativo.
 

O Rosé

Este vinho foi pensado para ser o preferido nas cidades de clima mais tropical. Algo para ser consumido nos dias quentes, em vez da cerveja. Um vinho descompromissado. A embalagem foi estudada para ter pouco peso e ser fechada com tampa de rosca simplificando sua abertura. Ainda assim, é um vinho elaborado com todos os cuidados exigidos e com o padrão de qualidade da Lidio Carraro.
 
Novamente 3 castas foram selecionadas, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional, representando as diferentes regiões onde se cultivam as viníferas no Rio Grande do Sul. O corte, obtido a partir de vinificações em separado, como no vinho branco, contemplou a seguinte proporção: 50% Pinot Noir, 35% Merlot e 15% Touriga Nacional. Segundo a Enóloga Monica Rossetti, está foi a melhor combinação, obtida após numerosos ensaios.
 
A coloração rosa salmão produz agradável impacto visual convidando a uma degustação descontraída. Os 50% Pinot Noir produzem um caráter essencialmente frutado, com notas como cereja, groselha e pomelo. Aromas complementares de framboesa e morango, que aparecem depois de alguns minutos de evolução na taça, são devido à casta Merlot, exercendo um papel determinante na boca, conferindo um agradável volume e um perfil refrescante e jovial ao vinho. A casta de menor proporção, Touriga Nacional, marca a personalidade do vinho com uma nota floral de rosas e especiarias orientais.
 
 

O Tinto

Foi elaborado com uma interessante característica: 11 castas diferentes, como se fosse um time de futebol, com uma escalação pensada cuidadosamente. Sem dúvida é o vinho mais interessante do grupo. A elaboração foi muito trabalhosa: cada uva foi vinificada de forma independente, utilizando diferentes processos para cada casta. A preocupação da enologia era ressaltar as diferentes combinações de solo, clima e uvas que caracterizam a produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Um resultado interessante. Eis a “escalação”:
 
Goleiro: Malbec;
 
Defesa: Tannat, Nebbiolo, Alicante e Ancelotta;
 
Meio-Campo: Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e Teroldego;
 
Ataque: Cabernet Sauvignon e Merlot.
 
 
Para o corte, os vinhos passaram por fermentação malolática e após vários testes escolheram a seguinte proporção:
 
50% Cabernet e Merlot;
 
35% Tannat, Malbec, Pinot Noir e Teroldego;
 
15% Ancelotta, Nebbiolo, Touriga Nacional, Tempranillo e Ancelotta.
 
Na taça, este vinho remete imediatamente às duas uvas “atacantes” em cor e aromas marcantes. Como num time de verdade, as “meio-campistas” marcam sua presença através de sutis notas de ameixa, chocolate, framboesa e violetas, além de proporcionar volume. Coube ao grupo da “defesa” cuidar da estrutura e dos aveludados taninos. A Malbec, firme no gol, responde pelo final de boca com suas notas frutadas e de especiarias doces.
 
 
Apesar das descrições elaboradas, fornecidas pela vinícola, são vinhos para serem consumidos já. Foram elaborados com todo o cuidado e preocupação com a qualidade, mas isto só não os torna “grandes vinhos” e nem poderia ser diferente. O principal objetivo é comemorar nas vitórias ou consolar nas derrotas. Findo o torneio, serão lembrados como bons companheiros. Tempo de guarda máximo de 3 anos.
 
Dica da Semana: escolham a sua versão preferida.
 
Faces FIFA World CUP$

Aromas! – Final

Os aromas mais comuns em tintos ou brancos não se resumem aos de frutas. Há muitos outros que podem ser identificados por olfatos bem treinados. Fizemos a sugestão do “dever de casa”, mas isto não era obrigatório e nem necessário para apreciar um bom vinho. Era, apenas, desejável.
 
É sabido que os aromas de nossos alimentos e bebidas influenciam o nosso paladar: o cheiro que sentimos definirá o gosto em nosso palato. Isto vale para o vinho embora muito do que se sente no nariz não se repete com a mesma intensidade na boca.
 
Para completar a nossa escala aromática, vamos passear pelas notas que tem origem nas flores, especiarias, ervas, madeira e alguns outros mais raros e curiosos. (apresentaremos os mais comuns apenas)
 
Começamos pelos Tintos:
 
Aromas Florais:
Eucalipto, Hibisco, Lavanda e Rosa.
Aromas Herbáceos e de Especiarias:
Alecrim, Anis, Baunilha, Canela, Hortelã/Menta Orégano, Pimenta do Reino e Sálvia.
Aromas Madeirados e Outros:
Café, Chá Preto, Chocolate, Cogumelos (terra), Couro, Cravo da Índia, Defumado (fumaça), Endro (Dill), Folhas Secas, Grafite, Noz Moscada, Sândalo, Tabaco e Toucinho (bacon). Pode-se acrescentar, novamente, Baunilha, que surge durante o contato com o Carvalho, notadamente o de origem Americana.
 
“Grafite” parece fora de lugar, mas ele existe é já foi um aroma peculiar em alguma fase de nossas vidas, afinal, apontamos muitos lápis…
 
Vinhos Brancos:
 
Aromas Florais:
Flores Brancas, Flor de Laranjeira, Madressilva e Rosa.
Aromas Herbáceos e de Especiarias:
Açafrão, Aipo, Baunilha, Capim, Erva Cidreira, Gengibre, Tomilho e Pimenta Dedo de Moça.
Aromas Madeirados e Outros:
Açúcar Queimado, Amêndoa, Caramelo, Cera de Abelha, Coco, Cogumelos, Creme de Leite, Derivados de Petróleo (Querosene), Manteiga, Mel, Noz Moscada, Pedra de Isqueiro, Pó de Giz, Solução Salina e também Baunilha como no caso do vinho tinto.
 
 
“Pedra de Isqueiro” é aquele aroma que sentimos quando acionamos este acessório e sai uma faísca sem a chama.
 
Querosene, embora seja um aroma quase desagradável, é muito comum nos Riesling alemães ou alsacianos, sendo um indicativo de boa qualidade.
 
Giz ou Pó de Giz é nosso velho conhecido dos tempos de bancos escolares. Um dos aromas minerais mais fáceis de identificar. Outros seriam o de cascalho e terra molhada.
 
Algumas castas têm características mais marcantes e fáceis de perceber. Eis algumas delas:
 
– Cabernet Sauvignon, Malbec, Tempranillo e Syrah tem predominância das Frutas Negras;
 
– Pinot Noir, Grenache, Sangiovese, Merlot e Nebbiolo tem predominância das Frutas Vermelhas;
 
– Viognier, Chenin Blanc, Moscato, Sauvignon Blanc e Gewurtztraminer apresentam com mais facilidade os aromas de frutas de árvores;
 
– Semillon, Chardonnay, Riesling e Pinot Grigio apresentam, quase sempre, aromas cítricos.
 
Dependendo do binômio vinho/casta os aromas podem denunciar alguma coisa a mais sobre o que vamos beber. Os especialistas nas degustações às cegas usam muito estas técnicas. Por exemplo:
 
– num bom Chardonnay o principal aroma de fruta pode variar do limão até o abacaxi, indicando um vinho mais jovem ou mais maduro;
 
– Se um Chardonnay (principalmente) apresentar aromas e sabores “amanteigados” significa que passou por uma fermentação malolática e/ou por madeira;
 
– tintos com aromas de Pimenta do Reino e minerais (cascalho), dependendo da intensidade dos taninos, podem indicar vinhos de Bordeaux (tânicos), Rhône (redondos) ou mesmo alguns italianos se houver algum aroma de fruta por trás;
 
Enfim, há uma série interminável de combinações possíveis e só com muitas “horas de taça” nos tornaremos “experts” neste delicioso assunto.
 

 
Dica da Semana: uma das minhas castas brancas preferidas.
 
 
TERRE DEL FOHN PINOT GRIGIO – 2010 – $
Produtor:Cantine Monfort
Região: Alto Ádige, Trentino, Itália
Delicado, aromático, com sabores encorpados no palato, e um final elegante e bem equilibrado. Excelente como aperitivo, com peixes e carnes brancas.

Desafio Vencido!

Participar de uma ou mais confrarias de enófilos é sempre bom, divertido e uma oportunidade de se degustar ótimos vinhos. Mas ser considerado o “especialista” da turma pode ser complicado…
 
Na Confraria da Lagoa, um dos confrades tem a (justa) fama de ser um excelente cozinheiro, um verdadeiro ‘Chef’, como gostamos de brincar. Ele já havia sido intimado, diversas vezes, a produzir o seu prato de referência, uma (con)fusão entre as culinárias Indiana, Baiana e Grega que leva o artístico nome de “Arroz de Afrodite e Iemanjá”, elaborada cocção com camarões, curry e uma infinidade de outros temperos e acompanhamentos cuja combinação ele, sabidamente, guarda a sete chaves.
 
Como seria necessária uma cozinha completa para o nosso mestre cuca desenvolver a sua arte, encontrar um local para este almoço ou jantar era de importância capital, com várias exigências impostas pelos demais confrades: fácil acesso, opções de estacionamento e temperatura amena ou ar refrigerado. Para dificultar um pouco mais esta sonhada reunião, um último complicador: coordenar agendas…
 
Para resolver o problema só mesmo o Papai Noel! Pensando nisto, decidimos fazer o último encontro do ano e trocar os presentes de amigo oculto ao sabor dos quitutes do nosso “piloto de fogão”. Para apimentar ainda mais a reunião, eu e o meu comparsa da coluna, José Paulo, que gentilmente ofereceu a sua mansão para sediar o almoço, fomos desafiados a harmonizar o prato principal. Desafio aceito, sem mais delongas.
 
 
As dificuldades de conciliar os sabores deste prato, particularmente picante, com uma bebida, de modo a não prejudicar nem um nem outro começam com o ingrediente predominante, o “curry”, de origem indiana, que é um condimento composto por diversas especiarias e pimentas. Escolher um vinho para enfrentar esta avalanche de sabores exigiu uma pesquisa detalhada.
 
Primeiro olhamos o ponto de vista cultural. Na gastronomia da Índia o vinho não aparece como um aliado. Boa parte da população, por motivos religiosos, não consome álcool. Ampliamos o campo de buscas. Outras culturas produzem misturas de condimentos semelhantes, com variações nos ingredientes, obtendo currys mais ou menos picantes, intensos ou saborosos. Conseguimos elaborar uma tabela:
 
Curry amarelo – Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, bem cítrico, é o preferido. Há a opção do Cabernet Franc para acompanhar camarões ou frango. Para carnes vermelhas a aposta seria um Rioja espanhol.
 
Curry tipo Massamam (leva tamarindo) – Viognier, Vouvray ou até mesmo um Chardonnay nos estilos Chileno ou Australiano.
 
Curry verde (em geral muito forte) – espumante Demi-Sec, Gewurtztraminer ou vinho Rosé.
 
Curry vermelho – Riesling Kabinett, Vinho Verde ou Beaujolais Cru de Broully. 
 
Pad Thay (culinária tailandesa) – Prosecco ou Pinot Noir do Oregon.
 
Caso a preparação usasse leite de coco, uma boa aposta seria o Chardonnay madeirado ao estilo californiano.
 
A base do Arroz de Afrodite era o Curry Amarelo, mas o Chef insinuou que usaria outros condimentos picantes o que me fez arriscar e apostar num Gewurtztraminer Alsaciano. José Paulo optou pela linha mais tradicional e indicou um Chablis, excelente Chardonnay francês. Haveria um prato opcional, Penne ao Gorgonzola, para os de paladar sensível ou para os que não apreciam frutos do mar. Para este, a nossa indicação era um tinto de corpo médio. A sorte estava lançada!
 
Marcado para às 13:00, abrimos os trabalhos com uma rodada de espumantes para “fazer a boca”. Para exercitar o maxilar, pastinhas temperadas, pães diversos, torradas e um belo pedaço de gorgonzola. O problema foi que ninguém fixou um horário para que o almoço fosse servido, deixando a cargo do Chef que decidiu pelas 15:00. Até lá…
 
Sucederam-se as garrafas de espumantes!
 
 
Servidos os pratos e abertos os vinhos a surpresa foi total. O Arroz de Afrodite era tudo que fora prometido, estava simplesmente delicioso. O 1º vinho a ser degustado foi o Alsaciano.
 
Perfeito!
 
Podíamos sentir todos os sabores do curry, dos camarões e os do vinho. Excelente equilíbrio. Harmonização tão completa que surpreendeu inclusive ao Mestre Cuca que não estava muito convencido que daria certo. O caráter muito frutado deste vinho faz com ele se apresente quase adocicado, balanceando corretamente o sabor intenso dos condimentos.
 
 
O segundo branco, o Chablis, também cumpriu muito bem sua função, mas com outra perspectiva. Com uma presença cítrica muito intensa, amenizava o lado picante enquanto realçava os sabores dos frutos do mar. Experiência muito interessante. Desafio vencido!
 
 
Para o prato de massa foi selecionado um Montepulciano D’Abruzzo que caiu como uma luva. Como alternativa havia um Merlot que acabou sendo aberto mais tarde.
 
Para completar o banquete era chegada a hora das sobremesas que, obviamente, seriam acompanhadas por uma plêiade de vinhos de colheita tardia, entre eles um Vin Santo branco além de um Brandy de Jerez e um Cointreau: uma maravilhosa torta de goiabada e Mascarpone, e outra especialidade do Chef, morangos flambados ao Cognac Remy Martin.
 
Um luxo!
 
 
Literalmente a “farra foi completa”, a troca de presentes hilária e a vontade de repetir a experiência o mais breve possível.
 
 
Esta coluna entre em recesso até o ano que vem desejando a todos um ótimo Natal e um feliz 2014.

Dica da Semana:  já pensando no inclemente verão que vem por aí, uma opção diferente e gostosa, um vinho rosé argentino.
 
Carmela Benegas Rosé
Este vinho nasce da primeira sangra dos vinhos de guarda da vinícola.
Com atraente cor rubi, tem aromas de flores (violetas) e perfume de frutas.
No paladar é intenso e refrescante. Os sabores são combinados entre frutas vermelhas. É o que provoca sua grande duração na boca.
Um corte de 50% Cabernet Franc e 50% Petit Verdot
 

Quebrando alguns mitos – V

 #5 – Somente vinhos tintos devem ser adegados
 
Este mito altamente improvável começa com um sonho: uma adega climatizada. Dez entre dez enófilos desejam ter uma para chamar de sua e não importa o tamanho, pode ser de 6 ou de 600 garrafas.
 
O problema começa quando temos que decidir o que vai ser adegado, em geral, opta-se pelos tintos, para ser mais realista, qualquer tinto…
 
Neste momento, do ponto de vista técnico, acabamos por dar um destino nada nobre à nossa adega, que pode ter custado um bom dinheirinho: ficou mais parecida com um “frigobar”. Antes de mergulhar em maiores profundidades, respondam sinceramente a algumas questões:
 
1 – Vocês sabem o que é um “vinho evoluído”?
 
2 – Se responderam “sim”, gostam de um vinho destes?
 
3 – Qualquer vinho (tinto, branco, rose, espumante) pode ser amadurecido na garrafa sem prejuízo?
 
Não existem respostas únicas para estas perguntas. Veja como se coloca Jancis Robinson, uma celebrada especialista em vinhos:

“Na sua maioria, os vinhos de hoje devem ser consumidos tão jovens quanto possível, quando ainda se pode apreciar seu caráter frutado. Mas enquanto persiste o mito de que todos os vinhos vão melhorar com o tempo, a realidade mostra que eles estão sendo bebidos muito mais tarde do que muito mais cedo”. 

 
Excepcional poder de síntese de Robinson, quase tudo que precisamos saber está neste pequeno parágrafo. Não caberia nele comentar sobre aromas e sabores do vinho, características que podem mudar sensivelmente após alguns anos de guarda. Começam a surgir os “terciários” e seus sabores associados, típicos de um vinho evoluído.
 
Para quem não lembra mais destas explicações, estamos falando de couro, tabaco, flores e frutas secas, café, pão torrado, alcatrão, carne de caça, verniz, fungos, etc. Não estranhem, não são predominantes (há exceções), mas eles estão lá e vamos sentir um gostinho. Há que aprecie e vibre com isto, mas a maioria não. No final das contas, é isto que se busca quando adegamos um vinho, qualquer vinho.
 
Muito cuidado e atenção serão necessários, não é uma operação do tipo “esquece este vinho na adega que um dia ele fica bom”. Há muitas regras que devem ser seguidas que vão desde a escolha do vinho certo, passando pelo tempo de guarda e a CNTP (para quem não estudou química, isto significa Condições Normais de Temperatura e Pressão).
 
Para os leitores que já se decidiram por fazer uma experiência nesta linha, seja por curiosidade ou por preferirem vinhos evoluídos e para aqueles que ainda duvidam sobre este tema apresentamos, a seguir, um roteiro desmistificador.
 
I – As castas que costumam envelhecer com dignidade
 
Tintas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Nebbiolo, Pinot Noir, Syrah;
 
Brancas: Riesling, Chardonnay.
 
Isto não significa que qualquer vinho destas uvas possa ser envelhecido e nem que somente estas varietais devam passar por este processo.
 
II – Vinhos de sobremesa como os de colheita tardia ou os fortificados, podem ser adegados sem problemas.
 
Usando estes como exemplos podemos compreender as razões e aplicar em outros casos:
 
– alto teor alcoólico – com o tempo de guarda este teor cai tornando a bebida mais agradável;
 
– acidez marcante – outra característica que diminui com a idade melhorando o resultado final;
 
– taninos intensos (para os tintos) – definitivamente ficam “domados” com o passar dos anos;
 
– passagem por madeira – este é o ponto crítico uma vez que esta característica não se dilui com o tempo. Ao contrário, pela queda das demais pode sobressair exageradamente desequilibrando o vinho. Portanto é de fundamental importância na escolha de uma garrafa para ser amadurecida.
 
III – Como decidir o que vale a pena adegar
 
Aqui está toda a graça desta experiência, que pode produzir excelentes ensinamentos. Simples conselhos podem ajudar muito:
 
– estabeleçam uma faixa de preços a partir da qual se pode confiar que o investimento valerá a pena;
 
– comprem pelo menos 2 garrafas, 3 seria o ideal. Degustem uma logo (anotem o resultado ou façam um ficha técnica), abram a outra com 2 ou 3 anos de guarda e comparem o resultado com a 1ª. Se valer a pena, guarde a terceira mais um pouco.
 
IV – Seguindo a nossa “Guru” de hoje, Jancis Robinson, eis uma interessante lista por ela compilada.
 
a) Vinhos que devem ser consumidos logo:
 
os europeus classificados como “de mesa”;
 
os de garrafão ou caixa tipo Tetra Pack;
 
os conhecidos como “vin de pays”, relativamente baratos;
 
os do tipo Beaujolais Noveau, ou “en primeur” ou “novelo”;
 
produtos comerciais com preços até 50 ou 60 reais (a grande maioria deles)
 
os rosés;
 
os espumantes mais em conta. 
 
b) Vinhos que ganham com o tempo:
 
Tintos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Agiorgitiko da Grécia (4–10)
Aglianico da Campania (4–15)
Baga da Barraida (4–12)
Cabernet Sauvignon (4–20)
Grenache/Garnacha (3–12)
Melnik da Bulgária (3–7) (este vinho está sendo revivido)
Merlot (2–10)
Nebbiolo (4–20)
Pinot Noir (2–8)
Raboso do Piave (4–8) (DOC italiana)
Sangiovese (2–8)
Saperavi da Georgia (3–10) (outra casta sendo reabilitada)
Syrah/Shiraz (4–16)
Tannat de Madiran (4–12)
Tempranillo da Espanha (2–8)
Porto Vintage (15-50)
Zinfandel (2–6).
 
Brancos – (tempo de guarda nas condições ideais)
 
Vinhos Botritizados (5–25)
Chardonnay (2–6)
Furmint da Hungria (3–25) (Tokay)
Semillon australiano do Hunter Valley (6–15)
Chenin Blanc do Loire (4–30)
Petit Manseng de Jurançon (3–10)
Riesling (2–30).
 
Para terminar, a lista não é definitiva e nem pretendia ser. Não foram contemplados os Champagnes e outros espumantes de 1ª linha, que podem ser guardados por alguns anos como foi relatado nesta coluna, recentemente, como os Franciacorta. Nem se falou, tampouco, dos vinhos do Cone Sul das Américas. Já tive ótimas
experiências com Malbecs argentinos, Tannats uruguaios e Carmenéres e Cabernets chilenos.
 
Animem-se, arrisquem, experimentem. Nem sempre dá certo, mas sempre vale a pena.
 
Dica da Semana:  para guardar. O tempo vocês decidem….
 
Vinho Chocalán Cabernet Sauvignon Selección
Coloração vermelha intensa e aroma complexo com notas de frutas negras, amora, cassis e notas de tabaco, café e baunilha. Ao paladar, revela-se equilibrado, encorpado e elegante, com taninos bem maduros e final de boca persistente. Ideal para acompanhar carnes vermelhas assadas e queijos maduros.
 
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