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Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos – II

Vino Nobile di Montepulciano e Brunello di Montalcino
Nesta semana mais dois tintos importantes produzidos a partir da Sangiovese, neste caso, com uma sutil diferença: as castas são denominadas, respectivamente, “Prugnolo gentile” e “Brunello” nas regiões produtoras. Uma terceira denominação é a “Sangiovese Grosso”.
Durante muitos anos admitiu-se que estas uvas eram mutações ou alterações da casta principal. Estudos mais recentes mostraram que, apesar do nome, era a mesma uva do Chianti. Para designá-las usamos a expressão clone. O que é isto?
Para melhorar um vinhedo um produtor pode selecionar as melhores vinhas e usando técnicas de “repicar”, multiplica estas vinhas como se fossem cópias da original. Replantar um galhinho ou simplesmente enterrar a ponta de um galho mais longo são as formas mais simples de se melhorar um vinhedo a um custo relativamente baixo. O processo todo até a produção é lento, mas assegura sempre uma boa qualidade.
Vino Nobile
O Vino Nobile, um dos vinhos mais antigos da Itália, é produzido nas proximidades da bela cidade de Montepulciano, a partir da vinificação da Prugnolo Gentile, considerado um clone da Sangiovese, cortada com as varietais Canaiolo e Mammolo, entre outras. Há registros da produção deste vinho desde o ano 789, mas só recebeu a denominação “Vino Nobile” por volta de 1930. Era conhecido como “Vino rosso scelto di Montepulciano”.

Muito semelhante ao Chianti, tem as coadjuvantes Canaiolo que ameniza a aspereza da Sangiovese e a Mammolo que introduz maciez ao vinho. Por lei (DOCG) deve passar um mínimo de dois anos de envelhecimento em barris de carvalho.

O Nobile é uma interessante alternativa ao Chianti, com ótima relação custo benefício. Isto se deve, em parte, a pouca divulgação deste vinho. Em 1965 foi criado o Consórcio del Vino Noble di Montepulciano com o objetivo de proteger a qualidade e divulgar os produtos que incluem o Vin Santo e o Rosso di Montepulciano que é uma versão para ser consumida jovem. Os principais produtores são: Poliziano; Cantina Nottola; Tenuta Valdipiatta e Tenuta Trerose.

No Brasil encontramos com facilidade estes produtos:

Poliziano Vino Nobile di Montepulciano
Este é o maior nome do Nobile. Encorpado, potente e cheio de personalidade, é um bom exemplo do melhor que a região pode produzir. RP 90 pt safra 2006
Custo aproximado: R$ 160,00 (em 2012)

 

Nottola Vino Nobile di Montepulciano
Este vinho é vermelho rubi intenso. Cravo, pimenta e terra úmida surgem primeiro no nariz e são seguidos de amora. Especiarias com aroma delicado de cheiro doce de violeta. Há uma nota madura por trás de toda a concentração densa e ao final do vinho com uma explosão de tempero cereja preta e duradoura. Saboroso e aveludado.
Custo Aproximado: R$ 100,00 (em 2012)


 

Brunello di Montalcino
Ao contrário do anterior que era um corte, o Brunello é um varietal: 100% Sangiovese Grosso. Não são admitidas outras uvas e apesar de alguns problemas, esta tradição é que faz este vinho ser uma das grandes glórias da Itália e do mundo da enologia.
Sua história está ligada à família Biondi Santi, reconhecidos como os inventores do Brunello. Já produziam excelentes vinhos desde 1865, pela mão de Clemente Santi. Dois de seus vinhos foram reconhecidos como excelentes na França, um deles, o “vinho tinto selecionado” seria o avô do Brunello.

Coube a seu neto, Ferruccio Biondi Santi levar adiante o projeto de vinhos longevos. Mas não foi uma tarefa fácil. Estabeleceu rigorosas normas de produção e de higiene elevando a qualidade de seus vinhos a padrões até então desconhecidos. Isto estimulou outros produtores. Mas, ao fim da 2ª grande guerra somente os Biondi Santi ainda produziam. Como num conto de fadas, foi preciso uma grande adversidade para que todo o potencial de Ferruccio como administrador e empreendedor fosse revelado. Os vinhedos de sua propriedade foram atacados por diversas doenças e pela temida Filoxera: a destruição foi completa.

Não se deixando seduzir pelas promessas de um lucro rápido e fácil, retomou com todo o empenho o projeto inicial de seu avô e replantou os vinhedos com o objetivo único de produzir vinhos longevos à base de 100% Sangiovese. Usando as técnicas já descritas no início deste texto, clona as melhores videiras por toda a sua propriedade. Foi um pioneiro antecipando em mais de um século a tendência dos toscanos de hoje: vinhos encorpados e duradouros. Faleceu em 1917 sendo sucedido por seu filho Tancredi. Em 1932 uma comissão interministerial do governo da Itália reconheceu Ferruccio como o inventor do Brunello moderno.
Tancredi continuou e expandiu o estilo de seu pai. Respeitadíssimo como vinicultor, era constantemente convidado a prestar consultoria em outras regiões, como as dos vinhos Lugana, Chianti, Ciró, entre outros. Partiu dele a sugestão de denominar como “Nobile” o vinho de Montepulciano.

A Biondi Santi é respeitada até os dias de hoje como o principal produtor de Brunellos, mantendo a fama e tradição obtida através de tantos anos. Hoje comandada pelo preparado Dr. Franco Biondi Santi, filho de Tancredi, mantem os mesmo ideais de sempre. Coube a ele expandir a área plantada para 25ha e manter e espetacular coleção de safras em sua adega que vem desde 1888. Seus dois filhos já trabalham no negócio e se preparam para sucedê-lo.

Em 1999, um grupo de respeitados especialistas elegeu o Biondi Santi, safra 1955, como o “Vinho do Século”. Uma honraria digna desta linda história.
Hoje existem na região cerca de 200 produtores. Manter a qualidade de todos eles é o desafio. Houve em 2008 o escândalo chamado de “Brunellogate” quando vários produtores importantes tiveram seus vinhos confiscados pelo Ministério Público sob a alegação de fraude: uvas não autorizadas teriam sido usadas na vinificação. Depois de acaloradas discussões, o vinho foi liberado à venda sob a denominação “Rosso di Montalcino”. Mais tarde, após estudos feitos em centros respeitados, quase nada ficou comprovado. A maioria dos vinhos suspeitos era mesmo o verdadeiro Brunello.
Se o Chianti era comparado com os vinhos de Bordeaux, o Brunello é equiparado aos Pinot da Borgonha por seus taninos macios e maduros e o caráter frutado de seu corpo. Os aromas e sabores mais comuns são amora, cereja e framboesa escuras, chocolate, couro e violetas. Sua boa acidez o faz um perfeito acompanhante para carnes grelhadas e suculentas.
Não é um vinho para ser bebido jovem. Um bom Brunello só vai estar pronto depois de 10 anos no mínimo de espera. Os melhores só mostram suas excepcionais qualidades após algumas décadas…
Além de Biondi Santi, destacamos estes produtores importantes: Fattoria dei Barbi, Castelo di Banfi, Argiano, La Pieve di Santa Restituta.

Brunello di Montalcino Biondi Santi
De incrível reputação e prestígio, é o mais tradicional e aristocrático nome de Montalcino. Foi apontado pelo Gambero Rosso como o melhor Brunello na safra de 2003, coroado com os cobiçados “3 bicchieri”. Mostra o bouquet clássico, com frutas escuras e especiarias. Na boca é amplo e potente, austero, no estilo mais tradicional possível. Um verdadeiro monumento ao vinho da Toscana.
Custo aproximado: de R$ 800,00 a R$ 2.800,00 dependendo da safra (2012)
 

Dica da Semana: um irmão menor do Vino Nobile.
 

Nottola Rosso di Montepulciano DOC 2010
Castas: 80% Prugnolo Gentile, 15% Cannaiolo, 5% Mammolo
Produtor: Villa Nottola
Envelhecimento: 6 meses em barricas de carvalho eslovenas
Cor intensa vermelha rubi. Aroma de frutos vermelhos escuros com notas de violeta e especiarias. Um corpo suave, com notas elegantes de frutas harmoniosamente equilibradas e com taninos macios. É considerado “irmão” do Vino Nobile de Montepulciano: emocionante, complexo, leve e frutado.
RP: 89 pt
       

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 3ª parte

Gewüztraminer
A grafia logo acima é como deve ser escrito o nome desta varietal, com um trema sobre a letra “u”. Um nome de origem germânica, ou como já se pronunciaram alguns leitores, um palavrão de difícil pronúncia. Como pedir um vinho desta casta?
Separamos em três partes, ge-würz-traminer e pronunciamos assim:
Ge = “gue”
würz = “vúrz”
traminer = “tramíner”
Agora é só juntar tudo numa única palavra – “guevúrztramíner” e nunca mais usar a desculpa de não saber como pedir.
Neste simpático vídeo são apresentadas diversas expressões em alemão relativas ao vinho. Por volta do 1:06 minuto está a pronúncia original. Divirtam-se:
http://www.youtube.com/watch?v=c9yyzkx5g78
A Gewürz é única, não há outra parecida com ela e os vinhos obtidos não são para qualquer um: ficam na categoria do ame-o ou deixe-o. Traduzindo, poderíamos chamá-la de Traminer temperada ou Traminer perfumada. Esta família é uma das mais complexas do mundo do vinho, com um genoma de múltiplas ramificações. Teria sua origem ligada à vila de Tramin, na parte do Tirol que hoje pertence à Itália. A casta denominada Traminer teria características ampelográficas semelhantes à uva Savagnin Blanc (não confundir com Sauvignon Blanc) usada nos Vin Jaune da região francesa do Jura.
Em algum momento da história, ou a Traminer ou a Savagnin sofre uma mutação surgindo a Traminer Rose ou Savagnin Rose. A epidemia de filoxera desencadearia mais uma evolução, esta com características almiscaradas, dando origem à Gewürztraminer. Especula-se que a versão atual tenha surgido por meio de enxertia. Do Tirol a uva se espalhou pela região do Reno chegando à Alsácia através do Palatinado.

Interessante notar que as características dos vinhos produzidos nas diversas regiões onde está plantada, são muito diferentes entre si, principalmente Alemanha e Alsácia. Admite-se que existe, até hoje, uma confusão com todos os nomes pela qual é conhecida: Frankisch na Áustria, Gringet na Savoia, Heida na Suíça, Formentin na Hungria e Grumin na Bohemia. Apesar de serem sinônimos, podem não se referir ao mesmo tipo de uva. Os alsacianos reduziram o nome para Gewurz, sem o trema, em 1973, exceto para a região de Heiligenstein, deixando bem claro que sua uva não é mais da família “Traminer” e sim uma varietal única em seu território.

Diversos países plantaram esta varietal além de França e Alemanha: Austrália, Canadá, Itália, EUA, Chile, Argentina e até no Brasil, onde se produz alguns vinhos bem interessantes. Mas nada chega perto da qualidade dos alsacianos, um espetáculo à parte.
Para os vinicultores ele é uma “dama de difícil trato”. São necessários solo e clima compatíveis, o que explicaria a perfeita adaptação na Alsácia. Não gosta de solos calcários e tem uma forte tendência a pragas e doenças, principalmente por sua floração precoce. Embora necessite de verões quentes e secos, amadurece de forma irregular e tardia. Naturalmente muito doce, é pouco ácida o que dificulta enormemente a elaboração dos vinhos. Por esta razão, brilha intensamente nos “late harvest”.

Os vinhos são vigorosos, intensos e às vezes rudes, mas sempre maravilhosos. Lichia é a principal assinatura nos aromas e sabores que incluem, de forma bem clara, Rosa, Maracujá, e Manga. Exótico e Inconfundível!

Semana que vem vamos conhecer um pouco mais sobre esta região e seus grandes vinhos. 
Dica da Semana: de uma das melhores vinícolas chilenas uma ótima relação custo x benefício

 

ADOBE GEWURZTRAMINER
Produtor: Vinhedos Emiliana – produção orgânica certificada

País: Chile/Vale do Cachapoal

Apresenta coloração amarelo pálido, limpo de transparente. Os aromas apresentam notas florais de jasmim e rosas, mesclando com notas suaves de ervas e frutas tropicais. Em boca, novamente aparecem notas florais e frutadas, deixando uma sensação doce, com uma delicada acidez. Saboroso, longo e persistente.
Harmonização: pratos temperados ou picantes, culinária oriental.

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – 1ª parte


Três uvas importantes que produzem fenomenais vinhos brancos. A primeira já passou por estas páginas quando visitamos os vinhos alemães, mas ela brilha em outros terrenos a ponto de fazer uma dura concorrência e gerar milhões de apaixonados pela sua versão francesa, produzida na Alsácia. 

Vamos conhecer um pouco mais sobre esta curiosa região franco-alemã, sua uvas, e seus vinhos. 
Riesling 
Originária da região do Reno, esta uva é considerada como a verdadeira rainha dos brancos em franca oposição à Chardonnay. Produz vinhos muito aromáticos, perfumados, com claras notas florais e alta acidez. Dados estatísticos de 2004 mostram que esta varietal é a 20ª mais plantada no mundo e seus vinhos estão sempre entre os melhores brancos do planeta. 
Isto se deve a uma característica muito particular: é a uva que melhor expressa o terroir em que está plantada. Um Riesling do Reno é diferente do Alsaciano que é diferente do Australiano e assim por diante. Para os apreciadores, a disputa pelo melhor fica restrita entre França e Alemanha. Podem ser produzidos desde vinhos secos até os doces, de colheita tardia bem como espumantes. Raramente são envelhecidos em madeira o que sugere que devem ser consumidos jovens, mas devido sua acidez característica, suportam muito bem um longo período de guarda. Os secos duram de 5 a 15 anos, os meio-doces de 10 a 20 anos e os late harvest duram 30 ou mais anos. Há registros de Riesling alemães com mais de 100 anos. 
Chegaram à Alsácia em 1477 adaptando-se ao tipo de solo mais calcário desta região. Tecnicamente o Riesling alsaciano é considerado uma variação de sua irmã germânica. Seus vinhos são mais alcoólicos e mais redondos devido às técnicas francesas de vinificação. 

Rieslings maduros tem uma tendência a apresentar aromas e sabores de derivados de petróleo, querosene principalmente. Existe uma discussão interminável se esta característica é uma qualidade ou um defeito. Podemos ter certeza, apenas, que é um autêntico. Esta uva é encontrada nos principais países produtores, entre eles Austrália e Nova Zelândia, Áustria, Estados Unidos e Canadá, Chile, Argentina e Brasil. 
Seus vinhos são de fácil harmonização sendo muito versáteis: do peixe à carne de porco, passando sem problemas pelos sabores condimentados das culinárias Thai e Chinesa. 

Resposta ao Desafio da semana passada 
Como ninguém se deu ao trabalho de pesquisar, eis a resposta. Quando se trata de proteger seus domínios, os franceses são imbatíveis. Em 1954, após o relato de numerosos casos de OVNIs, o Prefeito da comuna de Châteauneuf-du-Pape, Lucien Jeune, editou um decreto municipal: 

“Art. premier. Le survol, l’atterrissage et le décollage d’aéronefs dits soucoupes volantes ou cigares volants de quelque nationalité que ce soit, sont interdits sur le territoire de la commune. 
Art 2. Tout aéronef, dit soucoupe volante ou cigare volant, qui atterrira sur le territoire de la commune, sera immédiatement mis en fourrière. 
Art 3. Le garde champêtre et le garde particulier sont chargés, chacun en ce qui le concerne, de l’exécution du présent arrêté”. 

Tradução: 
1º – Ficam proibidos no território desta comuna, o sobrevoo, a aterrissagem ou a decolagem das aeronaves conhecidas com discos voadores ou charutos voadores, de qualquer nacionalidade que seja. 
2º – Toda aeronave denominada disco voador ou charuto voador que aterrissar neste território será imediatamente arrestada. 
3º – A Guarda Campestre e a Guarda Particular estão incumbidas, cada uma em sua área, da execução do presente decreto. 
O curioso é que esta postura está válida até hoje, ninguém se deu ao trabalho de revogá-la! 
Do outro lado do mundo, na Califórnia, um moderno e atrevido produtor, Bonny Doon, lançou em 1984 uma família de vinhos elaborados nos moldes dos Châteauneufs. Bem ao seu estilo informal e quase debochado, o nome escolhido não poderia ser outro Le Cigarre Volant, ou Disco Voador… 

Cantinho do Gils: Nosso sempre atento comparsa nos traz uma preciosa informação sobre o 6º Concurso Internacional de Vinhos do Brasil, ocorrido em Bento Gonçalves entre os dias 03 e 06 deste mês de Julho. Reuniu 503 amostras de 17 países que foram avaliadas por um júri formado por 45 degustadores de 11 nacionalidades. Foram premiados 148 vinhos de 12 países. A relação completa está neste link: (download formato PDF) www.enologia.org.br/pt/component/kd2/item/download/3 

Dica da Semana: vinhos da Alsácia são maravilhosos, mas muito caros. Depois de uma boa pesquisa encontramos esta joia: 

Riesling 2009 
Produtor: P.E. Dopff & Fils 
País: França/Alsácia 
Uvas obtidas em vinhedos próprios, rendimento limitado e colheita manual. A vinificação é tradicional em tanque de aço inoxidável com controle de temperatura. Não sofre fermentação malolática e nem passa em barrica. Um Riesling, seco e marcante, bem típico da Alsácia. Mostra notas floras e minerais e uma ótima acidez. Pode ser guardado por até 10 anos. 
Harmonização: Frutos do mar e pratos orientais.

Lidando com os Enochatos

Este é um fato quase inevitável: à medida que vamos aprofundando no mundo do vinho, esbarramos com um determinado tipo que se acha superior aos demais. Eles aparecem em qualquer lugar, nas degustações, nas festividades, na mesa vizinha no restaurante, são onipresentes. 
Para lidar corretamente com esta situação, precisamos conhecer a personalidade de um bicho destes. Em geral, são eles que se intrometem oferecendo um comentário que ninguém solicitou. Podemos ter certeza que frequentaram algum curso sobre vinhos e, a partir daí, acham que sabem mais que todo o mundo. Muitas vezes nos deixam em situações embaraçosas, por exemplo, ao comentar a qualidade de um vinho servido num evento, na frente de quem selecionou a bebida (ele nunca vai estar satisfeito com qualquer vinho que lhe sirvam) afirmando que outro vinho seria mais adequado. 
Se houvesse um manual de psicologia, esta atitude seria qualificada como uma autodefesa que esconde as suas deficiências enológicas. Simplificando, o enochato não entende de nada, mas gosta de cantar de galo. Isto não torna as coisas mais fáceis, mas podemos tomar algumas atitudes para conviver com o tipo. 

1ª – Nunca beba vinho com um Eno Chato. 
Este é o melhor conselho: evite-os. Nem sempre será possível e algumas vezes teremos que caminhar pelas raias da má educação, mas é preferível não desarrolhar uma garrafa na presença de um deles: pode ser um desastre. A saída ideal é adotar uma atitude sarcástica e afirmar, na lata: com você não bebo vinho, prefiro abrir uma cerveja. 
Além do consumo, devemos evitar conversas sociais sobre esta bebida, ao menor descuido, lá vem ele querendo ensinar padre a rezar missa. Haja paciência… 
Se for inevitável a sua companhia… 
2ª – Desafie-o: faça o teste da prova às cegas. 
Mesmo um grande conhecedor de vinhos vai ter muito trabalho para reconhecer a uva e a origem de um vinho provado no escuro. Baseado nisto, uma das maneiras de calar o nosso inconveniente companheiro é desafiá-lo para uma provinha. Mas não podemos facilitar as coisas, se ele acerta estamos perdidos… 
Um bom truque é usar um vinho de corte para o teste. Preferencialmente um fora do circuito mais conhecido. Um bom vinho português com aquelas uvas que só tem por lá é tiro e queda. 
A nosso favor está o fato que o personagem de hoje poderá ser facilmente desmascarado na frente de todos. 
Se nada disto resolver, seguimos com mais uma sugestão. 

3 ª – Bombardeie com muitas dúvidas. 
Todo enochato é insatisfeito com a vida e reclama das coisas mais bobas. Se prestarmos atenção, ele mesmo vai nos fornecer a munição adequada para enfrentá-lo. A lista de questões tem que ter duas características: 
1 – devem ser dirigidas à pessoa, jamais pergunte numa forma genérica ou impessoal; 
2 – usem sempre o modo negativo, por exemplo, por que você não gosta disto? 
Algumas sugestões que podem ser usadas livremente:
– Por que razão você não bebe vinho desta safra?
– O que você não aprecia nos vinhos (cite qualquer país)?
– Como é mesmo a sua explicação para não comprar vinhos de tampa de rosca? 
Só precisamos estar seguros de conhecer as respostas corretas e não abusar, neste caso, o feitiço pode virar contra o feiticeiro. A manobra é para obrigá-lo a contar o maior número de abobrinhas possível, ridicularizando-o. 
4ª – Chame-o à razão 
Como eles se acham os donos da verdade, nem sempre trazê-los à razão é uma tarefa fácil. Mas vale a pena tentar se os argumentos forem sólidos. Como o negócio deles é criticar, nunca se dão conta de um velho ditado que diz: cada coisa em seu lugar. Adaptando para o nosso relato, existe um vinho para cada situação. 
Um exemplo clássico é um evento, como num casamento, em que um vinho mediano é servido. Bem entendido que isto é o correto, mas eles sempre querem algo superior – criticar um vinho que custa vinte ou trinta reais não tem graça… Este é o momento de imprensar o seu chato favorito: O que você queria que servissem? Um Chateau Petrus? (ou outro vinho do mesmo nível). 
Quase sempre funciona, mas tem umas almas empedernidas! 

5ª – O Contra–ataque: mas com as suas regras. 
Esta jogada, se bem executada, é um xeque-mate. Vamos usar algumas expressões bem genéricas, de grande efeito, para confundi-lo. A trama é nos passarmos pelo expert acabando com a graça de sua encenação. Temos que nos antecipar ao que ele poderia criticar. 
Eis uma boa lista, mas antes uma recomendação: não abusem! Podemos ser chamados de enochatos também:
– Este vinho precisa respirar um pouco. (podemos usar em qualquer degustação de tintos)
– Está jovem demais, ganharia muito com mais alguns anos na garrafa! (idem)
– Aromas de pera e maçã. (ideal para Chardonnay)
– Muito maracujá e frutas cítricas. (Sauvignon Blanc)
– Querosene! (Riesiling Alemão ou Alsaciano)
– Toneladas de frutas vermelhas. (aplica-se a qualquer Pinot Noir)
– Muita/o: terra/trufa/azeitona/herbáceo/mineral. (para qualquer tinto do Velho Mundo)
– Taninos domados. (idem)
– Refrescante e com boa acidez – óbvio que não passou por madeira. (use com a maioria dos brancos jovens, precisamos ter certeza que não foram barricados)
– Amanteigado. (idem para brancos que passaram em madeira)
– Ótimo no nariz. (somente se realmente for aromático)
– Este vinho pede uma comida. (esta é clássica, uso universal) 
Se a situação chegou ao extremo, podemos apelar para esta saideira:
– Certamente você não leu a última Coluna de Vinhos do Tuty… 

Dica da Semana: para enochato nenhum botar defeito. 

Gayda Syrah 2009 

Produtor: Domaine Gayda País: 
França / Languedoc-Roussillon 
Vinhedos: Brugairolles (200m de altitude) e La Livinière (250m de altitude) 
Vinificação: Maceração a frio por uma semana. Fermentação natural com temperatura de 26-28°C. Maturação: 10% permanece em barricas de carvalho de 1, 2 e 3 anos por 9 meses. 90% permanecem em tanque com as borras. 
O saboroso Syrah do Domaine Gayda foi um dos únicos 9 vinhos franceses que mereceram a medalha de ouro no concurso Syrah du Monde, comprovando sua ótima relação qualidade/preço. Encorpado, com camadas de frutas negras e grande frescor, é uma bela descoberta para os amantes da casta Syrah.

Aberta a temporada de enogastronomia!

Com a chegada das temperaturas mais amenas do outono e inverno, podemos passar a consumir mais vinhos e comidas ricas que combinem com tintos potentes que não seriam as escolhas na época do verão. Os estados da região sul são mais privilegiados com variações de temperaturas menos marcantes. Mas outros cantos deste país, sudeste, norte e nordeste, entre outros, são castigados por inclementes verões e, consumir vinho nestas temperaturas exige alguma engenharia térmica… 
Como aproveitar bem esta temporada? 
Uma das opções mais interessantes, do momento, são os Wine Bars, bastante populares nas grandes capitais. Podem ser descritos como um meio termo entre um restaurante e um bar. Alguns podem ser focados num único tipo de vinho, como as Champanherias, outros se especializam em oferecer um simpático cardápio de acepipes para harmonizar com a carta de vinhos, cheia de interessantes opções. 
Marcio Martins e sua esposa Andréa Svaiter, ele um enófilo, ela jornalista, resolveram fazer uma guinada em suas vidas entrando para o ramo da gastronomia. Aproveitando o espaço de uma antiga lavanderia na Rua Bolivar, em Copacabana, deram partida no projeto de um pequeno bistrô que atendesse a este segmento onde não havia opções como as de seus sonhos. Do nome até o cardápio, passando pela decoração, tudo foi pensado para atender, com categoria, o mais exigente cliente. Contrataram a consultoria dos experientes Chefs Ciça Roxo e Joca Mesquita, responsáveis pelo sucesso do bar de tapas Venga e puseram mãos à obra. 
Vamos conhecer o Zot (*), que apesar de ser homônimo de uma excelente cerveja Belga, tem se tornado uma referência nas harmonizações com vinho. (e cerveja) 

A casa é um charme só com uma decoração moderna, clean, bem iluminada. Simpáticos quadros negros nas laterais oferecem desde as sugestões do dia até criativas mensagens que ajudam na ambientação. O cardápio, pensado para oferecer pequenas porções, é o ponto alto proporcionando diversas experiências a um custo bem adequado ao bolso da maioria dos mortais. Entre opções quentes e frias, destacam-se as crocantes Bombas de Camarão, a saborosa Brandade de Bacalhau com Baroa, o espetacular Salame de Atum e a Degustação de Queijos de Cabra da Fazenda Genève. 

Para harmonizar uma enxuta carta de vinhos com interessantes opções: bons espumantes brasileiros, brancos, tintos e até um solitário rosé. Todos com preços justíssimos. Um fator importante que demonstra a preocupação de Márcio com a sua adega é a presença de vinícolas boutiques brasileiras como Máximo Boschi e Don Guerrino, este último, um dos indicados nesta coluna. 
Para os não enófilos, há uma boa carta de louras… 
Como opção, para os que não desejam consumir uma garrafa inteira, a casa oferece as garrafinhas de 187 ml de vinho com se fossem taças. A política de rolha é correta, o lugar é wine friendly, ou seja, sua garrafa é benvinda. (consulte antes, por favor). 

Não existe um Wine Bar em sua cidade? 
Nas principais capitais ou grandes cidades há sempre uma boa opção. Mas o que falar sobre cidades menores onde o vinho é um artigo raro e difícil de ser adquirido? 
Não desanimem! Está na hora de abrir aquelas garrafas que guardamos diligentemente à espera de uma boa oportunidade. Convide alguns amigos (nada mais triste do que beber um bom vinho sozinho), organize alguns acompanhamentos, queijos, frios, pães, patês e aproveitem a degustação. Sejam simples, sem preocupações com sofisticação. Uma excelente opção para os dias mais frios é uma boa sopa, como um Creme de Cebolas ou um prato de massa, na manteiga e sálvia. 
Saúde e Bon Apetit! 
Contem para a gente se houver um bom bar em sua cidade. 
Cantinho do José Paulo Gils, meu comparsa nesta coluna: 
Concurso Mundial de Bruxelas 2012 elege vencedores 
Nos dias 4, 5 e 6 de Maio, os jurados do Concurso Mundial de Bruxelas 2012, provaram 8.397 vinhos oriundos de 52 países. Para avaliá-los, a organização chamou sommeliers, compradores, importadores, jornalistas e críticos de vinhos. Ao todo foram 320 os jurados, provenientes de 40 países diferentes. 
Os melhores prêmios -Best Wine Trophy, são atribuídos aos vinhos que, dentro de cada categoria (foram seis), receberam a maior pontuação. A que será certamente mais importante, a de vinhos tintos, foi ganha pelo vinho do Alentejo Poliphonia Signature 2008, da Granacer (Reguengos). A Espanha foi o país que mais levou medalhas Grande Ouro – 21 – cabendo à França 15. Portugal e Itália ficaram com 10 cada. 
Eis os vencedores de cada categoria: 
Melhor Espumante: Joly-Champagne Cuvée Spéciale (Champagne – France) 
Melhor Vinho Branco: Hacienda Zorita Verdejo 2011 (Rueda – Spain) 
Melhor Vinho Rosé: Theopetra Estate Rosé 2011 (Meteora – Greece) 
Melhor Vinho Tinto: Poliphonia Signature 2008 (Vinho Regional/Alentejo – Portugal) 
Melhor Vinho de Sobremesa: Samos Nectar White 2008 (Samos – Greece) 

Dica da Semana: um bom tinto de Portugal, preferência nacional. 

Esteva Tinto 2009 
Pais: Portugal/Douro 
Produtor: Casa Ferreirinha 
Castas: Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca 
Atrativo e elegante, alia carácter e versatilidade numa escolha muito acessível, ideal para o dia a dia. Esteva integra a gama de vinhos da celebrada Casa Ferreirinha, a marca especialista com mais tradição de vinhos de qualidade no Douro e uma das suas maiores referências mundiais. Segundo o Wine Advocate, o newsletter de Robert Parker, mostra boa profundidade para sua faixa de preço. 

Fotos do texto obtidas no site Enoeventos. 

(*) Zot Gastro Bar Rua Bolívar, 21 – Copacabana Tel: (21)3489-4363 Horário Terça a quinta: 18-24h Sexta e sábado: 18-01h Domingo: 12-24h

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