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Os Grandes Vinhos do Mundo – Lendas norte-americanas – 1ª parte

Dois vinhos importantíssimos. Foram os grandes campeões da famosa degustação às cegas organizada em Paris, no ano de 1976. Derrotaram marcas famosas e causaram, de forma indiscutível, uma grande alteração no mapa mundi do vinho. 
A Califórnia entrou em cena! (em grande estilo). 
O Tinto 
Imaginem uma vinícola, com apenas 6 anos de fundada, enviar um de seus vinhos para ser julgado, na França, sendo comparado com os fabulosos Château Haut-Brion, Château Mouton-Rothschild, Château Leoville Las Cases, Château Montrose e ser considerado o melhor da prova? 
Os julgadores? Nomes do maior respeito na época: 
Pierre Brejoux (França) – Instituto das Denominações de Origem 
Claude Dubois-Millot (França) – Guia Gault e Millau 
Michel Dovaz (França) – Instituto dos Vinhos da França 
Patricia Gallagher (Americana) – Academia do Vinho 
Odette Kahn (França) Editora da La Revue du Vin de France 
Raymond Oliver (França) – Restaurante Le Grand Véfour 
Steven Spurrier (Inglês) – crítico de vinhos e organizador do evento 
Pierre Tari (Frença) – Chateau Giscours 
Christian Vanneque (França) – Sommelier do Tour D’Argent 
Aubert de Villaine (França) – proprietário do Domaine de la Romanée-Conti 
Jean-Claude Vrinat (França) – Restaurante Taillevent 
O vinho apresentado foi o Stag’s Leap Wine Cellars Cabernet Sauvignon, safra de 1973. Vinificado por Winiarsky e seu enólogo, na época, Tchelistcheff, utilizou uvas colhidas de videiras extremamente jovens da área denominada S.L.V. O processo de vinificação ainda estava sendo ajustado. Um produto que tinha tudo para dar errado, um azarão. No entanto, tornou-se o vinho mais comentado da época e elevou a vinícola ao status de grande estrela.

O vinho, embora tenha uma denominação varietal, é um corte de 93% Cabernet e 7% de Merlot, respeitando a legislação americana. Por seguir uma receita de vinificação considerada clássica, os produtos da Stag’s Leap são muito diferentes daqueles dos produtores vizinhos, embora todos compartilhem um mesmo terroir. Os vinhos de Winiarsky são considerados dinâmicos, harmoniosos, equilibrados e transcendentes. Após a compra do vinhedo Fay, em 1986, houve um replantio das videiras o que forçou a mudança do nome, deste vinho, para Cask 23. Atualmente é considerado o melhor Cabernet dos EUA. Caríssimo!

Curiosidades: 
– existe uma outra vinícola com um nome semelhante, a Stags’ Leap Winery. Reparem que a diferença entre os nomes é, basicamente, a posição do apóstrofo – Stag’s e Stags’ – fruto de uma decisão judicial de 1986 que aproximou os dois vinhateiros, Winiarsky e Doumani. Para selar a nova amizade, produziram um vinho com uvas das duas propriedades, denominado Accord (Acordo);
– uma das poucas garrafas existentes faz parte da coleção do Smithsonian National Museum of American History;
– há uma garrafa desta mitológica safra para vender, em Hong Kong, por R$ 1.400,00; (pesquisa realizada em 2012).

Em 2007 a vinícola foi vendida para um consórcio formado pelo Chateau Ste. Michelle, uma vinícola do estado de Washington e pela italiana Marchesi Antinori Srl. O valor foi 185 milhões de dólares. 

Dica da Semana: A Stag’s Leap produz uma linha de vinhos mais acessíveis, a Hawk Crest, que se encontra à venda no Brasil. São um pouco mais caros que produtos chilenos ou argentinos, mas vale o investimento. 

Hawk Crest Cabernet Sauvignon 2006 
Produtor: Stag’s Leap Wine Cellars / 
Estados Unidos Elaborado pela aclamada vinícola Stag’s Leap Wine Cellars, produtora do mítico Cask 23, o Hawk Crest mostra concentração e profundidade de fruta e excelente relação qualidade/preço. 

Na próxima semana, vamos conhecer o Chardonnay que abalou a França.

Misturado e Variado

Pequenos pedaços de informação que, sozinhos, não seriam suficientes para uma coluna. Aproveitando que esta é a última do ano, montamos esta colcha de retalhos. 
Sabrando um Espumante 

A festa de ano novo é uma ótima ocasião para abrir um bom espumante. Mesmo para a turma que tem escorpião no bolso, vale lembrar que é uma vez só. Muitos preferem desperdiçar este precioso líquido num alegre jorro na décima segunda badalada do relógio, no dia 31. Se for o caso, usem um espumante bem baratinho (e não o beba, por favor, vai começar mal o ano). A Sidra, espumante obtido a partir do suco de maçãs, é perfeita para este ato. 
Vamos introduzir um pouco de classe nesta brincadeira. A história nos conta que Napoleão Bonaparte teria sido o primeiro a abrir uma garrafa de espumante com o seu sabre, comemorando suas vitórias lá no século XVIII. E a coisa nunca saiu de moda. A técnica é relativamente simples, mas alguns cuidados devem ser observados. Assistam a este vídeo do Prof. Marcelo Copello. Se forem corajosos e habilidosos… 
http://www.youtube.com/watch?v=E5dLgKElRBE 
Não se preocupem com a qualidade do que for servido depois da degola da garrafa: a alta pressão do vinho expulsa qualquer resíduo do corte. Totalmente seguro. 
Não tente fazer um show antes de treinar bastante, o mico pode ser grande… 
Para comprar um sabre, consulte: 
https://www.boccati.com.br/produto.php?c=3300&iaoa=1 
http://www.vinhosnet.com.br/produto.php?action=detalhes&codigo=544 

Lentilhas no Ano Novo = Prosperidade 
Esta é uma tradição que rivaliza com o Gnocchi da Fortuna, prato consumido no dia 29 de cada mês. Tem origem Bíblica, na passagem sobre Esaú e Jacó (Gênesis 25), que trata da venda do direito de “primogênito” por um prato de sopa de lentilhas. Outra corrente acredita que esta lenda tem origem no formato deste fabuloso grão, semelhante ao de pequenas moedas que, ao serem cozinhadas, incham aumentado de tamanho. Uma verdadeira aplicação financeira. 
Existem inúmeras receitas para o Reveillon: desde a Lentilhada até uma refrescante e saborosa salada. Os pontos importantes a serem observados são: 
– qualquer tipo serve, tradicionalmente, usam uma dourada, comum na Itália, mas rara por aqui; 
– deve entrar alguma carne de porco no preparo, um embutido chamado Zampone é o mais comum. Bacon é outra boa opção; 
– devemos guardar alguns grãos não cozidos na carteira, renovando a cada ano. Os grãos descartados devem ser jogados em água que corre, jamais num local de água parada; 
– ofereça grãos crus aos seus amigos e familiares, respeitando o ritual anterior. 
Harmonizando com Lentilha 
Entra em cena o Lambrusco, um vinho tão polêmico que alguns enófilos não o consideram. Preferências à parte, ele é a combinação clássica da lentilha com carne de porco. 

Obtido a partir da casta homônima, é produzido em diversas regiões da Itália, existindo cinco áreas demarcadas: 
Lambrusco Grasparossa di Castelvetro – a menor delas, situada ao sul da cidade de Modena. Produz um vinho seco e encorpado com taninos marcantes. Coloração vermelho-púrpura; 
Lambrusco Mantovano – única região fora da Emília-Romana. Produz vinhos secos e meio secos; 
Lambrusco Reggiano – a maior região produtora e exportadora com denominação DOC. A versão doce, bastante popular, é leve e frisante enquanto os vinhos mais secos são encorpados e escuros. 
Lambrusco Salamino di Santa Croce – localizada nas proximidades da cidade de Sorbara, produz vinhos secos ou suaves, de corpo leve, frisantes e de coloração clara; 
Lambrusco di Sorbara – localizada ao norte de Modena, produz os vinhos considerados de melhor qualidade, muito aromáticos, de coloração escura e encorpados. 
Um vinho fácil de beber, semelhante a um espumante, agradável e refrescante. Existem versões em tinto, branco e rosé. Por ser muito copiado, existem inúmeros rótulos, no mercado, que não têm nenhuma qualidade, dificultando acertar uma boa compra. Na falta de um bom Lambrusco, um Espumante Rosé o substitui à altura. 

Dica da Semana: um ótimo Lambrusco.

Reggiano Lambrusco 2010  
Produtor: Ca’ De’ Medici
País: Itália / Emilia Romagna 
Uma vinícola familiar desde o século X, Ca’ De’ Medici elabora um Lambrusco de pequena produção e grande qualidade. Esta versão é a mais seca da casa, mas conta com o estilo leve, frutado e delicado que mostram os melhores vinhos desta denominação. Uma verdadeira surpresa para quem conhece apenas os exemplos mais comerciais de Lambrusco. 
Feliz Natal e um 2012 cheio de Lentilhas…

Uma coluna para o Natal e Ano Novo – 1ª parte

Apesar do nosso clima tropical, as festas de fim de ano são sempre uma boa oportunidade para presentear e consumir bons vinhos. Difícil é acertar uma combinação do que vai ser servido nas tradicionais ceias com sua contraparte enológica ou acertar a lembrancinha para o nosso mais querido enochato. Vamos ajudar! 
Começando bem o dia 
Que tal nos presentearmos com um diferente café da manhã no Natal ou no último dia do ano? Esta receita, apesar de inusitada, vai nos preparar para enfrentar este movimentado dia e servir de introdução para um delicioso assunto: Espumantes! 
Ovos mexidos com salmão defumado, sobre fatias de pão torrado, servido com uma taça de espumante! 
Vamos precisar: 
75g de manteiga amolecida 
2 colheres de chá de massa ou purê de tomate 
2 colheres de sobremesa de ervas (endro, salsa, cebolinha) picadas 
2 colheres de sobremesa de alcaparras drenadas e picadas 
Sal e pimenta do reino a gosto 
4 fatias de pão rústico ou italiano com 2 cm de espessura 
4 ou 5 ovos batidos 
100g de salmão defumado cortado em tiras pequenas 
Preparo: 
1- Separe 50 da manteiga e misture com a massa de tomate, as ervas e as alcaparras. Tempere com sal e pimenta e reserve. 
2– torre as fatias de pão e as mantenham aquecidas. 
3– utilizando uma frigideira em fogo médio/baixo, derreta o restante da manteiga e prepare os ovos mexidos com metade do salmão, de modo que fiquem macios ou baveuse como dizem os franceses. Não deixe secar. 
4 – passe um pouco do creme de manteiga em cada torrada, cubra com os ovos, algumas tiras do salmão e decore com ervas e tomates picados. 
Para acompanhar, uma taça de bom espumante Brut, branco ou rosé. Mas qual? 
Há ótimos vinhos da França, Itália, Espanha, alguns muito caros. Portugal, Argentina e Chile já exportam boas borbulhas também. Mas nem tudo que reluz é ouro. Cuidado com algumas ofertas: nem sempre o barato é bom. 
Os nacionais são excelentes. Procure por linhas que levam as denominações Ouro, Milléssime, Reserva ou Gran Reserva. Algumas sugestões: 

Chandon – sempre entre os melhores 

Casa Valduga – edição especial de 130 anos, delicioso 

Miolo Millésime – outro peso pesado 

Pouco conhecido, o Don Guerrino tem excelente relação custo x benefício 

O Villagio Grando é um ótimo representante da Serra Catarinense 

Presenteando 
Comprar uma boa garrafa de vinho e presentar é a coisa mais fácil do mundo e ainda faz um grande efeito. Para fugir da mesmice, que tal escolher um bom acessório ou mesmo um livro sobre vinhos. Eis algumas sugestões. 
Saca rolhas tipo Sommelier – é aquele que a maioria dos profissionais usa. Prático, fácil de usar e, com os seus 2 estágios, simplifica muito o esforço necessário para tirar uma rolha. 

Um modelo mais sofisticado é o Rabbit, mas só vale a pena para aqueles que abrem muitas garrafas. 

Outras boas sugestões são termômetros, decantadores e taças (sempre 1 par). 

Para incrementar a biblioteca do bom enófilo: 

1001 vinhos para beber antes de morrer – este é imperdível! Até os menos aficionados vão adorar 

Guia Ilustrado Zahar de Vinhos do Mundo Todo – livro de referência, muito bem elaborado e completo.Um must 

A Arte de Fazer um Grande Vinho – interessantíssimo documentário sobre Angelo Gaja, o maior nome do vinho italiano na atualidade e sua obsessão em produzir um grande vinho, o Sori San Lorenzo. Apaixonante. 

Na semana que vem, falaremos da harmonização dos pratos natalinos e mais algumas receitinhas.

Alemanha, Líbano e Grécia

Antes de cruzarmos o Atlântico e iniciarmos a jornada pelos vinhos famosos do Novo Mundo, vamos conhecer um pouco destes três países e seus surpreendentes vinhos. 
Alemanha e seus brancos maravilhosos 
Os Romanos introduziram a vinicultura na Alemanha. Na idade média, a Igreja Católica adquiriu e expandiu os vinhedos. Coube ao Imperador Carlos Magno, no século XVIII, posicionar vinhedos na região de Rheingau. A vinicultura alemã também fez história. 
Não tendo mais a importância de antigamente, atualmente a área plantada é aproximadamente um décimo de França ou Itália. Muito respeitada por ser o berço da uva Riesling, uma das grandes damas do vinho branco, ao lado da Chardonnay, produz uma vasta gama de vinhos, desde os secos Kabinet aos raros e caros Trackenbeerenauslese (TBA) e bons tintos à base de Pinot Noir ou Spätburgunder. Os alemães são grandes consumidores de seus vinhos, não sobrando muito para exportar. O pouco que vai para o exterior não é a parcela mais significativa, principalmente no item qualidade. 
Alguns rótulos alemães foram falsificados sem nenhum escrúpulo como o famoso Liebfraumilch, muito popular há alguns anos atrás. Houve ainda a invasão dos vinhos conhecidos como garrafa azul, de pouca qualidade, que ajudariam a destruir a reputação dos germânicos aqui no Brasil. Mas há exceções. 

Uma das histórias mais interessantes é a do vinhedo Bernkasteler Doktor localizado na mais valorizada área rural do rio Mosela. Ocupa uma pequena área e poucos produtores o exploram. Há uma lenda sobre este nome: teria sido dado pelo arcebispo Boemund de Trier, século XIV, proprietário de um castelo sobre a cidade de Bernkastel. Um dia adoeceu e nenhum dos remédios conhecidos o faria melhorar. Mas uma taça do vinho ali produzido fez a cura milagrosa. Em gratidão, atribuiu o título de Doutor (Doktor) àquele local. Anos mais tarde, em 1921, sairia destas vinhas o primeiro TBA do Mosela. O principal vinhateiro da região é Dr. H. Thanish, seus vinhos estão entre os melhores e mais caros do país. 
A Mosela não é o único terroir da Alemanha: Reno, Palatinato, Nahe, Francônia, etc. produzem excelentes vinhos. São nomes famosos: Dr. Loosen (Mosela), Dr. Burkiln Wolf (Palatinato), Robert Weil (Reno) e Hans Wirsching (Francônia). 

Líbano e o Chateau Musar 

Este é uma das glórias entre os vinhos tintos, uma das poucas bebidas com uma enorme personalidade que traduz, perfeitamente, o carinho e a dedicação da família Hochar, que o vinifica desde 1930. Tendo superado todo o tipo de adversidade, inclusive uma devastadora guerra civil nos anos 80, conseguiram manter vinhedos e vinícola intactos, transportando as uvas, muitas vezes, pelas linhas de frente. 

Um delicioso corte de Cabernet Sauvignon, Cinsault e Carrignam, em proporções que variam a cada safra. Dependendo do ano, pode parecer um Côtes du Rhône ou um Medoc. Surpreendente e respeitado por críticos de todo o mundo. São produzidas versões em branco e rosé, além de um varietal de vinhedo único, o Hochar Pére et Fils. 

Serge Hochar atual proprietário 

Outros produtores libaneses conhecidos são Chateau Kefraya e Chateau Ksara. 
Os vinhos Gregos 
Grécia foi um dos berços dos vinhos. Sua história de vinicultura tem mais de 4.000 anos. Em 1000 AC, eram os grandes exportadores utilizando, como recipiente, as famosas ânforas que já naquela época mostravam sinais de uma legislação vinícola: havia diferentes formatos para cada área produtora, era obrigatória a indicação do ano de produção e cada vaso recebia um selo de autenticidade emitido pelo governo local. 

Os gregos difundiram o plantio de uvas em várias partes do Mediterrâneo, marco inicial da vitivinícola europeia. No sul da Itália ainda se encontram cepas com os nomes usados na Grécia. 

No mundo moderno a parcela de produção atual é mínima se comparada com a antiguidade. A partir dos anos 80, surge uma nova geração de enólogos, formados nos principais centros vinícolas do mundo e diversas marcas multinacionais investiram na produção de vinhos modernos, aproveitando a excelente diversidade de uvas autóctones. Cepas como Aghiorghitiko, Assyrtiko e Moschofilero e os produtores como Boutari, Gerovassiliou e Gaia já estão no repertório de bons enófilos. 

Existe uma classe de vinhos muito particular e simpática aos gregos, o Retsina. Para impedir a oxidação dos produtos que eram exportados nas ânforas, estas eram seladas com uma resina de pinheiro. Mais tarde, a resina passou a cobrir o líquido alterando o seu sabor e criando uma nova categoria: vinho com sabor de resina. Pouco a pouco, por exigência do mercado, esta característica foi se tornando mais sutil, com sabor menos intenso, fresco e fácil de beber. Embora renegado, existem exemplares de excelente qualidade e que harmonizam perfeitamente com a culinária local mais condimentada. 

Dica da Semana: um delicioso tinto da Grécia. 

Náoussa OPAP 2006 
Produtor: Boutári 
País: Grécia egião: Macedônia 
O mais emblemático vinho grego de qualidade, colecionando prêmios há mais de 50 anos, o ótimo Naoussa, elaborado com a uva Xynomavro, é rico e concentrado, bastante saboroso. Tem cor vermelha vívida e seu complexo buquê denota frutas vermelhas maduras, canela e carvalho. Tem grande potencial de envelhecimento. Foi o primeiro vinho a ser engarrafado na Grécia, continuando até hoje a ser um dos tintos de referência do país. 
RP 88 (06) – WS 87 (06)

Vinhos Fortificados – 1ª parte

Vinho do Porto – uma tradição portuguesa para o mundo 
Os leitores devem estar curiosos por não termos colocado este vinho junto com os de sobremesa. Há um grande motivo: vinho do Porto é um vinho como nenhum outro. Tem uma história interessantíssima e se há alguma bebida que pode ser chamada de tradição, este é o caso. 
Portugal é, provavelmente, o país com o maior número de castas viníferas, nativas, disponíveis no seu território e um dos 10 maiores produtores de vinho. A origem da vinificação na Península Ibérica remonta cerca de 2000 anos AC, quando um povo bárbaro, os Tartésios, teriam introduzido as vinhas na região. Os Fenícios teriam sido os primeiros a produzir vinho, tradição mantida pelos Romanos até o domínio Muçulmano durante os séculos VII a XII. A nação portuguesa surge entre os séculos X e XII, quando os cristãos se estabelecem na região hoje conhecida. 
O nosso vinho desta semana não chega a ser tão antigo assim. Surgiu, para o comércio mundial, a partir do século XVII, embora sua forma de produção já fosse conhecida desde os tempos dos descobrimentos. Reza uma tradição que um Porto teria sido o primeiro vinho a ser engarrafado e datado, em 1775, originando a indicação das safras nos rótulos. Mas há outra curiosidade: a cidade do Porto, que batizou o nosso vinho de hoje, não o produz! Ele é feito na região Vale do Douro, distante cerca de 100 km. O nome foi atribuído por ele ser comercializado nesta cidade, um porto exportador. 
Tecnicamente, não é um vinho de sobremesa, embora tenha um característico paladar adocicado, resultado de sua peculiar forma de produção. É um vinho fortificado ou generoso. Como ele, existe o Madeira, também produzido em terras portuguesas, o Xerez espanhol, o Marsala italiano, um Muscat Australiano e algumas falsificações históricas, inclusive no Brasil. O sabor doce resulta quando parte dos açúcares do mosto não é convertida em álcool ao se adicionar a aguardente vínica, para interromper fermentação. Este singular processo tem por finalidade preservar o vinho para enfrentar as longas viagens marítimas, sem azedar. Foi quase por acidente que se descobriu que isto o transformava numa bebida deliciosa, única. 
Para compreendermos melhor este vinho, vamos nos deslocar para a região do Douro, onde nascem as uvas que serão usadas no seu preparo. São 80 tipos diferentes de uvas que podem ser usadas na sua produção. Desde os anos 70, há uma tendência para utilizar as varietais Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Tinto Cão. 
O tipo de terreno, xistoso, fez com que os vinhedos fossem plantados em patamares, solução ainda adotada nos dias de hoje, embora conviva com técnicas mais modernas. A visão destes vinhedos é monumental. Foi a primeira região demarcada e regulamentada, no mundo, quando o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756.

Marquês de Pombal 


 Vinhedos 

Depois de colhidas, as uvas são pisadas, como manda a tradição portuguesa. Mas já há maquinas robóticas nos maiores produtores. A foto a seguir foi copiada do site da Graham´s, um dos maiores produtores, prova de que as tradições são mantidas. 
Depois de vinificados, os vinhos são preparados para o envelhecimento, que será feito em armazéns, especiais, na cidade de Vila Nova de Gaia. Antigamente, os barris eram transportados, pelo rio, nos Barcos Rabelos. 
Hoje, viaja em modernos caminhões- tanque. 
Neste link do YouTube há um interessante vídeo:
São nos armazéns que o vinho do Porto nasce. As diversas vinificações serão misturadas, de acordo com cada enólogo, e envelhecidas por um período mínimo, obrigatório, de três anos. Os comerciantes britânicos dominaram este estágio por muitos anos. Por esta razão é que surgem, num produto tipicamente português, os nomes ingleses, que não se restringem às marcas comerciais (Taylor, Graham, Croft, entre outros), mas principalmente definiram sua classificação, seus estilos. 
São duas formas de classificação, pela cor e pela forma de envelhecimento. 
Segundo a cor, temos: 
Ruby – obtido através da mescla de vinhos com diversas origens e anos. Envelhecido em garrafas de grande volume por 3 anos. Tem sabor doce, encorpado, escuro, com um intenso aroma frutado. É um porto jovem. Representa a maior parte da produção; 
Tawny – obtido a partir dos vinhos que já passaram, pelo menos, 3 anos envelhecendo em madeira. É mais claro e menos doce que o anterior.
Segundo a forma de envelhecimento, temos: 
Indicação da idade – Tawny que recebe, no rótulo, uma clara alusão à sua idade – 10, 20, 30 ou mais de 40 anos; 
Late Bottled Vintage (LBV) – vinho de uma só colheita, num bom ano, mas que não atinge a mais alta qualificação (Vintage); 
Vintage Character ou Crusted Port – obtido pela mistura de diversos vinhos com diferentes idades. Permanece engarrafado por até 6 anos antes de ser comercializado; 
Vintage – vinho de uma só colheita, de safra reconhecida como excepcional e certificado pelo Instituto do Vinho do Porto. Permanece envelhecendo em madeira por 2 a 3 anos, antes de ser engarrafado. Depois, são 20 a 50 anos de garrafa! É o que há de melhor, a elite entre os portos. Tem cor escura, encorpado, com sabor marcadamente frutado. Deve ser consumido entre 15 a 30 anos após a colheita. 
Podem ser encontradas outras denominações, bastante raras, como Colheita e Garrafeira, definindo safras muito especiais. Há ainda uma categoria especial: Vinho do Porto Branco, considerado um vinho mais leve, menos alcoólico. Recentemente surgiu um Porto Rosé.
Harmonização 
Portos são vinhos muito versáteis, tanto podem ser consumidos como aperitivos, acompanhando uma refeição leve, ou como vinho de sobremesa e ainda pode ser utilizado na preparação de coquetéis. A seguir algumas sugestões, sempre lembrando que estes vinhos tem alto teor alcoólico, em geral 20%. Seu delicioso sabor acaba nos traindo e se consumido em excesso… 
– Porto Branco Seco e água tônica (Portonic) é uma deliciosa alternativa ao Gin Tônica; 
– com salmão defumado, amêndoas torradas e frutas secas use um Porto Branco; 
– o Branco pode ser harmonizado com saladas, peixes grelhados e sopas à base de creme de leite; 
– com patês e queijos fortes prefiram um Tawny de 10 anos; 
– assados e bifes com molhos intensos com pimentas ou algumas especiarias, o LVB é opção ideal; 
– nas sobremesas à base de chocolate o Porto ideal é o Vintage ou um LBV;
– para os doces portugueses prefiram os Tawnys envelhecidos. 
As opções são inúmeras e um pouco de experimentação é sempre bem vinda. Sirva sempre em cálices e com temperaturas entre 6 a 14 graus. 

Dica da Semana: 

Porto Burmester Jockey Club 

Este é um Porto Tawny com cerca de 7 anos, resultante da cuidadosa seleção de vinhos longamente envelhecidos no silêncio das caves, representando um tributo ao espírito e paixão dos Burmester pelo Desporto e pela Natureza.
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