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Sexta-feira aqui em casa…

Entra ano, sai ano, quanto chega o período frio para os cariocas fazemos uma reunião para ‘abrir’ a temporada de degustar vinhos tintos. Neste 2013 não foi diferente. Convidamos três casais bons de taça e preparamos uma bela noitada.
 
Minha esposa havia chegado de viagem trazendo alguns queijos pouco comuns por aqui: um Stilton e um Cheddar ingleses e 2 queijos de leite de cabra produzidos em Chipre. Acrescentamos um viés árabe composto de Hummus, coalhada seca e Manouche. Cestas com alguns tipos de pães e torradas completavam a mesa de beliscos.
 
Mas tarde, dependendo da disposição da turma, serviríamos um prato quente.
 
Para iniciar os trabalhos abrimos um Primitivo di Manduria SUD Feudo San Marzano safra 2010.
 
 
Esta garrafa foi fruto de uma extensa negociação na compra de uma caixa do famoso Tiganello. Após muito papo, duas garrafas deste primitivo foram acrescidas, sem custo, ao pacote.
 
Na Puglia, esta casta irmã da californiana Zinfandel e da croata Crljenak Kastelanski produz vinhos encorpados, escuros, redondos e aromáticos, muito fáceis de beber.
 
Era fácil distinguir aromas de ameixas e cerejas maduras, notas de baunilha e cacau e muita fruta no paladar. Um ótimo começo de noite.
 
As taças secaram rapidamente e logo passamos para a segunda garrafa. Partimos para os argentinos: Goulart The Marshall Malbec, safra 2008. Um vinho de respeito com uma bela história.
 
O nome é uma homenagem ao fundador desta vinícola, o Marechal Gastão Goulart, que lutou na Revolução Constitucionalista de 1932 no Brasil. Exilado na Argentina, adquiriu o vinhedo em 1915, na região de Lunlunta, em Lujan de Cuyo.
 
 
Após muitos anos de abandono, sua sobrinha, a paulista Erika Goulart, assumiu a propriedade no ano de 1995, iniciando a recuperação do vinhedo e a construção da vinícola. A primeira vinificação foi em 2002 e desde então, seus produtos tem recebidos elogios da crítica e prêmios nos mais importantes concursos internacionais. Esta safra de 2008 recebeu 91 pontos de Robert Parker e 92 pontos da Wine Enthusiast. É considerado um ‘Best Buy’.
 
Com uma bela cor rubi intenso, tem aromas de frutos negros, tabaco e especiarias. No paladar percebe-se um bom corpo, taninos arredondados, frutos negros, pimenta e uma discreta baunilha devido ao envelhecimento em madeira. Um ótimo vinho que preparou a turma para o que viria em seguida.
 
O terceiro vinho da noite era algo muito especial. Outro argentino, o Petit Caro, uma ‘joint venture’ entre o respeitado Nicolas Catena Zapata e o Barão Rothschild, daí o nome: CAtena + ROthschild. Esta garrafa estava guardada, há algum tempo, para ser degustada junto com o ‘Caro’, carro-chefe desta vinícola. Simplesmente não aconteceu e por ser da safra de 2006 estava na hora de consumi-lo.
 
 
Este brilhante corte de Cabernet Sauvignon e Malbec não é mais produzido, tendo sido substituído pelo rótulo Amancaya. Isto tornou esta garrafa uma raridade. Foi degustado no ponto certo. Notava-se a evolução deste vinho já na cor, com notas de vermelho atijolado. Nos aromas, alguns terciários como couro e tabaco, mas ainda muita fruta, boa acidez, taninos equilibradíssimos. Muito gostoso de beber, um p*** vinho segundo um dos degustadores.
 
Resolvemos servir o prato quente, o momento era adequado. Uma curiosa receita à base de palmito, queijo Emmental e queijo Gruyère, preparados com um molho de creme de leite, tomate e diversos temperos. Apelidamos de ‘Strogonoff de Palmito’. Servido com arroz e batata palha, foi o sucesso da noite, todos queriam a receita.
 
Obviamente, as taças estavam secas. Hora de mais um vinho: o Lindaflor Petite Fleur 2009 da vinícola Monteviejo.
 
 
Uma escolha para reverenciar Catherine Péré Vergé, a proprietária da Monteviejo, recém-falecida. Ela foi uma das pioneiras do projeto de Michel Rolland em Mendoza, o Clos de los Siete. Sua vinícola foi a 1ª a ser construída e vem elaborando verdadeiras joias. Esta é uma delas. Um delicioso corte de Malbec, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah com coloração púrpura intensa. No nariz, aromas frutados e condimentados com notas de violeta e baunilha. No palato percebiam-se os taninos macios e sabor arredondado e ótima permanência. Excelente!
 
Estes dois vinhos harmonizaram perfeitamente com o ‘strogonoff’.
 
Era hora de fazer outra mudança. O próximo vinho seria de corpo infinitamente mais leve, já pensando na sobremesa: um Pinot Noir da Patagônia, o Reserva del Fin del Mundo 2010.
 
 
Um produto de alta qualidade, mas acho que servido na hora errada. Muito bem elaborado, apresenta a característica cor vermelho-grená. Aromas de boa intensidade remetendo a frutos silvestres, tabaco, terra e especiarias. Na boca é leve e equilibrado, taninos macios, boa acidez e corpo médio.
 
O problema foi que a ‘turma’ queria ‘caldos’ mais encorpados e, frente ao que já fora servido, achou este meio sem graça. Mas era outro grande vinho.
 
Devidamente pressionados a voltar ao ritmo anterior apresentamos um dos nossos trunfos: Viña Cobos Bramare, Cabernet Sauvignon, 2008. Um vinho de preço alto mesmo na Argentina, elaborado sob a supervisão do ‘Rei’ dos Cabernets californianos, Paul Hobbs e que recebeu 93 pontos de Parker. Não era para qualquer um…
 
 
Pediram e levaram! Um vinho intimidador. A turma engoliu em seco e fez-se aquele silêncio sepulcral. Quase numa única voz perguntaram: o que é isto?
 
A resposta?
 
Fácil, um vinho elaborado pela mais sofisticada vinícola boutique da Argentina. E nem era um dos top que chegam a ser vendidos por US$1,000.00. A denominação Bramare é a segunda linha da empresa e custa 1/10 deste valor citado. Mas vale cada centavo.
 
Uma belíssima tonalidade rubi saudava a nossa visão nas taças. A impressão olfativa remetia a groselha, cedro e grafite com notas de especiarias como cravo e pimenta do reino. No paladar o espetáculo continuava: amoras, figos, café, tabaco e cacau. Uma cascata de sabores encantadores. Perfeitamente equilibrado, final agradável e persistente. Um vinhaço!
 
 
Devidamente vingados pela desfeita que fizeram com o Pinot Noir, nos despedimos de nossos amigos que já estão aguardando o próximo encontro.
 
Até lá, ficamos com a …

Dica da Semana: não foi um dos que servi neste encontro, mas é um belo vinho e com ótima relação custo x benefício.
 
Salton Classic Reserva Cabernet Sauvignon
 
Elaborado a partir da variedade Cabernet Sauvignon. O vinho é fermentado por 15 dias e amadurecido por até 6 meses em barricas de carvalho norte-americano. Vinho límpido, com coloração roxo amora madura. Nariz complexo, frutos vermelhos, especiarias, uva passa, pimenta, eucalipto, violetas, ameixa passa, excelente permanência do sabor.

Existe Vinho Bom e Barato?

Nas últimas colunas foram mencionados alguns ícones do mundo do vinho. Todos muito bons e muito caros. Se olharmos para este mercado de alta gama ficaremos chocados com os valores pagos por determinados rótulos famosos. Recentemente uma garrafa de Romanée–Conti foi arrematada por mais de 13 mil dólares!

Há alguma coisa que justifique estes valores?

 

 
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São vários aspectos que devem ser levados em conta, desde a legislação de um país, volume de produção, técnicas de marketing e até a má administração de empresas que buscam cobrir seus prejuízos.

No caso do renomado vinho da Borgonha o preço se justifica por duas razões:

1 – a legislação francesa, sempre muito rigorosa, só classifica naquela região como vinhedo de excelência uma pequena parcela;

2 – em função disto a produção é minúscula. Logo, são poucas garrafas à venda deste fabuloso vinho.

A segunda pergunta que devemos nos fazer antes de embarcar numa compra ousada é: vale a pena?

Nem sempre. Muitos destes vinhos têm uma fama que, hoje em dia, não é mais devida – foram grandes vinhos. A concorrência é feroz e com a chegada dos vinhos do Novo Mundo a guerra de marketing se tornou a parte mais importante do negócio.

Reparem na divisão entre Novo e Velho mundo – há lugar para grandes vinhos nos dois segmentos. Não há dúvida que os rótulos mais tradicionais vão se agarrar ao seu passado e extrair tudo o que puderem disto. Do outro lado do Atlântico, onde não há tanta tradição, o caminho será o de se equiparar, inclusive no preço…

 

 
 

Mas é possível comprar um excelente vinho por um preço palatável. Basta seguir alguns conselhos.

A menção ao Romanée-Conti não foi gratuita. Sua principal característica é ser elaborado com uvas de um único vinhedo. Esta é a primeira dica: procurem nos rótulos a expressão ‘Vinhedo único’ ou as traduções ‘Single vineyard’, ‘viñedo único’, ‘U.V.’ (unique vigneron) ou a versão mais moderna que prefere citar ‘Block #’ e ‘Parcela #’. Isto é uma garantia de um produto de melhor qualidade, com elaboração cuidadosa. Podemos encontrar excelentes produtos, que equivalem a um Borgonha Prémier Cru por 1/3 do preço.

Uma segunda dica são os chamados ‘segundos vinhos’ das grandes vinícolas. Esta opção surge quase naturalmente quando uma determinada safra não atinge o padrão para o grande vinho ou, mais comum atualmente, para enfrentar a concorrência do mercado sem alienar a marca mais famosa da vinícola.

 

 
 

Este vinho é ruim?

De maneira nenhuma. Não se pode esquecer que vinho é um negócio. Nenhum produtor vinifica só por amor à arte, precisam de retorno para o investimento. Outra trilha muito usada é a venda do vinho por atacado para engarrafadores independentes. Estes lançam excelentes produtos com seus próprios rótulos e a preços bem mais competitivos. Alguns exemplos:

Pavillion Rouge é produzido pelo Château Margaux;

Les Forts de Latour, pelo Château Latour;

Liberty School, produzido pela afamada Caymus da Califórnia;

Hawk Crest, elaborado pela premiada vinícola Stag’s Leap.

Os ‘Negociantes’, muitas vezes vinhateiros também, são comuns na França, por exemplo: Bouchard Père et Fils, Louis Jadot, Joseph Drouhin e Vincent Girardin na Borgonha; Georges Duboeuf em Beaujolais; Guigal, Jean-Luc Colombo e Mirabeau na Provence; Jaboulet no Vale do Rhône.

Basta olhar nos rótulos ou contra-rótulos para comprar excelentes vinhos por uma fração do preço dos ‘famosos’. Isto vale para os produtores sul-americanos também: Bramare e Felino são segundas marcas da Viña Cobos; Tomero é elaborada pela premiada Vistalba; Alamos é a linha básica da Catena Zapata, e assim por diante.
Um truque que gosto muito é experimentar as varietais pouco conhecidas, tintas ou brancas. Em vez de um Sauvignon Blanc prove um Torrontés, no lugar do trio Cabernet, Merlot e Syrah, parta para um Tannat ou Ancelotta. Já fiz ótimas descobertas assim, com um custo muito baixo.

Por último, tentem os produtos nacionais ou pelo menos do cone sul em lugar de europeus ou americanos. Tudo bem que nem sempre o nosso vinho tem preço competitivo, mas com uma boa dose de perseverança podemos encontrar bons caldos. Os espumantes não me deixam mentir, não devem nada aos demais.

Dica da Semana: uma destas descobertas, numa prova oferecida em uma delicatessen.

 
El Ciprés Torrontés
Produtor: Luis Segundo Correas
País: Argentina/Mendoza – Medrano
Com uma bela coloração amarelo ouro com reflexos esverdeados, seu intenso aroma lembra flores brancas, ervas e frutas brancas. No palato tem acidez equilibrada e final de boca muito longo, atípico para esta casta. Elaboração primorosa. Bom companheiro para um final de tarde ou borda de piscina.
 

Degustando Vinhos Icônicos

A coluna desta semana tem como pano de fundo os e-mails de alguns leitores sobre a experiência descrita na postagem anterior.
 
Basicamente, notei certa austeridade com relação ao tipo de vinho consumido, uma incredulidade com relação às massas e o tal negócio do ‘tem que’.
 
Vamos quebrar algumas regras, não se espantem. A primeira que vou jogar no lixo é o ‘tem que’:
 
Nenhum vinho tem que harmonizar com nada!
 
As tradicionais regras de harmonização, constantemente citadas aqui e em outras publicações vinícolas, têm, por objetivo, fornecer sugestões – nada mais que isto – para tornar a nossa experiência ao degustar um vinho em algo melhor. Mas certamente podemos beber qualquer vinho apenas pensando na vida ou com um pão fresquinho e manteiga. Garanto que vai combinar.
 
No momento que algum enófilo botou na cabeça que este ou aquele caldo tem que ser consumido ‘exatamente’ de uma maneira, estragou tudo! Degustar um bom vinho é uma forma de quebrar regras, romper com tabus, sonhar, experimentar. Se der errado, ótimo! Já sabemos o que não fazer na próxima oportunidade.
 
 
O segundo tema que vou abordar, de modo resumido, é este respeito exagerado por um vinho de sonho. Eu não consigo imaginar comprar ou ganhar uma daquelas garrafas que existem na nossa imaginação e ficar o resto da vida olhando para ela. Vou bebê-la mais cedo ou mais tarde. Pode até ser que eu espere uma ocasião especial, mas o destino será o mesmo de uma garrafa comprada no supermercado por uns poucos trocados.
 
Então onde está a diferença?
 
Não há uma resposta simples. Cada um vai ter uma experiência diferente com os vinhos que provar. Gosto muito de citar a minha mulher. Ela resume nos 5 dedos de uma mão tudo o que precisamos saber: tinto, branco, rosé, gosto e não gosto.
 
 
Muitas vezes é difícil se apreciar um vinho se o nosso olfato e paladar não foi devidamente treinado. Para isto, só com algum tempo de estrada. Somente então seremos capazes de diferenciar (e apreciar) um Brunello de um Chianti, um Bordeaux de um corte Bordalês qualquer, ou mesmo um bom vinho de boa relação custo x benefício de uma caríssima garrafa que não tem um bom conteúdo.
 
Leva tempo, mas vale a pena. É a partir deste ponto que valorizamos (alguns) vinhos icônicos e ficamos muito satisfeitos quando conseguimos comprá-los ou ganhá-los. Mas isto não pode virar um problema na hora de degustar.
 
Eis uma pequena aventura para solidificar estas ideias:
 
Numa outra ocasião, a vítima era o Don Melchor, um ícone chileno. Um espetacular Cabernet elaborado com uvas de diferentes vinhedos. Um amigo ganhou a garrafa e aquilo quase virou uma batata quente. No barato custa R$ 400,00, mas não precisa de pompa e circunstância para prová-lo. Respeito, e muito, quem o presenteou.
 
Combinamos um almoço com mais um na mesa, três pessoas. Escolhemos um restaurante de comida internacional. Como sempre, abrimos com um espumante, pães do tipo italiano, presunto cru e burrata, tudo regado com bom azeite.
 
Uma explicação: isto tudo tem a finalidade de preparar o palato para um tipo de vinho com uma casta sabidamente tânica.
 
Tendo isto em mente escolhemos os pratos:
Eu optei por uma Paleta de Cordeiro;
O outro convidado encarou um Osso Buco;
O dono da garrafa arriscou optando por um elaborado espaguete com frutos do mar.
 
 
Os leitores já devem estar especulando quem acertou e quem errou. Eu posso falar com segurança da minha parte: estava perfeito. Posso pressupor que o outro prato de carne também foi uma boa harmonização. Mas só quem o consumiu pode avaliar. Restou a massa e o dono da garrafa: pela expressão dele estava muito satisfeito e ficou feliz com toda a experiência.
 
Mas o vinho teve uma parte importante neste ‘causo’. Estava muito bom, com os taninos perfeitamente arredondados, era muito frutado o que encobria a tal secura na boca. Um senhor vinho como poucos que provei até hoje. Confesso que fiquei tentado para deixar um pouco na taça e provar com uma mousse de chocolate na sobremesa. Tenho certeza que ficaria ótimo.
 
Por fim o capítulo “Massas”.
 
Macarrão é um alimento neutro, sem gosto marcante. Por esta razão é tão versátil. Mesmo os do tipo recheados como Canelones, Raviólis, etc., nunca são intensos no seu conteúdo, para permitir aos Chefs, profissionais ou domésticos, criarem os mais sofisticados molhos. Acaba sendo um desafio para quem pretenda harmonizar. Mais regrinhas a serem quebradas:
 
Não é obrigatório um tinto italiano para acompanhar massas;
 
Tintos não são a única opção.
 
Alguns exemplos de massas que derrubam esta ‘ditadura’:
 
Massa com frutos do mar;
 
Ravióli de pera com molho de Brie (eu usaria um branco demi-sec);
 
Massas com recheio ou molho de abóbora.
 
Um conselho final: experimente!
 
Dica da Semana: um ícone!
 
Coyam Orgânico
Vinho produzido por Vinhedos Emiliana, Chile, com: 41% Syrah, 29% Carménère, 20% Merlot, 7% Cabernet Sauvignon, Mourvedre 2%, 1% Petit Verdot
Um vinho de intensa coloração violeta, lembrando ameixa vermelha. Nariz que expressa aromas de frutos vermelhos maduros, ameixas, amoras e frutas negras que fundem elegantemente com notas de especiarias, terra, e um toque de baunilha doce. Bem equilibrado e grande corpo no palato, com boa estrutura e taninos macios, redondos.
Harmonização: deve ser acompanhado por uma grande amplitude de pratos e sabores como: lombo com batatas gratinadas, costelas de cabrito assado ao forno, entre outros.

Com organizar uma confraria

Seguindo no tema da coluna anterior, alguns leitores se mostraram interessados na organização e funcionamento de uma confraria. Nas ‘Cartas dos Leitores’ há algumas respostas interessantes. Hoje vamos explorar alguns aspectos menos visíveis.
Quantos participantes?
Esta é a questão fundamental, vai ditar o número de garrafas a serem degustadas, objetivo da confraria. Obviamente, todos os confrades ou pelo menos a maioria deles deve apreciar esta bebida, mas nada impede que alguns não a bebam. Isto é muito comum nas damas, sejam esposas, namoradas ou ficantes.
Tecnicamente, uma garrafa serve bem 4 pessoas, O volume padrão de 750ml, dividido por este quociente resulta em 187,5ml, aproximadamente 2 taças. No texto da semana passada ficou claro que cada garrafa serviu até 9 confrades. Isto significa que cada confrade degustou apenas 80ml, de cada vinho, o que é pouco e não pôde haver repetições.
Com estes parâmetros já é possível ter uma noção do tamanho da confraria e também da regra inicial: quantas garrafas vão ser servidas.
Para começar o ideal são 4 pessoas. Pode expandir, sem problemas, até 8. Seguindo a regra, comecem com 1 garrafa para 4, duas para oito, mantendo a proporção.
Quem leva o vinho?
No início, 1 confrade escolhe o vinho. Na segunda reunião, passa o bastão para outro e assim por diante. Pode-se fazer reuniões temáticas que são muito divertidas e instrutivas: define-se o tema, por exemplo: Itália. Um grupo vai cuidar da comida e outro da bebida. Neste caso, vale a pena estabelecer limites de gastos e ratear as despesas. Uma variação interessante é indicar um dos membros para explicar a harmonização.
Confrarias informais
Este é outro caminho: alguém oferece um churrasco e pede para os convidados trazerem 1 garrafa de vinho. A confraria do nosso almoço começou assim.
Obviamente, serão trazidos vários tipos de vinhos: de brancos a tintos e de bons a ruins. Mas é justamente esta mistura desordenada que vai criar, naturalmente, a organização deste grupo. A primeira lição a ser aprendida é que os vinhos devem ter um mesmo patamar de qualidade. A melhor maneira de conseguir é estipular um valor mínimo para a garrafa de vinho, deixando a escolha livre para cada um.
O segundo passo é sugerir uma divisão mais objetiva entre espumantes, brancos, rosado e tintos. Se não for assim, só vai aparecer vinho tinto. Uma boa regra é sempre começar uma degustação por um espumante para, como costumamos dizer: ‘fazer a boca’. Seguem-se na ordem dos vinhos mais claros para os mais escuros.
Harmonizar ou não?
Este é o último passo. No fundo, ninguém escapa de tentar uma reunião ‘azeitadinha’, tudo bem dentro das regras clássicas. Mas não é fácil! Se o número de confrades for grande, pode ser uma missão impossível. Um bom caminho é escolher um restaurante típico e tentar levar os vinhos que se encaixem com o que vai ser servido.
O Bacalhau é um bom desafio, já que não existe uma regra generalizada: tanto brancos mais encorpados, que passaram por madeira, como tintos leves, podem combinar muito bem. Se a receita do peixe for, por exemplo, um ao “Zé do Pipo”, até mesmo um bom Syrah ou Malbec podem ser degustados. Há campo para muita experimentação.
Conselhos finais:
Não compliquem! Quanto mais simples as regras, mais divertido, e todos vão querer repetir o encontro e este é o objetivo;
Não se preocupem se este ou aquele vinho ‘não combinou’, faz parte do aprendizado;
Escolham um companheiro para ser o ‘escriba’: caberá a ele fazer as fichas do que foi provado. Escolham o melhor e o pior vinho.
Caso várias garrafas diferentes forem levadas, discutam muito a ordem de abertura delas. Se ninguém conhecer um dos vinhos, usem seus tablets e smartphones para descobrir – o Google é ótimo para isto;
Se tudo der certo, habituem-se de abrir a reunião com um bom espumante e terminá-la com um vinho de sobremesa ou um Porto. Um dos confrades pode ser o encarregado desta função;
Negociem a ‘rolha’ nos restaurantes. A maioria deles aceita que se tome um vinho da casa, em geral o espumante, em troca de liberar a taxa;
Escolham um nome simpático para a Confraria, é motivo agregador;
Por último, divirtam-se e lembrem: “A variedade é o tempero da vida”.
Dica da Semana: um vinho que foi escolhido o melhor de 2012 pela revista Prazeres da Mesa

Ile de Beauté 2011 
Produtor:Francois Labet 
Pais/Região:França/Córsega 
Uva:Pinot Noir
Rubi intenso e luminoso. Limpo e vibrante no olfato, com frutas vermelhas frescas, violeta e minerais (granito). A incursão em boca é sedosa, com taninos charmosos revigorados por acidez suculenta. Harmoniza com codorna ou vitela assados com ervas ou risoto de carne de caranguejo com tomates e açafrão.

Um grande almoço

Uma das confrarias que participo sempre aproveita a data do aniversário de um confrade para organizar uma de suas reuniões. Uma divertida regra faz tudo começar com o pé direito: além de não pagar sua cota na conta, o aniversariante pode indicar o local de sua preferência.
Neste mês de janeiro, o local escolhido foi um simpático restaurante italiano, a Casa do Sardo, localizado em São Cristóvão-RJ. Nunca havia sido feito um encontro por lá, embora 2 confrades já conhecessem a casa. As recomendações eram muito boas, são dois chefes, um Sardo e outro Siciliano, que tocam magistralmente a cozinha. O local é simples, rústico, mas muito confortável. Atendimento de 1ª linha – a equipe foi treinada pelos proprietários nos padrões europeus de qualidade. A grata surpresa é que a casa permite que os clientes levem seus vinhos, nada é cobrado.
Reservamos uma mesa e chegamos pontualmente às 12:30h, dentro do horário previsto para garantir a reserva. E começou a festa!

Enquanto aguardávamos a chegada do nosso Diretor de Gastronomia, encomendamos o antepasto do dia, uma boa tábua de queijos e frios acompanhada por um delicioso pão italiano feito na casa. Abrimos o ‘Vinho da Diretoria’, algo muito especial, só para os madrugadores… Um excelente branco argentino, o Lagrima Canela, um corte de Chardonnay com Semillon elaborado por Walter Bressia. Foi escolhido pelo guia Descorchados 2013 como o melhor branco daquele país.

Com a chegada do responsável pela parte gastronômica, foram selecionadas algumas entradas: carpaccio de tentáculos de polvo com pimenta rosa; mix de bruschettas; presunto Parma. A esta altura, o único branco já havia sido devidamente enxugado. Entramos nos tintos. O primeiro foi o Tribal, um tinto sul-africano, elaborado a partir de uvas viníferas das variedades Pinotage e Pinot Noir. Sua cor é rubi claro, límpido e brilhante, aromas com notas de morango, pimenta do reino e frutas vermelhas. Macio, bom corpo, taninos elegantes e final seco.

Com 9 pessoas presentes, as garrafas secavam rapidamente. Foi a vez do Conti Neri Valpolicella. Com uma coloração vermelha rubi intensa, tendendo a granada. Buquê característico com perfume delicado. Seco com corpo médio. 
Começamos a encomendar os pratos principais. Mesmo sabendo que só haviam tintos, a turma preferiu encomendar frutos do mar, nas diversas variações oferecidas no cardápio. Com poucas exceções, ninguém se importou em harmonizar nada, ou melhor: “partimos para grandes experimentações…”.

A próxima vítima foi o excelente Paulo Laureano DOC Premium, um corte Alentejano de 20% Alicante Bouschet, 40% Aragonez, 40% Trincadeira. Coloração granada intensa apresentando aromas de compotas de frutos negros mesclados com notas de chocolate escuro. Outro excelente vinho. Em termos de aceitação estava ‘empatado’ com o anterior.
Os dois próximos vinhos fizeram o cacife subir bastante. Abrimos o 100% Tempranillo Marqués de Riscal. Um vinho vermelho intenso com borda rosada e aromas inicialmente fechados que rapidamente se abrem revelando frutas maduras, especiarias e toques de carvalho e tostado. No palato, toques de caramelo e tostado típicos desta casta. Houve um momento de silêncio na mesa. A coisa estava séria. A comida foi servida. Tudo estava perfeito. Que me desculpem os conservadores, simplesmente esquecemos até mesmo as mais simples regras de harmonização. Só um adjetivo: delicioso!

Próximo vinho: na abertura do Miguel Escorihuela Gascon um momento de drama: a rolha, com quase 10 anos, se esfarelou e teve que ser empurrada para dentro da garrafa. A equipe do restaurante trouxe um decantador e o vinho foi vertido delicadamente. Pela cor, estava tudo em ordem, o que foi confirmado no palato – excepcional! Este é um dos grandes vinhos argentinos. Coloração rubi muito profunda, com a tonalidade púrpura típica da Malbec. A estrutura tânica, os toques de especiarias da Cabernet e os toques de frutas vermelhas da Syrah complementam em perfeita harmonia a forte personalidade da Malbec, o que torna esse vinho intenso, bastante complexo e muito fácil de beber. Certamente o melhor vinho do almoço.

Como o movimento do restaurante já havia diminuído, recebemos a visita do Chef Silvio Podda que se interessou pelos nossos vinhos, provando alguns e solicitando indicações para sua boa carta. O aniversariante foi agraciado com uma sobremesa.

Já no capítulo final da farra, abrimos o argentino Dignus Malbec, macio e agradável, com aroma fresco de frutos vermelhos e o uruguaio Don Pascual Pinot Noir, redondo, com frutas vermelhas intensas, taninos presentes e aveludados. Outros dois bons vinhos, corretos e ótimos coadjuvantes para o Marqués de Riscal e o Miguel Escorihuela Gascon, escolhidos como os melhores deste encontro.

Para brindar e encerrar, Villaggio Grando Brut, um dos bons espumantes da serra catarinense.
Todos os confrades voltaram para suas residências sem problemas…
Fotos: Pedro Costa e Enoeventos
Dica da Semana: uma proposta: que tal trocar a cerveja do carnaval por um delicioso Rosé?

Languedoc AOC Rosé 2010

Produtor: Hecht & Bannier

País: França/Languedoc-Roussillon

Uva: Syrah (maior parte), Grenache e Cinsault

Este delicioso rosado é saboroso e fresco com muita fruta e um ótimo final de boca. Temperatura de serviço: 13º a 16º
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