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Algumas uvas brancas – Vernaccia

Esta é outra cepa pouco divulgada que tem na cidade de San Giminiano o seu principal terroir.
A história desta varietal é muito antiga e perde-se nas brumas do tempo. Supõe-se que foi introduzida pelos Etruscos, mas até hoje os ampelógrafos não conseguiram determinar com exatidão sua origem. Algumas referências trazem provas curiosas, por exemplo, na Idade Média havia um vinho denominado Vernage, obtido a partir desta uva que era muito consumido na Inglaterra. Dante, em sua Divina Comédia (Purgatorio XXIV) faz referência a esta casta quando menciona a gulodice do Papa Martin IV que se deliciava com as Enguias de Bolsena curtidas em vinho de Vernaccia:
“:ebbe la Santa Chiesa in le sue braccia:

 dal Torso fu, e purga per digiuno

    l’anguille di Bolsena e la vernaccia”.
Durante o período da renascença, o vinho produzido a partir desta casta era a inspiração de artistas, escritores e autoridades eclesiásticas. Foi aclamado como o melhor vinho branco da Itália.
A Vernaccia não é uma uva de fácil cultivo e manejo. Ao final do século XIX, ela havia sido substituída por castas mais favoráveis como Trebbiano e Malvasia. Somente a partir de 1960 haveria um ressurgimento graças a características únicas obtidas no terroir de San Giminiano, a cidade italiana de maior apelo turístico. Em 1966 o vinho “Vernaccia di San Giminiano” obteve o primeiro registro DOC do país, sendo elevado para a categoria DOCG em 1993.
Existem outras uvas homônimas, mas esta é considerada única e não relacionada às demais. É uma das mais antigas varietais conhecidas e sua origem é motivo de amplas discussões: pode ser indígena da península italiana ou ter sido trazida do leste europeu ou mesmo da Grécia.
Importante é que não é possível separa-la de sua cidade. Quase uma marca registrada. Um vinho marcante, encorpado, com ótima acidez, aromas florais e sabores cítricos. Harmoniza com a culinária local, sendo um dos poucos vinhos que podem ser consumidos com a exótica culinária oriental.
Três estilos de vinho são produzidos:
Tradizionale: elaborado a partir de um mosto no qual as casacas (brancas) foram deixadas em maceração prolongada para se garantir a coloração original (próxima ao dourado). Por este motivo, muitos produtores afirmam que o Vernaccia é um branco produzido como um tinto;
Fiore:obtido a partir da fermentação do sumo que corre livre antes da prensagem. O produto final é um vinho oposto ao tradicional, muito leve e delicado, ideal para acompanhar peixes assados;
Carato: o mosto é fermentado em barris de carvalho, técnica mais moderna dos vinhateiros toscanos. O vinho adquire características voltadas para o paladar internacional, ainda assim, um Vernaccia. Ideal para frutos do mar.
Alguns produtores, como Casale (Azienda Agricola Casale-Falchini), estão localizados nas portas de San Giminiano. A foto mostra como fica próxima da cidade, sendo possível observar as famosas sete torres da cidadela.
Dica da Semana: um vinho premiado.
Vernaccia di San Giminiano 2009
Produtor:Piccini
Vinificação:Fermentação tradicional com controle de temperatura. Não passa por madeira.
Ótimo exemplo da uva Vernaccia elaborado por Piccini. Foi o vencedor da medalha de Bronze na edição 2005 da Vinitaly, mostrando grande frescor aromático e um levíssimo e saboroso amargor, típico desta casta. 

Uvas autóctones da Itália – Algumas uvas brancas

Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!

Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.

O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.

Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.

Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.

Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos – II

Vino Nobile di Montepulciano e Brunello di Montalcino
Nesta semana mais dois tintos importantes produzidos a partir da Sangiovese, neste caso, com uma sutil diferença: as castas são denominadas, respectivamente, “Prugnolo gentile” e “Brunello” nas regiões produtoras. Uma terceira denominação é a “Sangiovese Grosso”.
Durante muitos anos admitiu-se que estas uvas eram mutações ou alterações da casta principal. Estudos mais recentes mostraram que, apesar do nome, era a mesma uva do Chianti. Para designá-las usamos a expressão clone. O que é isto?
Para melhorar um vinhedo um produtor pode selecionar as melhores vinhas e usando técnicas de “repicar”, multiplica estas vinhas como se fossem cópias da original. Replantar um galhinho ou simplesmente enterrar a ponta de um galho mais longo são as formas mais simples de se melhorar um vinhedo a um custo relativamente baixo. O processo todo até a produção é lento, mas assegura sempre uma boa qualidade.
Vino Nobile
O Vino Nobile, um dos vinhos mais antigos da Itália, é produzido nas proximidades da bela cidade de Montepulciano, a partir da vinificação da Prugnolo Gentile, considerado um clone da Sangiovese, cortada com as varietais Canaiolo e Mammolo, entre outras. Há registros da produção deste vinho desde o ano 789, mas só recebeu a denominação “Vino Nobile” por volta de 1930. Era conhecido como “Vino rosso scelto di Montepulciano”.

Muito semelhante ao Chianti, tem as coadjuvantes Canaiolo que ameniza a aspereza da Sangiovese e a Mammolo que introduz maciez ao vinho. Por lei (DOCG) deve passar um mínimo de dois anos de envelhecimento em barris de carvalho.

O Nobile é uma interessante alternativa ao Chianti, com ótima relação custo benefício. Isto se deve, em parte, a pouca divulgação deste vinho. Em 1965 foi criado o Consórcio del Vino Noble di Montepulciano com o objetivo de proteger a qualidade e divulgar os produtos que incluem o Vin Santo e o Rosso di Montepulciano que é uma versão para ser consumida jovem. Os principais produtores são: Poliziano; Cantina Nottola; Tenuta Valdipiatta e Tenuta Trerose.

No Brasil encontramos com facilidade estes produtos:

Poliziano Vino Nobile di Montepulciano
Este é o maior nome do Nobile. Encorpado, potente e cheio de personalidade, é um bom exemplo do melhor que a região pode produzir. RP 90 pt safra 2006
Custo aproximado: R$ 160,00 (em 2012)

 

Nottola Vino Nobile di Montepulciano
Este vinho é vermelho rubi intenso. Cravo, pimenta e terra úmida surgem primeiro no nariz e são seguidos de amora. Especiarias com aroma delicado de cheiro doce de violeta. Há uma nota madura por trás de toda a concentração densa e ao final do vinho com uma explosão de tempero cereja preta e duradoura. Saboroso e aveludado.
Custo Aproximado: R$ 100,00 (em 2012)


 

Brunello di Montalcino
Ao contrário do anterior que era um corte, o Brunello é um varietal: 100% Sangiovese Grosso. Não são admitidas outras uvas e apesar de alguns problemas, esta tradição é que faz este vinho ser uma das grandes glórias da Itália e do mundo da enologia.
Sua história está ligada à família Biondi Santi, reconhecidos como os inventores do Brunello. Já produziam excelentes vinhos desde 1865, pela mão de Clemente Santi. Dois de seus vinhos foram reconhecidos como excelentes na França, um deles, o “vinho tinto selecionado” seria o avô do Brunello.

Coube a seu neto, Ferruccio Biondi Santi levar adiante o projeto de vinhos longevos. Mas não foi uma tarefa fácil. Estabeleceu rigorosas normas de produção e de higiene elevando a qualidade de seus vinhos a padrões até então desconhecidos. Isto estimulou outros produtores. Mas, ao fim da 2ª grande guerra somente os Biondi Santi ainda produziam. Como num conto de fadas, foi preciso uma grande adversidade para que todo o potencial de Ferruccio como administrador e empreendedor fosse revelado. Os vinhedos de sua propriedade foram atacados por diversas doenças e pela temida Filoxera: a destruição foi completa.

Não se deixando seduzir pelas promessas de um lucro rápido e fácil, retomou com todo o empenho o projeto inicial de seu avô e replantou os vinhedos com o objetivo único de produzir vinhos longevos à base de 100% Sangiovese. Usando as técnicas já descritas no início deste texto, clona as melhores videiras por toda a sua propriedade. Foi um pioneiro antecipando em mais de um século a tendência dos toscanos de hoje: vinhos encorpados e duradouros. Faleceu em 1917 sendo sucedido por seu filho Tancredi. Em 1932 uma comissão interministerial do governo da Itália reconheceu Ferruccio como o inventor do Brunello moderno.
Tancredi continuou e expandiu o estilo de seu pai. Respeitadíssimo como vinicultor, era constantemente convidado a prestar consultoria em outras regiões, como as dos vinhos Lugana, Chianti, Ciró, entre outros. Partiu dele a sugestão de denominar como “Nobile” o vinho de Montepulciano.

A Biondi Santi é respeitada até os dias de hoje como o principal produtor de Brunellos, mantendo a fama e tradição obtida através de tantos anos. Hoje comandada pelo preparado Dr. Franco Biondi Santi, filho de Tancredi, mantem os mesmo ideais de sempre. Coube a ele expandir a área plantada para 25ha e manter e espetacular coleção de safras em sua adega que vem desde 1888. Seus dois filhos já trabalham no negócio e se preparam para sucedê-lo.

Em 1999, um grupo de respeitados especialistas elegeu o Biondi Santi, safra 1955, como o “Vinho do Século”. Uma honraria digna desta linda história.
Hoje existem na região cerca de 200 produtores. Manter a qualidade de todos eles é o desafio. Houve em 2008 o escândalo chamado de “Brunellogate” quando vários produtores importantes tiveram seus vinhos confiscados pelo Ministério Público sob a alegação de fraude: uvas não autorizadas teriam sido usadas na vinificação. Depois de acaloradas discussões, o vinho foi liberado à venda sob a denominação “Rosso di Montalcino”. Mais tarde, após estudos feitos em centros respeitados, quase nada ficou comprovado. A maioria dos vinhos suspeitos era mesmo o verdadeiro Brunello.
Se o Chianti era comparado com os vinhos de Bordeaux, o Brunello é equiparado aos Pinot da Borgonha por seus taninos macios e maduros e o caráter frutado de seu corpo. Os aromas e sabores mais comuns são amora, cereja e framboesa escuras, chocolate, couro e violetas. Sua boa acidez o faz um perfeito acompanhante para carnes grelhadas e suculentas.
Não é um vinho para ser bebido jovem. Um bom Brunello só vai estar pronto depois de 10 anos no mínimo de espera. Os melhores só mostram suas excepcionais qualidades após algumas décadas…
Além de Biondi Santi, destacamos estes produtores importantes: Fattoria dei Barbi, Castelo di Banfi, Argiano, La Pieve di Santa Restituta.

Brunello di Montalcino Biondi Santi
De incrível reputação e prestígio, é o mais tradicional e aristocrático nome de Montalcino. Foi apontado pelo Gambero Rosso como o melhor Brunello na safra de 2003, coroado com os cobiçados “3 bicchieri”. Mostra o bouquet clássico, com frutas escuras e especiarias. Na boca é amplo e potente, austero, no estilo mais tradicional possível. Um verdadeiro monumento ao vinho da Toscana.
Custo aproximado: de R$ 800,00 a R$ 2.800,00 dependendo da safra (2012)
 

Dica da Semana: um irmão menor do Vino Nobile.
 

Nottola Rosso di Montepulciano DOC 2010
Castas: 80% Prugnolo Gentile, 15% Cannaiolo, 5% Mammolo
Produtor: Villa Nottola
Envelhecimento: 6 meses em barricas de carvalho eslovenas
Cor intensa vermelha rubi. Aroma de frutos vermelhos escuros com notas de violeta e especiarias. Um corpo suave, com notas elegantes de frutas harmoniosamente equilibradas e com taninos macios. É considerado “irmão” do Vino Nobile de Montepulciano: emocionante, complexo, leve e frutado.
RP: 89 pt
       

Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos

A história do Chianti começa lá no século XIII, como um vinho branco! Percorreu um longo e atribulado caminho até se tornar o vinho da Toscana mais conhecido internacionalmente. As principais mudanças passaram por alterações nas regiões demarcadas e no tipo de vinho que muda para tinto. Não podemos esquecer que estamos na Itália, obviamente, apaixonadas disputas políticas entre as cidades de Florença e Siena sublinharam isto tudo.
Na idade média, as províncias de Gaiole, Castellina e Radda, fundaram a “Liga do Chianti”, demarcando uma área de produção considerada, até os dias de hoje, como o coração da produção deste vinho. Com a crescente popularização, outras comunas começam a fazer pressão para que seus vinhos também pudessem ser rotulados como Chianti, gerando, durante alguns séculos, uma expansão sem muito controle e a consequente vulgarização do produto: qualquer coisa em uma garrafa de palha era vendida como Chianti…
A composição do vinho também passou por mudanças importantes passando, gradualmente, de brancos para tintos. Coube ao Barão Bettino Ricasoli (ilustração a seguir), em 1782, estabelecer uma “receita” para a elaboração: recomendava um corte de 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia branca. Este corte, considerado clássico, foi endossado pelo governo em 1967 quando regulamentou a DOC Chianti, impondo a “Fórmula Ricasoli”, um blend com as uvas Sangiovese (até 90%) e Malvasia e Trebbiano (de 10% a 30%).

Mas esta aventura não termina aqui. Alguns produtores iniciaram um movimento para modificar a “fórmula”. Dois caminhos foram trilhados: a produção de vinhos com 100% de Sangiovese; a introdução das chamadas castas nobres no corte. Como estes vinhos não podiam ser classificados, pela lei, como Chianti, passariam a ser vendidos como “Vino da Tavola (vinho de mesa)” ou IGT. São vinhos simplesmente maravilhosos e tinham um preço de venda muitas vezes superior aos DOC, criando um paradoxo. Estes “super-Chiantis” se tornariam conhecidos como Super-Toscanos (anos 80). O sucesso foi enorme e acabou por dobrar as rígidas regras: alguns destes excepcionais vinhos já podem ser rotulados como Chianti.
Atualmente são consideradas duas regiões produtoras, a do Chianti Clássico DOCG e as demais que rotulam apenas como Chianti. O mapa a seguir é autoexplicativo.

Para serem enquadrados na DOCG Chianti Clássico, os vinhos devem ter em sua composição pelo menos 80% da Sangiovese e 20% de outras varietais. A partir de 2006, não são mais permitidas uvas brancas no corte. Para os Reserva, são exigidos 24 meses de amadurecimento em carvalho e 3 meses em garrafa.
Nas demais regiões, a regra é mais flexível: mínimo de 75 a 90% de Sangiovese, 5 a 10% de Canaiolo Nero, 5 a10% de Trebbiano Toscano, Malvasia Branca e até 10% de outras varietais.
Curiosidades
O nome deriva da pequena cadeia de montanhas que se distribui entre Florença e Siena. Durante a ocupação pelos Etruscos, a região era conhecida como “Clante” ou “Clanis” o que pode ter evoluído para a atual denominação.
Há um nítido paralelo entre este vinho e os de Bordeaux e isto teria influenciado a fórmula Ricasoli. A Sangiovese, muito aromática, tem os seus taninos suavizados pelo frutado proporcionado pela Canaiolo da mesma forma que a Cabernet Sauvignon é suavizada pelo corte com a Merlot. Alguns críticos consideram o Chianti como o Bordeaux italiano.
Desde 1980 foi criado o “Consorzio Chianti Classico” com o objetivo de aprimorar a qualidade do vinho, aumentar sua divulgação e impedir fraudes. Os produtores associados, todos da região do Chianti Clássico, colocam em seus rótulos a imagem do Galo Nero, que simbolizou a paz entre as cidades de Florença e Siena após anos de disputadas batalhas para delimitar fronteiras. A disputa final seria entre dois cavaleiros que partiriam de suas cidades, um ao encontro do outro. O cantar de um galo ao raiar do dia iniciava a corrida. O ponto de encontro seria o limite da cada território.
Os moradores de Siena criaram um galo branco que foi tratado com todo o carinho e respeito, tornando-se um belo e vistoso animal, enquanto os florentinos optaram por um galo preto que foi deixado à mingua. Como resultado prático, o “Galo Nero”, por estar faminto, cantou muito mais cedo permitindo ao cavaleiro de Florença ir muito mais longe e “encampar” toda a região do Chianti…

O primeiro “Super-Toscano”, o Tiganello, foi produzido por Marchese Piero Antinori em 1978 como um delicioso corte de Sangiovese e Cabernet Sauvignon. Foi uma revolução e permitiu a produção de outros vinhos fabulosos. Alguns, como o Sassicaia, já existiam desde 1944 como um vinho do patrão, só sendo comercializado após 1971, mas não era um estilo Chianti predominando a Cabernet.

Alguns vinhos icônicos
Há uma série de grandes produtores que se equivalem em seriedade e qualidade. O que os diferenciam é apenas um marketing melhor ou uma boa assessoria de imprensa. Somente alguns super toscanos atingiram os 100 pontos de Parker, mas o grande guia italiano, Gambero Rosso, já premiou com seus “tre bicchieri” diversos produtores. Eis alguns deles:
Isole e Olena, Castello di Fonterutoli, Fontodi, Marchesi Antinori, Fattoria di Felsina, Fattoria La Massa, Castello di Ama, Ruffino, Badia a Coltibuono, entre outros. 

Castello di Ama– Um dos melhores Chianti Classico, merecedor dos “tre bicchieri” do Gambero Rosso. Provavelmente o mais conceituado produtor desta denominação. Robert Parker: 93 pontos (safra 2007)
 

Chianti Classico Rancia Riserva – Este cultuado Chianti é, para muitos, o melhor Chianti da atualidade – “uma das melhores compras entre os vinhos de grande qualidade” para Robert Parker, que classificou a safra de 2007 com impressionantes 96 pontos! Uma das mais grandiosas expressões de Chianti clássico.

 Chianti Classico Riserva Badia a Coltibuono – Descrito como “incrivelmente expressivo, com notável profundidade” pelo Gambero Rosso e classificado como “outstanding” por Robert Parker, o Chianti Classico Riserva da Badia a Coltibuono é um dos maiores embaixadores da região, ostentando grande classe e imensa capacidade de envelhecimento. De fato, ele ganha em elegância e complexidade por mais de 20 anos! É um dos poucos vinhos orgânicos da região de Chianti Classico, sendo muito equilibrado – uma bela expressão da uva Sangiovese!
 

Semana que vem vamos abordar o famoso Brunello di Montalcino.

Dica da Semana: existem ótimos Chianti nas regiões fora do clássico. A denominação Rufina é das melhores. Não é barato, mas vale o investimento.

Chianti Rufina DOCG Nipozzano Riserva
Produtor: Marchesi de Frescobaldi
País: Itália/Toscana
Uva: 90% Sangiovese e 10% uvas complementares.
Vermelho púrpuro brilhante. Aroma expressivo de frutas silvestres como amora, mirtilo, framboesa e cereja escura que se mescla a notas de alecrim, baunilha e canela. Palato: Harmonia entre álcool, taninos, acidez e fruta. Final elegante e marcante. Acompanha carne assada, guisados e queijos maturados.

Riesiling, Pinot Gris e Gewurtztraminer – Final

Alsácia
Para finalizar, vamos conhecer um pouco desta curiosa região francesa de forte influência germânica. Localizada entre as montanhas Vosges a oeste e o Rio Reno e a Alemanha a leste, este pequeno paraíso, que já mudou de nacionalidade pelo menos 4 vezes, foi declarado território francês após a Grande Guerra.
Verdadeiro caldeirão cultural absorveu o que havia de melhor do cenário vinícola dos dois países o que poderia ser definido como um modo alemão de fazer vinhos franceses: o formato das garrafas tem enorme significado. Uma legislação rigorosa impõe limites que asseguram esta excepcional qualidade de seus vinhos.
Apenas 9 varietais são oficialmente permitidas: Riesiling, Pinot Gris, Gewüztraminer, Muscat, Pinot Noir, Pinot Blanc, Auxerrois Blanc, Sylvaner e Chasselas.
Existem outras castas plantadas, mas não são significativas. As seis primeiras são as mais importantes. A Muscat desempenha o papel de 4º Mosqueteiro no trio apresentado enquanto a Pinot Noir é a que produz o único tinto da região, muito diferente daqueles da Borgonha. Além deste são elaborados vinhos brancos, rosados e um excelente espumante o Cremant d’Alsace.

Unicamente as 4 uvas principais podem ser classificadas com a mais importante denominação, “Grand Cru”, dependo da área de plantio. Cerca de 50 vinhedos estão assim classificados e são conhecidos mais pelo nome de seus produtores do que pela região ou vila em que estão geograficamente localizados. Curiosamente, nem todos os produtores endossam este sistema vendendo seus vinhos livremente e independentes da burocracia vigente. Quase sempre estão entre os melhores…

O vinho alsaciano é tipicamente gastronômico, perfeito para acompanhar saborosas refeições. A grande surpresa fica por conta da pouca popularidade destes brancos. Alguns especialistas apontam a garrafa longa com um fator que trás grande confusão com os vinhos alemães, nem sempre bons e muito falsificados. Por outro lado o marketing da dupla Chardonnay e Sauvignon Blanc é tão forte que vale a pena perguntar: “Quem conhece Gewürztraminer, Muscat ou Pinot Gris?” Uma pena, pois são grandes vinhos em todos os sentidos, infelizmente, muito caros no nosso país.
Os vinhos mais simples, ainda assim muito saborosos, são um corte denominado Edelzwicker. As classificações seguintes são AOC Alsace e AOC Alsace Grand Cru (AOC = Denominação de Origem Controlada). Importante notar que nos rótulos é obrigatória a presença do nome da varietal. Esta é a única região francesa com esta exigência. Duas outras classificações são a “Vendange Tardive” (colheita tardia) e “Sélection de Grains Nobles” (colheita de grãos Botritizados) que são os vinhos de sobremesa.
Para os leitores aventureiros, fazer a Rota dos Vinhos Alsacianos é um dos melhores passeios que conhecemos. O centro de tudo é a cidade de Colmar. Pode-se partir dali ou optar por começar em Thann acompanhado o Rio Reno até Marlenheim, próximo a Strasbourg.
Esta rota existe a 60 anos e todo visitante é bem vindo em qualquer época do ano. Os alsacianos se esmeram para mostrar os seus vinhos e uma fantástica culinária. Somos recebidos de braços abertos até mesmo durante as pesadas fainas da colheita e vinificação.
As localidades de Colmar, Kaysersberg, Riquewihr e Illhaeusern são pontos obrigatórios. Lá estão alguns dos melhores Chefs de cozinha, com pratos perfeitos para harmonizar com os vinhos de produtores como Kuentz-Bas, Trimbach, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Beyer, Rolly Gassmann, Weinbach, Bruno Sorg, Marc Kreydenweiss, Hugel, Domaine Ostertag, Albert Boxler, Schlumberger entre outros.  
A seguir, alguns produtores e seus vinhos icônicos.
Maison Trimbach
Produzindo desde 1626, está na 12ª geração de vinhateiros dando continuidade a uma impecável reputação. Um dos seus Riesilngs o Clos Sainte Hune é considerado como o melhor do mundo por críticos do calibre de Jancis Robinson e Hugh Johnson.
Segundo o produtor, “para se regalar com um Clos de Sainte Hune, é necessário esperar pelo menos 10 anos para que ele mostre seu verdadeiro potencial, 15 anos, em geral, ele está perfeito ao início de seus 20 anos, ou até mais”…
Proveniente de um verdadeiro Clos, plantado em anexo à igreja da família em Hunawihr, o Sainte Hune não é produzido em volume maior que 10.000 garrafas, devido à baixíssima produção das videiras de 50 anos em um restrito terroir.
Opinião dos Especialistas:
Wine Spectator: 94 pontos (2001) 96 pontos (1996)
Robert Parker: 94 pontos (2000) 95 pontos (1998)
Wine Enthusiast: 93 pontos (1998)

Domaine Zind-Humbrecht
Porduzindo vinhos desde 1620, esta vinícola é considerada como o melhor produtor de vinhos brancos do mundo. Uma unanimidade tão grande que é mesmo surpredente: Bettane & Dessauve (entre os mais respeitáveis críticos na França) o considera “como um produtor excepcional, representante da qualidade mais absoluta.”
Robert Parker diz: “Não sei o que é o mais extraordinário, a qualidade dos vinhos ou a dedicação completa de seu proprietário Olivier Humbrecht. Esse grande homem, forte e intelectual é provavelmente o melhor produtor do mundo”.
Jancis Robinson: ” Sou admiradora de sua incessante procura pela a melhor qualidade”.
Seu vinho mais conceituado é o Sélection de Grains Nobles Pinot Gris Clos Jebsal

O vinho precisa de alguns minutos para revelar sua extraordinária textura. O nariz é muito sutil, com notas confitadas, aeradas. A boca, untuosa, é duma pureza e densidade impressionantes. Nesse nível de concentração qualquer desvio seria perceptível. Mas aqui o açúcar e a acidez são concentrados num equilíbrio perfeito. O material é denso, aveludado. Tem uma riqueza extrema, um acidez excitante. É a pureza de equilíbrio e persistência quase infinitos. Provavelmente um dos melhores licorosos já produzidos, que recebeu os elogios de todos os grandes críticos (Parker: 97/100, Bettane & Dessauve 19/20 etc…). 
Se tornou um vinho ícone.
Domaine Schlumberger
É o maior produtor da Alsácia. Em atividade desde 1810. O vinhedo já existia na Idade Média e algumas das adegas, ainda em uso, datam daquela época. Há um perfeito casamento entre tecnologia e tradição – carroças puxadas por cavalos e helicópteros se unem no mesmo esforço de qualidade. A coerência e a harmonia do processo de produção são obras de várias gerações dedicadas a esses “terroirs” privilegiados e orgulhosos de uma fama internacional. Dentre sua inacreditável linha de vinhos destacamos o Gewurztraminer Grand Cru Kitterlé.

Produzido num espigão rochoso, com inclinação de 30 a 60% e excelente exposição sul-oeste a sudeste. O solo leve e arenoso é segurado por muros de pedras secas. Rendimento de 25 hectolitros por hectare. Colheita manual e prensagem das uvas inteiras. Criação sobre borra durante oito meses em tonéis de carvalho, com controle de temperatura.
Sua coloração é amarelo ouro claro, com reflexos verdes. No nariz é intenso porem delicado, com notas tropicais (lichia, manga) e especiarias (gengibre). Com a evolução percebem-se notas florais (rosa) e cítricas (grapefruit). Na boca é Um vinho amplo, vivo e bem equilibrado. A complexidade dos aromas se desenvolve fiel aos apresentados ao nariz. Bom equilíbrio, persistência surpreendente.

Dica da Semana:para celebrar tudo isto, mais um vinho de lá!
Crémant d´Alsace – $
René Muré, pequeno produtor da Alsácia, explora o domaine familiar situado em Rouffach. O solo de calcário argiloso confere a este espumante Brut seus aromas cítricos e de frutas amarelas (damasco, mirabela) e sua estrutura elegante. As parreiras tem idade media de 20 anos.
Uvas: Pinot Blanc; Pinot Auxerrois; Riesling; Pinot Gris; Pinot Noir.
Cor amarela pálida, com reflexos verdes. Perlage fina, numerosa e regular. No nariz trás aromas delicados florais (tília) e de frutas (maçã); notas de canela e baunilha. Na boca é bem equilibrado e redondo. Seco e aromático, com final vivo. Persistente.

 

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