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Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – V

Após a intrigante visita na Quinta das Carvalhas, partimos para o almoço num dos restaurantes mais badalados da região, o DOC by Rui Paula.

Inaugurado em 2007, o DOC, uma abreviatura de Degustar, Ousar e Comunicar, está instalado num edifício de linhas contemporâneas situado no cais da Folgosa, na estrada que margeia o rio Douro entre a Régua e o Pinhão. É considerado como um ponto de encontro obrigatório para quem vive no Douro ou viaja pela região, seja para apreciar a boa comida, o vinho ou a paisagem.

 Optamos por pratos tradicionais da culinária portuguesa, onde não poderia faltar uma opção de bacalhau com batatas ao murro. O vinho, sugerido pelo Sommelier, foi o “Olho no Pé” 2009, da região do Douro. Um tinto gastronômico, muito frutado e fácil de beber.
 
 
Pontualmente às 16h chegamos à Quinta das Gaivosas, em Santa Marta do Penaguião, cerca de 4 Km adiante do Peso da Régua.
 
Esta vinícola é comandada pelo Eng. Domingos Alves de Sousa, que representa a 3ª geração desta família. É considerado um dos mais importantes vinhateiros do Douro. Fomos recebidos por seu filho, Tiago, engenheiro agrônomo, atual Diretor de Produção e Administrador, que está sendo preparado para assumir o lugar de seu pai, iniciando a 4ª geração da família à frente dos negócios. Ao contrário da outra vinícola visitada pela manhã, esta não tem uma estrutura para receber visitantes, por esta razão, terem nos recebido aqui foi uma honra, o que nos deixou muito sensibilizados.

A visita foi feita em duas etapas, um passeio pelos íngremes vinhedos e uma degustação dos principais vinhos ali elaborados. De saída, nota-se a diferença no relevo: as colinas nesta região são mais escarpadas que as das margens do Douro. Até o valente 4X4 que nos transportava teve dificuldades para alcançar os trechos mais altos da propriedade. Tiago enfatizou a dificuldade em fazer o trabalho no campo como a poda, a colheita, a limpeza, etc. Contam com um pequeno grupo de trabalhadores que são “especializados” neste tipo de terreno. Vejam algumas imagens a seguir.

Uma das histórias mais interessantes relatadas por nosso anfitrião foi sobre um vinhedo, com mais de 80 anos, localizado numa das encostas mais inclinadas e expostas ao Sol, com algumas aflorações de Xisto no meio das parreiras, o que dificulta o trabalho. Por esta razão, ficou meio abandonado por muito tempo. Tentaram de tudo para revitalizar esta área, mas só as vinhas originais conseguiam sobreviver. Todas as tentativas de replantio não vingaram. Em 2004 decidiram vinificar o que fosse colhido destas vetustas parreiras. Sucesso! O vinho, que recebeu o nome de “Abandonado”, logo mostrou que tinha caráter e personalidade únicos.

Após o passeio, iniciamos uma deliciosa degustação que não deixou nenhuma dúvida sobre a excelência dos vinhos produzidos pelos Alves de Souza:

– Branco da Gaivosa 2013 – elaborado com Malvasia Fina, Gouveio e Viosinho (pode haver outras) colhidas em vinhedos com mais de 60 anos. Bonita coloração amarelo palha, aromas e sabores de frutas secas e uma boa untuosidade devido a um estágio em barris de carvalho francês; Nota: 16/20

– Quinta da Gaivosa Douro 2009 – as castas, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinto Cão, Touriga Nacional e outras são provenientes de vinhas velhas com 60 anos ou mais. Apresentou cor avermelhada com intensos aromas e sabores de frutas vermelhas e suave nuance de especiarias devido ao estágio em carvalho francês; Nota: 17,5/20

– Alves de Souza Reserva Pessoal Tinto 2005 – produzido com os melhores exemplares de Tinta Roriz, Tinto Cão e Touriga Nacional obtidos na Quinta, vinhas velhas com mais de 60 anos. Um vinho intenso, complexo e encorpado com aromas e sabores transitando desde as especiarias até frutas maduras. Recebeu diversos prêmios em colheitas anteriores, alcançando 17,5 pts na edição atual do Guia de João Paulo Martins;

– Abandonado 2007 – somente é produzido em safras muito especiais, e 2007 foi uma delas. Um “vinhaço”, muito estruturado, encorpado e elegante com predominância de frutas negras no nariz e palato. Recebeu 18 pontos no guia citado acima;

– Porto Quinta da Gaivosa 10 anos – outro vinho de alta gama que encerrou esta degustação maravilhosa. Nota: 16,5/20

 

 

A última foto acima mostra o velho alambique onde era produzida a aguardente adicionada ao “Porto”. Devido a regulamentações governamentais, hoje é mais fácil compra-la de terceiros. O conjunto virou uma bonita peça de decoração.

Quase ao final de nossa prova de vinhos, Tiago recebe um telefonema de seu amigo Álvaro Martinho, nos convidando para ir até seu “armazém” que fica a poucos metros de distância. Começava nova e deliciosa aventura.

Álvaro nos recebeu em grande estilo e com algumas surpresas. Seu armazém fica sob sua residência e funciona como uma micro-vinícola, adega, sala de ensaio da banda, enfim, um espaço multitarefa.

O seu vinho se chama Mafarrico e tem sido bem aceito pelo mercado. O Branco foi escolhido como melhor em sua categoria em 2013.
Outro detalhe que chamou a nossa atenção era sua adega eclética onde havia até vinhos top, como o famoso “Barca Velha”.

Para encerrar esta nossa incrível viagem ao Douro, Álvaro nos brindou com um pouco de sua música, além de diversas garrafas de vinhos, tudo acompanhado de pães, queijos e embutidos.

Inesquecível!

Dica da Semana: continuamos na terrinha…

Casa de Sarmento Espumante Brut
Cor amarela palha de aspecto cristalino, bolha fina e persistente. Aroma elegante, discreto, com alguma fruta.
Muito agradável na boca, fresco, com uma mousse muito delicada e boa acidez.
Excelente para entradas, bem como para acompanhar peixes, mariscos e o típico Leitão da Bairrada.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – III

O segundo dia no Pinhão prometia uma aventura bem diferente. Nosso destino era a conhecida Quinta do Crasto. Partiríamos de barco pelo Rio Douro num percurso de 1 hora até o Ferrão, um pequeno cais de onde um “transfer” nos levaria morro acima até a vinícola.
Às 11h, de acordo com a nossa agenda, estávamos à bordo do Pipadouro, partindo logo em seguida para um tranquilo passeio, singrando o rio e observando a linda paisagem em ambas margens. Para animar, foi servido um Evel branco, saboroso corte das castas Rabigato, Arinto, Viosinho e Fernão Pires, produzido numa das muitas quintas da Real Companhia Velha.
 
Honestamente, um luxo só, estávamos nos sentindo muito VIPs com este tratamento todo. Vejam as imagens:
 
 
 
Este passeio custa 35€ por pessoa e dura 2 horas. No nosso caso, como tínhamos uma visita e almoço agendados, desembarcamos no “Cais do Ferrão” após 1 hora de viagem. Foi agradável, mas achamos que ficaram nos devendo mais uma hora de passeio…
 
No desembarque, novas surpresas nos aguardavam: o nosso “transfer” era um simpático caminhão marca Bedford da década de 50, devidamente preparado para transportar os visitantes morro acima.

Eu achei muito interessante e bem dentro do espírito deste tipo de visita. Tudo nesta região respira tradição, inclusive a modernidade que é encontrada nos robôs que simulam o pisa-a-pé; os atuais tanques de fermentação com temperatura controlada; ou em outros equipamentos de ponta. Alta tecnologia, mas com um ar de pompa e circunstância de antigamente. Novamente, me senti “o rei do pedaço”, no alto da carroceria. A foto que está logo abaixo bem que merecia uma legenda como “Quinta do Crasto, aqui vou eu”!
 
 
Com localização privilegiada na Região Demarcada do Douro, esta empresa é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Como costuma ser com as grandes Quintas do Douro, a origem da Quinta do Crasto remonta a tempos longínquos – o nome Crasto deriva do latim “castrum”, que significa forte romano. Produzem vinhos brancos, tintos e do Porto além de deliciosos azeites. Importantes investimentos realizados nos últimos anos permitiram modernizar as vinhas e as instalações de vinificação. Utilizam as mais avançadas tecnologias, conjugadas com o tradicional método de pisa-a-pé em lagares.
 
 
 
Chamou a nossa atenção o formato tronco cônico dos tanques. Tem alguma semelhança com os ovais mostrado em colunas anteriores. Esta tecnologia é bem recente e, definitivamente, influi positivamente no resultado final.
 
Depois do recorrido nas instalações fomos levados para o local do nosso almoço, que foi previamente encomendado com base no programa abaixo.
 
 
 
 
Nossa escolha foi o Arroz de Pato. Estava delicioso e harmonizou corretamente com os vinhos oferecidos. A vista, deslumbrante, nos deixou maravilhados com o local, difícil foi ter que deixar isto para trás e voltar para o hotel.
 
 
 
O estilo duriense de receber os visitantes tem uma característica própria que enfatiza mais o estilo de vida, a gente e os vinhos, um trinômio indissolúvel. No almoço, não há aquela preocupação de harmonizar isto com aquilo. Tudo estava ao nosso alcance, os vinhos “eram nossos”, segundo um atendente, o que significava que estávamos livre para fazer as nossas próprias combinações.
 
Ao final, na hora da sobremesa, foi servido um queijo tipo Serra da Estrela, delicioso, no ponto certo, fez a alegria de todos. Eu experimentei com todos os vinhos que foram oferecidos até fazer a minha escolha. Sensacional!
 
Um resumo do que foi degustado:
 
Quinta do Crasto Branco 2012: Elaborado com Gouveio, Viosinho e Rabigato. Cloração citrino. Excelente intensidade e frescura aromática, onde se destacam notas de lima, maracujá, flor de laranjeira, e vibrante mineralidade. No palato apresenta início envolvente, evoluindo para um vinho com excelente volume, acidez e estrutura, tudo em perfeito equilíbrio com notas de grande frescura e profunda mineralidade. Termina vibrante, fresco e persistente.
 
Crasto Douro Tinto 2012: Elaborado com Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Barroca. Coloração Violeta intenso. Perfeita projeção de aromas de frutos silvestres do Douro de grande frescura e intensidade, muito bem integrados com suaves notas florais. Na boca é elegante, com volume correto, taninos redondos de textura fina que lhe conferem uma estrutura em perfeito equilíbrio. Muito rico em notas de frutos silvestres frescas que consolidam um conjunto harmonioso. Boa persistência.
 
Crasto Superior Tinto 2011: Vinificado a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Souzão e Vinha Velha. Coloração violeta intenso. Ótima expressão e intensidade aromática, onde se destacam frescos frutos silvestres, em perfeita harmonia com elegantes notas de esteva (uma flor), e suaves especiarias. No paladar tem início fresco, evoluindo para um vinho sério, de excelente volume, e estrutura compacta, onde se destacam taninos redondos e firmes. Termina persistente com agradáveis sensações de frutos silvestres em perfeita integração com especiaria fresca.
 
Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2011: Vinificado a partir de Vinhas Velhas (25 a 30 castas diferentes, inclusive brancas). Coloração rubi carregado. Fantástica expressão, concentração e complexidade aromática, onde se destacam frutos silvestres do Douro, em perfeita harmonia com suaves notas de especiaria e aromas frescos de cacau e esteva. Ataque poderoso no palato, evoluindo para um vinho muito elegante, de excelente densidade. Taninos de textura muito fina, em perfeita envolvência com frescos sabores de frutos silvestres do Douro. Termina longo e muito persistente, com uma agradável sensação de frescura. Elevado potencial de envelhecimento.
 
Quinta do Crasto LBV 2008: Obtido a partir de Vinhas Velhas (mistura de castas). Coloração violeta muito escuro. Impressiona pela fantástica frescura e exuberância aromática, que apresenta distintos aromas de frutos silvestres do Douro, muito bem integrados com elegantes notas de flor de esteva. Início harmonioso, de perfil muito elegante. Estrutura compacta, de volume correto, com taninos redondos. Textura fina e excelente profundidade. Final intenso, elegante, muito fresco e de excelente persistência.
 
Nosso retorno estava programado por volta das 15h. Seria de trem, que passa pontualmente às 15:27 na estação do Ferrão que fica ao lado do cais. Depois de uma curta viagem de 5 minutos, a um custo de 1,50€ por pessoa, o que nos fez achar que foi um mau negócio a ida de barco, exceto pelo visual, desembarcamos na estação do Pinhão com seus azulejos classificados como Patrimônio da Humanidade.
 
 
 
Este dia ainda teria mais uma surpresa, a visita do amigo Maurício Gouveia, sua esposa e filha que vieram de Mirandela e nos levariam até Vila Real. Mas este episódio fica para a última coluna desta série.
 
Nosso próximo destino: Quinta das Carvalhas.
 
Dica da Semana:  qualquer dos vinhos citados seria uma ótima escolha. Optamos por indicar um delicioso branco que foi descoberto numa prova aqui no Rio de Janeiro.
 
 
MC-Maria do Céu Reserva Branco 2012
 
Vinificado com as castas Malvasia, Moscatel Galego e Gouveio.
Apresenta cor amarelo palha, aromas de flor de laranjeira menta, chá de ervas e um leve toque fumado devido à sua fermentação em barricas.
Na boca é um vinho encorpado, fresco e equilibrado, com carácter gastronómico.
 

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – II

Pinhão é uma freguesia do concelho de Alijó com 3Km2 de área e população em torno de 700 habitantes. Situada na margem direita do rio Douro, no centro da região demarcada do Vinho do Porto, onde estão localizadas várias quintas produtoras. A paisagem do Pinhão está classificada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.
 
A chegada, de carro, é cinematográfica. A estrada margeia o lado esquerdo do rio terminando na ponte que cruza o Douro e nos deixa na porta do nosso hotel, o Vintage House.
 
 
 
Depois de acomodados, saímos em busca do almoço. O restaurante do hotel, excelente por sinal, oferecia um menu harmonizado que optamos por experimentar no jantar. Indicaram-nos uma alternativa, o Veladouro, localizado à curta distância. Fomos caminhando pela bonita orla do cais.
 
Não era bem o que esperávamos. Uma casa simples, confortável, especializada em grelhados. Nada de alta gastronomia. Optamos por compartilhar um Bacalhau com Batatas, que estava muito seco e uma Dourada que achei correta, embora o peixe fosse servido inteiro, exigindo um paciente trabalho de remover as espinhas.
 
Melhor estava o vinho. Escolhemos um Pedra Cancela branco, da região do Dão (embora estivéssemos no Douro). Elaborado a partir das castas Encruzado, Cercial e Malvasia Fina recebeu 15 pontos (15/20) do Guia Vinhos de Portugal de João Paulo Martins. Foi um bom acompanhante para este dia de temperatura inesperadamente alta para a época. Mostrou leve notas de feno e vegetais secos no aroma além de fruta madura. Nada de cítricos, o que o torna diferente da média. Boa acidez, fresco e fácil de beber.
 
 
Nosso próximo compromisso seria às 18h quando visitaríamos a Quinta do Seixo (pertence à poderosa SOGRAPE) onde é produzido o Porto Sandeman, uma das marcas mais conhecidas internacionalmente. Fica a 5 minutos de carro.


Sandeman

 

 
Esta foi a única vista não agendada previamente. Assim que chegamos ao nosso hotel solicitamos que nos reservassem um horário. Conseguimos o último disponível neste dia. É uma visita clássica, orientada para o turista curioso e não para um especialista. Mas surpreendeu pela simpatia de nossa guia e pela qualidade de tudo que nos foi apresentado ou servido. Na chegada selecionamos qual tipo de visitação gostaríamos de fazer: os homens optaram pela “Vintage” com uma degustação com 5 vinhos do Porto incluindo o premiado “Vau Vintage” (16€ pax); as esposas preferiram a opção “Clássica” (6€ pax) com degustação de 2 vinhos apenas. O tour é o mesmo para todos.
 
Passamos para uma pequena antessala onde somos recebidos pela nossa simpática guia que vem caracterizada como o “Don”, o cavalheiro que está no logotipo da empresa. Ela explica que se trata de uma dupla homenagem: “O “Sandeman Don” é uma das primeiras imagens de marca criada no mundo e o primeiro grande ícone no mundo dos vinhos. Foi pintado, em 1928, por George Massiot Brown e, com a sua capa negra de estudante de Coimbra e o “sombrero” típico de Jerez, ainda hoje mantém toda a sua mística e atração, representando o mistério e a sensualidade da marca Sandeman”.
 
Esta imagem teria inspirado, entre outros heróis da ficção que usam capas, a do Zorro, alter ego de Don Diego de la Vega.
 
O passeio é interessante e fácil. Passamos pelos lagares onde as uvas são processadas, observamos um recorte do subsolo, a cave de envelhecimento, assistimos a um rápido filme institucional e fomos conduzidos para o conjunto sala de degustação e loja. A imagens falam por si.
 
 
Apesar de pouco técnica, foi uma bela introdução ao mundo das vinícolas do Douro. Os vinhos provados estavam ótimos.

Para encerrar este primeiro e movimentado dia, depois de alguns momentos de descanso, provamos o jantar harmonizado com os bons vinhos da Quinta da Pedra Alta, no luxuoso restaurante Rabelo. Um cardápio de 4 etapas.

1º passo:

Melão com presunto e geleia vermelha
Porto Branco Seco Reserva

 
Interessante combinação (a foto do prato se perdeu). O vinho do Porto está em fase de modernização numa tentativa de reaquecer o seu consumo que, hoje, está restrito a grandes comemorações e pessoas idosas. Jovens não se interessam. Este branco, consumido gelado, é uma das opções para conquistar novos apreciadores.


2º passo:

Massa folhada recheada com Alheira e Pasta de Azeitonas
Quinta da Pedra Alta Branco Reserva 2011

 
Elaborado com as castas Malvasia Fina, Rabigato e Gouveio, se mostrou equilibrado e agradável de beber. Ótima combinação com o sabor marcante das Alheiras, um embutido condimentado produzido a partir de carne de aves.


3º passo:

Pato Mudo – corte da ave caramelizado acompanhado de Purê de Batata
Quinta da Pedra Alta DOC Douro (15,5/20)

 
Um corte de Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca com agradável acidez e taninos finos. Boa presença de frutas maduras que harmonizaram delicadamente com o toque de caramelo da ave. Aprovado!


4º passo:

Maçã Assada, Sorvete de Creme e Frutas Vermelhas
Porto LBV Quinta da Pedra Alta

 
Harmonização clássica que encerou esta boa refeição.

Nossa próxima etapa: Quinta do Crasto.

Dica da Semana:  um porto branco para inovar os drinques de verão: Portonic e Caipiporto.

Porto Cálem Velhotes Fine White

Portonic – Num copo alto com gelo sirva 1 dose de Porto Branco Seco e complete com água tônica bem gelada. Decore com uma rodela de limão.

Caipiporto – num copo baixo coloque 4 gomos de Lima da Pérsia, gelo picado e açúcar a gosto. Esmague até obter um bom sumo. Cubra com generosa dose de Porto Branco seco.

Vinho na Copa do Mundo 2014

No dia 12 de junho deste ano no inacabado Itaquerão, que deveria ter sido chamado de “Curingão”, ocorreu o 1º jogo da tão esperada Copa do Mundo FIFA, na qual o nosso esquadrão “Canarinho” tentará ser hexacampeão, acalmando os nervos de governantes e cidadãos… Vamos torcer, obviamente, mas sem o mesmo entusiasmo observado em outras épocas, notadamente 1970.
 
Chega de saudosismo!
 
A grande novidade introduzida pela poderosa D. FIFA foi a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios, que era proibida por resolução da CBF e foi, tecnicamente, ratificada pelo Estatuto do Torcedor (existem brechas jurídicas). Como um dos patrocinadores desta Copa é a Cervejaria Budweiser, da Inbev, o nosso Senado aprovou, em regime de urgência, A Lei Geral da Copa que, entre outras benesses concedidas para a D. FIFA, libera a venda de bebidas alcoólicas durante os jogos.
 
Além da cervejota, estarão presentes 3 vinhos tranquilos brasileiros e 1 espumante, que a nossa poderosa e arrogante personagem principal decidiu que seria francês: um Taittinger. Uma tremenda deselegância com os nossos excelentes produtos. Só por isto já valia um protesto!
 
O Sr. Blatter, velho conhecido nosso, é um daqueles personagens que tem até assessor para pegar coisas que caem no chão. Muito necessário no caso dele, pois se abaixar, não levanta mais…
 
Intriga? Olha a prova aqui:
 
 
Para fornecer os vinhos, um branco, um tinto e um rosé, escolheram uma vinícola boutique localizada no Vale dos Vinhedos, a Lidio Carraro. Interessante escolha, pois esta empresa já havia fornecido os vinhos dos Jogos Pan Americanos de 2007 no Rio de Janeiro. Naquela época foram selecionados 5 rótulos da vinícola, entre eles, 2 espumantes.
 
 
Para a Copa foi desenvolvida uma linha especial denominada Faces FIFA World CUP™.
 
Segundo a vinícola:
 
“A cor, os aromas e os sabores do Brasil. A sua terra e a sua gente traduzidos no vinho. Um “time de uvas” em perfeita harmonia, provenientes de distintos terroirs brasileiros, para valorizar a diversidade, vocação e identidade do País verde-amarelo! A combinação de uvas escolhida forma o caráter do vinho onde cada uva é responsável por um atributo na composição da cor, aroma e sabor”.
 
O Branco
 
Um corte de três uvas bem adaptadas ao terroir Gaúcho: Chardonnay, Moscato e Riesling Itálico. Foram vinificados em separado utilizando-se métodos adequados para cada casta. Depois de amadurecidos em tanques de Inox foi feita uma assemblage na proporção de 1/3 para cada vinho.
 
Na taça mostra cor amarelo dourada brilhante com lágrimas preguiçosas. As primeiras notas sentidas são as que têm como origem a Moscato: rosas brancas, frutas cítricas e frutas exóticas, complementadas com notas de flor de tília e pêssego maduro passadas pelos demais vinhos. O Riesling Itálico contribui com frescor e persistência, além de uma nota delicada de flores brancas cabendo ao Chardonnay ser a estrutura de ligação entre os vinhos, contribuindo com notas frutadas, volume e consistência em boca. O retrogosto é agradável e convidativo.
 

O Rosé

Este vinho foi pensado para ser o preferido nas cidades de clima mais tropical. Algo para ser consumido nos dias quentes, em vez da cerveja. Um vinho descompromissado. A embalagem foi estudada para ter pouco peso e ser fechada com tampa de rosca simplificando sua abertura. Ainda assim, é um vinho elaborado com todos os cuidados exigidos e com o padrão de qualidade da Lidio Carraro.
 
Novamente 3 castas foram selecionadas, Pinot Noir, Merlot e Touriga Nacional, representando as diferentes regiões onde se cultivam as viníferas no Rio Grande do Sul. O corte, obtido a partir de vinificações em separado, como no vinho branco, contemplou a seguinte proporção: 50% Pinot Noir, 35% Merlot e 15% Touriga Nacional. Segundo a Enóloga Monica Rossetti, está foi a melhor combinação, obtida após numerosos ensaios.
 
A coloração rosa salmão produz agradável impacto visual convidando a uma degustação descontraída. Os 50% Pinot Noir produzem um caráter essencialmente frutado, com notas como cereja, groselha e pomelo. Aromas complementares de framboesa e morango, que aparecem depois de alguns minutos de evolução na taça, são devido à casta Merlot, exercendo um papel determinante na boca, conferindo um agradável volume e um perfil refrescante e jovial ao vinho. A casta de menor proporção, Touriga Nacional, marca a personalidade do vinho com uma nota floral de rosas e especiarias orientais.
 
 

O Tinto

Foi elaborado com uma interessante característica: 11 castas diferentes, como se fosse um time de futebol, com uma escalação pensada cuidadosamente. Sem dúvida é o vinho mais interessante do grupo. A elaboração foi muito trabalhosa: cada uva foi vinificada de forma independente, utilizando diferentes processos para cada casta. A preocupação da enologia era ressaltar as diferentes combinações de solo, clima e uvas que caracterizam a produção de vinhos no Rio Grande do Sul. Um resultado interessante. Eis a “escalação”:
 
Goleiro: Malbec;
 
Defesa: Tannat, Nebbiolo, Alicante e Ancelotta;
 
Meio-Campo: Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e Teroldego;
 
Ataque: Cabernet Sauvignon e Merlot.
 
 
Para o corte, os vinhos passaram por fermentação malolática e após vários testes escolheram a seguinte proporção:
 
50% Cabernet e Merlot;
 
35% Tannat, Malbec, Pinot Noir e Teroldego;
 
15% Ancelotta, Nebbiolo, Touriga Nacional, Tempranillo e Ancelotta.
 
Na taça, este vinho remete imediatamente às duas uvas “atacantes” em cor e aromas marcantes. Como num time de verdade, as “meio-campistas” marcam sua presença através de sutis notas de ameixa, chocolate, framboesa e violetas, além de proporcionar volume. Coube ao grupo da “defesa” cuidar da estrutura e dos aveludados taninos. A Malbec, firme no gol, responde pelo final de boca com suas notas frutadas e de especiarias doces.
 
 
Apesar das descrições elaboradas, fornecidas pela vinícola, são vinhos para serem consumidos já. Foram elaborados com todo o cuidado e preocupação com a qualidade, mas isto só não os torna “grandes vinhos” e nem poderia ser diferente. O principal objetivo é comemorar nas vitórias ou consolar nas derrotas. Findo o torneio, serão lembrados como bons companheiros. Tempo de guarda máximo de 3 anos.
 
Dica da Semana: escolham a sua versão preferida.
 
Faces FIFA World CUP$

Um Convite Irrecusável!

Uma das melhores coisas que pode acontecer com um enófilo, como eu, é ser convidado para uma prova de avaliação de novos vinhos. Esta, em particular, foi especial.
 
Começou com o local, a agradável adega e restaurante Enoteca DOC, anexa à tradicional Chapelaria Esmeralda, situada no centro do Rio de Janeiro. Os atuais donos, Fabio Soares e sua esposa Christiane Faria, entraram neste negócio quando Chris herdou a chapelaria, propriedade de sua família desde 1920. Ouvindo os clientes que comentavam que “ficariam por ali se houvessem charutos e vinhos à venda” promoveram uma alinhada reforma dividindo a loja em dois charmosos segmentos. De um lado a renovada loja de chapéus que funciona de 9:00 às 18:30. Do outro a adega com ênfase em vinhos e cervejas que atende seus clientes de segunda a sexta a partir das 11:00 até as 21:00.
 
 
Marcada para às 15h, ao chegar já encontrei Fabio, José Paulo Gils e Alexandre Ventura, da importadora DOCG, finalizando uma garrafa de um belo tinto português que não deu nem para sentir o gostinho. O confortável e aconchegante ambiente do andar superior da casa pedia que fosse aberto mais um vinho. Desejo realizado! Alexandre propôs que enquanto aguardávamos os demais participantes, derrubássemos uma garrafa de um dos seus melhores vinhos, um excelente tinto do Douro, o Mapa.
 
 
Este nome foi inspirado pelos mapas da região do Douro elaborados pelo Barão de Forrester, um empresário inglês radicado em Portugal que promoveu importante reforma no comércio de vinhos em 1831.
 
Sua morte, em condições no mínimo curiosas, aconteceu num naufrágio em 1861. Relatos de época dão conta que ele teria sido “arrastado para o fundo por causa do cinto com dinheiro que levava consigo, nunca tendo sido encontrado o seu corpo. Nessa derradeira viagem, fez-se acompanhar por D. Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida como “Ferreirinha”, que segundo reza a história, não se afogou porque as saias de balão que então vestia, a fizeram flutuar até à margem do Rio Douro”.
 
Fácil perceber que este vinho é cheio de referências, a mais importante delas a região (e as famílias) onde era produzido o aclamado vinho Barca Velha, ícone da vinicultura portuguesa. O MAPA é um projeto pessoal de Pedro Garcias, jornalista e crítico de vinho do Jornal Público.
 
Começou a ser desenhado há cerca de uma década, com a compra das primeiras terras em Muxagata, Vila Nova de Foz Côa, na mesma região da famosa Quinta do Vale Meão que forneceu, durante muitos anos, as uvas para a elaboração do Barca Velha. Hoje a Quinta produz seu próprio vinho, homônimo, carinhosamente apelidado de Barca Nova.
 
O MAPA é no mínimo excepcional!
 
Um corte de Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz, passa 20 meses em barricas de carvalho francês. São produzidas apenas 2.900 garrafas. Joia rara. Para harmonizar optamos por pequenos pedaços de queijo tipo Grana Padano regados levemente com um Vinagre Balsâmico de Modena 18 anos, um luxo.
 
 
Isto nos criou um pequeno problema. A degustação seguinte seria para avaliar um Champagne que, em breve, será trazido para o Brasil pelas mãos de Soraya Vasconcelos. Embora de origem francesa, as garrafas são exportadas para a Califórnia onde recebem um acabamento em malha de cobre, obtida com reciclagem de materiais. Muito interessante, vejam a foto.
 
 
Nosso palato precisava ser ‘limpo’ para apreciarmos corretamente as duas “Beau Joie”, uma Rosé e outra Brut. A solução foi degustar uma cerveja. A escolhida foi a “Blanche de Bruxeles”.
 
 
Devidamente preparados, partimos para as duas garrafas que restavam.
 
Este Champagne tem uma trajetória bem diferente. Concebida para ser um produto de alto luxo, é produzida em Epernay pela Maison Bertrand Senecourt. Exportada para os EUA, recebe um revestimento em malha de cobre que tem múltiplas funções. Funciona como a armadura de um cavaleiro dos tempos medievais. Segundo seu produtor norte americano, esta era a época de Reis, Rainhas e seus Cavaleiros, onde se valorizava o romance, o amor, a honra e as paixões. A ideia por trás desta rica embalagem é nos remeter a estes tempos, como uma mágica. Além disto, a malha por ser feita com cobre (reciclado) é ótima condutora do frio ajudando a manter a garrafa na temperatura ideal por mais tempo e aumentar a segurança no manuseio. Um programa especial deste produtor reutiliza os revestimentos de garrafas usadas.
 
A Brut é um corte de 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, sem dosagem de licor de expedição (sem adição de açúcar) garantindo sabores marcantes desde o primeiro gole. Alguns degustadores deste painel acharam que a amostra estava levemente oxidada, o que não comprometia em nada o produto. O perlage era perfeito, acidez equilibrada, como deve ser um Champagne seco.
 
A Rosé foi a que mais agradou. Com um corte em partes iguais das duas castas já citadas, tem uma bela e sedutora coloração, suave como pétalas de rosa. Perfeitamente equilibrada com um delicioso sabor frutado. Ideal para ocasiões muito especiais. Bom perlage e boa acidez.
 
Um produto único e para poucos, sua produção não é grande. Mas o espetáculo visual é incrível. Torcemos para que Soraya consiga vencer todos os entraves burocráticos deste nosso país e traga este produto com preços competitivos.
 
 
A foto abaixo foi tirada ao final da prova. Em pé estão Chris e Soraya, sentados, da esquerda para a direita Luis Miguel Duarte, da Duaber, José Paulo e eu.
 
 
Só nos resta esperar…

Dica da Semana: mais que um vinho, um investimento. Vale cada centavo. Melhor: podemos guardá-lo para grandes ocasiões.

 
MAPA Reserva Tinto 2009

CLASSIFICAÇÃO: Douro DOC CASTAS: Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Tinta Roriz. VINIFICAÇÃO: Desengace total seguido de pisa a pé. Estágio de 20 meses em barricas novas de carvalho francês. De cor vermelho carregado, apresenta uma boa paleta aromática e um buquê intenso e convidativo. Na boca, taninos presentes, boa acidez. O teor alcoólico (14,5%) induz alguma sensação de doçura.

Importado pela DOCG Vinhos.
 
Enoteca DOC – Fabio Soares – Av. Marechal Floriano, 32 – Centro.

Tel.: (21) 2516-4220 – www.enotecadoc.com.br

 
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