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Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – I

Mais uma grande aventura, desta vez em terras do Velho Mundo. O principal objetivo era conhecer a região do Douro, Portugal, onde é produzido o famoso vinho do Porto e também alguns dos melhores vinhos de alta gama deste tradicional país produtor. Aproveitamos a oportunidade para experimentar a sempre sofisticada gastronomia espanhola e alguns de seus vinhos icônicos.
 
Nosso roteiro começou por Madrid onde ficamos um par de dias. Depois, a bordo de um confortável automóvel, passeamos por Ávila, Salamanca, Pinhão, Vila Real, Peso da Régua, Porto, Óbidos, Sintra e Lisboa. Foram 10 dias e muito chão. Visitamos algumas Quintas no Alto Douro onde conhecemos pessoas encantadoras, restaurantes deliciosos e vinhos espetaculares.
 
Ao contrário de outros relatos das nossas viagens, este será mais focado no aspecto enogastronômico. Começamos pela nossa estadia em Madrid.
 
O Restaurante Estay
 
 
Com um estilo que se intitula “Pinchos & Vinos” procura unir a ideia das Tapas, pequenos bocados, com alta gastronomia. Um ambiente muito acolhedor e confortável com um cardápio para se pedir todas as opções e passar longas horas desfrutando boa comida e bons vinhos.
 
 
Para acompanhar a diversidade de pequenas porções escolhidas (Queso puro de Oveja, Jamón Bellota, Crepe de Txangurro, etc.) selecionamos uma ótima Cava, a Juve y Camps Rose Brut de Pinot Noir, que harmonizou corretamente.
 
Este produtor já recebeu diversos prêmios por suas Cavas, talvez as melhores do país. A ilustração a seguir mostra as medalhas ou notas deste espumante.
 
 
Na nossa segunda e última noite na capital espanhola fomos nos divertir na tradicional Bodega de La Ardosa, uma casa fundada em 1892. Um ambiente que nos leva de volta no tempo. Oferece um cardápio das mais tradicionais tapas e uma seleção de bebidas que passeiam desde a boa cerveja até um vermute tirado diretamente do barril, como se fosse o nosso Chopp.
 
 
Na manhã seguinte partimos para Salamanca.
 
Bar Tapas 2.0, Salamanca
 
Este foi o local escolhido para o almoço na chegada a esta cidade universitária, cheia de história. Muito interessante ser chamado de “Gastrotasca”, praticamente um bar de rua, sem nenhuma pretensão. Mas tudo que nos foi servido estava delicioso. Para acompanhar um grande vinho: Predicador!
 
 
Elaborado por Benjamin Romeo, autor do consagrado Contador (100 pts Parker), este vinho, embora jovem (2012) já mostrava excelentes qualidades. Um corte de 94% de Tempranillo e 6% de Garnacha, que estagiou por 15 meses em barricas de carvalho francês de 1º uso.
 
O nome é uma homenagem ao eterno personagem de Clint Eastwood, “The Preacher”, reparem no chapéu do rótulo. Excelente vinho.
 
Restaurante El Monje, Salamanca
 
Para a despedida, jantamos num dos melhores da cidade. Ambiente elegantíssimo, comida refinada e uma carta de vinhos que nos deixou cheio de dúvidas sobre qual escolher. Decidimos pelo Abadia Retuerta Selecion Especial 2009, um clássico da região de Castilla e Leon (Sardon del Duero). A safra de 2001 foi considerada a melhor do mundo no International Wine Challenge de 2005. Um delicioso e complexo corte de 75% Tempranillo, 15% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah que estagiou por 16 meses em barricas de carvalho francês e americano.
 
 
Plagiando o lema da vinícola: “um trabalho bem feito”. Ficou perfeito com os pratos pedidos, inclusive com o meu polvo, acreditem.
 
 
Próxima parada: Pinhão, no coração do Douro, Portugal.
 
Dica da Semana:  o irmão menor do melhor vinho degustado na Espanha.
 
Abadia Retuerta Rívola 2009
60% Tempranillo, 40% Cabernet Sauvignon
Cor cereja intenso, lágrima densa e transparente.
No nariz, se mostra apurado, com aromas complexos: morango, café, alcaçuz, pimenta negra, cacau.
Na boca, é redondo, frutado muita fruta roxa, barrica, caramelo e toque mineral.
Robert Parker: 88 pontos
 
 
 

Mendoza 2014 – Epílogo

Muita coisa divertida acontece numa viagem como a que relatamos nas três colunas anteriores. O grupo era muito unido proporcionando bons momentos durante os deslocamentos ou nas visitas às lojas de vinho da cidade de Mendoza. Vamos contar alguns destes “causos”…
 
1 – Os grandes vinhos provados
 
Houve, sem dúvida, um vinho que foi escolhido como o melhor de todos. Esta honraria foi concedida, por unanimidade, ao Paradigma elaborado no Domaine St. Diego pelo enólogo Angel Mendoza, que também foi eleita como a “melhor visita”. O problema foi que qualquer outro vinho provado depois deste ficou em segundo plano…
 
Para permitir uma avaliação, destacamos os seguintes vinhos degustados:
 
Bodega Sinfin Guarda de Família – 93 pontos Descorchados
 
 
Bodega Melipal Nazarenas Vineyard Malbec – 93 pontos Wine Enthusiast
 
 
Dominio del Plata Brioso – 93 pontos Descorchados (mesma pontuação do Bem Marco Expressivo)
 
 
Ainda de acordo com o Guia Descorchados o campeão Paradigma recebeu 94 pontos. Outro grande vinho provado, o Mariflor Camille de Michel Roland ainda não foi cotado por nenhum crítico. O Malbec Gran Reserva da Dolium, cotado com 92 pontos por Robert Parker, foi o que menos nos impressionou.
 
Se a St. Diego não tivesse sido a 1ª visita do dia este resultado poderia ser outro. Estratégias a serem pensadas na próxima viagem…
 
2 – Quase uma debandada
 
Estávamos a caminho da última visita do dia onde seria o nosso almoço. Atrasados, como de hábito, pois a cada vinícola multiplicavam-se os interesses, o nosso simpático motorista se perdeu e resolveu fazer uma paradinha para perguntar qual seria o melhor caminho até nosso destino. Vejam onde ele resolveu parar:
 
(jamon crudo = presunto crú)
 
O que vocês estão vendo sobre o balcão do reboque é um enorme filão de pão caseiro com uma aparência estupenda. Some a nossa fome e…
 
Pena que não deu tempo de provar, mas ficou anotado para uma visita futura. A foto é do Fábio.
 
3 – Final de tarde na cidade
 
No mesmo quarteirão de nosso hotel, bastando virar a esquina, estava localizada uma das melhores lojas de vinho de Mendoza, a Sol y Vino. Muito sofisticada é mais que uma simples loja de bebidas incluindo no seu leque de produtos itens como conservas, chás, objetos de decoração, etc. Ao contrário do nosso país, onde vinho é considerado um artigo de luxo e taxado de acordo, na Argentina faz parte da cesta básica, é um alimento! A seguir uma foto do salão principal para os leitores avaliarem.
 
 
Toda noite havia um evento, aberto, com vinícolas boutiques, degustação de novos produtos ou até mesmo eventos privados como o que fizemos. O grupo resolveu degustar um dos meus vinhos favoritos, o Lagrima Canela da vinícola Bréssia, um excelente corte branco de Chardonay e Semillon escolhido pelo Guia Descorchados como o melhor em sua categoria, recebendo 94 pontos.
 
 
Outros vinhos foram provados e várias compras efetuadas: os preços eram ótimos. Não existe nada parecido por aqui, pena… (foto do Marcio)
 
4 – As opiniões de cada um
 
Pedi aos companheiros de viagem que resumissem os melhores momentos: reproduzo a seguir alguns comentários:
 
“Para mim, os harmonizados, todos, foram o alto da viagem. Excepcionais. A qualidade dos pratos aliada à perfeita harmonização dos vinhos, em ambiente extremamente agradável e exclusivo superou todas as expectativas.
 
A visita ao Angel Mendoza foi também legal, especialmente pela qualidade dos vinhos.
 
A visita à Dolium me pareceu o ponto baixo. Não era bonita e o vinho não era bom. A Sin Fin, ao menos, tem belíssimas instalações”.
 
Fábio
 
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“Concordo com o Fábio, as harmonizações foram o forte: na Melipal, onde a carne estava deliciosa; na Suzana Balbo o lugar é fantástico. A vinícola do Angél Mendonça é realmente especial.
 
Toda viagem foi muito bem balanceada entre lugares arquitetônicos e produção artesanal”.
 
Gustavo
 
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“Nossa viagem foi recheada de momentos especiais, vou destacar alguns:
 
– Parada em Buenos Aires com almoço relâmpago no Sucre. No retorno, o Ronald resolveu encarnar no taxista que, vendo o grupo de trás rindo aos borbotões, não deixou barato. Os dois, trocando farpas em espanhol, protagonizaram uma cena hilária, impagável!
 
– Jantar no restaurante Ana Bistrô. Tive a sorte ao escolher um cordeiro fantástico, o melhor prato da viagem.
 
 
– Ponto alto da viagem foi a visita ao Domaine St. Diego, local belíssimo e os melhores vinhos da viagem. Considero este vinho (Paradigma) o melhor da viagem, deveria ter comprado mais.
 
– Gostei muito da loja de vinhos próxima ao nosso hotel, infelizmente não temos algo parecido por aqui, até porque os preços assustam e o vinho ainda é encarado como algo elitizado, uma pena.
 
– Por fim, não posso deixar de destacar a nossa visita a Susana Balbo. O local é muito bonito, bons vinhos e comida excelente, melhor harmonizado da viagem”. 
 
(Lobianco, Ronald, Márcio e Fábio)
Márcio
 
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Ronald preferiu dividir com todos os leitores alguns instantâneos especiais. Segundo suas palavras, “pura diversão”:
 
(Borrachera = Bebedeira)
5 – as “últimas” garrafas
 
Numa das minhas visitas anteriores provei um vinho chamado Oportuno, uma das muitas aproximações a um Vinho do Porto (o nome é uma referência) produzido em Mendoza. Ficou na memória e sempre o mencionava quanto o assunto era harmonizar sobremesas.
 
Fiquei todo animado pois visitaríamos a vinícola que o produzia (Domaine St. Diego) e comecei a tecer loas a respeito dele. Todos se interessaram, especialmente o Ronald, apreciador deste tipo de vinho. Para aumentar as nossas expectativas, lá estava ele na carta de vinhos do Ana Bistró, no nosso jantar de boas vindas a Mendoza. Nem pedimos, queríamos provar na fonte!
 
Mal sabíamos que não era mais produzido. Foi aquele banho de água fria. As uvas originalmente destinadas ao Oportuno são usadas atualmente para o Pura Sangre Nueve Lunas.
 
Inconformado, pedi ajuda a nossa guia para saber se o Ana Bistró me venderia uma garrafa. María José descobriu que restavam apenas duas na adega do restaurante e as arrematou, me presenteando com elas.
 
Para não deixar de cumprir a minha promessa, repeti a gentileza entregando uma garrafa para o Ronald.
 
Provavelmente as últimas deste raro vinho que deixou de ser produzido há quatro anos.
 
 
Houve outro episódio semelhante. Tínhamos uma encomenda de um licor Triple Sec (à base de laranja), produzido por uma destilaria mendocina, a Tapaus, localizada do outro lado da rua em frente à Domaine St. Diego. Seria uma compra fácil, era só atravessar a rua…
 
Não foi bem assim! A destilaria não existe mais, os sócios se desentenderam, venderam todos os equipamentos e o antigo prédio está sendo convertido para uma olivícola e um restaurante. Outra ducha fria…
 
Lembramo-nos de uma lojinha, em Mendoza, que há muito tempo atrás vendia os produtos desta finada empresa e fomos até lá. Encontramos uma única garrafa à venda. Segundo a vendedora, a última…
 
 
6 – A esticada em Buenos Aires
 
A capital da Argentina tem outros encantos bem diferentes da “capital do vinho”. Sempre vale a pena passar alguns dias desfrutando das boas tradições Portenhas. Não tínhamos uma programação definida como em Mendoza, apenas alguns desejos e uma boa lista de encomendas, inclusive de vinhos.
 
Os que viajaram para o Rio no próprio domingo compraram seus vinhos nas vinícolas, nas lojas da cidade ou no free shop do aeroporto. Como só retornaríamos no meio da semana, não tinha sentido chegar a Buenos Aires com as malas cheias. Aproveitamos para garimpar em lojas que não conhecíamos. Tivemos boas surpresas.
 
A primeira delas foi a Alma Terra, localizada em Palermo Soho (Thames 1653 – https://es-es.facebook.com/pages/Alma-Terra/198966506860063), uma “Wine Boutique and Organic Delicatessen”.
 
 
Sua proprietária, a simpática Tamara Evans, tem a preocupação de manter um leque de produtos muito interessantes que mistura o que ela classifica como “os mais procurados” e algumas garrafas especiais para os enófilos em busca de vinhos mais exóticos. Boas compras por lá.
 
A outra descoberta foi ao acaso. Uma das encomendas da nossa lista era o Linda Flor Chardonnay, geralmente uma compra fácil na Tonel Privado ou na Winery, duas lojas tradicionais. Estava em falta o que nos obrigou a pesquisar em outros estabelecimentos. Já estávamos quase desistindo quando descobrimos, ao lado de nosso hotel, uma loja de artigos de couro e vinhos, a Alpataco (Quintana 450 – www.alpatacoweb.com.ar), onde fomos muito bem atendidos e encontramos o que buscávamos. Aproveitei e fiz mais umas comprinhas… Duas novas descobertas que vão entrar na nossa lista de recomendações.
 
Mais dois destaques, desta vez puro entretenimento:
 
– na 2ª feira saímos em busca de um show de música folclórica que acontecem nas Peñas, misto de restaurante e casa de show. Neste dia, só havia na La Peña del Colorado (http://www.lapeniadelcolorado.com/) oferecendo um espetáculo “Afro-Peruano”. Sem ter bem certeza do que se tratava, lá fomos nós 4 atrás de boa diversão. Valeu a pena! Apesar do vinho…
 
Ambiente rústico e familiar, cardápio típico, boa música e uma minúscula carta de vinhos quase desconhecidos. Para não arriscar, optamos por um Malbec Penedo Borges, que depois de todos os bons vinhos provados em Mendoza nos pareceu fora de contexto. Para acompanhar, empanadas (deliciosas) e Choripan (pão com linguiça).
 
Divertimo-nos muito. “Afro-Peruano” provou ser uma série de boleros e uma pitada de salsa (pista de dança aberta), muito bem interpretados pelo grupo musical que absorvia todos os músicos que apareciam por ali, com especial ênfase nos que tocavam o “cajon peruano”, uma caixa de madeira que se encarregava da percussão. Excelente. Vamos voltar lá sem dúvida.
 
 
– Para não perder o ritmo de Mendoza continuamos nossa maratona enogastronômica. Um dos destaques foi um restaurante que reabriu, em novo endereço, agraciado com o título de “melhor cozinha de Buenos Aires – 2013”, o Freud & Fahler (Cabrera y Godoy Cruz – Palermo). Como era hora do almoço, optamos pelo menu executivo da casa, 180 pesos (R$ 36,00) com entrada, prato principal, sobremesa e 1 taça de vinho. Dentre as várias opções escolhemos saladas, carne e massa, escoltados por um bom Chardonnay patagônico (o nome se perdeu em minha anotações).
 
O restaurante é bem simples e confortável. A base é uma padaria, a cesta de pães oferecidas como couvert era de comer rezando. A tudo estava delicioso e as porções eram mais que suficientes. Muito bom, na próxima visita vamos para o jantar que tem um cardápio muito elaborado. 
 
 
Na manhã seguinte partimos de volta ao Rio de Janeiro, já sonhando com a próxima viagem. Estamos pensando seriamente em inaugurar o “Boletim Eno Tours”, muita gente interessada.
 
Cartas para a redação!
 
Dica da Semana:  para não fugir do tema, mais um bom argentino, desta vez branco.

 
Crios Chardonnay 2012
 
Vinho muito versátil que apresenta aromas de frutas brancas maduras, abacaxi e maçã, notas de baunilha.
 Paladar frutado, refrescante, com bom corpo e estrutura.
 Harmonização: peixe assado com tomilho e alecrim, espaguete com molho cremoso de queijo, salada de bacalhau, torta de palmito, quiche de alho poro, moqueca, bolinho de arroz.
 88 pontos no Guia Descorchados

Mendoza 2014 – 2º dia

A jornada começou cedo, às 8:30 já estávamos a bordo da van a caminho de Maipu e Lujan onde visitaríamos outras três vinícolas. A primeira, Domaine St. Diego, do renomado enólogo Angel Mendoza, foi um dos pontos altos desta viagem.
 
Ao contrário da grande maioria das visitas, destinadas a turistas, que enfatizam a arquitetura, a modernidade e a tecnologia e ainda oferecem um elaborado almoço conduzido por um grande Chef, esta pequena vinícola, estritamente familiar, conduz os visitantes unicamente por seus vinhedos, todos localizados dentro da propriedade de apenas 3,3 hectares. Cada metro quadrado está ocupado, seja pelas parreiras e oliveiras (produzem azeite também), pela bodega ou pela casa da família. Só por isto a visita já toma um caráter único.
 
Quem nos acompanhou foi Laura, filha do proprietário, que não poupou informações e nem deixou pergunta sem resposta. Como não dispõem de muito espaço, empregam técnicas de plantio ousadas, como a “espaldeira dupla” que utiliza duas alturas diferentes para as plantas, dobrando a capacidade do espaço disponível e exigindo, em compensação, o dobro de trabalho para manter e colher (são duas colheitas – as uvas amadurecem em diferentes períodos) ou a condução em “Globelet” ou arbusto, em busca de sabores e aromas únicos para seus vinhos. Até as suaves encostas que cercam a propriedade estão plantadas, nada é desperdiçado.
 
 
Mais importante que a utilização racional do solo, a otimização do uso da água, rigidamente controlada neste distrito de Lulunta, é fundamental. Aqui não há água de subsolo. Tudo que conseguem vem do degelo dos Andes distribuído através de um sistema de diques, canais e comportas, criados pelos índios Huarpes que aprenderam a técnica com os Incas.
 
Atualmente a distribuição é controlada por um “Tomero”, pessoa encarregada de alimentar os diversos canais de distribuição e operar as comportas de cada consumidor de acordo com um contrato de fornecimento muito simples: paga-se por um determinado número de horas, por período. Se precisarem de mais água devem esperar pela próxima data. Quase uma dosagem “homeopática”. Laura nos mostrou a comporta. Difícil imaginar que com tão pouca água consigam produzir vinhos estupendos.
 
 
Angel Mendoza, proprietário e enólogo tem como filosofia a ideia de ‘colher o vinho’ em lugar de produzi-lo. Acredita que deveria se dar maior importância às videiras, obtendo-se um bom vinho no terreno em vez de corrigir os erros na cantina. Para comprovar esta máxima, somos convidados para a degustação dos seus produtos, que acontece na casa da família. Nada de salas especiais com iluminação estudada e outros requisitos sofisticados e mercadológicos. Apenas uma varanda envidraçada, com vista para os vinhedos, amplas mesas e cadeiras plásticas, toalhas brancas cobertas de plástico transparente é tudo o que precisam para, neste momento, nos encantar com seus vinhos e azeite. Simplicidade é o segredo!
 
 
Começamos com o bom azeite Almazara, obtido com a azeitona Arauco, seguido do quase exclusivo espumante Brut Rosé Elea. Aprovação incondicional.
 
O vinho seguinte, Paradigma, foi uma surpresa para todos. Elaborado a partir das uvas plantadas como arbustos, o que permite uma maturação diferente. Um formidável corte de Malbec, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon que não passa por madeira. Eu diria que “nem precisa”!
 
Se houve, nesta viagem, um vinho que nos intrigou, foi este. Aromas e sabores deliciosos que poderiam confundir até mesmo um bom enófilo. O seu nome decorre disto, um verdadeiro paradigma. Por que recorrer a técnicas mirabolantes ou desconhecidas quando tudo que é necessário para obter um grande vinho é olhar para a terra. Um verdadeiro vinho de terroir que derruba, sem piedade, qualquer outra teoria. Esta é uma das razões, pelas quais, Angel Mendoza é respeitado entre seus pares. Espetacular.
 
Os dois outros vinhos degustados, Pura Sangre e Pura Sangre Nueve Lunas, também eram fora de série, mas não conseguiram nos fazer esquecer o intrigante Paradigma.
 
 
Quase ao final da prova de vinhos recebemos a simpática e esfuziante visita de Angel. Encantou a todos com sua simplicidade e franqueza desconcertante. Teve a delicadeza de elogiar e recomendar que consumíssemos mais os nossos próprios vinhos, principalmente os de Santa Catarina, Santana do Livramento e Campanha Gaúcha. Ganhou uma legião de fãs com direito a fotos e autógrafos!
 
 
Esta vinícola tem uma interessante característica: seus produtos são comercializados unicamente “in loco”. Não tem representantes comerciais nem importadores. Se alguém quiser revendê-los tem que comprar lá primeiro. Com isto, a nossa van saiu carregada…
 
Nossa próxima parada foi na Bodega Sin Fin, um projeto inovador segundo a nossa guia, Maria José. Por termos passado da hora prevista, ficamos apreciando a paisagem ao redor, aguardando o fim da visita de outro grupo. Uma empresa relativamente pequena e pouco conhecida, mas tinha um Ás escondido na manga: o importante não estava ao alcance dos olhos…
 
 
Ao ingressar no prédio da foto, somos apresentados a uma pequena história da família e da empresa que, por longos anos, se dedicou ao cultivo de uvas e depois da produção de vinhos a granel que são revendidos a outras vinícolas. Só muito recentemente entraram para o segmento dos vinhos próprios.
 
O tema foi exposto e a pergunta veio rapidamente: quem compra o vinho a granel? A resposta pegou todos no “contrapé”: principalmente vinícolas francesas… Nosso anfitrião recomendou que olhássemos com muita atenção os contra-rótulos de alguns vinhos em busca de uma informação como “produzido por: 1234567890”, em letrinhas muito miúdas. Esta seria uma indicação que o vinho, naquela garrafa, teria outra origem.
 
Interessante; vinhos argentinos “en bouteille”!
 
Embarcamos em um elevador para acessar o subsolo e descobrir mais surpresas escondidas. Ao abrir a porta nos deparamos com um ambiente de raro bom gosto e muito aconchegante. Estávamos sob a área de produção, onde criaram um espaço cultural que recebe shows, peças de teatro ou exposições de arte, uma loja de vinhos e de decoração de alto nível, a simpática sala de degustação e uma microssala de barricas onde estava toda a produção.
 
 
A sequência de degustação foi bem tradicional iniciando com um espumante, seguido de 1 branco e de alguns tintos. Todos corretos. O ponto alto ficou com o Sauvignon Blanc que apresentou um estilo totalmente “velho mundo”, sendo o vinho que mais agradou a todos.
 
Fizemos mais uma preciosa descoberta: quais os rótulos que devemos ficar mais atentos.
 
 
Uma boa visita, mas sem fortes emoções que estavam reservadas para o premiado almoço na Melipal, conduzido pelo Chef Lucas Bustos, reconhecido como um especialista em harmonizações. Vejam o cardápio de 5 passos:
 
1º – Terrina de frango e figos secos ao sol, com geleia de marmelo;
 
– vinho Ikela Merlot;
 
2º – Crocantes de beterrabas com pesto de tomates secos e “tartar” de carne bovina;
 
– vinho Ikela Cabernet Sauvignon;
 
3º – Creme de Lentilhas e “funghi” de pinheiro, servida sobre panceta defumada e croutons;
 
– vinho Melipal Malbec (100% Malbec com 12 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
4º – Medalhão de Filé, purê de batatas de Ugarteche (uma localidade), vegetais da época e Chimi Churry de tomates assados;
 
– vinho Melipal Nazarenas Vineyard Malbec (100% Malbec do vinhedo Nazarenas, plantado em 1923 e 18 meses em barricas de carvalho francês);
 
 
5º – Trufa de chocolate amargo e Amaranto, frutas grelhadas e molho de laranja;
 
– vinho Melipal Malbec Colheita tardia.
 
 
A melhor descrição que posso dar a este almoço é: “uivos diversos”!
 
O Crocante de Beterrabas foi uma unanimidade: delicioso!
 
Um ambiente maravilhoso, pratos saborosos com apresentação primorosa e vinhos de alto nível. Ficamos no restaurante até quase o fim de tarde, aproveitando o belo visual e o clima ameno. Quase nos expulsaram…
 
 
Dica da Semana:  um dos bons vinhos servidos neste almoço.
 
Melipal Malbec
 
Melipal é o nome da constelação Cruzeiro do Sul no idioma dos Huarpes. Apresenta coloração vermelho rubi com reflexos violeta.
No olfato mostra aromas intensos de ameixas, cerejas pretas, frutos e nozes. No palato percebe-se frutos vermelhos e especiarias com taninos firmes e persistentes.
Harmoniza com carnes vermelhas, lombo de porco e queijos curados.
91 pontos de Robert Parker
 
 

Mendoza 2014 – 1º dia

Já estava na hora de retornarmos à capital dos vinhos da Argentina e nos atualizarmos. A grande novidade é que seriamos acompanhados por um grupo de seis amigos: Ronald, Marcio, Fabio, Lobianco e o casal Gustavo e Lu. Partimos do Rio numa 5ª feira em voo direto para Buenos Aires de onde embarcamos para Mendoza. Foi um dia inteiro de viagem chegando já de noite em nosso destino.
Para este dia não passar em branco havíamos programado um jantar de boas vindas num dos excelentes restaurantes de alta culinária, o Anna Bistró, com um variado cardápio e excelente adega. A tônica, obviamente, foram os pratos à base de carne com algumas pedidas de massa. Para harmonizar, abrimos os trabalhos com o Petite Fleur da vinícola Monteviejo. Duas garrafas foram consumidas rapidamente devido à baixa temperatura da cidade e à “sede” do grupo.
 
 
O segundo vinho servido com a chegada dos pratos foi o excelente Bressia Profundo, categoria Premium, nitidamente superior ao primeiro. Para finalizar brindamos com um dos bons espumantes da nova geração, o Cruzat, e fomos descansar, no dia seguinte iniciaríamos uma maratona de vinícolas e almoços harmonizados que se estenderia até Domingo.
 
 
6ª feira
 
Nosso roteiro de 3 dias, organizado pela Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar – María José), foi montado sobre a ideia de conhecermos os terroirs mais importantes: Vale do Uco, Lujan de Cuyo e Maipu. Neste dia nos deslocamos para Tupungato, um dos distritos dentro do vale, para visitar o empreendimento Clos de Los Site, um consórcio de vinhedos e vinícolas de diversos proprietários franceses, comandado pelo famoso enólogo Michel Rolland.
 
São 5 empresas: Menteviejo, Flecha de Los Andes, Cuvellier de Los Andes, Diamandes e Rolland Collection. Visitamos estas duas últimas.
 
A Diamandes impressiona por sua premiada arquitetura. Um prédio muito bem estudado que cumpre as funções de integrar com a bela paisagem e ser perfeitamente funcional para a atividade que se propõe. Vejam as fotos a seguir e tirem suas conclusões.
 
Após esta visita seguimos para a vinícola de Michel Rolland, um contraste impressionante, era apenas um rustico galpão, apelidado de “Concrete Box” (caixa de concreto) que nada tinha de charmoso, pelo contrário, era uma forte presença afirmando claramente: aqui se produz (excelentes) vinhos.
 
 
Fomos recebidos pelo enólogo chefe, o simpático Rodolfo Vallebella. Mais que uma bodega, aqui é um laboratório onde são testadas as mais recentes inovações na arte de produzir vinhos. Tudo é muito simples e direto, sem frescuras. A imagem abaixo mostra a atual tendência, um “ovo” de concreto onde o vinho é produzido e amadurecido.
 
 
Seguimos para a sala de barricas onde seria feita a degustação. A sequência começou com um Sauvignon Blanc em fase final de produção, retirado diretamente do tanque de aço inoxidável, seguido de Pinot Noir, Merlot, Malbec e terminando com o excepcional Camille, dedicado para a neta de Rolland. Este é um produto fora de série elaborado com um cuidado redobrado que inclui especialíssimos barris de carvalho montados com madeira de mais de 200 anos (foto). Tudo o que foi servido veio das barricas, nada em garrafa. Segundo o enólogo, esta é a forma correta de se visitar uma bodega. Vinho engarrafado qualquer um prova…
 
Observação registrada!
 
 
A sequência preparada por Rodolfo nos mostrou diversas possibilidades e foi altamente instrutiva: vinhos jovens, Malbec de diferentes vinhedos e vinhos de sonho. Valeu a pena!
 
O dia terminaria num delicioso almoço harmonizado preparado na Finca Blousson (finca = vinhedo) do simpático casal Victoria e Patrick, dois Portenhos que praticamente largaram suas atividades de origem (áreas financeira e de sistemas) e se mudaram para Mendoza para plantar uvas e, um dia, fazer vinhos.
 
 
Sem dúvida que o projeto é muito sério, lá estão 2 “ovos” já em pleno funcionamento com a assessoria de Matias Michelini, um dos bons enólogos argentinos.
 
 
Eis o cardápio do almoço e os vinhos servidos, todos muito exclusivos:

Recepção:

Empanadas de carne;

Vinho: Espumante Rosé Laureano Gomez;

Entrada: Sopa de cebolas ao Gruyere;

Vinho: Sabato Cabernet Sauvignon (Susana Balbo);

Prato Principal: Cordeiro no Forno de Barro com verduras assadas;

Vinho: Montesco Parral (Passionate Wine/Matias Michelini);

Sobremesa: Torta de maçãs com sorvete;

Café/Chá/Licor de Malbec (Artesanal Finca Blousson).

 
O melhor vinho, minha opinião, foi o Montesco Parral que merece um comentário: Parral significa Latada ou Pérgola, um sistema de condução da parreira em franco desuso. Michelini não só descobriu um vinhedo assim em Mendoza como o recuperou e produziu um belo vinho, mostrando que este tipo de arranjo para as vinhas ainda tem seu lugar. O sistema mais usado é a Espaldeira. Comparem as fotos:
 
 
Já estava escuro quando retornamos ao nosso hotel.
 
Dica da Semana:  não poderia ser outro, mas não é figura fácil por aqui.
 
Montesco Parral 2012
 
Elaborado a partir de 40% Cabernet Sauvignon, 30% Malbec e 30% Bonarda de vinhedos de mais de 30 anos plantados em latada, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês e americano.
Bem estruturado e encorpado, com estilo vibrante e com acidez refrescante, envolto por taninos de textura quase granulada. Consegue aliar opulência e austeridade.
94 pontos em 2010 e 90 pontos em 2012 (Parker).
 
 P.S.: só para constar, este vinho nas lojas em Mendoza ou em Buenos Ayres custa 140 pesos, algo como R$ 28,00 pelo câmbio paralelo…

Machupicchu e os vinhos que não bebi – Final

 5º e 6º dias Cusco novamente
 
Depois de uma modorrenta manhã e uma divertida viagem de trem até a estação de Ollanta, seguido de 1:30h de van, retornamos ao nosso simpático hotel em Cusco, já bem aclimatados com o ar rarefeito de lá. Nosso principal objetivo tinha sido plenamente alcançado e estávamos com um dia e meio livres para desfrutar da gastronomia “cusqueña” e nos prepararmos para a celebração do ano novo.
 
Após um breve descanso partimos para jantar num dos mais badalados restaurantes, o Limo, que serve uma culinária peruana com forte sotaque japonês. Interessantíssimo. Nas fotos a seguir uma montagem dos pratos e sobremesas. É para deixar com água na boca mesmo!
 
Para começar os aperitivos: algumas variantes do Pisco Sauer, cervejinha e uma prosaica limonada com especiarias locais. O “amuse bouche” era composto de algumas pastinhas moderadamente picantes e batatinhas assadas no lugar do pão, para mergulhar.
 
 
Os pratos:
 
 
O forte são os pescados, seguido das aves. Carne vermelha, embora boa, é escassa. Assim como no México, o abacate é presença constante nas saladas ou como acompanhamento. A grande novidade ficou por conta do prato mostrado na primeira foto à esquerda: Cuy.
 
Trata-se do nosso “Porquinho da Índia”, uma fonte de proteínas desde os tempos dos Incas. Há, inclusive, pequenos quiosques no Vale Sagrado que os vendem como os nossos espetinhos de carne, “Cuy al Palo”. São muito apreciados e quem provou achou saboroso. É uma carne de porco!
 
Para harmonizar, um belo Finca Las Moras Sauvignon Blanc que estava delicioso. Até que enfim um bom vinho!
 
Um curioso detalhe na hora de servir o vinho foi a pergunta: “local o helado?” Os peruanos não têm o hábito de beber nada com gelo ou muito gelado, tudo é na temperatura ambiente. Nesta noite fazia cerca de 10º na rua e um pouco mais quente no restaurante. Pedimos que gelassem o vinho, só então o balde com gelo e água foi trazido. Voltamos para o hotel em alegre caminhada pela principal via de Cusco, a Avenida del Sol.
 
No dia seguinte, último do ano, após uma manhã de museus, passeio em ônibus aberto e comprinhas, fomos almoçar em outro restaurante badalado, o Cicciolina, com um cardápio de influências italianas. De interessante um diferente presunto cru de pato, servido em delgadas lâminas sobre cubos de polenta. Pensando na ceia de ano novo optamos por pratos mais leves e deixamos os vinhos para mais tarde.
 
 
Bela refeição, embora a nossa preferida tenha sido a da noite anterior. Um vinho perfeito para acompanhar seria o Orvieto DOCG da Piccini, leve e aromático.
 
 
A ceia de Réveillon foi outro capítulo formidável. Compramos, com a devida antecedência, um pacote no Inka Grill, prestigiado restaurante bem localizado na Praça de Armas, epicentro das comemorações. A ilustração a seguir mostra o cardápio oferecido.
 
 
Começamos com uma rodada do onipresente Pisco Sauer. Eu tive que derrubar mais um, que seria do Rubens, o mais novo apreciador da Inca Cola. O problema é que os efeitos do álcool são mais intensos por aqui. Se não moderar a festa acaba mais cedo. Estávamos com uma grande expectativa para saber qual vinho nos serviriam. Podíamos optar por tinto ou branco, apenas.
 
Vieram as entradas e logo depois os pratos principais (fotos).
 
 
Ofereceram-nos um tinto chileno, o Santa Helena Varietal Carmenére. Confesso que tenho certa reserva com vinhos que trazem nomes de Santas ou Santos em seus rótulos, nunca me acertei com eles. Para não bancar o enochato aceitei. Não me arrependi, estava correto e foi boa opção de harmonização. Após as sobremesas foi servido um cava Freixenet Cordon Negro, que é uma aposta certeira apesar de produzido em larga escala.
 
 
Um pouco antes da meia-noite deixamos o restaurante e fomos assistir e participar da comemoração na Praça de Armas, bem diferente do espetáculo pirotécnico do Rio e de outras capitais do mundo. A grande farra em Cusco é correr em volta da praça. Os jovens gastam energia nisto e são muito animados. Contagiante!
 
Fogos de artifício não são bem vistos por lá: colocam em risco o importante patrimônio cultural da cidade (mas tem sempre alguém que solta um rojão…).
 
 
Alegres e satisfeitos voltamos para o hotel. Nosso avião para Lima partiria no final da manhã do dia 1º.
 
6º e 7º dias Lima
 
O primeiro dia do ano na capital peruana é meio morto. Chegamos ao hotel por volta das 15h e logo saímos para passear. Fomos conhecer o Shopping Larcomar, construído sobre uma das muitas falésias locais. Ficamos passando o tempo e fotografando a linda vista para o Pacífico até a hora de jantar.
 
O grupo se dividiu.
 
Cecília e Rubens foram para o turístico restaurante Rosa Náutica (foto), um complexo situado sobre o mar e acessado por um longo píer cheio de lojinhas. Claudia e eu fomos procurar algo mais autêntico, mas não havia muitas opções, tudo estava fechado por conta do feriado. Repetimos o Alfresco e, novamente, foi uma boa pedida.
 
 
Nosso último dia no Peru foi movimentado. O avião que nos traria de volta decolaria às 21:45h, hora local, nos deixando com o dia livre para conhecer melhor a capital do país. Depois de umas compras num supermercado próximo, partimos para conhecer o Centro Histórico e o Museu Larco de arte pré-colombiana, muito recomendado.
 
Este museu é imperdível. Uma instituição particular fundada em 1926, por Rafael Larco Hoyle, aos 26 anos de idade, com ajuda de seu pai. Conta com cerca de 45.000 peças e é um espetáculo à parte.
 
No início de sua coleção se deu conta da falta informações arqueológicas que permitissem classificar adequadamente o material que adquiria. Enveredou-se pelos caminhos da arqueologia, fazendo inúmeras pesquisas e suas próprias escavações. Criou-se o sistema de ordenação cronológica, adotado até hoje, além de ter revelado diversas culturas até então desconhecidas, como a Moche.
 
 
Almoçamos, sem vinho, no simpático restaurante do museu e nos despedimos deste impressionante país, esperando voltar um dia para conhecer outras atrações como as Linhas de Nasca e o Lago Titicaca.
 
O outro lado da moeda
 
A propósito dos comentários feitos na coluna da semana passada, recebi este interessante e-mail do leitor Maurcio Steinberg, que residiu em Lima. Acho importante conhecer os aspectos que não são mostrados aos turistas:
 
“Tuty.
 
Morei e trabalhei em Lima por 1 ano e meio. Lecionei matemática na Federal de Lima como parte de meu doutorado em matemática. No início eu pensei como você que os nativos eram educados e nos tratavam bem, mas conforme a convivência ia aumentando víamos que a educação não é o mais forte deles. Apenas aquelas profissões ou funções que têm integração com o turismo são vigiadas de perto e se houver qualquer tipo de reclamação, o funcionário está fora. O governo trata com mão de ferro quem cuida e atende aos turistas, mas não cuida daqueles que dão educação a seu povo, tal como o daqui, não interessa ter um povo aculturado.
 
Todos os serviços que têm por finalidade o atendimento ao turista são duramente treinados e se não servirem são descartados.
 
Durante os 18 meses que fiquei por lá, bebi alguns bons vinhos, caros, mas bons.
 
Não é comum você ir a jantares em casas de nativos porque eles não recebem bem os estrangeiros que trabalham por lá. Eles acham que você está tirando uma vaga deles e o desemprego por lá é grande.
 
O Peru que você viu, não é o Peru real, o do dia a dia. O que você viu é o Peru para turista.
 
Não estou criticando sua coluna, por favor não me entenda mal, apenas estou colocando minha experiência sobre viver em Lima. Acredite, foi gratificante, mas pesada.
 
Abraços
 
Maurcio-Natal”
 Dica da Semana:  para encerrar esta viagem, uma verdadeira volta ao passado, um clássico.
 
Albert Bichot Petit Chablis 2011
Cor amarela claro com reflexos esverdeados. Apresenta notas de maçã, limão e um belo toque de mineralidade. Na boca é redondo e com boa persistência.
 
Este vinho é muito adequado para servir como aperitivo ou com pratos acompanhados com frutos do mar.
 
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