Sua origem começa no século 18 pelas mãos da família Arnaud que possuía um pequeno vinhedo de 7 hectares. O primeiro registro de uma safra foi em 1837. Na exposição internacional de Paris de 1878, ganhou a medalha de ouro e a distinção de ser o primeiro vinho da região do Pomerol a receber este prêmio, podendo equiparar seu preço aos melhores do mercado naquela época.
Nos primórdios do século XX, os Arnaud transformam sua propriedade numa sociedade de capital aberto, vendendo ações. Madame Loubat, dona de um hotel na cidade de Libourne se torna um dos maiores compradores, num investimento que a transformaria, em 1949, na proprietária do Château. Sua atuação foi decisiva em várias fases desta vinícola. Para vender a primeira grande safra do pós-guerra em 1945, contrata o negociante Jean-Pierre Moueix, que recebe direitos exclusivos da comercialização
Esta nova parceria se mostrou muito acertada. Por um lado, Mme. Loubat foi uma vigorosa vinhateira que se dedicava com afinco e disciplina em manter e melhorar a qualidade de seus vinhos, buscando alcançar o preço dos grandes Châteaus de então, enquanto Moueix se encarregava de abrir mercados internacionais, entre eles os Estados Unidos e a Inglaterra: este foi o vinho servido no casamento do Príncipe Philip com a Princesa Elizabeth em 1947. Uma caixa de Pétrus foi o presente da vinícola para a coroação da Rainha em 1953.
Após o rigoroso inverno de 1956, 2/3 dos vinhedos do Pétrus haviam sido dizimados pela geada. Mme. Loubat, numa decisão muito arriscada, decidiu não replantar nenhuma das vinhas, mas recuperá-las através de enxertia nas raízes sobreviventes, algo nunca tentado antes na região. Com isto, preservou a qualidade de suas uvas. Após sua morte em 1961, a propriedade foi herdada por duas sobrinhas e uma cota foi deixada, em testamento, para Moueix que se tornaria sócio. Pouco a pouco comprou a parte das herdeiras e passou a controlar todo o processo.
A força do Pétrus
Foi o trabalho de Moueix que elevou este vinho ao status que mantém até hoje. Com uma divulgação excelente, ganhou clientes como Aristóteles Onassis que o consumia na sua mesa cativa no famoso Le Pavillon de Nova York. Pedir um Pétrus sinaliza não só o conhecedor de vinhos, mas aquele capaz de compreender o universo vinícola.
Os vinhos da região do Pomerol nunca foram classificados como os do Medoc ou St. Emilion, o que torna a fama do Pétrus num feito extraordinário: foi obtida por consenso. Junto com o Château Le Pin são os vinhos mais caros desta denominação.
Vários aspectos chamam a atenção neste vinho. Ao contrário do que se imagina, não é produzido com a rainha Cabernet Sauvignon, mas com a nobre Merlot, quase sempre sem a companhia de nenhuma outra uva ou uma pequena parcela de Cabernet Franc, no máximo. Tecnicamente, não chega a ser um corte Bordalês estando mais próximo de um varietal. Seus métodos de produção são extremamente rigorosos e não é raro o descarte de parte da produção que não atinge os padrões exigidos (o Château não produz um segundo vinho). Dos atuais 11,4 hectares de vinhedos são produzidos, nos melhores anos, 2500 caixas o que o torna um vinho raro, para poucos. Mantém uma regularidade impressionante, tendo sido elogiado na maioria de suas safras. Parker, nosso crítico favorito, premiou as safras de 21, 29, 47, 61, 89, 90, 2000 e 2009 com 100 pontos. Precisamos falar mais?
Os atuais proprietários fazem um divertido comentário sobre o nome deste vinho: Não deveria ser chamado de Château, não havia nenhum na propriedade, apenas uma modesta casa de fazenda decorada com os símbolos e as chaves de São Pedro.
Notas de degustação
“O Petrus 2009 me lembra do que em 1982 tinha gosto em uma idade similar. Taninos doces, juntamente com amora extraordinariamente pura e frutas cereja preta misturadas com notas de alcaçuz e trufas são encontradas neste ano de 2009″… – Robert Parker.
Este vinho exige muita pesquisa para se adquirir um exemplar no Brasil. O preço médio está em torno de R$ 10.000,00 por garrafa, podendo ser duas ou três vezes mais alto dependendo da safra.
1982 a outra grande safra de Bordeaux
Foram há exatos 30 anos! A safra de 2009 ainda tem muito terreno pela frente para podermos afirmar que é uma safra melhor; os prognósticos são ótimos. Mas vamos fazer uma pequena viagem no tempo e olhar para aquele ano. Houve uma mudança inacreditável…
Antigamente, vinhos respeitados eram os de Bordeaux ou da Bourgogne, nada mais. Champanhes sempre andaram com suas próprias pernas, vinhos do Rhône eram vendidos como vinhos regionais. Da Itália, apenas as garrafas empalhadas de Chianti se destacavam, Barolo era alguma garrafa velha e empoeirada esquecida no fundo de alguma adega. Na Califórnia consumia-se um estranho Zinfandel branco…
A excepcional safra de Bordeaux (82) provocaria uma enxurrada de críticas positivas, Parker encabeçando o grupo, que a mídia não podia mais ignorar. O mundo do vinho deixava de ser um círculo restrito e abria as suas portas para que novas gerações de consumidores experimentassem suas maravilhas. A globalização do vinho se torna um fenômeno irreversível, para melhor ou para pior.
Se hoje encontramos as mais diversas vinificações, algumas exóticas e deliciosas, vindas dos quatro cantos do planeta, devemos a esta safra de 1982. Fica a dúvida: será que a de 2009 provocará novas mudanças?
Dica da Semana: um bom Bordeaux que não é um Château.
L’Orangerie de Carignan
Produtor: Château de Carignan
País: França/Bordeaux
Uva: Cabernet Franc (20%), Cabernet Sauvignon (20%), Merlot (60%)
Coloração vermelho rubi com reflexos púrpura, aroma de frutas negras e vermelhas maduras, intensas notas de especiarias. Em boca apresenta taninos maduros e integrados, notas de frutas negras e tostado. Final longo e persistente
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