Estamos no meio de uma guerra que está sendo travada em diversos fronts. Quem iniciou as escaramuças foi o IBRAVIN quando encaminhou petição ao Governo Federal solicitando salvaguardas para o vinho nacional, ou seja, novos impostos e cotas de importação que onerarão, ainda mais, o consumidor final. 
Rapidamente, os grandes importadores, chefes de cozinha dos mais renomados restaurantes do país, críticos especializados, entre outros, partiram para um rápido contra-ataque e a discórdia se instalou. 

Vamos aos fatos: 
1 – O IBRAVIN, Instituto Brasileiro do vinho tem por objetivo promover e ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro produto derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos. É mantido com recursos públicos estaduais (RS) e Federais, alem da taxa paga pelas vinícolas associadas. 
2 – Como todo órgão financiado por recursos públicos, sua gestão é feita ou por indicação do governo ou por um colegiado com representantes das vinícolas nacionais que, por sua importância, controlam indiretamente este instituto: Miolo, Aurora, Salton, Valduga, Aliança, etc. 
3 – A ideia retrógrada de controlar o mercado de vinhos, formando um oligopólio não é nova, era prática comum na era do nacionalismo exacerbado e nos deixou com um quase irrecuperável atraso tecnológico até os dias de hoje, mesmo depois da abertura do mercado para importações. Não é difícil perceber que os nossos automóveis ainda são umas carroças e a lei da informática nos deixou na rabeira do mundo moderno. Querem fazer o mesmo com o vinho de qualidade. 
4 – Em recente entrevista, Luiz Zanini, da vinícola Valontano afirmou: “Por que o IBRAVIN não pede o SIMPLES para o pequeno produtor? Por que o IBRAVIN não pede o fim das normativas que limitam a produção artesanal? Por que o IBRAVIN não pede a dispensa do SELO FISCAL para quem produz até 50.000 litros de vinho? Por que o IBRAVIN não luta para baixar os tributos de nossos vinhos, ou cria um regime especial para os pequenos produtores? Isto seria a salvaguarda para a sobrevivência da diversidade do vinho brasileiro. Ao contrário disto, o IBRAVIN que, diga-se de passagem, não possui representantes de pequenas vinícolas, está se especializando em burocratizar o Setor. Estamos caminhando para a era da industrialização em massa, estamos dando aval ao vinho commodities em detrimento da diversidade. Nosso vinho está sendo conduzido para a morte, e terá apenas uma sobrevida nas gôndolas de supermercados de terceira categoria, isto é degradante. Não posso compactuar com isto, por isso eu sou radicalmente contra quaisquer iniciativas que não sejam discutidas de forma ampla e democrática, com todos os personagens envolvidos. As empresas que representam a minoria poderosa (que dominam as entidades que compõem o IBRAVIN) agora começam a sofrer retaliações por parte da mídia, dos jornalistas, dos formadores de opinião, dos editores de revistas, dos proprietários de restaurantes, dos supermercadistas e dos sommeliers – são estas as pessoas que trabalham pelo vinho brasileiro – e que estão indignadas com os rumos da politicagem do vinho no Brasil. Quem deve abrir a cabeça”? 
5 – Num exemplo simples, o IBRAVIN financiou, no carnaval deste ano, a Academia de Samba União da Tinga que ganhou o carnaval de Porto Alegre com um enredo sobre o vinho. Além disto, o Instituto montou um fabuloso camarote para seus convidados Vips, onde espumantes eram servidos a rodo, com a desculpa de propor a substituição da cerveja por este vinho… 
6 – Fica claro que a manobra proposta tem por objetivo principal engordar o caixa desta instituição e ajudar a formar o cartel dos grandes produtores. 
A indignação foi geral e rapidamente divulgada nos principais meios de comunicação. Ciro Lilla, um dos mais importantes importadores (Mistral e Vinci) publicou uma Carta Aberta aos seus clientes

http://vinhosdecorte.com.br/carta-aberta-de-ciro-lilla-contra-adocao-de-salvaguardas-para-proteger-vinho-nacional/

Os Chefes Roberta Sudbrack, Felipe Bronze e Alex Atala, entre muitos outros, rapidamente retiraram os vinhos brasileiros de suas cartas, dando início a uma forma de protesto, o boicote, pouco usual neste país, mas de grande efeito. 

O estrago foi enorme. Algumas vinícolas pequenas se apressaram em esclarecer que eram contra as novas medidas: Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano. Entre as grandes, apenas a Salton se pronunciou contra as salvaguardas. 
Qual a nossa posição? 
Embora o colunista José Paulo Gils não acredite neste tipo de protesto, “há sempre algum outro interesse não declarado por trás disto tudo”, o boicote iniciado pelos restaurateurs foi efetivo e parece ser um caminho fácil de ser seguido: simplesmente vamos nos abster de consumir vinhos nacionais. 

Existe, pelo menos, uma petição pública contra este movimento. Para conhecer e participar acesse: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=P2012N22143 

Curiosamente, vinhos do Chile, Argentina e Uruguai, os mais fortes concorrentes aos nacionais, escapariam destas medidas por força de outros acordos… 

Para saber mais, acesse esta excelente reportagem de Alexandre Lalas no site Wine Report: http://www.winereport.com.br/winereports/a-salvaguarda-da-discordia/1866 

Dica da Semana: desculpem-nos, mas o vinho azedou! Fica para a próxima semana.