Esta é uma uva que não pertence aos grupos de Bordeaux ou da Bourgone e que produz vinhos, em todo o mundo, com qualidade igual ou superior aos citados. Vamos conhecer um pouco mais desta casta que origina vinhos exuberantes, musculosos e encantadores.
Duas denominações são empregadas Syrah e Shiraz. O segundo nome é o mesmo de uma cidade do Irã, levando a crer que sua origem estaria ligada àquela região. Estudos muito recentes, realizados na Universidade de Davis, Califórnia, mapeou o DNA até sua origem: um cruzamento natural entre as castas, Durezam da região de Ardéche (pai) e Mondeuse Blanche da região da Savoia (mãe). Portanto, uma casta tipicamente francesa.
Ainda existem várias questões, a respeito desta uva, envoltas em lendas e mistérios, por exemplo, não se conhece a época de seu surgimento. Especula-se que já existiria no tempo de Plínio, o Velho (Caio Plínio Romano), 77 DC. Também não se sabe como chegou à região do Rio Ródano (Rhône), considerado como seu habitat. Produz vinhos encorpados e de coloração profunda com sabores de frutas negras, pimenta e um pouco enfumaçado.
Em outras regiões do mundo, os Syrah podem variar do intenso ao delicado, conforme a linha a seguir:
Segundo os grandes críticos e especialistas, a melhor expressão desta casta está no Rhône, principalmente na região da Côte Rôtie (Encosta Assada). Mais para o sul é encontrada em cortes com outras varietais como Grenache, Mourvèdre e Cinsault, entre outras.
Onde ela brilha?
No mapa abaixo podemos entender a extensão desta região que é cheia de contrastes. Começamos na Côte Rôtie, próxima à cidade de Lyon.
Aqui a Syrah é a única protagonista. São 5 áreas de vinhedos ou Crus: Côte Rôtie, Hermitage, Cornas, Saint Joseph, e Crozes-Hermitage. O terreno é montanhoso exigindo a adoção de patamares para o plantio.
O vale termina ao sul, na região de Chateauneuf Du Pape, o Novo Castelo do Papa, com geografia plana e múltiplas denominações. Novas uvas fazem companhia à Syrah e os vinhos aqui produzidos são quase um oposto aos da região mais ao norte.
Para muitos da minha geração, um Chateauneuf talvez tenha sido o primeiro vinho saboreado com prazer, por isto mesmo, há uma identificação particular com toda esta região do Rhône: para o meu gosto pessoal, são vinhos inesquecíveis!
Semana que vem trataremos deles.
Desafio da Semana passada:
A Campeã foi a leitora Maria do Carmo, do Rio de Janeiro. Sua resposta foi completíssima. (os meus comentários estão em vermelho)
“Topei o desafio e fui pesquisar, já que não tinha a menor ideia e, pra falar a verdade, nunca tinha reparado. Fui pesquisar e descobri um monte de razões”:
1- É um remanescente histórico da era em que as garrafas eram feitas artesanalmente, sopradas através de um cano. Essa técnica deixava uma ponta na base da garrafa, fazendo com que fosse necessária a concavidade para que essa ponta não arranhasse a mesa ou deixasse a garrafa instável (sem equilíbrio).
Esta é a resposta correta. Um bom mestre soprador poderia achatar o fundo de uma garrafa sem problemas, mas ela continuaria com uma pequena marca que arranharia uma mesa. Além disto, as garrafas de fundo chato são menos estáveis.
Hoje em dia não há mais sopradores, mas mantiveram o recesso por tradição e para melhorar a estabilidade. No caso do Champagne é mandatório, pois aumenta a rigidez da garrafa para suportar a pressão exigida pelo espumante.
Há mais um fato curioso. Na foto do desafio dá para perceber umas pequenas ranhuras na borda do recesso. São equivalentes aos frisos de um pneu de automóvel, servindo para deixar a água passar. A origem deste detalhe vem de muito longe: as primeiras garrafas patinavam numa superfície molhada, muitas vezes caindo e quebrando.
Vamos às demais descobertas de Maria do Carmo:
2 – Teria a função de deixar a garrafa mais estável, já que uma pequena imperfeição na mesa seria suficiente para desestabilizar uma garrafa de fundo plano.
Correto, já explicado acima;
3 – Consolida os sedimentos em um anel espesso no fundo da garrafa, diminuindo a quantidade de resíduos despejada nas taças, ao ser servido o vinho.
Esta é uma consequência, só funciona dentro de certos limites;
4 – Aumenta a resistência das garrafas, permitindo que armazenem vinhos ou champanhe com pressão mais elevada.
OK! Já explicado;
5 – Mantém as garrafas fixas em pinos de esteiras condutoras nas linhas de produção onde as garrafas são preenchidas.
Está mais para lenda…
6 – Acomoda os dedos, facilitando o serviço do vinho.
Outro uso inventado por “gente de muito requinte”…, não é uma boa forma de servir vinhos;
7 – De acordo com a lenda, a concavidade era usada pelos servos. Eles frequentemente sabiam mais que seus mestres sobre o que se passava na cidade e, com o dedo colocado na concavidade, sinalizavam caso o convidado não fosse confiável.
Lenda;
8 – Diminui o volume real da garrafa dando a falsa impressão de que se está levando mais vinho.
Verdadeiro, embora o propósito não fosse o de enganar o consumidor e sim tornar a garrafa maior ou com formato ligeiramente diferente;
9 – As tavernas possuíam um pino de aço verticalmente fixado no bar, onde as garrafas vazias teriam seus fundos perfurados de modo a garantir que não seriam cheias novamente.
Outro uso não confirmado, mas plausível;
10 – A concavidade age como uma lente, refratando a luz e tornando a cor do vinho mais chamativa.
Pouco provável, seria necessária a iluminação pelo fundo. Se funcionar, só para garrafas transparentes;
11- Diminui a chance de a garrafa ressonar durante o transporte diminuindo a possibilidade de quebra durante o transporte.
12- Permitia o empilhamento mais fácil das garrafas em porões de navios, sem que rolassem ou quebrassem.
Pouco provável: garrafas são transportadas em caixas e embaladas individualmente. Mas não há dúvida que ficam mais resistentes com o recesso.
Desafio para esta semana:
Estamos no meio de um vinhedo, com várias espécies de uvas plantadas. Como distinguir rapidamente cada casta? Existe um recurso de campo, empregado por agrônomos, ampelógrafos e plantadores em geral. Algum leitor se arrisca?
Dica da Semana:um ótimo vinho desta região para ir aguçando o nosso paladar.
Côtes du Rhône St Esprit 2009
Produtor: Delas Frères
Castas: 75% Syrah e 25% Grenache
Notas de Degustação: Cor rubi carregada de especiarias e frutas negras no aroma, e um final de boca maravilhoso. Potencial de guarda de 7 anos.
Harmonização: carnes grelhadas, vitela recheada, coelho com molho de ameixas.
RP – 90 pontos
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