A Origem das Uvas Viníferas

Uma das grandes alegrias de ter uma idade ‘Senior’ é poder se deliciar com novas descobertas de coisas que identificamos no passado. Desde que me interessei por vinhos, uma ou duas questões nunca tiveram respostas satisfatórias. Até recentemente.
 
A origem das videiras denominadas Viníferas sempre me deixou intrigado. França foi o melhor palpite por muito tempo. Depois achei que a Itália tinha mais chances de ter sido o produtor original de vinhos. Mas ninguém era capaz de confirmar ou negar com segurança.
 
Somente com a ajuda de dois brilhantes cientistas, um Botânico e Geneticista de uvas, o suíço Dr. José Vouillamoz e um Arqueólogo Biomolecular, o norte americano Dr. Patrick McGovern (fotos), após dez anos de pesquisas, acreditam terem encontrado o local onde existe o maior número de semelhanças entre as uvas nativas e as cultivadas hoje em dia. Isto sugere que teria sido ali que o homem domesticou a videira selvagem dando origem a todas as castas que produzem vinhos atualmente
 
 
A grande surpresa é a localização geográfica: Turquia! Especificamente na região da Península de Anatólia, embora não descartem totalmente algumas regiões vizinhas como a Geórgia, a Armênia, o Azerbaijão e o Irã. Após milhares de testes de DNA e comparações de genomas foi possível constatar que na região sudoeste desta península se concentra o maior número de similaridades. A origem da uva vinífera é asiática! Isto é uma grande surpresa.
 
 
Numa entrevista para a revista Wine Spectator (12/2012) o Dr. Vouillamoz formulou uma interessante hipótese para descrever o que teria acontecido:
“A nossa pesquisa revelou que havia uvas selvagens em abundância naquela região. Provavelmente uma quantidade não consumida foi armazenada num cesto e naturalmente se rompeu dando origem a um suco que fermentou. Um homem ou uma mulher que provou este néctar pode ter experimentado sensações inebriantes, muito mais interessantes que apenas consumir as uvas. Uma ideia seria predominante neste momento: fazer de novo”.
Este teria sido o ponto de partida para o homem domesticar as videiras selvagens, entre 6.000 e 8.000 A.C., e começar a produzir o que seria chamado de vinho.
Um dos desdobramentos mais curiosos desta pesquisa é o resultado da análise das cadeias de DNA das diversas castas. Descobriram uma série de interligações muito interessantes, por exemplo:
 
A uva Syrah seria tataraneta da Pinot Noir!
 
Nenhum enófilo poderia imaginar que dois vinhos completamente diferentes originassem de uma mesma família de videiras.
Uma nova surpresa aconteceu quando examinavam a casta Gouais Blanc, usada hoje em dia em vinhos secundários. Ela gerou mais de 80 outras espécies, entre elas a Gamay, a Chardonnay, a Riesling e a Furmint. Uma Casanova das videiras…
 
Isto demonstra que várias ideias sobre a origem das nobres viníferas europeias estavam enganadas. A pesquisa foi capaz de identificar 13 castas que seriam a fundação para o que existe hoje. Apresentamos, a seguir, um resumo destas descobertas aliadas aos países onde se desenvolveram:
 
França: Pinot Noir (Pinot Blanc e Gris são mutações), Gouais Blanc, Savagnin, Cabernet Franc e Mondeuse Noire;
 
Itália: Garganega, Nebbiolo, Teroldego, Luglienga;
 
Grécia ou Itália: Muscat Blanc à Petits Grains;
 
Espanha: Cayetana Blanca;
 
Suíça ou Áustria: Rèze;
 
Croácia: Tribidrag.
 
Isto é só o começo, há muito trabalho pela frente ainda.

Dica da Semana: um bom Malbec que é pouco conhecido.
 
 
Naiara Malbec 
Notas frutadas de amoras e cerejas, típicas do varietal.
Da sua passagem por madeira, ficaram aromas de chocolate e torrado.
Na boca é redondo, de corpo médio, fácil de beber e bom retro gosto. Harmoniza com Carnes vermelhas, massas e queijos.
 

2 Comments

  1. Parabéns pelo conteúdo para o nosso autoconhecimento contanto a origem da uva….!!!

    • Tuty

      Cláudio
      Agradeço seu comentário. Aumentar o conhecimento, meu e dos leitores, é a tônica deste Boletim do vinho.
      Apareça sempre.
      Abs
      Tuty

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