4º dia: Machupicchu
Se vocês estão pensando que o Peru é uma espécie de Brasil subdesenvolvido estão redondamente enganados. Tudo aqui funciona na hora certa e o turista é prestigiado o tempo todo. Não se negam informações e nem mesmo nos lembramos de ter escutado a frase “no lo entiendo”, tão comum na Argentina quando tentamos um “portunhol”. No máximo eles pedem para que falemos pausadamente. Entendem tudo, acham graça, e nos respondem com eficiência e simpatia. Ponto para eles, turismo de 1º mundo.
Obviamente o nosso trenzinho partiu da estação Ollanta exatamente no horário previsto, 6:30. Optamos pelo serviço Vistadome da operadora Perurail, que nos colocou num vagão com teto panorâmico. Viagem deslumbrante, o trem acompanha o leito do rio Vilcanota/Urubamba pela meia-encosta, atravessando alguns túneis que mal davam para o vagão passar. Pessoas nervosas não ficariam incólumes. Para distrair há um simpático serviço de bordo e venda de camisetas, bonés e coletes, mas cuidado com os preços…
Depois de 1:30 chega-se ao Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes de onde parte o micro-ônibus morro acima. Se vocês procuram fortes emoções indico esta subida. Uma estradinha muito sinuosa e íngreme por onde trafegam uma quantidade substancial destes pequenos ônibus. Andam de “pé em baixo”, subindo ou descendo e quando há um cruzamento deles simplesmente não cabem os dois na largura. Um tem que ceder. São cerca de 15 minutos de respiração suspensa. (foto)
Há uma série de restrições para entrar nesta cidade, considerada uma das maravilhas do mundo atual e patrimônio da humanidade:
– não se permite comidas;
– não podem ser usadas garrafas ou copos descartáveis (tudo deve ser levado de volta);
– nem pensar em jogar lixo no chão;
– mochilas e similares são limitadas a um volume de 20 litros;
– bastões de caminhada só os aprovados pela autoridade local (ponta chata que não deixa marcas no solo);
– proibidíssimo fumar;
– não se pode tocar em quase nada, somente nos muros. (pichadores que se cuidem);
– não danificar a flora ou fauna local;
– não criar novas trilhas, utilizar as que já estão abertas.
Atento a estas recomendações, desisti da minha ideia de levar uma garrafa de vinho e taças para degustar lá em cima. Imaginava um bom vinho de corte, talvez um Susana Balbo Brioso, tomado ao cair do sol.
Mesmo sem o vinho, Machupicchu é indescritível, nenhuma foto de cartão postal chega perto da realidade. Após saltar do ônibus e atravessar a burocrática portaria do parque, chega-se ao muro e ao portal de acesso original da cidade perdida. Honestamente, ninguém está preparado para o que se vê ao atravessar o umbral que nos separa da realidade para a magia desta cidadela. É de perder o fôlego!
Nossa guia, Srta. Silu, valorizou cada etapa deste tour com suas explicações teatralizadas, sempre arrematadas pelo bordão “e así és”, autenticando a veracidade de suas afirmações e das muitas lendas e suposições relatadas. Foram 2 horas de encantamento. Muitas caminhadas, sol intenso (recomenda-se chapéu/boné além de protetor solar) e temperatura elevada porem agradável. Superou qualquer expectativa.
Ao final, nossa guia se despediu e nos deixou com tempo livre para exploramos a cidade, com a recomendação de subir até o patamar onde se encontra a casa original do guardião, cujo telhado foi recomposto para mostrar como era aos visitantes e “sacar la foto para el postal!”. Já um pouco cansados, preferimos continuar na parte baixa, nos dirigindo lentamente até a saída e embarcar no transporte de volta até Pueblo de Machupicchu/Águas Calientes.
O que falar sobre este pequeno povoado nos pés da montanha? Conhecem Pirapora de Bom Jesus do Mato Dentro? Ganha fácil!
Apesar de termos almoçado num bom restaurante com saboroso buffet de um dos melhores hotéis do local, não havia muito mais para fazer por aqui. Na rua principal, Calle Pachacutec, há uma série interminável de pequenos albergues e restaurantes, todos com absolutamente o mesmo cardápio e preços, voltados para um público muito específico como os aventureiros ou mochileiros. Para eles aqui deve ser o paraíso. Outra opção era o banho nas águas termais, mas fomos avisados por um brasileiro que passava pelo local de que “a água é meio suja e provavelmente aquecida artificialmente”…
Nosso trem de volta só sairia no dia seguinte às 13:30h, o que nos levou a ficar procurando opções para passar o tempo: pizza no jantar, fotos diversas, comprinhas no mercado de artesanato e até mesmo “massagem Inca”, seja lá o que isto for.
Vinho? Nem pensar, no máximo uma cervejinha. É um chavão antigo, mas verdadeiro: não havia clima, nem para celebrar a beleza de Machupicchu.
Em todo o caso, o que vem a seguir seria apropriado…
Dica da Semana: este seria o vinho perfeito para nos lembrarmos do que foi uma viagem perfeita.
Ken Forrester Petit Chenin Blanc
Um Chenin Blanc sul africano típico, em versão leve e sem carvalho. É super-refrescante e bastante cítrico: indispensável em dias de calor. Amadurecido em tanques de aço inox, exala aromas de frutas cítricas, marmelo, pera e flores. Na boca confirma seu frescor, lembrando sabores de maçã verde e grapefruit, tem bom corpo e um final “picante”.
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