Os vinhos da Franco-Italiano – Paraná

Na coluna publicada em 24/09/2020, apresentando os resultados do Decanter World Wine Awards (leia aqui), cometemos um deslize ao não mencionar que um dos vinhos premiados era paranaense. Havia uma falha na planilha divulgada pela importante revista inglesa que omitia a origem de alguns vinhos, apesar de citar o nome das vinícolas.

Esta informação bastaria para matarmos a charada e acertar este detalhe.

Mais atento estava Fernando Camargo, um dos responsáveis pela vinícola Franco-Italiano, que num comentário muito simpático nos alertou sobre o nosso engano.

Disso resultou o envio das quatro garrafas que ilustram o início deste texto e a organização de uma degustação para conhecer e avaliar esses vinhos.

Não foi fácil montar este pequeno evento. Encontrar um local que não prejudicasse a saúde dos degustadores, negociar um “habeas corpus” para os participantes com seus familiares e até mesmo encontrar quem estivesse disposto a participar. O pano de fundo da pandemia ainda é assustador para a nossa turma da “melhor idade”.

Pedimos ajuda a Marcio Martins, experimentado enófilo e proprietário da Magistrale, uma das boas casas do Rio de Janeiro (Rua Bolivar, 21-A). Além de ser um dos avaliadores, ofereceu para abrir a casa um pouco mais cedo, nos cedendo todo o espaço e apoio para degustarmos os vinhos tranquilamente.

Obrigado Marcio!

Aceitaram o nosso convite para formar o painel de degustadores, José Paulo Gils, Diretor da ABS-RJ e eterno “comparsa” desta coluna, Carlos Marcos Salgado e Jean Jules Eleutério, ambos enófilos tarimbados e membros da ABS.

a partir da esquerda: Marcos, Jean, José Paulo e Marcio

A ordem de serviço escolhida foi: o espumante, depois o premiado Cabernet Sauvignon, o Malbec e terminando com o Merlot. Não usaríamos fichas de degustação, bastaria um comentário e uma nota entre 0 e 10, afinal, somos um Boletim do Vinho. Tudo a ver…

Abrimos o Cuvée Extra Brut, método tradicional, Prêmio Sabre de Ouro e Medalha de Ouro no 11º Concurso do Espumante Brasileiro 2019, promovido pela ABE (Associação Brasileira de Enologia).

Elaborado com Chardonnay e Pinot Noir e envelhecido por 36 meses sobre as leveduras, apresentou uma bela cor dourada com um perlage raramente visto em outros espumantes brasileiros: muito fina, intensa e persistente.

O clássico aroma de pão tostado anunciava o que estava por vir no palato: notas amanteigadas, ótima acidez.

Numa degustação às cegas seria avaliado como um Champagne.

O resumo dos nossos comentários em apenas um adjetivo: Excelente!

Notas: 9,5; 9,5; 9,5; 9; 9,5 – média = 9,38

O próximo vinho foi o premiado Censurato Cabernet Sauvignon 2016, um dos vinhos nacionais com maior número de lauréis em concursos mundo afora. Além da medalha obtida no DWWA, foi novamente escolhido como o melhor Cabernet na Grande Prova de Vinhos do Brasil 2020.

Cor púrpura intensa. Um pouco herbáceo na primeira análise olfativa, louro, muito discreto. Desapareceu em pouco tempo de agitação da taça. Taninos perfeitamente domados, boa acidez muito fácil de degustar. Na segunda análise olfativa apresentou alcaçuz e tabaco. Muito gastronômico.

Alguns jurados afirmaram que ainda não estava no ponto para ser avaliado: um par de anos mais, na adega, traria melhores notas. Acima da média e com bom potencial de crescimento.

Notas: 9; 8,9; 9,4; 8; 8,9; 8 – média= 8,84

O terceiro vinho da tarde foi o Sincronia Malbec 2018, que deveríamos ter experimentado antes do Cabernet. Um estilo mais jovem, apresenta coloração ruby. Notas clássicas de ameixa preta. Bem equilibrado, fácil de beber. Ainda um pouco tânico, sem incomodar. Boa acidez

Esta casta tem produzidos vinhos bem interessantes no nosso país. Este é um deles. 12 meses em barricas de carvalho americano e francês. Está bem integrado e foi o vinho tinto mais apreciado pelo nosso painel, demonstrando que sua elaboração está agradando ao paladar do brasileiro.

Notas: 9,5; 9; 9,4; 9; 9,5 – média = 9,28

Antes de falarmos sobre este último vinho, algo muito especial, alguns esclarecimentos precisam ser feitos. Decidimos a ordem de serviço baseados em outras degustações que participamos. Abrir com um espumante é clássico, preparando o degustador para os próximos vinhos. O critério seguinte envolve duas variáveis, safra e corpo. Busca-se a seguinte ordem: vinhos jovens, vinhos leves e/ou safras mais novas, em primeiro lugar.

Isso decidiu a nossa ordem. A escolha do Malbec como 3º vinho foi baseada nas experiências com vinhos argentinos, sempre mais encorpados que os Cabernet brasileiros.

O Paradigma/Rotto, Merlot 2016, o vinho mais antigo deste lote e a casta francesa que mais se adaptou ao nosso terroir, em linha gerais, sugeriam, fortemente, que este vinho deveria fechar a degustação.

Não erramos, mas não estávamos preparados para o conteúdo desta garrafa, uma das poucas 1600 que foram elaboradas.

Em outras palavras, não deveríamos ter aberto. Não é um vinho qualquer, é algo que passa de pai para filho, talvez até por mais de uma geração. Uma joia, ainda jovem aos 6 anos.

Inspirado nos vinhos do norte da Itália, usa uma parte de uvas desidratadas na sua elaboração. A maturação ocorre em barricas de carvalho francês, tosta alta, por 22 meses.

Muito fechado e mesmo com ajuda de um dos melhores aeradores do mercado, não foi o suficiente para mostrar todo o seu potencial. Deveríamos ter decantado por alguma horas antes de prová-lo. Muito complexo e estruturado. Totalmente fora da curva dos vinhos que estamos mais habituados.

Para especialistas e apreciadores de vinhos de guarda. Não é para qualquer um.

As notas não levam em consideração o que este vinho pode apresentar daqui a uns 10 anos, apenas o que provamos hoje.

Notas: 9,4; 8,4; 9; 9; 9 – média = 8,96

A Vinícola Franco Italiano fica em Colombo, PR, muito perto de Curitiba, podendo ser considerada como “urbana”. Tem uma história muito interessante que copio de seu site:

“A história da Vinícola Franco Italiano teve origem no ano de 1878, quando imigrantes chegaram à região de Colombo trazendo consigo a esperança de uma vida melhor. Foi nesse período que a Família Rausis, vinda da França, e a Família Ceccon, vinda da Itália, chegaram à região, trazendo consigo a tradição do cultivo da parreira e da produção do vinho em suas casas. As duas famílias se uniram no ano de 1973 através do casamento de Ivonne Ceccon e Dirceu Rausis. O casal trouxe para o matrimônio esperança e o sonho de cultivar parreiras para a elaboração de vinhos. Como ambos tinham o costume da produção caseira do vinho, eles viram aí uma oportunidade de negócio. Dessa visão nasceu a Vinícola Franco Italiano”.

Para adquirir estes vinhos há uma loja virtual que pode ser acessada neste link:

https://loja.francoitaliano.com.br/

Saúde e boas compras!

1 Comment

  1. Marcio

    Tuty, foi um prazer recebê-los. Bons vinhos e ótimo papo, tarde/noite que só poderia acabar em . Grande abraço

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