Autor: Tuty (Page 19 of 145)

Mendoza 2023: dia 2

Nossa programação no segundo dia foi intensa. Visitamos três vinícolas, duas no Vale do Uco, que fica a cerca de 100 Km do centro de Mendoza.

A primeira foi uma vinícola boutique, a Família Blanco, localizada em Ugarteche, ainda em Lujan de Cyuo.

O prédio é bem simples, com algumas referências à história da família, por exemplo, as três “janelas” na fachada representam os filhos, as mulheres de um lado e os homens na outra ponta.

Sempre foram plantadores de uvas, fornecidas para outras empresas. A partir de um determinado ponto, decidiram fazer seus próprios vinhos, reservando cerca de 20% da produção de uvas.

E que vinhos!

Se dividem em 3 linhas, Mairena, Familia Blanco, um espumante e uma linha de entrada, com vinhos simples e muito agradáveis, denominados Just White Please, Just Malbec Please e Just Rose Please, que foi o primeiro vinho degustado, durante uma curta caminhada até um vinhedo.

Em seguida, visitamos as instalações da bodega, tudo em pequeno porte e muito organizada. A mesa de degustação era um encanto, com queijos, frutas secas e uma incrível redução de Bonarda, que era deliciosa.

Provamos o Mairena Sauvignon Blanc Desafio 2021, Mairena Bonarda 2018, e o Familia Blanco Blend 2017. Todos muito bons, com o Bonarda se destacando.

A próxima visita foi na imponente Bodega Monteviejo (foto de abertura), dentro do conhecido Clos de Los Siete.

Esta foi a primeira empresa a funcionar neste complexo. Em outra oportunidade, havíamos visitado a vinícola, mas saímos decepcionados: nem uma provinha dos vinhos nos foi oferecida.

Atualmente, a bodega é comandada pela filha e neta de Catherine Péré-Vergé, falecida em 2013. Quantas mudanças!

As instalações são grandiosas, tudo com muito espaço e boa organização. Imaginem que o prédio já é usado até para eventos de música.

Degustamos quatro vinhos:

Linda Flor Chardonnay 2020 – um clássico da empresa e, talvez, o melhor Chardonnay da Argentina. Vinificado ao estilo que se convencionou chamar de Californiano. Muito amanteigado, fácil de beber;

La Chouette 2020 – um blend tinto, que faz, no seu rótulo, uma homenagem a uma família de corujas que habita uma toca ao lado da porta de entrada principal. Correto;

Linda Flor Malbec 2016 – este subiu o nível, estava impecável.

Selecion Campos de Los Andes 2014 – este é um vinho elaborado por Marcelo Pelleriti, que sempre foi o Enólogo chefe da vinícola. Agora passou a função para gente mais nova e atua como consultor. Outro vinho de cinco estrelas.

Esta degustação apagou, definitivamente, a má impressão que foi deixada na visita anterior. Saímos de lá felizes e animados para o nosso almoço, que seria na fabulosa Zuccardi Piedra Infinita, que foi considerada, em 2022, como a melhor vinícola do mundo.

Espetacular!

A seguir, uma foto do restaurante, onde outras surpresas nos aguardavam.

O cardápio do dia:

Uma verdadeira orgia gastronômica. Foram servidos os seguintes vinhos:

Zuccardi Q Chardonnay 2014 – num estilo bem diferente do Linda Flor. Agradou a todos;

Poligonos Paraje Altamira Malbec 2020 – outro bom vinho desta vinícola. Harmonizou corretamente com o prato servido;

Concreto Paraje Altamira Malbec 2021 – um dos “top” da empresa. Simplesmente maravilhoso. Elaborado e maturado em tanques de concreto;

José Zuccardi Malbec 2019 – outro top da bodega. Impossível não comparar com o anterior e tentar decidir qual é o melhor. Show!

Malamado Vintage 2018 – este é um vinho de sobremesa que divide os experts. “Malamado” seria uma sigla para “Malbec elaborado a la moda de Oporto”. Ao mesmo tempo, significa que é um “enjeitado”. Deixando as paixões de lado, o vinho estava perfeito para acompanhar a sobremesa de peras.

Para fechar este texto, uma foto tirada da nossa mesa:

Semana que vem tem mais.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Fotos da Zuccardi obtidas no press kit da bodega.

Mendoza 2023: dia 1

Onze anos após nossa última visita, retornamos à Capital do Vinho Argentino, desta vez, conduzindo um grupo de 4 damas: Claudia, Cecília, Chris e Cristiana.

Como de hábito, nosso roteiro foi elaborado em conjunto com a Maria José Machado, da DiVinos Rojos (Instagram, Facebook). Desta vez visitamos nove vinícolas e uma olivícola.

A primeira visita foi na Matervini (foto), uma vinícola boutique “top”, localizada em Lujan de Cuyo. Pertence a Santiago Achaval, um dos sócios originais da conhecidíssima Achaval Ferrer, que foi vendida para um grupo russo, donos da vodka Stolichnaya.

Algumas surpresas nos esperavam. Além de Achaval, juntou-se a ele o Enólogo, Roberto Cipresso. Embalados pelo sucesso dos seus antigos vinhos, decidiram explorar novos terroirs, em busca de vinhos ainda mais icônicos.

A vinícola é uma pequena joia, em todos os sentidos, explorando, ao mesmo tempo, técnicas modernas e tradicionais. A proposta, embora muito ousada, é de uma simplicidade chocante: todos os vinhos são elaborados da mesma forma, sem concessões. A degustação de quatro vinhos tintos foi o ponto alto. Já havíamos provado o único branco, servido como “boas-vindas”, um delicioso corte das castas Roussanne, Marsanne e Viognier, 94 pts por James Suckling para a safra 2020.

Os tintos foram servidos nesta ordem: Canota, Calcha, Alteza e Finca. Cada um foi elaborado com a mesma casta, Malbec, plantada em diferentes regiões. O Canota, recebeu seu nome por conta desta nova região mendocina, onde nunca haviam plantado uvas. Calcha veio do vale Calchaquies e o Alteza veio de Cafayate, ambos em Salta, a cerca de 1.800 Km de distância. Todos excelentes e completamente diferentes entre si.

O ponto alto ficou com o Finca, último a ser provado. O vinhedo fica na porta de entrada da vinícola. É considerado como um dos melhores da Argentina.

Na antiga vinícola, Achaval e Cipresso elaboravam três vinhos que ficaram muito famosos: Finca Mirador, Finca Altamira e o Finca Bela Vista, que recebeu 100 pontos de Robert Parker.

Quando vendeu a antiga bodega, Achaval não incluiu, no pacote, a Finca Bela Vista. Com suas uvas elaboram, agora, o Finca. Simplesmente sublime, mas o preço é assustador.

A segunda e, excepcionalmente, última visita do dia foi na Bodega Durigutti, onde fizemos o nosso primeiro almoço harmonizado. Fica em Las Compuertas, distrito de Lujan.

O restaurante (foto) se chama 5 Suelos e a cozinha é denominada como de Finca.

Cada um escolheu uma combinação de pratos, que foram provados entre todos. Os vinhos escolhidos foram os da 1ª seleção, “Mendoza, Tierra de Malbecs”.

Novamente, os vinhos degustados buscavam sua identidade em diferentes terroirs. O Pie de Monte vem de Gualtallary no Vale do Uco, uvas de um só vinhedo. O 5 Suelos é um interessante corte, dentro de uma linha muito inovadora desta vinícola, o Proyeto Las Compuertas. São elaborados, em ovos de concreto, 5 vinhos oriundos de diferentes vinhedos. São cortados posteriormente e engarrafados. Ainda dentro deste espírito, resgataram uvas muito antigas, Criolla, Cordisco e Charbono, plantadas em Latada ou em Gobelet (arbusto). Algumas ainda em pé franco e com mais de 100 anos de idade. Elaboram vinhos com cada uma delas.

O terceiro tinto foi o HD (Hector Durigutti) Reserva, elaborado a partir de vinhas velhas, seguido do top Carmela Durigutti Gran Reserva, outro “single vineyard”. Todos corretíssimos. Um almoço impecável.

Cansados e satisfeitos, retornamos ao nosso hotel.

No dia seguinte visitaremos três vinícolas no Vale do Uco.

Fica para a próxima semana.

Saúde e bons vinhos!

Há controvérsias 3:
Carvalho francês, americano, outras madeiras

Todos sabem que existem vinhos que passam por madeira, a mais conhecida é o carvalho, e que existem vinhos que sem madeira. São dois produtos bem diferentes em termos de aromas e sabores, bem como na maneira de harmonizar com alimentos. Cada um tem o seu nicho.

Então, onde está a controvérsia?

O melhor seria colocar no plural, “controvérsias”.

Eis algumas delas:

– Carvalho francês, americano ou do leste europeu?

– Barricas, cavacos, aduelas ou adição de extratos?

– Por que só carvalho, e as outras madeiras? Quais?

Não pretendemos esgotar o assunto, apenas enfatizar os aspectos que consideramos mais relevantes e que vão contribuir para se obter vinhos de melhor qualidade.

O debate sobre com ou sem madeira já está decidido. Cada um tem um objetivo e público específico.

Mais interessante é discutir sobre qual tipo de carvalho traz a melhor contribuição para o vinho. Tradicionalmente, duas espécies são as favoritas.

A primeira é o carvalho francês (Quercus robur, petraea ou sessilis) das florestas de Allier, Limousin, Nevers, Tronçais e Vosges. O mais famoso é o de Tronçais. A principal característica são os aromas de feno e notas vegetais.

A segunda é o carvalho americano (Quercus alba), que tem uma textura diferente da dos franceses e sua principal característica é agregar aromas de baunilha, manteiga e notas adocicadas.

Ambos transmitem taninos e coloração adicional ao vinho armazenado em seus tonéis.

Com o fim dos regimes totalitários do leste europeu, foi possível obter madeira de carvalho de mais uma origem, as florestas da Eslavônia, na Croácia. A madeira é mais granulosa permitindo uma ótima micro-oxigenação. Também é menos tânico e passa aromas e sabores bem equilibrados para o vinho.

Qual usar?

Para nossa alegria, os produtores preferem usar as 3 espécies, mesclando as influências a seu gosto. Há quem só use um tipo ou outro, há quem misture madeiras numa mesma barrica e há que amadureça vinhos em diferentes madeiras de carvalho para misturá-los (corte) posteriormente.

Nem só de barricas vive o vinhateiro. Existem outros recursos, alguns bem fora da curva. Para algumas vinícolas, o preço de um conjunto de barricas é proibitivo. Soluções engenhosas foram encontradas e bem utilizadas, apesar das “controvérsias”.

Usar cavacos de madeira ou aduelas inteiras, imersas no tanque de inox é uma solução muito utilizada por produtores australianos e neozelandeses. O resultado é excelente e muito difícil de ser identificado por degustadores experimentados.

Já os críticos preferem fazer coro afirmando que “não seguem as tradições”. Imaginem o que pensam sobre alguns produtores, pouco ortodoxos, que preferem “temperar” seus vinhos com “extratos de carvalho”, como se fosse um perfume…

Haja controvérsia, com razão.

Por fim, a maior e eterna discussão é a hegemonia dos carvalhos. O que acontece com outras madeiras?

Faltam conhecimento adequado, recursos para investir em pesquisa, matéria-prima em algumas regiões – uma árvore de carvalho pode demorar 150 anos para chegar no momento do corte – e falta vontade para mexer num time que dá certo há séculos.

Curiosamente, algumas outras madeiras já foram usadas ou ainda são empregadas para funções menores. Por exemplo, tonéis de castanheira, uma madeira de baixo custo, ainda são usados para armazenar ou transportar grandes volumes de vinho. Algumas de suas características protegem o precioso líquido em seu interior.

Acácia e cerejeira têm sido usadas, em menor escala, aproveitando características bem específicas como adicionar cor ou permitir um amadurecimento mais rápido. Vinhos brancos são os grandes beneficiados.

No Brasil, tanto a EPAMIG como alguns produtores arrojados têm usado madeiras tipicamente nacionais para obter vinhos de qualidade: jequitibá rosa, grápia, ipê-amarelo e castanha-do-pará. Os resultados são promissores.

Dois vinhos já se destacam no nosso mercado, o Sauvignon Blanc Barrica Brasileira da Vinhética e o Juju, da vinícola Arte Viva, um rosé elaborado com Marselan, Chardonnay e Riesling. Antes do blend, o tinto estagia em barricas de jequitibá rosa e os brancos em carvalho francês.

Não temos carvalho como na Europa ou na América do Norte, mas temos as maiores florestas do mundo e uma variedade quase inesgotável de madeiras para testarmos.

Os pesquisadores da EPAMIG se basearam nas madeiras utilizadas na produção da nossa cachaça, para iniciar suas pesquisas e estão no caminho certo.

Interessante sinergia…

Um dia chegamos lá.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de Leo Hau por Pixabay

Há controvérsias 2:
Vinhas em pé franco ou enxertadas?

A questão a ser resolvida é a seguinte:

Qual vinho seria melhor, em termos absolutos: aquele vinificado a partir de uvas viníferas originais, em “pé franco” ou o vinho obtido das parreiras que foram enxertadas sobres as raízes “americanas”?

Muita coisa para esclarecer antes de entrar no debate.

A controvérsia só existe por conta de uma praga, a filoxera, que dizimou quase todos os vinhedos europeus, lá no século XIX. Até hoje, não existe uma forma de exterminar este indesejável pulgão que suga a videira até sua morte. Mas há diversas formas de controle.

A maneira mais simples de enfrentar este problema é escolher um tipo de terreno que não seja favorável a este inseto, por exemplo, regiões de solos mais arenosos ou vulcânicos, além de áreas muito isoladas aonde a praga nunca chegou.

A solução mais adotada, até hoje, é a enxertia, técnica muito conhecida e bastante empregada na agricultura. No nosso caso, a muda de uma vinífera é enxertada sobre a raiz de uma uva comum, conhecida como “americana”.

Esta técnica permite a perfeita sobrevivência das castas que conhecemos pois a raiz, ou “cavalo”, é imune à filoxera. Podemos afirmar, com segurança, que o vinho que estamos acostumados a consumir provém de videiras assim.

Vinhas em “pé franco” existem e produzem em alguns lugares do mundo: Chile, Argentina, Colares em Portugal, Toro na Espanha, Monte Vesúvio na Itália, ilha de Santorini na Grécia e regiões da Austrália e da Nova Zelândia. Pode haver outras que ainda não foram catalogadas.

Uma das descobertas mais curiosas está em Graves, Bordeaux. Existem pequenos vinhedos de castas pouco conhecidas, todas anteriores à devastação pela praga: Castet, Pardotte e Mancin. A partir delas é elaborado um vinho único, o Liber Pater, vendido com um preço nada camarada de 40.000 euros uma garrafa …

Seu produtor, Loïc Pasquet, um entusiasta das uvas não enxertadas, criou uma associação dos produtores que só trabalham com estas videiras, a Les Francs de Pied, que procura estimular o plantio desta forma.

Há um certo regionalismo nesta organização, o que resultou em pesadas críticas. Produtores chilenos que mantém seus vinhedos originais não são aceitos porque alguns vinhateiros optaram por usar a técnica de enxertia em determinadas regiões.

Embora enxertar seja uma técnica bem dominada, quando falamos de videiras a coisa muda de figura. Existem diversos tipos de “raízes”, algumas preparadas para receber determinada casta. Do ponto de vista da qualidade da uva obtida, a opinião é quase unânime: os cachos são mais regulares e o manejo do vinhedo é muito mais fácil. A qualidade da vinificação é indiscutível.

As críticas recaem sobre a escolha de determinadas raízes, que consumiriam muito potássio e nitrogênio do solo, criando um desequilíbrio. A chave para se obter um bom produto consiste em acertar o “cavalo” a ser enxertado.

Então, quem produz o melhor vinho, afinal?

Há muita coisa acontecendo neste cenário. Uma revista especializada, a francesa Revue du Vin, já organizou uma degustação comparativa entre os dois tipos de vinhos, sem nenhuma conclusão prática. A Francs de Pied investe em pesquisas científicas em busca de marcadores específicos para o vinho de pé franco, que permitam uma boa caracterização e diferenciação. Já delinearam alguns pontos, mas falta uma comprovação.

A grande dificuldade é que seria necessário um vinhedo de dupla característica: uma parte enxertada e outra não, das mesmas castas. O manejo teria que ser idêntico e o vinho elaborado pela mesma equipe e com as mesmas técnicas.

Até lá, quem vai decidir a contenda é o gosto do consumidor ou mesmo o seu bolso. Vinhos de uvas “pé franco”, originais, são raros, poucos e caros.

Há espaço para os dois tipos.

Vale aquele velho jargão: “Gosto não se discute”.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Old Vines por outdoorPDK está licenciada sob CC BY-NC-SA 2.0

Há controvérsias:
Pisa a pé ou meios mecânicos?

Para produzir vinho, as uvas têm que ser esmagadas, prensadas, amassadas, enfim, precisam passar por um processo que rompam as peles dos bagos e liberem o suco, para que possa ocorrer a fermentação, onde o açúcar do sumo será transformado em álcool.

O processo mais tradicional é a pisa a pé, um método muito fotogênico e bastante conhecido, mas nem todo mundo se dá conta do esforço brutal que é necessário para, por exemplo, pisar algumas toneladas de uvas.

Uma pisada típica duraria cerca de 3 dias, divididos em intervalos de 3 a 4 horas. Os primeiros minutos são lindos, até turistas participam do evento, sempre com música e cantoria para ditar o ritmo.

Agora imaginem ficar horas a fio, para lá e para cá, no lagar, pisando algo que se acha muito macio, mas, se forem cachos inteiros, a coisa pode ser bem mais dura.

Tecnologia existe para substituir este trabalho intensivo por diversos meios mecânicos, alguns de alta tecnologia. Vão desde robôs que imitam o movimento da pisada até prensas muito elaboradas que usam uma espécie de bexiga (bladder press), além de sofisticados controles a cada etapa do processo, para obter o mesmo efeito.

Mas e o resultado é o mesmo?

Alguns produtores dizem sim enquanto outros dizem não.

Vamos aos fatos:

Os defensores do método tradicional alegam que há um maior controle sobre a qualidade do mosto a ser fermentado. Insistem que, pelos meios mecânicos, nem sempre é possível controlar a quantidade de taninos jovens decorrentes dos talos, peles e sementes prensados. Já com o trabalho humano, a sensibilidade dos pés de cada um seria inimitável. Mas, para isto ser verdadeiro, o grupo de pisadores teria que estar bem treinado.

A seu favor, lembram que um dos vinhos mais icônicos, o português “Vinho do Porto”, continua sendo elaborado por este processo.

Verdadeiro até um certo ponto. O Porto pode ser elaborado por qualquer um destes caminhos. Algumas Quintas usam a pisa apenas para vinhos de pequenas produções.

Além de Portugal, Espanha, França, Itália, EUA e até no Brasil a pisada ainda é utilizada, seja para a alegria dos turistas ou em busca de diferenciais de qualidade. Os vinhateiros que seguem o caminho dos vinhos naturais, orgânicos, biodinâmicos etc. são defensores deste processo – mínima intervenção.

Do outro lado do ringue, desculpem a metáfora, estão os grandes produtores de vinho. Todo o processo de vinificação, atualmente, pode ser controlado nos mínimos detalhes. Cada tipo de vinho a ser elaborado exige um certo tipo de atenção. Por exemplo, pode-se ou não usar os cachos inteiros; vinhos brancos não são macerados com suas peles; as leveduras empregadas na fermentação podem ser preparadas para cada tipo de casta utilizada e muito mais.

É um grande arsenal de recursos que pode e deve ser usado, com sabedoria. Os grandes produtores sabem disto e investem, constantemente, em novas tecnologias.

E ninguém reclama destes vinhos…

Reconhecer, numa degustação, que um vinho foi elaborado por pisa a pé é tarefa impossível. Se a ficha técnica não fizer menção a este especial processo, não é possível diferenciar de um vinho elaborado com alta tecnologia.

Quem poderia comparar e julgar, objetivamente, seriam os críticos, os Sommeliers e gente especializada, desde que tenham as informações necessárias. Mas é muito difícil: não existem vinhos “iguais” que sirvam de base para uma comparação. Qualquer opinião será, sempre, subjetiva.

Sendo assim, quem deve decidir esta controvérsia são os consumidores. Cabe a eles, somente, gostar ou não deste ou daquele rótulo, seja feito por cinematográficos processos ou apenas frutos de grandes investimentos em técnicas atuais.

Honestamente, neste julgamento final o peso maior não vai estar no método; outros parâmetros serão mais relevantes.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Imagem de macrovector no Freepik

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