Esta é uma novidade muito interessante. A Frugalpack, uma empresa inglesa de embalagens, lançou esta garrafa feita com papelão reciclado, que recebe um acabamento plástico interno, próprio para acondicionar alimentos ou bebidas.
De certa forma, é uma evolução dos vinhos em caixa, nem sempre muito aceito por consumidores mais exigentes. O formato de garrafa, com a mesma capacidade de 750ml, pode ter mais sucesso.
Seu custo equivale ao das garrafas de vidro, mas por serem muito mais leves e permitirem que sejam produzidas no local (on site), as tornam muito vantajosas se olharmos o custo global da operação.
Pesam, apenas, 83g, o que significa uma grande redução nos custos de transporte. Para sua reciclagem, é dividida em duas partes: papelão e plástico. Ambos têm um custo baixo de processamento se comparado ao vidro. Para cumprir as novas metas de “carbon footprint”, está solução é um achado. Reduz as emissões em 84%.
Atacadistas de bebidas estão muito interessados, este mesmo tipo de garrafa pode ser usado para destilados também. A logística de estocagem é mais simples demandando menos mão de obra. A redução de peso implica em áreas de estocagem mais simples e baratas.
Mercados e lojas especializadas vão pelo mesmo caminho e já estão negociando com produtores para que adotem, em determinadas linhas de produtos, este novo padrão de embalagem.
O 1º cliente foi uma vinícola italiana da Úmbria, a Cantina Goccia, que adotou a garrafa para o seu vinho 3Q 2017, um corte de Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon.
Outra vantagem indireta está nas possibilidades de rotulagem. A garrafa inteira pode ser decorada com uma imagem em 360º.
Haja criatividade!
O foco da Frugalpac é que as vinícolas adquiram o equipamento e produzam as garrafas na mesma época do engarrafamento, simplificando a operação e diminuindo estoques de materiais pesados e volumosos.
As garrafas podem ser refrigeradas, sem problemas, servindo tanto para vinhos tintos como para brancos ou rosados.
O último elo da cadeia é a aceitação pelo consumidor. Por enquanto poucos países estão experimentando a novidade.
Além de Engenheiro aposentado, analista de TI, wine writer ativo, barista e queijeiro, sou a versão “personal” do Oráculo de Delfos, para alguns amigos. Vinho é a principal consulta.
Outro dia me perguntaram se o badalado vinho espanhol Toro Loco era bom.
Esta questão trouxe de volta o burburinho de 10 anos atrás, quando este vinho se tornou um hype em todo o mundo: seria o famoso bom e barato.
Vinhos espanhóis sempre foram bons. Como em todos os países produtores, alguns são ótimos, excepcionais, como o Vega-Sicilia, por exemplo. Faltava um vinho que fosse uma marca mais acessível e conhecida.
O Toro Loco entra nesta categoria, rapidamente se tornou uma mania.
Curiosamente, vem de uma região vinícola quase secreta na Espanha, Utiel-Requena. Está localizada na província de Valencia e recebe uma denominação DOP.
A principal casta é a Bobal, ocupando cerca de 80% dos vinhedos plantados. Atualmente existem cerca de 100 vinícolas nesta região, vinificando tintos, brancos, rosados e Cavas.
A marca Toro Loco tem uma interessante história. Bobal, no espanhol arcaico, significa cabeça de touro. Fica fácil perceber o Toro. Loco, é louco mesmo. Era como os locais se referiam a um vinhateiro francês, de origem bordalesa, que se estabeleceu por lá.
Foram 10 anos de muito trabalho, muitas amizades, até que este time binacional colocasse Utiel-Requena no mapa dos vinhos internacionais.
São 3.000 famílias coletando manualmente uvas plantadas em 10.000 hectares, com uma filosofia de cultivo orgânico.
A linha de produtos da vinícola é extensa, incluindo diversas versões do Toro Loco tinto. O original era um bem equilibrado corte de Tempranillo e Bobal.
Produzem um azeite extra virgem, com a mesma marca.
A Toro Loco é controlada pela Bodega BVC, que é associada a francesa Benoit Valérie Calvet.
Existem outras boas vinícolas em Utiel-Requena. De acordo com o Conselho Regulador da região, duas outras são de destaque: a Bodega DOP Vera de Estenas e a Chozas Carrascal.
Terras de Utiel-Requena
Pena que, no momento, as viagens de enoturismo não sejam possíveis. A Chozas Carrascal tem um interessante programa de visitas, além de extensa e deliciosa linha de vinhos, que inclui a denominação D.O.Pago.
Um dos maiores comunicadores do Brasil, o saudoso Chacrinha, foi muito feliz ao modernizar a “Lei de Lavoisier” quando cunhou sua célebre frase “na TV nada se cria, tudo se copia”.
Certamente estaria se divertindo ao perceber a extensão que sua máxima atingiu nos epidêmicos dias de hoje: chegou ao mundo dos vinhos.
Talvez aproveitando a patuscada de um de nossos questionáveis Ministros de Estado, quando sugeriu que se aproveitasse o momento para “passar a boiada”, alguns gananciosos e pouco brilhantes dirigentes de entidades reguladoras da produção vinícola nacional, resolveram ir por este caminho ao tentarem ressuscitar a tentativa de impor (que tal?) salvaguardas ao vinho nacional, limitando a importação de produtos estrangeiros.
Nem ao menos foram originais.
Em 2012, um outro grupo, que provavelmente ainda tem alguns representantes neste bloco atual, tentou, sem sucesso, esta mesmíssima manobra.
Vários subtítulos poderiam ser aplicados a esta coluna:
– Memória curta…
– Tem gente que nunca aprende.
– Já vimos este filme!
Vamos aos fatos:
Deunir Argenta (já sabem qual é a vinícola?), Presidente da UVIBRA (União Brasileira de Vitivinicultura), enviou ofício ao Ministério da Economia, endossado por duas outras entidades a AGAVI (Associação Gaúcha de Vinicultores) e a FECOVINHO (Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul), solicitando diversas medidas de cunho protecionista para o vinho nacional, entre elas, duas mal disfarçadas cláusulas de salvaguardas:
– Criação de um mecanismo de controle de importações, mediante aprovação prévia das licenças de importação, como forma de criar barreiras não tarifárias para o ingresso de vinhos importados (vinhos e espumantes) por, pelo menos, 5 anos.
– Proibir o ingresso de vinhos e espumantes que não atendam os estritos termos da Lei brasileira de vinhos no que tange aos Padrões e Identidade e Qualidade estabelecidos. Veja-se a possibilidade legal existente para vinhos chilenos na sua legislação interna, que permite o uso de água, os quais transitam no Brasil, onde a prática é proibida.
A reação negativa foi imediata, seguida de uma patética tentativa de desmentir o que foi solicitado, acreditando no que hoje se tornou a prática comum, impor (olha ele de novo aí gente!) uma possível falta de entendimento.
As explicações do Sr. Argenta não convenceram nem a ele mesmo.
Uma atitude simplesmente covarde, em todos os sentidos.
O consumidor brasileiro de vinhos não é ignorante e nem inculto. Percebeu rapidamente a nefasta manobra e se manifestou disposto a um novo boicote, nos mesmo moldes do que foi, objetivamente, feito em 2012.
Logo agora que, por conta do voluntário isolamento social, o enófilo mais atento redescobriu os bons vinhos brasileiros. O consumo aumentou de modo muito satisfatório, o que estimulou algumas empresas a aumentarem a oferta de vinhos de boutique, brasileiros, que são difíceis de serem encontrados nos lojas e mercados.
Nosso especial aplauso para a Evino que está com ótimas promoções para os vinhos das vinícolas Don Giovanni, Bertolini e Cainelli. Se não conhecem, se apressem, os lotes são pequenos e os vinhos excelentes.
Para os demais, a ganância falou mais alto. Em lugar de lutar por redução de impostos e taxas, como já fora sugerido anteriormente, preferem continuar com a velha escola de “vamos aumentar tudo e proibir o resto”.
Isto não é nem democrático e nem republicano!
O boicote é a nossa arma e tem se mostrado muito efetiva nestes tempos de pandemia e de descontrole geral da nação: a destrambelhada proposta de um bilionário empresário de assumir uma função no Ministério da Saúde foi logo derrubada na primeira menção de boicotar a suas organizações que incluíam lojas de produtos naturais, cursos de idiomas, material esportivo e redes de fast food.
Mudou de ideia rapidinho…
Para encerrar a conversa:
– Assim como na tentativa anterior, a Salton rapidamente se pronunciou contra esta atitude da UVIBRA. Palmas para ela;
– Adolfo Lona e Luiz Henrique Zanini (Era dos Ventos) fizeram coro com a Salton. Recebem nossa total admiração;
– Uma tremenda vaia para os Argenta! Nunca fui muito fã de seus vinhos. Estes, nunca mais…
“Tem gente que aprende na primeira, tem gente que aprende na segunda. Mas parece que tem gente que não aprende nunca”.
Se a vida é feita de escolhas, hoje eu escolhi não escrever sobre vinhos.
Não se assustem, o tema principal sempre será a nossa bebida favorita, mas não podemos deixar de estar atentos ao que ocorre no mundo etílico a nossa volta.
Dois fenômenos vêm chamando a atenção: o retorno, com muita força, do Gin e seus drinques famosos e a novidade, típica da geração mais nova, as águas gasosas alcoolizadas, ou Hard Seltzer.
Gin é um nome derivado de Genebra, uma antiquíssima bebida produzida na Bélgica e Holanda. Um destilado de infusões de ervas, a principal delas, o Junípero.
Na Idade Média era um remédio, muito usado no tratamento de artrites (Gota) e disfunções digestivas. Somente era produzido nas antigas boticas.
Quando consumido em grandes quantidades, provocava uma temporária valentia na maioria dos covardes. Na língua inglesa ainda é usada a expressão “Dutch Courage” (coragem holandesa) para designar a necessidade de diminuir temores, principalmente nos soldados em tempos de guerra.
Esta bebida se popularizou na Inglaterra em meados do século XVII. Aconteceu, inclusive, uma Gin mania que obrigou, ao Parlamento, aprovar diversas leis na tentativa, frustrada, de controlar um consumo considerado desenfreado.
O Gin sempre foi a primeira escolha entre os soldados e os que foram colonizar outras terras. Sua associação com o Quinino, medicação para combate a Malária, foi a base para criar um dos mais famosos coquetéis: o Gin Tônica. Desta forma, o amargor se tornava palatável.
Nos tempos atuais há um certo clima de nostalgia ao serem revividos e modernizados alguns drinques como o Dry Martini, Gimlet, Tom Collins e Moscow Mule.
Nunca se sacudiu (shaken) ou se misturou (stirred) tanto como agora…
Os Hard Seltzer são bebidas de hoje. Modernas, dinâmicas, pouco alcoólicas, baratas, baixa calorias e fáceis de serem consumidas. Praticamente criadas para atender a um público jovem.
Começou a despontar em 2016, nos EUA. Basicamente uma mistura de água gaseificada e algum tipo de fruta, erva ou extrato aromático. Podem ser fermentadas para se obter algum teor alcoólico ou acrescida de um destilado.
Embaladas em latinhas ou garrafas one way, lembram muito as cervejas. A maioria dos grupos cervejeiros já estão com suas marcas nos grandes pontos de venda.
Chegaram ao Brasil recentemente. Algumas marcas já estão bem posicionadas e nomes, como a da gigante Ambev, disputam um pedaço deste promissor mercado.
A GINTA, é um player recente. Com apenas dois anos de vida, foi criada a partir das ideias de três jovens empreendedores e um apaixonado por drinques, o ítalo-carioca Nicola Bara.
Muita pesquisa, muita experimentação para, finalmente, chegarem a uma fórmula única que “representasse a nossa verdadeira essência”.
O carro chefe é uma clássica versão para o Gin Tônica, composta com limão Siciliano, Tangerina e Laranja.
Duas outras misturas estão disponíveis: uma com frutos vermelhos, a Berries, e outra com mel e Gengibre.
“It’s five o’ clock somewhere”, ou “já são cinco horas em algum lugar” foi um bordão criado pelo comediante norte-americano, Red Skelton, para justificar o início dos trabalhos etílicos em qualquer hora do dia (nos EUA o expediente é de 9:00 às 17:00). Poderíamos adaptar, sem problemas, mudando o horário de final de expediente adotado por aqui.
Brincadeiras à parte, será que existe um momento ou hora específica do dia para se consumir bebidas alcoólicas, vinhos inclusive?
Qualquer Enófilo que se preze sabe da importância dos ritos envolvidos na degustação de um vinho: pesquisar, comprar, adegar, abrir, decantar ou não, servir, olhar, cheira, provar…
Ufa!
E alguns entusiastas acreditam que um determinado horário pode melhorar ou piorar esta experiência…
Temos antecedentes na nossa cultura. Algumas gerações foram tocadas com os famosos comandos “menino/menina tá na hora disto ou daquilo”, que poderia variar desde o temido “estudar”, passando por “tomar banho” e encerrando o dia com “dormir”.
Perguntamos, novamente: depois desta pequena nostalgia, o leitor aceita que exista um “tá na hora do vinho”?
Creio que o denominador comum para entendermos esta colocação está no que significa, verdadeiramente, degustar um vinho. Poderíamos dissertar por várias hipóteses, mas é bem claro que se trata de um prazer. Ninguém abre uma garrafa de vinho por obrigação, nem mesmo os profissionais de serviço do vinho em um restaurante.
Estabelecida esta relação de prazer, resta saber como vamos justificá-la, por exemplo, para compensar um bom ou um mau dia.
Atribuem a Napoleão Bonaparte uma famosa frase, sobre o Champagne:
“Na vitória é merecido, na derrota, necessário!”
Deixando citações de lado, o mais simples é descomplicar e assumir que vamos provar este ou aquele vinho porque estamos com vontade, com desejo, não importando, muito, hora e local. Regras básicas, apenas.
No atual tempo pandêmico há um complicador: não podemos mais dividir nossas descobertas enológicas com os amigos.
É temporário, esperamos!
Mas nos remete, de volta, ao tal horário ideal. Reuniões de confrades são altamente controladas: dia, hora local e tema, pelo menos.
Há quem desfrute um bom vinho em todas as refeições e até um vinho generoso, antes de encerrar o dia.
Há quem só tire a rolha de uma garrafa em ocasiões muito especiais.
Bons Enófilos vão encontrar qualidades mesmo nos vinhos mais simples.
Enochatos vão criticar até os melhores vinhos.
Harmonizadores escolhem o vinho de acordo com o prato.
Os demais, degustam o vinho, com qualquer alimento.
Depois analisam…
Assim é a vida.
Escolham suas turmas e embarquem nelas.
Um último chavão: “A variedade é o verdadeiro tempero da vida, que lhe dá todo o seu sabor!” (William Cowper).
João Carlos Pinheiro ou Tuty como é chamado pelos amigos e pela família, é um Enófilo estudioso e Barista. Teve a oportunidade de expandir seus conhecimentos nos principais polos produtores do mundo. Tuty dá aulas, palestras e organiza almoços ou jantares harmonizados e outros eventos.