Categoria: Castas (Page 8 of 10)

Uma casta, um vinho – Cabernet Franc

Num texto anterior, comentamos a casta Sauvignon Blanc, que junto com a Cabernet Franc são os ‘pais’ da mais que famosa e importante Cabernet Sauvignon.

Por sua vez, a Cabernet Franc, pode ser considerada como uma espécie progenitora muito ativa. Dentro de sua linha genealógica vamos encontrar a não menos famosa Merlot e a Carménère, hoje uva símbolo do Chile.

Sendo uma casta muito antiga e de grande importância na região de Bordeaux, sua origem nunca havia sido questionada até recentemente. Modernas investigações genéticas apontam que esta uva teria como local de origem o País Basco.

Numa igreja em Roncesvalles, muito utilizada como pouso para os peregrinos que caminhavam até Santiago de Compostela, os padres mantinham alguns vinhedos que se estendiam até a cidade francesa de Irouléguy, A principal uva era a casta local Achéria, nome em basco para Cabernet Franc, considerada como a forma morfológica mais primitiva da nossa uva tema.

Destes vinhedos, levados por peregrinos, estas parreiras migraram até Bordeaux e para o Vale do Loire, onde é conhecida como Breton.

A denominação Cabernet só surgiria por volta de 1823. Admite-se que seja uma evolução do Latim ‘carbon’ ou ‘carbonet’, por sua escura pele.

Seus vinhos são menos escuros e encorpados que os da Cabernet Sauvignon. São mais aromáticos e com um paladar mais suave. Muito fáceis de beber.

Embora seja um coadjuvante em Bordeaux, é no Vale do Loire que se torna um importante protagonista. Chinon e Bourgeil são as duas denominações mais conhecidas.

Itália, Espanha e Portugal são outros países produtores onde esta casta está presente, quase sempre sendo usada para produzir versões locais do onipresente ‘Corte Bordalês’.

O mesmo se pode afirmar com relação a Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.

No continente americano vamos encontrar vinhedos nos EUA e no Canadá, onde alguns vinhos, calcados nesta casta, têm se destacado. Estatísticas recentes demonstram, por outro lado, que a área plantada se mantém constante ou com pequenas reduções.

Já na América do Sul o panorama é bem diferente. Uruguai, Chile, Brasil e Argentina tem investido muito no desenvolvimento desta cepa, com excelentes resultados.

Um dos melhores exemplos destes vinhos tão especiais vem de Mendoza, terra do Malbec:

Rutini Cabernet Franc, Single Vineyard, Gualtallary

Elaborado pelo competente Enólogo Mariano Di Paola, passa por fermentação Malolática e amadurece por 12 meses em barricas de carvalho francês (50% de 1º uso e 50% de 2º uso).

Apresenta coloração púrpura intensa e vibrante. Marcantes aromas de compotas de frutas vermelhas frescas, com notas de mentol, tabaco e baunilha, decorrentes da passagem por madeira.

No paladar é muito elegante, com taninos suaves e quase doces. Retrogosto interminável.

Muito versátil, pode ser o companheiro perfeito para pratos tradicionais de aves, caças e outras carnes.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

Novas castas Bordalesas

Preocupadas com a alardeado aquecimento global, as vinícolas de Bordeaux, representadas por sua entidade de classe, aprovaram a inclusão de 7 (sete) novas castas, tintas e brancas, que poderão ser utilizadas na região.

Ainda há muitos trâmites legais a serem cumpridos antes que isto se torne uma realidade. O mais importante deles seria a aprovação pela INAO (Institut National de l’Origine et de la Qualité), órgão que controla as Denominações de Origem e a qualidade dos vinhos franceses.

Por enquanto, somente os rótulos classificados como Bordeaux e Bordeaux Supérieur podem utilizar as novas castas. As AOC’s tradicionais devem se manter como sempre foram, por exemplo Graves, St. Emilion, Medoc.

Regras adicionais limitam a quantidade de cada nova uva no corte e o número de garrafas que podem ser produzidas.

Parece uma grande novidade, mas apenas reflete a posição de alguns viticultores que já vinham plantando uvas que não são típicas da Região.

Procuram por alternativas, principalmente para a Merlot, casta mais plantada e a mais suscetível a climas muito quentes: a concentração final de açúcares é muito alta aumentado o teor alcoólico, o que não é desejável.

Na relação de novas castas, duas uvas portuguesas chamam a atenção: Alvarinho nas brancas e Touriga Nacional nas tintas, uma das varietais mais utilizadas na quente região do Douro.

Eis a relação completa:

Brancas: Alvarinho, Petit Manseng e Liliorila, que é um cruzamento entre as uvas Barroque e Chardonay. Vão somar às tradicionais Semillon, Sauvignon Blanc e Muscadelle.

Tintas: Touriga Nacional, Marselan, Castets e Arinaroa, que é um cruzamento entre a Tannat e Cabernet Sauvignon.

Apenas para refrescar a memória, as tintas tradicionais bordalesas são: Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec e Carménère, que começa a reaparecer entre alguns produtores.

Fica uma última pergunta:

Quando poderemos degustar um Bor-Douro?

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: Participamos do evento Vinhos do Brasil onde degustamos alguns dos vinhos premiados no Wines of Brazil Awards.

Selecionamos este campeão:

Malgarim Tempranillo 2017 – $$

Um vinho tinto rústico e robusto. Aromas complexos, frutas negras, chocolate, couro… Sabor de frutas vermelhas.

Elaborado para apreciadores de vinhos encorpados, com estrutura marcante, com aromas de madeira bem incorporada ao vinho.

Produzido na região de São Borja, Rio Grande do Sul.

Truques do ofício

A ideia deste texto teve origem numa situação vivida por um Sommelier durante o atendimento a um cliente.

Instado a sugerir um vinho para uma refeição de peixes e carnes brancas, o profissional ofereceu um belo Chardonnay sul americano, com ótima relação de preço. Ouviu a seguinte resposta:

“Não gosto de Chardonnay, prefiro um Chablis”.

Ficou claro que o cliente nada sabia sobre vinhos, apenas decorara algumas marcas ou nomes que usava para não parecer um leigo total.

Provavelmente muitos leitores não vão perceber a bobagem dita pelo nosso personagem. O mundo do vinho é cheio destas ‘pegadinhas’. Para dificultar um pouco as coisas, algumas destas pequenas armadilhas nunca são totalmente esclarecidas, seja para alunos de um curso ou para leitores assíduos de livros e colunas, como esta.

Aqui vai o mapa do tesouro: Chablis é um Chardonnay produzido na região, homônima, da Borgonha.

A quase confusão começa na maneira como vinhos são designados no Velho Mundo e no Novo Mundo. Anotem a regra básica para não passarem por este vexame:

No Velho Mundo os vinhos são denominados segundo suas regiões produtoras. No Novo Mundo, o mais comum é designar pela uva que foi usada na sua produção. Exemplos:

Bordeaux – talvez a mais clássica denominação, indica um corte de, pelo menos, Cabernet Sauvignon e Merlot. Para os brancos, Sauvignon Blanc e Semillon;

Bourgogne – tinto é Pinot Noir, branco é Chardonnay que pode receber denominações como Chablis, Meursault, Macon, entre muitas outras;

Além destes, produzem o Beaujolais a partir da casta tinta, Gamay, quase nunca lembrada por quem pede este vinho.

Vinhos produzidos pelos vinhateiros do Novo Mundo são mais diretos e fáceis de identificar pelo consumidor final: Cabernet, Merlot, Malbec, Carménère, Sauvignon Blanc, Torrontés, etc.

Normas de vinificação, específicas de cada região produtora, permitem pequenas adições de outras uvas sem que seja obrigatório mencionar em rótulos.

Isto nos leva a outra confusão bem comum entre apreciadores de vinho: a multiplicidade de nomes de uma mesma casta. Algumas são fáceis de perceber, como Alvarinho/Albariño, Syrah/Shiraz.

O trio Grenache/Garnacha/Cannonau é menos comum mas a dupla Zinfandel/Primitivo ficou famosa e poucos erram atualmente.

Existem uvas menos conhecidas. Eis algumas delas:

Jaen (Portugal) é a Mencia (Espanha);

Tinta Roriz ou Aragonez (Portugal) é a Tempranillo (Espanha);

Maria Gomes ou Fernão-Pires é a mesma casta portuguesa;

Malbec também é conhecida como Cot.

Como se isto não bastasse, existem as confusões regionais.

Muitos apreciadores acabam confundindo a região que está no rótulo como sendo a casta vinificada. A mais comum é a denominação italiana Chianti, um vinho elaborado, basicamente, com a uva Sangiovese, podendo conter parcelas menores de outras uvas locais ou europeias.

Pois esta mesma Sangiovese produz, também, o Brunello di Montalcino e o Morelino di Scansano.

Com esta versátil casta ainda é elaborado mais um grande vinho da Toscana, o Vino Nobile di Montepulciano, que é fonte de outra grande confusão com o vinho Montepulciano d’Abruzzo.

O primeiro faz referência à cidade onde é produzido. O segundo cita a casta, homônima, que produz este bom vinho na Pescara, região de Abruzzo.

Outra uva que vale a pena saber um pouco mais sobre suas denominações é a Sauvignon Blanc, conhecida por seus deliciosos vinhos produzidos aqui no cone sul e na Nova Zelândia.

Na França, duas denominações são importantes, Sancerre, no Loire e Pouilly-Fumé, em Nivernais. Esta última é o motivo de preocupação, pois existe um Pouilly-Fuissé que é um Chardonnay da Borgonha. Confusão na certa.

O truque é lembrar que a Sauvignon Blanc também atende pelo nome de Fumé Blanc.

Esta relação não pretende esgotar o assunto. Nem mencionamos a mais recente confusão entre Glera e Prosecco. Fica para outra matéria.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: mais uma dobradinha de nomes, Monastrell/Mourvèdre.

Tarima Monastrell 2015

Orgânico com uvas colhidas à mão. No palato, apresenta notas de alcaçuz e chocolate. Tem aromas florais e de frutas vermelhas. Sua aparência é vibrante, com coloração vermelho rubi.

91 pontos de Robert Parker

O tal gosto metálico

“Mme. C”, minha esposa, participa de uma confraria feminina, cujo objetivo é celebrar alguma data importante, como um aniversário. Mensalmente há uma reunião e o grupo é muito ativo, escolhendo lugares diversos para seus encontros. Nem todas são enófilas e degustar um vinho não é uma obrigação.

Num último encontro, quando foram conhecer um novo e simpático restaurante carioca, com foco em coisas do mar, ocorreu um interessante episódio que serve de pano de fundo desta coluna.

Para desfrutar das delícias que estavam no cardápio, optaram por pedir diversas entradas. Cada uma que chegava à mesa era provada, e quando não havia mais nada para beliscar, encomendavam uma nova opção.

Neste meio tempo, algumas comensais decidiram por uma garrafa de um bom tinto italiano, elaborado com a clássica Sangiovese.

Quase que simultaneamente, pedem um croquete de camarão ao aioli de limão, uma variante da maionese.

A combinação, pelo menos para o apurado paladar de “Mme. C”, resultou num desagradável sabor metálico.

O fato curioso se deu quando as amigas foram consultadas sobre este estranho retrogosto e nenhuma delas notou qualquer alteração de sabor…

A combinação de taninos, frutos do mar e molhos com base em limão sempre foi incompatível. Some-se a Sangiovese, reconhecidamente tânica, e o gosto metálico aprece com força total.

A explicação científica é bem simples: a proteína dos frutos do mar não reage bem com o tanino do vinho.

Nada que um pouco de água e pedaços de pão não possam resolver.

A discussão mais interessante fica por conta da não percepção do problema pelas amigas que desfrutavam das mesmas escolhas. Algumas explicações são possíveis.

Aqui vai uma pergunta bem ampla: Quantos sabores os leitores desta coluna conseguem identificar ao consumir um alimento ou bebida?

O sabor metálico está entre eles?

Se analisarmos com atenção, objetos metálicos não têm aroma ou sabor e não é algo que se consuma numa dieta regular. Então, como surge este sabor em questão?

Sem querer entrar em discussões científicas ou filosóficas, este sabor metálico existe por associação de ideias. Por exemplo, vamos ao dentista e reclamamos de um sabor anormal. Ele pergunta, “metálico”?

Pronto, foi feita a associação de ideias.

O mesmo pode ser dito para um outro gosto muito discutido entre enófilos, o sabor mineral. Acho que ninguém comeu pedra ou raspa de metal para comprovar que sabores são estes.

Muitas pessoas não têm um paladar mais desenvolvido e nem sempre são capazes de associar um determinado sabor fora da curva normal com alguma coisa, digamos, menos comum.

Em situações como esta, acham o sabor estranho ou desagradável, não lhe dando a mesma importância que um enófilo experimentado daria. Simples assim.

Vida que segue…

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um belo branco italiano de uma casta deliciosa.

Masso Antico Fiano di Salento 2017 – $

A casta Fiano é uma uva de alta qualidade usada extensivamente no sul da Itália. Usada principalmente como varietal, seus vinhos são cremosos, com toques amendoados.

Gastronômico, é excelente para acompanhar crustáceos grelhados, com molhos leves, ou com queijos frescos. Delicioso também como aperitivo.

Calábria, DOC Cirò, Gaglioppo

Volta e meia acontecem pequenas coisas no dia a dia que me trazem à memória ótimas recordações. Abri a caixinha de vinhos que recebo mensalmente e descubro que uma das garrafas é um Cirò DOC, pouco conhecida denominação de origem da Calábria.

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Num encontro recente degustamos alguns ótimos vinhos brancos e tintos, culminando com um dos melhores Pinot Noir norte-americanos, o emblemático Belle Gloss. Só que a turma ainda não estava satisfeita.

Já se havia esgotado a sequência original, apelidada de “off Borgonha”, e não havia nada mais que pudesse ser servido. A saída seria partir para um vinho bem diferente, que fugisse completamente do padrão experimentado. Abrimos um classudo Cirò que acabou sendo a grande surpresa da noite, principalmente por não ser algo previsto ou programado.

Elaborado a partir da casta Gaglioppo (o “g” é mudo), tida por muitos especialistas como a mais antiga vinífera ainda em produção, sua origem, até bem pouco tempo, era bem controversa. Considerava-se que era uma casta de origem grega que fora levada para a Itália. Há uma lenda que afirma que os vencedores das modalidades olímpicas eram convidados a celebrar com uma taça do vinho Krimisa, do qual o Cirò seria um descendente.

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Estudos mais recentes, com a confirmação de DNA e outras bossas, demonstraram que a Gaglioppo resultou da polinização cruzada entre a Sangiovese e a Mantonico di Bianco. Portanto uma uva genuinamente italiana, com uma origem muito semelhante à da Cabernet Sauvignon: uma uva tinta e outra branca.

Não é uma uva fácil de cultivar e vinificar, sendo tão temperamental quanto a grande uva do Piemonte, a Nebbiolo, o que lhe valeu o apelido de “Nebbiolo do Sul”. Por amadurecer tardiamente, apresenta altos teores de açúcar o que produziria vinhos muito alcoólicos. Sua colheita é feita mais cedo, permitindo que durante os processos de vinificação se tenha maior controle.

Esta casta prefere climas mais frios e os melhores vinhedos estão nas regiões mais elevadas. Os vinhos ficam mais suaves, florais e com boa acidez contribuindo para o equilíbrio final. Os vinhedos de planície produzem vinhos mais tânicos que exigem um longo tempo de maturação para serem domados.

Na gastronomia é considerado um vinho muito versátil, com harmonizações que vão desde as típicas comidas com carne de porco e seus embutidos, peixes e frutos do mar, vegetais e massas. Sua textura suave, acidez marcante e taninos comportados, tudo sublinhado por uma sutil doçura, o fazem um vinho perfeito para qualquer momento. Uma das coisas mais deliciosas que se pode fazer com um Cirò é bebê-lo bem gelado no verão.

Os principais produtores desta quase obscura joia são Librandi e Ippolitio. Cada produtor tem seu estilo. Normalmente encontramos algumas variações como Ciró Rosso, Rosado, além de um Reserva, geralmente produzidos a partir de um único vinhedo.

Existe um Cirò Bianco que é obtido a partir das castas Greco Bianco e Trebbiano Toscano (max. 10%).

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: este não pode deixar passar.

vinho-minCirò Rosso Liber Pater – $$

Aromas de frutos vermelhos, violetas e especiarias. Boa estrutura e grande personalidade. Taninos macios, em perfeito equilíbrio

Harmonizações: cabrito ensopado com molho de tomate, carne de porco cozida com tomate e pimenta, bouillabaisse, atum calabrês cozido em molho agridoce, risoto com carne e embutidos, massa com molho de tomate e Carne.

Compre aqui: http://www.vinhosite.com.br/vinho-italiano-tinto-ciro-rosso-liber-pater-gaglioppo/p

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Foto: Fabio Ingrosso (Flickr: Grappolo d’uva Gaglioppo in Calabria) [CC-BY-2.0 (http://creativecommons.org/licenses/by/2.0)], via Wikimedia Commons

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