Categoria: Harmonização (Page 5 of 11)

O que escolhemos primeiro: o vinho ou os pratos?

Este é um dilema bem comum que pode ter desde respostas muito simples até outras mais elaboradas a partir de rígidos conceitos longamente estabelecidos.

Muitas vezes, para decidir por qual caminho seguir, poderá ser necessário consultar algum especialista, como um Sommelier, e conhecer alguns fatos sobre as pessoas e razões que, inicialmente, deram origem ao dilema.

A situação mais típica é imaginarmos um grupo numa mesa de um restaurante: cada comensal escolhe um prato e cabe a você, o especialista da turma, escolher o vinho: uma missão bem difícil.

Será que pedir ajuda ao Sommelier da casa é uma boa solução?

Na melhor das hipóteses, você apenas transferiu o problema para alguém que, nesse caso, não tem todas as informações necessárias para decidir. Imagine que ele não conhece as preferências de cada um e nem a razão do encontro: pode ser uma comemoração; uma reunião profissional; uma refeição de família…

Se em sua casa lhe dá ganas de degustar um vinho, você simplesmente abre a garrafa elegida e vai em frente. Deu fome? Garanto que a melhor harmonização será o que estiver disponível na despensa e geladeira. Não tem erro. Em última instância, o que estiver ao alcance do app no celular.

Pode acontecer exatamente ao contrário: o prato servido na refeição caseira “pede” um bom vinho. Voltamos ao parágrafo anterior e pronto. Há um interessante corolário, entretanto: pode surgir a dúvida do “qual vinho abro agora?”, o que já é bem próximo do nosso dilema.

A coisa tende a ficar mais complexa quando o número de pessoas envolvidas aumenta e o cenário deixa de ser o doméstico. Perdemos o controle sobre o prato, único, que seria servido e as opções disponíveis na adega particular.

Para sair dessa encruzilhada, a nossa primeira sugestão é a de abandonar todas as regras escritas sobre este tema e tentar buscar soluções com o chamado pensamento lateral.

Que tal começar por entender a verdadeira razão de estarem todos neste ou naquele local para uma refeição em grupo? O que realmente se espera disso tudo?

A resposta é fácil: alguns momentos de prazer, de boa convivência e de tranquilidade.

Se esse caminho lhe agrada, então vamos ao próximo quesito, que deverá ser respondido com o máximo de sinceridade: a escolha errada do vinho, desde que seja de qualidade, vai estragar este momento? Seria a harmonização correta essencial para a satisfação de todos?

A resposta mais acertada é um sonoro “não”, ressalvando que sempre haverá alguma opinião discordante.

As famosas e muitas vezes temidas regras para acertar a combinação de vinho e comida servem, na maioria das vezes, para orientar. Nunca deveriam ser seguidas “ao pé da letra” sob pena de nos tornarmos reféns de escolhas repetitivas. A iniciativa de ignorá-las, embora pareça arriscada, pode proporcionar novas e intrigantes alternativas.

A maioria dos apreciadores do vinho e da boa comida não é capaz de afirmar que uma harmonização é melhor que outra. Mesmo o muito comentado e evitado gosto metálico que aparece na cominação de alguns tintos com frutos do mar, some na garfada seguinte ou com um simples pedaço de pão.

Imagine uma brincadeira em que um renomado profissional do vinho lhe sirva a bebida, que vai realçar o seu prato, numa taça opaca. Você não saberá a cor dele: tinto ou branco. Qual a chance de não ser uma experiência agradável?

Zero!

Mesmo que ele lhe sirva um branco para acompanhar um delicioso naco de carne, o seu paladar não vai reclamar e pode achar diferente e bom.

Se você não tentar algo semelhante, nunca vai sair do mesmo lugar e das mesmas escolhas. Romper preconceitos nem sempre é ruim.

Vamos refletir um pouquinho sobre o que este texto está propondo.

O primeiro ponto sugerido é que algumas regras de comportamento sejam quebradas, algo como “quem está na chuva é para se molhar”. Escrevendo, com todas as letras, seja ousado e arrisque. Dificilmente vai dar errado.

O segundo ponto é que não usamos, até o momento, nenhum termo do habitual jargão dos enófilos: taninos, acidez, retrogosto etc. Foi proposital, não precisamos destas expressões para definir algum grau de satisfação, de prazer. São termos técnicos que, se mal empregados, nos levam para bem longe do que pode ser delicioso. Numa única palavra, simplifique.

Para resolver o dilema, esqueça as tecnicalidades e escolha o vinho em função do ambiente: a razão da reunião, o local escolhido, a energia das pessoas, o horário, o clima, os sorrisos e, por que não, as lágrimas.

Não é difícil. Use os seus sentidos, olhe, escute e sinta os aromas que estão no ar. Procure um vinho que você ache que é o certo naquele momento.

Um último conselho: escolha aquele vinho que você está com vontade de degustar. Ninguém vai reclamar.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Imagem de congerdesign por Pixabay

Almoço de Páscoa alternativo

Ainda no colégio, aprendíamos uma curiosa expressão, CNTP, nas aulas de química. Era uma forma simplificada de Condições Normais de Temperatura e Pressão, para que as reações esperadas ocorressem sem problemas.

Estamos bem longe disso neste segundo ano de epidemia, o que afeta, diretamente, uma das mais simpáticas tradições brasileiras, o almoço do Domingo de Páscoa. Mesa cheia de iguarias, bons vinhos e a garotada feliz em busca dos apreciados ovos de chocolate.

Que saudade!

Foi pensando nisso que pedi ajuda a nossa parceira para assuntos gastronômicos, Vanessa Nakamura (@vanessatnakamura), para criar um cardápio para o almoço dominical. A resposta foi rápida: que tal um arroz de polvo?

A ideia era trazer outras tradições culinárias portuguesas, fugindo do já batido bacalhau.

Adorei a sugestão, principalmente pelas interessantes possibilidades de harmonização, tarefa que me cabe neste latifúndio.

Chegamos a discutir opções para um amuse bouche, antes do prato principal e, claro, uma sobremesa cheia de chocolate, óbvio!

O imaginário rega-bofe começaria com uns espetinhos de tomates cereja que seriam mergulhados em Sake e depois rolados em uma farofinha de sal grosso e ervas da Provence.

Harmonização: Sake, sem dúvida, bem geladinho. Pode servir numa taça de vinho branco. Fica muito chique.

Para os que pretendem se aventurar nessa empreitada, Vanessa nos ensina uma receita do arroz de polvo. Está logo depois do texto principal.

Para a turma que nem chega perto do fogão, só nos resta sugerir que esse prato seja encomendado num bom restaurante, afinal, os serviços de entrega trabalharão intensamente. A dica complementar é: encomende já!

Para harmonizar temos duas opções, branco ou tinto.

Este prato é apreciado em várias culturas, principalmente no Mediterrâneo. A receita varia de local para local, assim como as opções de combinações de vinhos.

A grande oportunidade, que só uns poucos e experimentados gourmets conhecem, é degustar esta delícia com um vinho tinto. A carne do polvo não contrasta com os taninos para dar aquela desagradável sensação metálica. Como não tem sabor pronunciado, um belo tinto, encorpado e bem redondo é a combinação perfeita.

Nossa recomendação vai para um bom Tempranillo, Reserva, se for possível, como o Abadia Retuerta, um excelente corte desta casta e mais Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot.

Não é a única opção. Outra boa escolha é optar por um tinto português elaborado com a casta Tinta Roriz (Douro e Dão) ou Aragonez (Alentejo). Um bom exemplo é o Altano, um ótimo corte com as também portuguesas Touriga Franca e Tinta Barroca.

No capítulo dos brancos, as tradicionais opções do Sauvignon Blanc ou do Chardonnay caem muito bem, inclusive com o bons vinhos elaborados na América do Sul, Brasil inclusive.

Há uma opção mais ousada que, infelizmente, é bem difícil de encontrar em nossa lojas: a casta espanhola Verdejo. Procurem. Encontrando, é sucesso garantido.

Para encerrar este banquete virtual, só nos resta falar de uma tradicionalíssima harmonização: chocolates e Vinho do Porto. Uau!

Não importa se serão deliciosos brigadeiros, trufas, as sempre presentes brownies ou ovos de Páscoa: um Porto LBV cobre todas as possibilidades. Geladinho, por favor.

Que tal dar uma inovada?

Aqui vão mais umas combinações, conforme o tipo de chocolate usado na preparação do doce.

– Chocolate ao leite – escolham um vinho de colheita tardia/late harvest. Há ótimas opções vindas do Chile, Argentina e Uruguai. Deste último, o Licor de Tannat é perfeito até com o popular doce de leite.

– Chocolates amargos e meio amargos – a pedida, nesse caso é um bom Malbec, bem redondo e refrescado na hora de servir. Na falta deste, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah pode ser bons substitutos. Escolham vinhos já um pouco maduros. Juventude, nessa hora, pode pôr tudo a perder.

Boa Páscoa para todos!

Saúde e bons vinhos.

Receita do Arroz de Polvo

Vanessa Tami Nakamura

Cozinheira e estrategista, formada em Gastronomia pela Anhembi Morumbi e Administração de Empresas pelo Insper. Foi cofundadora da Casa Volver, agência de comunicação de gastronomia, onde trabalhou com diversos chefs, restaurantes e marcas como Brastemp, Natural da Terra e Livraria Cultura. Atua com criação e gestão de marcas, estratégias de comunicação, produção de conteúdo e de eventos.

Polvo é daqueles pratos que as pessoas morrem de medo de errar o ponto. Mas garanto, não tem mistério.

O primeiro passo é escolher um polvo grande com tentáculos carnudos. Depois, é preciso lavar bem suas ventosas, retirando toda a areia e sujeira. Eu gosto de massagear e esfoliar com sal para deixá-lo bem limpinho e relaxado.

Para cozinhar o polvo, primeiro faça um caldo com os aromáticos que tiver à mão: cenoura, cebola, alho, salsão, salsinha, tomilho, cebolinha. Adicione água e leve ao fogo até ferver.

Em seguida, adicione o polvo e cozinhe por cerca de 40 minutos – conte 30min para cada quilo de polvo. Estará no ponto certo quando o garfo entrar sem resistência. Verifique, de tempos em tempos, na parte mais grossa do tentáculo, cuidando para não cozinhar demais e ficar molenga.

Você também pode colocar tudo na panela de pressão e cozinhar por aproximadamente 5 -7 minutos, depois que começar a apitar.

Retire o polvo e reserve o caldo.

Grelhe polvo na brasa ou na frigideira com manteiga, alho e salsinha.

Depois, fatie os tentáculos do polvo.

Pique alho, cebola, tomate (retire as sementes) e salsinha.

Lave o arroz e esquente o caldo.

Separe azeite, manteiga, sal, pimenta do reino, tabasco e batata palha.

Em uma panela, coloque um fio de azeite e refogue o alho e a cebola. Adicione o tomate e refogue mais, até caramelizar levemente. Junte o arroz e envolva bem na mistura. Entre com o caldo, prove, ajuste os temperos e deixe cozinhar, até ficar bem al dente.

Junte o polvo, um naco de manteiga e emulsione a coisa toda. Coloque mais caldo se precisar, para ficar bem cremoso.

Finalize com tabasco e salsinha. Ajuste os temperos, regue com um fio de azeite e sirva. Coloque batata palha feita em casa por cima, para dar um crunch.

Repensando as harmonizações

Combinar vinhos e alimentos ou harmonizar, como preferem alguns Sommeliers e Enófilos mais dedicados, é quase considerado como uma arte, para este grupo. Por outro lado, há quem entenda que embora haja o vinho envolvido, essas combinações pertencem muito mais ao mundo da restauração do que ao universo da vinificação.

Eis alguns fatos para serem avaliados:

– O cultivo de vinhas e a produção de vinhos é uma atividade muito antiga. Arqueólogos já demonstraram que uvas eram plantadas há cerca de 6.000 anos a.C.;

– Os restos do que seria uma primeira vinícola foram datados como sendo de 4.100 anos a.C.;

– As primeiras notícias sobre tentativas de combinar pratos de um restaurante com um vinho específico vem da França, no século XIX, quando os serviços de restauração se tornaram populares;

– A primeira regra de harmonização e mãe de muitas outras é a que estipulava: “vinho e comida combinam se tiverem a mesma origem”.

Era uma regra bem rígida e limitada que impunha uma regionalização, quem sabe, inevitável para aquela época. De certa forma, seria impensável juntar os clássicos pratos da culinária francesa com nobres vinhos italianos, por exemplo.

Esticando um pouquinho esse conceito, vamos entender a origem da segunda regra mais comum: carnes com tintos e peixes com brancos. Novamente, preceitos que impunham uma rígida restrição.

A Europa ainda se considerava o centro cultural e até mesmo gastronômico do mundo. Podia ditar suas vontades e costumes.

Nos dias de hoje, até mesmo um observador desatento vai constatar que tanto a gastronomia quanto a enologia evoluíram de uma maneira incrível, abrangendo outras culturas e trazendo novos alimentos, novas técnicas, novas castas para serem vinificadas e, o mais importante, novos “terroirs”, nos obrigando a uma releitura da regra original.

Como reescrevê-la para incluir a culinária fusion, por exemplo, que propositadamente mistura, numa mesma refeição, alimentos e técnicas de diversos lugares? Talvez seja melhor não pensar mais nela. Como alternativa, vamos usar estas regras clássicas como se fossem nada mais que uma “vaga ideia”.

Abre-se um campo para novas combinações que vão incluir os novos estilos de vinificação, que já dominam o mercado, como os vinhos naturais, os vin jaune, rótulos de países que nunca foram considerados nos concursos e análises de críticos ou que apenas ficaram esquecidos, como a Grécia, Croácia, Eslovênia e muitos outros.

Há muito o que descobrir e inovar.

Os melhores e mais atuais restaurantes do mundo romperam com quase todas as tradições do ramo. Toalhas e guardanapos de linho branco, impecáveis, foram substituídas por jogos americanos de papel e descartáveis. Talheres de prata deixaram de existir, usa-se aço inoxidável ou madeira.

Pratos de porcelana?

Para quê?

Em seu lugar, materiais inovadores e formatos absolutamente inesperados, isso quando não lhe servirem a refeição diretamente no tampo da mesa e sugerirem que se usem os dedos da mão…

Faz sentido harmonizar ou regras de harmonização?

Entretanto, a busca por uma maior satisfação nas refeições continua e a cada momento novas formas de entreter olfato e paladar são criadas.

Para desfrutar o nosso vinho teremos que abandonar as regras mais rígidas e aceitar essas novas formas de desafiar os nosso sentidos. É um caminho sem volta.

Saúde e bons vinhos, harmonizados na moda antiga ou simplesmente livres e soltos.

Créditos: Foto de abertura por Creative Vix no Pexels

Vinhos “Food Friendly”

Na coluna da semana passada fizemos algumas considerações sobre vinho e comida, ou harmonizações, tema sempre atual que chega a ser temido por alguns enófilos. (leia aqui: Preciso harmonizar…)

Um dos comentários mais interessantes, sobre ser necessário ou não harmonizar, veio de uma amiga e consultora informal deste site, a Food Content Creator e Sommelier de Saquê, Vanessa Nakamura:

“Precisar não precisa, mas se você pode ganhar um terceiro elemento harmonizando, por que não, né?”

Colocação tão perfeita que inspirou a matéria desta semana.

Existe um conceito de “food friendly wine” ou “vinho amigo da comida” que não é exatamente uma harmonização, mas uma bebida que pode acompanhar sem problemas uma série de alimentos, trazendo o “terceiro elemento” mencionado no comentário acima.

A partir da ideia que vinho seria um alimento consumido naturalmente nas refeições, fica fácil inferir que devem existir vinhos com maior ou com menor afinidade com comidas.

Um vinho universal ainda é utópico, tanto quanto uma harmonização perfeita. O importante é lembrar que a nossa bebida favorita deixou de ser um mero acompanhante do almoço ou do jantar e passou a ter brilho próprio. Para alguns, como os famosos Yuppies, degustar um vinho caríssimo era um símbolo de poder e riqueza.

Para este grupo a ideia de combinar vinho e comida acabou ficando meio “brega”, usando uma gíria bem brasileira. Só os menos brilhantes se preocupavam com isso…

O principal corolário desta atitude é uma definição oblíqua – um vinho é ruim quando precisa de comida ao seu lado para torná-lo palatável.

Nada mais errado e recheado de falso esnobismo.

Qualquer vinho bem elaborado é um vinho “food friendly” dentro de certos limites. Um exemplo clássico são os vinhos indicados para acompanhar carnes, entre eles o Malbec Argentino. Há quem os considerem perfeitos neste campo. E não precisa ser um Top 10, os mais simples funcionam melhor, permitindo que o comensal desfrute dos sabores do churrasco sem se preocupar com complicadas e obscuras terminologias para definir um etéreo prazer na hora de comer (e pagar caro…).

Um vinho amigável tem que fazer boas parcerias com pratos que vão desde os mais picantes, passam pelos bem condimentados e chegam na categoria dos suaves e adocicados. Combinam com carnes, peixes, aves e vegetais, tudo numa garrafa só, acreditem!

Para conseguir esta mágica dois caminhos podem ser seguidos: o dos vinhos com maior acidez e o dos espumantes.

Para quem não se recorda, acidez é aquela característica de alguns vinhos que nos fazem salivar mais. A boca fica limpa, fresca e pronta para apreciar uma variedade de deliciosos sabores.

Tradicionalmente são os vinhos brancos que apresentam este fator com a intensidade desejada. Mas não é uma exclusividade. Alguns tintos como os Pinot Noir e os Barbera se enquadram perfeitamente, sem esquecer dos redescobertos Rosé, campeões neste quesito.

Experimentem combinar sushi com um Pinot. Atrevam-se!

Os espumantes são os eternos coringas. Os leitores mais antigos destas páginas vão lembrar da nossa sugestão de usar este tipo de vinho para acompanhar a brasileiríssima feijoada. Fica espetacular.

As opções são múltiplas: Champagne, Cava, Prosecco, Crémant, Vin Mousseux, Blanquette e até mesmo os suaves Pet-Nat. A origem pouco importa, Brasil, Portugal, Espanha, África do Sul, França ou Itália (e muitos outros).

A carbonatação é quem faz a mágica, preparando o nosso palato para os sabores que vierem. Não importa se é carne, peixe, ave, vegetais ou legumes. Até mesmo as sobremesas agradecem a presença de um espumante, como os nossos premiados Moscatel, adocicados na medida certa para não atrapalhar a preparação do Chef Pâtissier.

Coadjuvante, o 3º elemento ou outro adjetivo. Simples assim.

Vale a pena lembrar que também existem alimentos que podem ser definidos como “inimigos” do vinho. Por conta de algumas reações químicas inesperadas, estas combinações podem produzir sensações e retrogostos nada agradáveis.

Anote no seu caderninho: ovos, aspargos, alcachofras, espinafre, funcho/erva-doce, couve de Bruxelas, trufas vegetais, peixes gordurosos, defumados em geral, picles, molhos mais condimentados como Chutneys, cranberry sauce e aqueles a base de hortelã ou de vinagre.

Nada que não possa ser contornado, mas vai exigir alguma criatividade na escolha do vinho e talvez alguma adaptação nas receitas.

Mas isso fica para uma outra coluna.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Foto de abertura por cottonbro no Pexels

Preciso harmonizar vinho e comida?

Não, não & não.

Nenhuma regra conhecida obriga qualquer pessoa a encontrar o vinho certo para aquela refeição que será servida, simples assim.

Parodiando a sempre ótima Rita Lobo, “Desgourmetiza”!

Mais uma preciosa informação para tentar desmistificar, definitivamente, este tema: nenhuma vinícola produz seus vinhos “para serem degustados com este ou aquele prato”.

Quem está preocupado com harmonizações são os Chefs de cozinha e os Sommeliers, sempre em busca de uma experiência única em seus estabelecimentos, o que se traduz, de forma muito direta, em maiores custos e lucro. Novamente, simples assim.

Por ser considerado, por meus pares, um expert em vinhos e por extensão um bom Gourmet, sempre sou solicitado a indicar um vinho para alguém que vai servir, por exemplo, um “guisado de Zenaida Auriculata perfumada com Manayupa”.

O correto seria dizer “nenhum vinho, harmonize com água do degelo do Himalaia” e pronto.

Harmonizar vinho e comida não é uma ciência, é puro empirismo, tentativa e erro.

Há uma raiz nisto tudo: em algumas culturas o vinho é visto como um alimento e faz parte, naturalmente, das refeições da família. França, Itália, Portugal, Espanha, Argentina e Uruguai são os mais conhecidos, sem excluir qualquer um outro, inclusive o sul do Brasil.

E que vinho é este?

Na grande maioria das vezes é o que as famílias produzem. Vinhos simples, feitos com a matéria prima disponível e guardados em recipientes que estiverem à mão. Se não forem produtores, o vinho escolhido será o que cabe no orçamento familiar, ou seja, o mais barato no mercado, que já tenha sido provado e aprovado pelos comensais.

“Provado e aprovado” – essa é a chave para que cada um possa entender o que é harmonizar e passar a ditar suas próprias regras, lembrando o que foi dito lá no início: não há regras.

Cada indivíduo tem seu próprio paladar, suas preferências e manias. Se o leitor deseja passar por uma experiência, única, de harmonizar vinho e comida, tem dois caminhos a seguir. O primeiro e mais simples é se dirigir a algum restaurante estrelado e pagar, caro, pelo que lhe for servido.

O segundo caminho é tentar reproduzir esse momento em sua casa ou na de amigos, mas é preciso alguma experiência não só com vinhos, mas com gastronomia também.

Um dos erros mais comuns é tentar harmonizar uma receita que você nunca tenha provado. O desastre pode ser maior ainda se o vinho escolhido também for uma novidade.

Fica aqui um conselho, que nosso antepassados chamariam de “truque de algibeira”: prove (e aprove) a receita antes de sugeri-la ou oferecê-la aos seus amigos. Não harmonize, ainda. Confie no seu paladar e se pergunte se algum tipo de vinho poderia acrescentar alguma coisa a esta refeição?

Lembrou de algum vinho que degustou e tenha gostado?

Esta é a sua regra de harmonização. Talvez não seja uma combinação universal e pode não ser do agrado de alguns. Mas você sempre terá os argumentos corretos para defender a sua escolha.

É desta forma que se aprende e não seguindo as regras de outros. Estas, na melhor das hipóteses, vão indicar uma direção a ser seguida.

Saúde, bons vinhos e boas harmonizações!

Créditos: Foto de abertura por Brooke Lark em Unsplash

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