Categoria: Harmonização (Page 6 of 11)

Vinho e Pizza

Imagem de Gerhard Gellinger por Pixabay

Um prato clássico da culinária italiana e internacional que se tornou uma das refeições prediletas dos brasileiros.

Talvez por ser tratada como uma informalidade e por ser quase um par perfeito para as nossas boas cervejas, a combinação vinho e pizza fica meio esquecida. Em outras palavras, ninguém se preocupa muito em harmonizar corretamente.

“Abra um vinho italiano e pronto”!

Esta é uma fórmula simplificadora e que funciona, muito bem, com a clássica mozarela. Mas, qual vinho italiano que deve ser aberto? Branco, Tinto, de que casta ou castas…

Existem muitas possibilidades. Quem vai determinar o tipo de vinho ideal é a cobertura da pizza e não o tipo de massa: não vai importar muito a espessura ou o tipo de fermentação.

Sem querer esgotar este tema, afinal existem tantos tipos e coberturas para o famoso disco de massa quanto existem diferente tipos de vinho, vamos mostrar as combinações mais indicadas para alguns tipos básicos de pizza.

1 – Pizza de Mozarela, Marguerita e similares

São poucos ingredientes, a massa, molho de tomate, queijo e rodelas de tomate. Para finalizar, orégano e manjericão.

Quem pensou num bom Chianti acertou em cheio. Mas não é a única possibilidade. Um belo corte do tipo GSM (Grenache, Syrah, Mourvedre) funciona ainda melhor. Para inovar completamente e experimentar sabores inesperados, uma Marguerita fica perfeita com um Pinot Grigio.

2 – Pizza Calabresa, Pepperoni e assemelhadas

O truque é equilibrar os sabores mais fortes e picantes. O polivalente Chianti, ou outro vinho com base na Sangiovese é a primeira escolha. Além destes, um bom Syrah, um Pinotage ou, o meu preferido, um Cabernet Franc, podem elevar o status desta redonda a outro nível.

3 – Pizza Portuguesa, quase uma unanimidade…

Perfeita representante da fusão culinária entre Brasil, Portugal e Itália, esta receita, que foi criada por aqui, nada mais é do que usar ingredientes tipicamente lusitanos sobre a massa italiana. Mistura-se, cebola, ovos, azeitonas, presunto e o que mais tiver na geladeira…

Para sabores tão diferentes, é preciso um vinho de corpo médio, alguma acidez, pouco tânico, macio e fácil de beber: Merlot.

4 – Pizza de tomate seco e rúcula.

Embora não seja uma pizza clássica, tornou-se bastante popular. Existem algumas variantes desta receita: sem queijo, com requeijão ou com mozarela de búfala.

Os sabores finais são muito suaves, com um leve traço de amargor, por conta da rúcula, que é acrescentada ao final, não passando pelo forno.

Um bom branco é a combinação indicada: Sauvignon Blanc, Chardonnay não madeirado ou Fiano.

Para ficar mais interessante, experimente esta combinação com um Verdejo, espanhol, ou com um Grüner Veltliner, austríaco.

Qual a sua pizza favorita?

Não apareceu aqui?

Não tem problema. Use estas sugestões como base, para outras combinações de coberturas.

Procurem ousar, incluindo vinhos rosados, um Riesling alemão seco ou espumantes.

Saúde e bons vinhos!

Sal, pimenta e gordura

foto por Speed-Light licença por CC BY-NC-ND 2.0

Muitos já devem estar imaginando que este trio de referência culinária, também possa ser usado no vinho nosso de cada dia: uma pitadinha de um e do outro e uma mergulhada de uma tira de bacon em nossas taças é tudo que falta para transformar um vinho barato num Bordeaux de 1ª linha.

Não é bem assim, estes três elementos continuam tranquilamente sua saga de melhorar os sabores de diversos alimentos. Já uma refeição bem temperada tem a capacidade de melhorar ou piorar o sabor do vinho que está acompanhando o repasto. Harmonização é isto, basicamente.

Servir alimentos um pouco mais salgados, como um presunto cru, é um dos truques mais consagrados para dar uma melhorada naquele vinho meio duvidoso.

Lembrem-se que até os doces se beneficiam quando temperados com um pouco de sal. Um bom exemplo são os sorvetes de caramelo salgado, um dos carros chefes das modernas sorveterias artesanais.

Sempre que achamos que uma história ou outra situação vivida está meio sem graça, usamos a expressão “sem sal” para justificar.

Que ninguém pense em colocar sal na borda da taça, como em alguns coquetéis, mas experimentem consumir um petisco mais salgadinho e tornem a provar o vinho.

Que diferença!

As pimentas sempre foram inimigas do vinho. Seu principal componente, a capsaicina tem a capacidade de embotar o nosso paladar, deixando, apenas, a aquela sensação de calor e ardência, muito desagradável para uma grande maioria.

A Pimenta do Reino, branca ou preta é um caso especial. Existem algumas preparações, muito famosas, que usam e abusam deste condimento, por exemplo, a massa “Cacio e Pepe” dos romanos e o clássico “Steak au Poivre” dos franceses.

Ainda assim é possível harmonizar estas escolhas, mas não é com qualquer vinho. Prefiram vinhos de corpo médio, mais leves e vejam o resultado.

As pimentas vermelhas, como as utilizadas nas culinárias asiáticas, mexicanas ou indianas, são mais difíceis de combinarem com um bom vinho. A sensação de calor só é aliviada com um vinho bem refrescante. Um espumante seria perfeito.

O terceiro elemento, a gordura, tem um papel todo especial tanto na culinária como na enologia: transportam os sabores.

Um alimento com zero de gordura é sem gosto. Podem salgar e apimentar que, mesmo assim, não transmite nenhuma sensação prazerosa.

Não há gorduras no vinho, mas ele pode se beneficiar de sua presença no nosso palato. Uma das regrinhas básicas de harmonização é equilibrar taninos e gorduras.

Neste campo, há um dos melhores aliados do vinho, os queijos, a perfeita mistura de gordura e sal, que encanta o paladar de enófilos iniciados ou não.

Provavelmente, muitos apreciadores desta deliciosas bebida tiveram o primeiro contato numa reunião do tipo “queijos e vinhos”.

Que tal, então, colocar uma pitadinha de pimenta no próximo bocado?

Saúde e bons vinhos, bem temperados!

Vinhos de meditação

Imagem de congerdesign por Pixabay

A pergunta surgiu num almoço com o amigo, Sr. L. A.: “Existe vinho para ser bebido sem o acompanhamento de um alimento? Por que você não escreve sobre isto?”

Segundo seu raciocínio, é quase impossível encontrar uma matéria, crítica ou mesmo análise técnica de um vinho sem que seja feita uma referência sobre possíveis harmonizações. Lembrou, num efeito comparativo, que no caso de outras bebidas alcoólicas, destilados e cervejas, por exemplo, nunca é mencionada nenhuma combinação com alimentos específicos.

L. A. não deixa de ter razão, e sua ótica poderia até estar correta se um único fato não fosse verdadeiro:

Nenhuma vinícola elabora um vinho tendo como objetivo harmonizá-lo com determinada preparação.

Enólogos não são Chefs de cozinha.

Vinhos são elaborados a partir de uma matéria-prima que varia de qualidade a cada safra. É na cantina onde são tomadas as decisões sobre a melhor forma de vinificar, em função da matéria-prima que se tem à mão e não para atender esta ou aquela receita culinária.

Entretanto, vinho e comida é uma combinação milenar, citada até no mais antigo dos livros, a Bíblia.

Em diversos países, o vinho é considerado um alimento, sendo sempre consumido nas refeições. Talvez esteja neste fato a origem desta associação, que implica na existência de combinações melhores ou piores entre o vinho e certos alimentos.

Em suma, um dia a mama errou a mão e o vinho, em vez de descer macio e redondo, transformando aquela refeição num momento de prazer, se tornou “duro de engolir”.

Quem se preocupa com harmonizações são os Cozinheiros e não os Enólogos: buscam receitas que combinem com um determinado vinho e não ao contrário.

Existem diversos argumentos a favor e contra esta ideia de sempre consumir vinhos acompanhados de alguma comida.

Um dos mais interessantes é o fato, bem conhecido, que o consumo de bebidas alcoólicas aumenta o apetite. De acordo com alguns compêndios médicos, o álcool desidrata o nosso corpo. Um alerta é enviado para o cérebro, que não é capaz de distinguir corretamente entre sede e fome.

Uma boa imagem disto é a famosa “larica”.

Fica clara a razão dos aperitivos, por exemplo, aquela cachacinha antes da feijoada, ou o drink antes do jantar, depois de um pesado dia de trabalho.

Muito comum atualmente é substituir o Scotch por uma taça de vinho, que vai se estendendo até o jantar. Prestem atenção em filmes e séries de TV, de qualquer origem, principalmente se o personagem é feminino: chegando em casa abrem uma garrafa de vinho.

Afinal, o que é um vinho de meditação?

Mais um chavão para o nosso glossário: seria um vinho que, por suas qualidades, deveria ser consumido sozinho, enquanto se pensa nas coisas boas da vida.

Nada deveria atrapalhar este momento, ele deve ser completo.

Nova questão: como determinar a qualidade de um vinho e decidir se é adequado para este tipo de degustação?

A resposta é complexa. Não existe uma unidade de mensuração da qualidade de vinhos. Logo, o gosto pessoal é quem vai definir. O conhecido “gosto ou não gosto” é a palavra final.

Mas é possível balizar se lembrarmos de duas qualidades do vinho: tanicidade e acidez. São estas duas características que, em algum momento, vão ditar se um alimento harmonizou ou não e, por extensão, se gostamos deste vinho ou não.

Um vinho de meditação deve ser, sobretudo, equilibrado, ou seja, nenhuma de suas características básicas, inclusive seu teor alcoólico, deve sobressair. Este seria um vinho adequado para ser degustado solo.

Caso contrário, seria necessária a presença de algum alimento que compensasse o desequilíbrio. Por exemplo, algo mais gorduroso para amenizar os taninos.

Alguns parâmetros, bem conhecidos, podem indicar vinhos de melhor qualidade do que os comumente encontrados em prateleiras de supermercados. O preço talvez seja o mais significativo, mas não é o único. Denominações de origem como DOC, DOCG, IP, quase sempre nos levam por um bom caminho, mas também não são verdades absolutas.

Técnicas de marketing podem se utilizar desde garrafas mais pesadas, passando por preços elevados, rótulos bem desenhados e até prêmios em concursos pouco conhecidos para empurrar um vinho de baixa qualidade.

Conselho final: vinho bom é o que você já conhece e gosta. Experimente-o, num momento adequado, sem maiores preocupações, confirmando ou não que é do seu agrado.

Este é o verdadeiro vinho de meditação.

Saúde!

Vinho da Semana: para meditar…

Arturo Garcia Solar de Sael Crianza 2012

Elaborado com a casta Mencia de videiras com mais de 80 anos de idade, na região D.O. Bierzo.

De cor vermelha com reflexos violáceos. O nariz é complexo com aromas de cereja, baunilha, figo seco e notas lácticas. Na boca é concentrado, suculento, elegante e com ótima acidez. O equilíbrio é perfeito, com taninos adocicados e uma excelente persistência.

O tal gosto metálico

“Mme. C”, minha esposa, participa de uma confraria feminina, cujo objetivo é celebrar alguma data importante, como um aniversário. Mensalmente há uma reunião e o grupo é muito ativo, escolhendo lugares diversos para seus encontros. Nem todas são enófilas e degustar um vinho não é uma obrigação.

Num último encontro, quando foram conhecer um novo e simpático restaurante carioca, com foco em coisas do mar, ocorreu um interessante episódio que serve de pano de fundo desta coluna.

Para desfrutar das delícias que estavam no cardápio, optaram por pedir diversas entradas. Cada uma que chegava à mesa era provada, e quando não havia mais nada para beliscar, encomendavam uma nova opção.

Neste meio tempo, algumas comensais decidiram por uma garrafa de um bom tinto italiano, elaborado com a clássica Sangiovese.

Quase que simultaneamente, pedem um croquete de camarão ao aioli de limão, uma variante da maionese.

A combinação, pelo menos para o apurado paladar de “Mme. C”, resultou num desagradável sabor metálico.

O fato curioso se deu quando as amigas foram consultadas sobre este estranho retrogosto e nenhuma delas notou qualquer alteração de sabor…

A combinação de taninos, frutos do mar e molhos com base em limão sempre foi incompatível. Some-se a Sangiovese, reconhecidamente tânica, e o gosto metálico aprece com força total.

A explicação científica é bem simples: a proteína dos frutos do mar não reage bem com o tanino do vinho.

Nada que um pouco de água e pedaços de pão não possam resolver.

A discussão mais interessante fica por conta da não percepção do problema pelas amigas que desfrutavam das mesmas escolhas. Algumas explicações são possíveis.

Aqui vai uma pergunta bem ampla: Quantos sabores os leitores desta coluna conseguem identificar ao consumir um alimento ou bebida?

O sabor metálico está entre eles?

Se analisarmos com atenção, objetos metálicos não têm aroma ou sabor e não é algo que se consuma numa dieta regular. Então, como surge este sabor em questão?

Sem querer entrar em discussões científicas ou filosóficas, este sabor metálico existe por associação de ideias. Por exemplo, vamos ao dentista e reclamamos de um sabor anormal. Ele pergunta, “metálico”?

Pronto, foi feita a associação de ideias.

O mesmo pode ser dito para um outro gosto muito discutido entre enófilos, o sabor mineral. Acho que ninguém comeu pedra ou raspa de metal para comprovar que sabores são estes.

Muitas pessoas não têm um paladar mais desenvolvido e nem sempre são capazes de associar um determinado sabor fora da curva normal com alguma coisa, digamos, menos comum.

Em situações como esta, acham o sabor estranho ou desagradável, não lhe dando a mesma importância que um enófilo experimentado daria. Simples assim.

Vida que segue…

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um belo branco italiano de uma casta deliciosa.

Masso Antico Fiano di Salento 2017 – $

A casta Fiano é uma uva de alta qualidade usada extensivamente no sul da Itália. Usada principalmente como varietal, seus vinhos são cremosos, com toques amendoados.

Gastronômico, é excelente para acompanhar crustáceos grelhados, com molhos leves, ou com queijos frescos. Delicioso também como aperitivo.

Páscoa

Esta é uma época para celebrar tradições, em diversas culturas. No nosso país, de maioria católica, onde por muito tempo se respeitava o jejum e a abstinência na Quaresma, a chegada do domingo de Páscoa era aguardado com muita ansiedade.

Grandes mesas familiares com deliciosos pratos e sobremesas repunham as necessidades alimentares de todos e simbolizavam, sobretudo, uma nova etapa de vida.

O vinho, claro, não poderia faltar, nem nos ritos de celebração e nem na lauta refeição dominical.

Uma época para refletir, também.

Os cariocas ainda estão sob os efeitos degradantes de mais um dilúvio, agravado pela total incapacidade administrativa de um pseudo ‘Bispo’ que nem prever a catástrofe foi capaz: um falso tudo.

Na França, uma das igrejas mais importantes daquele país, e do mundo, foi quase destruída por um incêndio de grandes proporções, gerando uma corrente de solidariedade nos quatro cantos do planeta para que seja rapidamente reconstruída.

Por esta razão, a coluna desta semana faz uma pequena homenagem aos franceses, lembrando de outro marco nacional, uma tradicionalíssima receita, sempre presente no cardápio dos bistrôs parisienses e quase um prato obrigatório na mesa da Páscoa: o Gigot d’Agneu.

A carne de cordeiro usada nesta preparação é o pernil, temperado, marinado e assado por longas horas. Para acompanhar, feijão Frageolet, um tipo de feijão verde, batatinhas Dauphine e vinho tinto.

Os leitores devem estar se perguntando qual vinho o ideal, mas a resposta é assustadora: há uma lista interminável de opções, que inclui vinhos de outros países como Espanha, Portugal, Itália e Grécia.

Para começar, faça como os franceses e abra um bom Merlot, tipo St. Emilion, margem direita de Bordéus, se o bolso permitir.

Para nossa alegria, esta casta é uma das melhores opções para os vinhos brasileiros, que apesar dos impostos quase proibitivos, ainda são mais palatáveis que um ‘1ª linha’, importado.

Críticos de gastronomia de todo o mundo aplaudem a combinação dos bons Tempranillos da Rioja ou Duero com este assado. Esta carne é uma das prediletas dos espanhóis. Há ótimos rótulos deste país à venda em nossos mercados e lojas especializadas, com preços muito competitivos.

A casta Tempranillo também produz bons vinhos na Argentina e no Chile.

Em Portugal, Aragonez e Tinta Roriz são sinônimos desta casta espanhola. Dentro da tradição lusitana, estão sempre presentes nos melhores cortes do Douro e do Alentejo. Mas não hesitaríamos nesta escolha, ampliando o leque de possibilidades por todas as regiões da terrinha: Bairrada, Dão, Lisboa…

Opções é que não faltam, para todos os paladares e bolsos.

Mão à obra então e boa Páscoa para todos.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: uma escolha perfeita para quem se animar a preparar o Gigot d’Agneau.

Vinho Salton Desejo Merlot – $$

Límpido, de coloração roxa intensa.

Apresenta aromas de frutas negras (mirtilo, amora, framboesa), polpa de frutas em compota, cogumelos, amêndoas tostadas e chocolate.

Seu sabor é intenso e prolongado com taninos maduros.

 

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