Categoria: Mitos (Page 7 of 9)

Mais Alguns Mitos – final

Sul 1b

Anidrido sulfuroso, dióxido de enxofre, SO2 ou simplesmente “sulfito”, é um composto químico com propriedades antissépticas, antibacterianas e antioxidantes que auxilia, também, na extração dos compostos fenólicos que são os responsáveis pela cor e taninos nos vinhos tintos. Este conservante é adicionado ao vinho por suas importantes propriedades.

O uso dos sulfitos é bem antigo, os romanos queimavam velas feitas de enxofre, dentro das ânforas, para evitar que o vinho avinagrasse. A partir de 1900, os compostos à base de enxofre foram introduzidos, definitivamente, no processo de vinificação, impedindo a proliferação de bactérias e fungos.

Rigorosamente controlado por legislações específicas, sua quantidade máxima muda de país para país. O único ponto em comum é a obrigatoriedade de constar um aviso no rótulo ou contrarrótulo, como na imagem acima.

Existe uma razão: algumas pessoas são sensíveis aos sulfitos, mesmo em baixas concentrações, uma parcela menor que 1% da população mundial. Decorre disto o mito de hoje: que a famosa enxaqueca é a consequência da presença deste composto.

Não é bem assim…

Um bom teste para descobrir se somos afetados pelos sulfitos do vinho é degustar alguns damascos secos. Eles contêm cerca de 2.000 ppm (partes por milhão) de SO2 para poder manter sua estrutura, cor, sabor e durar por algum tempo nas embalagens. Um bom vinho tem, em média, 50 ppm, chegando a um máximo de 100 ppm (vinhos de sobremesa).

Neste ponto começamos a desmontar o mito: existem produtores que declaram que seu vinho é livre de sulfitos.

Não é verdade, estes vinhos têm uma quantidade entre 10 a 40 ppm e devido a um arabesco nas legislações, não são obrigados a declarar, como os demais, que contêm sulfitos.

Assim como as pessoas que são sensíveis à presença de compostos sulfurosos, os vinhos livres de sulfitos ficam com menos de 1% do seu universo, ou simplesmente, não existem.

Mais um mito detonado, mas…

E a dor de cabeça, a enxaqueca?

Infelizmente existem pessoas que têm reações alérgicas por conta das histaminas presentes no vinho. Dor de cabeça e um pouco de náusea são os sintomas mais conhecidos, nada que um antialérgico OTC não resolva.

Uma outra explicação vem de um trio de fatores, bem conhecido por todos, baixo nível de açúcar no sangue, desidratação e fadiga. Estes seriam os verdadeiros culpados por ressacas e enxaquecas.

Cuidado, então, ao decidir afogar as mágoas no vinho!

Existem produtores orgânicos e biodinâmicos, outro mito já explicado, que evitam colocar este polêmico conservante em seus vinhos. Obviamente que a vida útil destes produtos é muito limitada e encontrar um destes é quase como acertar o grande prêmio de uma loteria.

Se achar um, sorte sua.

Saúde, bons vinhos!

Vinho da Semana: lá da terrinha, novidade por aqui.

Sul 2Lagoalva Tinto 2014 – $

Elaborado com um corte das melhores castas portuguesas, de modo a obter um vinho equilibrado e complexo.

Com coloração rubi, é um vinho elegante, com intenso aroma de frutas vermelhas e notas de baunilha.

No palato, é redondo e equilibrado, uma delícia de beber.

 

Mais Alguns Mitos – 2

Este mito poderia ser desdobrado em vários outros, há quem ache essencial os aromas e sabores introduzidos pela passagem por barris de carvalho e há quem deteste os vinhos “madeirados”.

Para complicar e fazer a alegria dos mais exigentes, existem diversas origens para esta mágica madeira que melhora vinhos e destilados: França, América do Norte, Eslovênia, entre outros.

Para alguns apaixonados, só vale carvalho francês e de uma determinada floresta.

Menos, menos!

O mito, tema da coluna de hoje, tem um importante pano de fundo: barricas de carvalho são caras e nem toda a vinícola é capaz de ter sempre material novo, a cada safra, fabricado com matéria-prima francesa oriunda da floresta de Tronçais, talvez a mais famosa de todas (as outras são: Allier, Limousin, Nevers e Vosges).

Cada barrica básica custa cerca de 600 dólares ou mais, lembrando sempre que sua a produção é limitada. As árvores de carvalho levam décadas até chegar no ponto de corte.

Para vinhos de ponta, estes barris são usados uma única vez. Os usos posteriores são para os produtos de segunda linha e sua influência diminui a cada nova rodada. Ao final de sua vida útil são revendidos para destilarias ou indústria de mobiliário, recuperando-se parte do investimento.

Como explicar os vinhos de boa relação custo-benefício que passam por madeira?

Existem alternativas, boas e baratas, que foram desenvolvidas para atender a produtores que estão muito distantes dos principais centros de fabricação destes barris ou que buscam formas de acrescentar madeira aos seus vinhos sem ter que fazer investimentos fabulosos que, certamente, impactariam no preço final ao consumidor.

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Empresas especializadas fornecem o mesmo carvalho na forma de serragem, cavacos, aduelas, dominós e até em líquido. Geralmente são produtores de barris também.

Os de uso mais comuns são as os cavacos e as aduelas. Se forem empregados na forma correta e no momento ideal, produzem resultados idênticos aos das barricas, por uma fração do custo. Por exemplo:

Numa barrica padrão de Bordeaux cabem 225 litros. A quantidade de cavacos de carvalho indicada para um volume como este, num tanque de aço inox, seria 700g, o que custaria, aproximadamente 5 (cinco) dólares. Uma enorme economia.

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Outra alternativa muito usada são as aduelas ou sarrafos de carvalho preparados para serem introduzidos nos grandes tanques, seja durante a fermentação ou após.

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Os resultados são surpreendentes e sabe-se que muitos produtores de ponta já adotaram esta técnica, embora ninguém declare, abertamente, o seu uso.

Mais um mito detonado: nem tudo que aporta aromas e sabores de madeira ao vinho, suaviza taninos e realça outras características vem de uma barrica de carvalho.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um bom italiano, da Úmbria.

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Vitiano Rosso 2013

Um corte de 34% Sangiovese, 33% Merlot e 33% Cabernet Sauvignon, que passa 3 meses em barricas de carvalho francês da floresta de Never.
Harmoniza com pratos de carne vermelha, massas com molhos estruturados, e queijos amarelos.

 

Mais alguns mitos – 1

Nada é uma verdade absoluta no mundo dos vinhos e, por esta razão, mitos vão sempre existir. Enquanto alguns são derrubados, novos são criados.

Um tema que sempre é recorrente nas conversas entre enófilos são os vinhos vendidos como orgânicos ou biodinâmicos. Seriam realmente melhores que os demais?

Um amigo da juventude, Vicente, Engenheiro Químico, ficou revoltado quando inauguraram, aqui no Rio de Janeiro, o que teria sido o primeiro restaurante de “comida natural”. Foi uma revolução, mas gerou grandes controvérsias. Vicente, indignado, chegou a imaginar um “restaurante artificial” onde o prato principal seria um “Filé Plastic”, em homenagem a uma massa plástica usada em reparos automotivos.

Mesmo nos tempos atuais ainda é complicado falar em alimentos não naturais e assemelhados. Mencionar vinhos orgânicos ou biodinâmicos levanta a mesma série de questões. Existiria um vinho não natural?

O maior problema em compreender esta classificação está no fato de que ela se aplica, quase que exclusivamente aos vinhedos e, dependendo da legislação de cada país produtor, a definição de “orgânico” pode ser muito ampla.

Cultivos orgânicos, sejam de uvas, outros alimentos ou animais, buscam minimizar o uso de produtos químicos como defensivos agrícolas ou agentes que estimulem o crescimento, entre outros. Até o emprego de implementos agrícolas mecanizados na lavoura pode ser visto como algo inorgânico. Por exemplo, cito a Borgonha e seu mais famoso vinhedo, Romanée-Conti, onde somente cavalos são usados para o transporte da colheita e para a manutenção.

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Quando as uvas chegam na cantina e se inicia a vinificação, manter todo o processo como orgânico é muito complicado. Analisando a legislação norte-americana, vamos descobrir que podem ser usados cerca de 70 aditivos permitidos na elaboração, dita orgânica, mesmo sabendo que alguns são sintéticos, sem os quais não seria possível nem começar a fermentação nas condições sanitárias adequadas.

Um destes produtos, um antigo e eficiente fungicida agrícola, conhecido como Calda Bordalesa (Mistura de Bordeaux), nada mais é que a combinação de sulfato de cobre, cal e água.

Isto tudo é orgânico?

Segundo alguns especialistas, sim!

Outro bom exemplo é o ácido tartárico, principal ácido do vinho que lhe garante saúde e longevidade. Quando a quantidade necessária não é obtida na vinificação, não só é lícito como desejável acrescentá-lo para fazer as correções necessárias.

Orgânico?

Elementar meu caro Watson, ou se preferirem, mito não confirmado, como diriam os apresentadores do Mythbusters (Caçadores de Mitos) do Discovery Channel.

O melhor seria que estes vinhos fossem identificados como “elaborados com uvas de cultivo orgânico” e não como vinho orgânico.

Ao pé da letra, ou todos são ou nenhum é. Vocês decidem…

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: para comemorar, neste domingo 10/07, o dia da Pizza.

org 2Montes Merlot 2014 – $

Vinho de boa expressão, com frutado intenso muito agradável e elegantes notas de carvalho.

Os taninos e a acidez bem integrados dão um paladar com muita harmonia.

Final de boca de boa persistência.

Harmonização: Merlot é uma casta que produz vinhos fáceis de harmonizar com diversos tipos de pratos. Perfeito para as pizzas tradicionais

 

O que um Enófilo busca no vinho?

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Qualquer dicionário vai explicar que Enófilo é quem aprecia e estuda vinhos. Mais que um apreciador comum, é alguém que tem por hábito, entre outras coisas, anotar o que degusta, pesquisar vinhos que melhor se adequam a uma estação do ano ou a um determinado prato ou alimento. Um aficionado em todos os sentidos.

Não existe uma formação obrigatória para ser reconhecido como Enófilo, mas algumas características se impõem:

– Aroma e paladar treinados;

– Sólidos conhecimentos sobre regiões, castas e vinhos;

– Compreender a importância das safras (para grandes vinhos);

– Noções de harmonização;

– Dominar, com confiança e habilidade, o serviço do vinho.

Mais poderia ser dito, mas estaríamos enveredando por adegas, garrafas míticas, cadastros em lojas especializadas e vasta biblioteca. O que importa, entretanto, é entender a diferença entre alguém que pede um vinho para acompanhar sua refeição e a mesma situação vivida pelo Enófilo.

Para estes, não basta gostar do vinho, é preciso ter mais informações para poder apreciar completamente o seu potencial: procedência, como foi elaborado, safra, castas e qualquer outra informação, mesmo que pareça irrelevante, pode contribuir para que se alcance o que é denominado como “toda a extensão do paladar”. Este passo, a mais, faz toda a diferença.

Entramos num terreno quase mítico. Será verdade que o vinho elaborado por um determinado produtor é tão melhor que qualquer um outro? Ou que esta casta produz vinhos mais fáceis de beber?

Uma resposta simples seria “mais mitos que verdades”, mas há muito mais por trás disto.

Cada pessoa que provar um vinho vai ter uma experiência diferente. Há uma razão muito simples para isto: não somos iguais. Cada degustador passou, ao longo de sua vida, por diferentes experiências na formação de seus gostos pessoais, o que inclui aromas e sabores.

Isto posto, como será possível, por exemplo, identificar, ao degustar um vinho, um aroma ou sabor que não conhecemos?

Duas correntes são aceitas, os que ignoram aquilo que não conhecem e os que buscam saber do que se trata. Esta é a atitude que separa um Enófilo do degustador comum.

Há uma satisfação, toda especial, em associar uma gama de conhecimentos, prazerosamente adquiridos anteriormente, com um determinado vinho. Seja pela coloração, aroma, sabor ou pela informação irrelevante. Isto leva tempo para acontecer.

A citação é de Fabricio Portelli, um dos mais importantes conhecedores de vinhos da Argentina:

“Os bons vinhos são possíveis por serem elaborados por pessoas e castas que provêm de lugares específicos, sob um conceito e perseguindo um objetivo preciso. Caso contrário, não existiriam. Entretanto, o seu êxito estará em conseguir agradar”.

O pensamento termina com mais uma frase de difícil tradução literal. Para podermos compreender, foi feita uma adaptação:

“Quando se degusta um vinho, não é qualquer vinho”.

Esta é a chave para entendermos como funciona a cabeça de um Enófilo.

Eles não fazem vinhos, função do Enólogo; não coordenam cartas de restaurantes ou lojas especializadas em bebidas, função do Sommelier; mas são os que melhor sabem consumir a bebida de Baco.

Tiram prazer em cada gota.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um Syrah chileno cheio de coisas para descobrir

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Ventisquero Queulat Gran Reserva Syrah

De cor vermelha escura, o vinho possui aromas que mescla frutas silvestres escuras, pimenta, couro, tostado, café, tabaco e chocolate.

Na boca tem taninos firmes e elegantes, com final de boca macio e elegante.

 

Uma taça para cada tipo de vinho. Verdade?

Mais um mito, moderno, aceito por enófilos apaixonados. Este foi criado pelo fabricante de taças de cristal Riedel, em 1973.
Claus Riedel, em busca de aumentar o volume de vendas, desenvolveu uma linha de taças denominada Sommelier com 10 modelos diferentes, projetados de acordo com o caráter de determinados vinhos. Nascia a ideia das taças específicas. Atualmente o seu sucessor na empresa, Georg Riedel, se encarrega de manter viva esta ideia, viajando o mundo com uma interessante apresentação midiática que causa grande impacto: uma degustação feita nestas taças exclusivas. Quem já participou sai convencido que elas melhoram o vinho…
Grandes nomes endossam esta afirmação, entre eles Robert Parker: “O efeito que a taça exerce sobre um vinho fino é profundo”; ou o crítico francês Michael Bettane: “as taças de Riedel permitem que apreciemos os melhores vinhos do mundo com todas as suas nuances de aromas e sabores”.
Mas nem todo o mundo se convenceu disto e alguns grupos de pesquisadores se dedicaram a descobrir o quanto de ciência existe neste fato. O resultado não chega a ser surpreendente, mas traz o vinho de volta ao papel principal, temporariamente ocupado pela taça. A melhor síntese disto tudo esta nesta frase:
“O que importa é o vinho e não o cristal.” (o resto é puro marketing…)
Em 2004 a Gourmet Magazine publicou um artigo apresentando os resultados de pesquisas realizadas na Europa e nos Estados Unidos, sugerindo que as alegações de Riedel eram infundadas (cientificamente). Segundo a psicóloga Dra. Linda Bartoshuk, da Universidade de Yale, “O cérebro não se importa de onde está vindo o sabor que se sente na boca, e a comunidade científica sabe disto há pelo menos 30 anos”.
Duas outras pesquisadoras, Jeannine Delwiche e Marcia Pelchat, do “Monell Chemical Senses Center” realizaram um extenso trabalho que foi publicado no “Journal of Sensory Studies” (Jornal de Estudos Sensoriais – http://www.tastingscience.info/publications/Glass_shape.pdf), envolvendo quatro tipos diferentes de taças: um copo para água de formato quadrado, uma taça comum de vidro como as usadas nos restaurantes, uma taça Riedel para Chardonnay e outra para Bordeaux. 
Para reduzir qualquer influência dos formatos na pesquisa, foi criada uma estrutura de apoio, como a da foto abaixo, copiada do relatório final:
O teste era “às cegas”, cada participante recebia uma máscara opaca e as taças eram mantidas em distâncias constantes do nariz de cada voluntário. Um sistema de vórtice de baixa velocidade garantia uma suave agitação do vinho, simulando o movimento feito habitualmente ao se girar a taça.
Os resultados derrubaram a teoria de Riedel. Segundo o artigo mencionado: “Com relação à intensidade dos atributos testados não foram encontradas diferenças significativas entre as diferentes taças”. Houve um curioso resultado secundário: quando a taça para Bordeaux foi testada, os aromas foram considerados como “menos intensos”. Este resultado foi atribuído ao fato desta taça ser mais alta que as demais.
Nenhum estudo pode ser considerado como definitivo. Em 2012, num artigo publicado no New York Times, o jornalista Eric Pfanner escreveu: “Apesar de conhecer as pesquisas que questionam a validade desta tese, as taças Riedel parecem deixar o vinho melhor”.
A explicação pode estar ligada a algumas questões psicológicas, como já comentamos numa coluna anterior. (O que estamos bebendo …)
Uma boa explicação seria: “Taças de fino cristal podem tornar qualquer bebida melhor, por que são bonitas, delicadas, caras e por que temos a expectativa que vão melhorar o vinho”.
Difícil decisão!
O tema taças ou copos não tem fim. Um grupo de estudantes franceses de design, preocupados com a lenda que se deve beber um copo de água para cada copo de vinho degustado, desenvolveu um curioso conjunto de taça/copo encaixados, como na foto:
Engenhoso, pode ser segurado com uma única mão, facilitando o consumo de um ou outro. A pegadinha fica por conta da conhecida lenda que afirma que proporção de água mencionada manteria a hidratação do corpo diminuindo os efeitos da ressaca.
Não é bem assim. No livro “Proof: Science of Booze”, literalmente “Prova: Ciência da Birita”, o autor Adam Rogers explica que nenhuma pesquisa acadêmica sobre a ressaca conseguiu demonstrar que a desidratação ou níveis baixos de eletrólitos seriam a causa deste desagradável mal-estar.
Este inovador conjunto ainda não é o remédio miraculoso.
Dica da Semana:  vamos para o Alentejo, sem ressacas e com a taça certa…
Cortes de Cima
Um corte de Aragonez, Syrah e Trincadeira que estagiou por 12 meses em barricas de carvalho francês.
Apresenta aroma de frutos maduros e notas florais bem integradas, eucalipto e noz moscada.
No palato tem bom corpo, é macio, cheio e redondo, rico em fruto e sabores de chocolate e carvalho, bem equilibrado com taninos maduros.
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