Categoria: Mitos (Page 9 of 9)

Quebrando alguns mitos – II

#2 – Espumantes só em ocasiões especiais ou “macho” não bebe Champagne
 
Este é dos melhores mitos para serem derrubados, apesar do forte marketing dos produtores do Champagne que se identificam como “fabricantes de uma bebida única que deve ser servida em festividades, particularmente para as mulheres”…
 
A esta altura dos acontecimentos só resta ao outro sexo fazer como o apedeuta cachaceiro, beber 51, que na minha modesta opinião está longe de ser ‘uma boa ideia’.
 
Pior, há circunstâncias agravantes: já imaginaram um brutamontes do MMA segurando uma delicada ‘flute’ de espumante para comemorar um espetacular nocaute? No mínimo ridículo.
 
A verdade é outra. Espumantes são capazes de transformar até mesmo uma entediada segunda-feira em algo espetacular, basta imaginar que você esteja comemorando, simplesmente, ter sobrevivido à ressaca do fim de semana. A taça pode até ser dispensada.
 
Não acreditem no bordão que intitula esta coluna e invertam a ordem da sentença: Espumantes transformam tudo em ocasiões especiais.
 
Quer um bom conselho? Tenha sempre uma garrafa na sua geladeira, pronta para ser consumida. Se houver uma companhia do sexo oposto, melhor! Eu não conheço uma dama capaz de recusar uma taça. Se aparecer uma, recuse-a…
 
Este preconceito, que espumantes são bebidas femininas, está muito longe da realidade. Produtores e profissionais de Champagne e de outras regiões produtoras de espumantes em todo o mundo, consideram este vinho (sim! é um vinho) como um dos mais versáteis, agradáveis e com boa relação custo x benefício que se pode adquirir.
 
Se segurar uma ‘flute’ lhe incomoda, descarte-a e use uma taça de vinho branco, garanto que as diferenças serão mínimas: só olfato e paladares muito treinados poderão fazer objeção (o ‘perlage’ pode mudar consideravelmente).
 
Para fechar a tampa do caixão e enterrar de vez esta bobagem, responda: porque você não quer degustar o mesmo que sua companheira?
 
Os Espumantes da Le Marchesini
 
Seguindo no tema, nada melhor que relatar um delicioso evento com os espumantes da Franciacorta (Itália), realizado na Enoteca DOC, dos amigos Fabio e Chris.
 
Esta região da Lombardia, próxima à cidade de Brescia, tem as condições apropriadas para o cultivo de viníferas e produção de bons vinhos, entre eles os melhores espumantes italianos. A denominação Franciacorta DOCG, de 1995, é exclusiva para os borbulhantes vinhos de lá. Tem uma longa tradição e história.
 
Os primeiros vinhos tranquilos ali produzidos datam de 1277, conhecidos como “Franzacurta”, provavelmente para fazer referência a uma Zona Franca (do Latim: Franchae – livre de pagar impostos e Curtae, de côrte) ali criada pelos monges de Cluny, da Borgonha, que se estabeleceram no século XI. Os espumantes só seriam produzidos a partir de 1961, usando rigorosamente as mesmas castas, Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc e técnicas da região de Champagne. Até hoje é mantida uma estreita cooperação com a tradicional região francesa.
 
A “Azienda Agricola Le Marchesini”, pertence à família Biatta, tradicionais negociantes desde 1196, profissão que passou de pai para filho por cinco gerações. Em 1985, Giovanni Biatta adquiriu 3 hectares na região de Franciacorta para dar início à produção dos melhores vinhos que pudesse desejar. Hoje contam com 47 hectares de vinhedos com denominações DOC e DOCG, produz cerca de 450.000 garrafas por safra, entre espumantes e tranquilos, tendo recebido as melhores análises, notas e prêmios de seus consumidores e críticos.
 
Além de receber alguns “3 bicchieri” por seus espumantes, concedidos pelo rigoroso guia Gambero Rosso, e o título de Melhor Produtor da Itália em 2012, recentemente o Guia Vinibuoni d’Italia 2014 coroou o Franciacorta Docg Millesimato Brut Blanc de Noir 2009 Le Marchesine, como o melhor espumante do concurso.
 
 
Esta moderna vinícola não mede esforços para trabalhar com o que há de melhor neste setor. Além de trazer as mudas das castas e os equipamentos da França, seu enólogo, Jean Pierre Valade é membro do prestigiado Instituto Enológico de Champagne. O resultado não poderia ser outro: espetacular!
 
A apresentação foi feita pelo atual Diretor, Loris Biatta, que rapidamente esclareceu que, apesar da estreita colaboração com os franceses, o produto italiano não é uma cópia do Champagne, mas uma bebida que tem suas próprias características e personalidade. Como diriam os franceses, “Vive la différence!”
 
 
O primeiro a ser servido foi o Ópera Brut, seu espumante básico.
 
 
Por usar uvas de vinhedos que estão fora da região demarcada, não recebe a denominação Franciacorta. Um corte de Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Blanc, com boa acidez e um perlage finíssimo. Aromas francos de Acácia, Cítricos e leveduras. Saboroso e refrescante, Preço na faixa de R$ 90,00. (preços de 2013)
 
O segundo espumante foi o Franciacorta Le Marchesini DOCG Brut, outro belo corte das mesmas castas, de vinhedos dentro da região demarcada. Elaborado com os mesmos cuidados técnicos do anterior, consegue ser um vinho mais sério e elegante. Coloração amarela com reflexos esverdeados, oferecendo aromas e sabores intensos com uma longa permanência em boca. Mantém o mesmo perlage finíssimo. Seu custo é bem superior, situado na faixa de R$ 150,00.
 
 
O terceiro espumante foi uma grata surpresa: o premiado Franciacorta Brut Millesimato Blanc De Noir 2009, considerado o melhor da Itália. Um vinho surpreendente em vários sentidos. Esta era a única garrafa disponível, trazida pessoalmente por Loris em sua bagagem. Ainda não está à venda no Brasil.
 
Elaborado unicamente com a casta Pinot Noir e fermentado a partir de leveduras indígenas, apresenta aromas de frutas vermelhas como framboesa e amora com o característico perlage da vinícola, No palato é mineral com notas de chocolate. Nota-se em sua cor leves traços rosáceos. Estupendo!
 
 
Por último o espumante que Loris o considera como “seu filho”, o Franciacorta D.O.C.G. Rosé Brut Millesimato 2007. Com uma elaboração muito complexa que exige algumas noites sem dormir para obter as características corretas de cor, aroma e sabor, este é um produto singular e delicioso. Uma bela coloração rosada, aromas florais e de framboesa que remetem a sabores delicados e complexos. Sua faixa de preço é alta, na casa dos R$ 200,00. Ideal para fazer uma extravagância.
 
 
Estes espumantes, importados pela Sicilianess (http://www.sicilianess.com.br/), podem ser adquiridos na Enoteca DOC ((21) 2516-4220).

Dica da Semana: um bom espumante nacional que não faz feio frente a estas maravilhas.
 

Quinta Dom Bonifácio Brut

Composto pelas variedades Merlot e Chardonnay
Visual – Coloração amarelo palha, perlage fina e delicada.
Olfato – Aroma persistente, lembra maçã, pêssego e pão torrado
Paladar – Fresco, amanteigado e muito delicado.

Quebrando alguns mitos – I

Um dos programas de maior sucesso nas TVs de todo o mundo é o “Caçadores de Mitos” (Mythbusters), no qual dois apresentadores e mais uma equipe de habilidosos ajudantes se esmeram em destruir ou confirmar uma enxurrada de mitos que passeiam por nossas vidas deste épocas remotas. O programa é uma aula de ciências muito bem feita, capaz de prender a atenção de crédulos e incrédulos.
 
Mas ainda não apareceu, neste show, um episódio sobre vinhos e seus mitos, embora tenham apresentado alguns casos sobre bebidas alcoólicas em geral. Um deles, que envolvia enganar um bafômetro, foi bastante divertido e instrutivo (não conseguiram…).
 
Para ajudar nesta aventura, a partir desta semana vamos conhecer alguns falsos conceitos em que se apoiam vários ‘eno alguma coisa’ para atrapalhar o simples e delicioso ato de beber um bom vinho.
 
#1 – Quanto mais caro melhor (o vinho!)
 
Já estou vendo olhares assustados e ‘bicos’ torcidos. Difícil negar que existe uma relação direta entre custo e qualidade em quase tudo na vida. No mundo do vinho não é, exatamente, uma exceção.
 
Mas há controvérsias…
 
O custo de um vinho para o produtor é diretamente ligado ao fator rendimento (a quantidade necessária de uva). A regra é direta, quanto menor (mais uvas por litro de vinho), melhor será o produto final. Além disto, o volume final tende a ser menor à medida que se consomem mais insumos. Não se questiona isto. Pagamos caro para ter um produto quase exclusivo.
 
Inúmeros exemplos estão à nossa disposição, o mais famoso talvez seja o Romanée-Conti, um espetacular Pinot Noir da Borgonha do qual são produzidas 6.000 garrafas por safra. Leva de 6 a 12 anos para ficar no ponto certo de maturação e ser consumido. O preço ao consumidor final vai às alturas e, cá entre nós, isto já deixou de ser vinho e virou mito engarrafado.
 
 
Vale isto tudo?
 
Provavelmente sim. Infelizmente não estou entre os ‘ricos mortais’ que tiveram a oportunidade de prová-lo. Tampouco é sobre este tipo de vinho que estamos discutindo: este tem a obrigação de ser bom.
 
Esta moeda tem outro lado: paga-se caro por um vinho que encontramos numa loja especializada, recomendado por algum especialista e simplesmente não gostamos.
 
Acredite, este tipo de produto existe aos montes, para nosso desespero.
 
Uma quase diabólica conjunção de fatores criam estes monstros, cada vez mais comuns:
 
– o produtor precisa aumentar as suas vendas;
– o distribuidor faz um marketing agressivo;
– um ‘crítico’ é envolvido no esquema até com garrafas preparadas para enganá-lo;
– o consumidor paga prejuízo por que acreditou no binômio “caro é bom”!
 
Confesso que eu mesmo já fui ludibriado por um Barolo, suposto melhor vinho de uma vinícola inédita no Brasil. Comprei-o numa das boas lojas do Rio, a preço justo (Barolos são caros) e na hora que reuni os amigos para degustá-lo foi aquele desapontamento: jogamos o vinho no ralo da pia.
 
Muitos anos após este triste episódio escutei uma história semelhante onde o protagonista foi capaz de desvendar o mistério: fora montada uma operação de guerra para desovar este vinho que, por problemas burocráticos, ficou retido num porto brasileiro em condições inadequadas. Todos os envolvidos sabiam que o vinho era ruim, mas nenhum deles quis arcar com o prejuízo de seu erro, repassando-o ao consumidor final, literalmente, vendendo gato por lebre, e caro. Nunca mais comprei nada desta loja e nem do vendedor. Não soube mais deles, acho que nem existem mais.
 
Um dos melhores colunistas sobre vinhos, Didu Russo (http://www.didu.com.br/), uma simpática figura que parece saída da imaginação de algum autor, tem em seu blog uma seção intitulada “50 paus” onde lista grandes vinhos que custam isto ou menos.
 
Sensacional! É disto que estamos falando!
 
 
Esta é a atitude que acaba com este falso conceito, nem todo vinho bom é caro.
 
Dica da Semana: direto do Blog do Didu – “A Bodega Dominio Cassis do Uruguai é uma vencedora das degustações da Confraria dos Sommeliers”.
 

Dominio Cassis Cabernet Franc 2008 
A vinícola Dominio Cassis está localizada a 10Km do Oceano Atlântico e a 4Km da Lagoa de Rocha em solo pedregoso, expostos aos ventos e à brisa marinha.

Os atributos do solo, de baixa matéria orgânica, pedregoso e profundo; bem como a exposição à influência do Oceano e as poucas chuvas que há na região, são ótimas condições para a qualidade da produção e permitindo uma maturação mais lenta das uvas, tendo um resultado de vinho de alta qualidade e de pequena produção.

Vencendo Preconceitos

Os leitores já estão imaginando que o escriba aqui enlouqueceu. Mas podem acreditar, bebedores de vinho são preconceituosos e alguns, supersticiosos. A propósito, há uma corrente entre os produtores de vinho, chamada biodinâmica, que está muito próxima disto.
Um dos preconceitos mais antigos é aquele que afirma: vinho é francês.
Em 24 de maio de 1976, na cidade de Paris, foi feita uma degustação, às cegas, comparando os mais famosos vinhos franceses com desconhecidos similares norte-americanos. Os nove juízes participantes eram de renome internacional. O resultado? As melhores notas foram dadas aos vinhos da Califórnia, brancos e tintos. Nunca mais os famosos vinhos da França seriam os mesmos, e o preconceito ou mito foi arrasado. Este episódio ficou conhecido como O Julgamento de Paris.
Outro alvo de atitudes preconceituosas são os vinhos brancos e os rosés. Há quem afirme, com muita segurança, que vinho branco não é vinho. Impressionante alguém acreditar nisto. Se encontrarem uma pessoa com estas ideias, fujam. Ela é uma fraude e não entende patavinas do assunto. Se há um vinho que se destaca e pode ser considerado como sofisticado e requintado, é o Champanhe. Não há nada igual no mundo da enologia. E o que é um Champanhe? Um vinho branco! E tem mais: alguns brancos tranquilos são únicos e chegam a ser mais famosos – e mais caros – do que os tintos.
O vinho rosé sofre do eterno preconceito de ser uma mistura de vinho branco com tinto. Há quem torça o nariz só de olhar para uma garrafa. E são sempre bonitas!
Alguns maus produtores vão obtê-lo a partir deste método (corte), mas os bons rosados são feitos a partir de uvas tintas de qualidade, diminuindo-se o tempo de contato das cascas durante a fase de maceração. A origem do problema está no seu esquecimento. Ninguém os produzia, sendo Portugal e França duas raras e boas exceções. Este vinho recentemente foi redescoberto e grandes vinícolas do novo mundo têm apresentado ótimos produtos. Querem se livrar de mais este preconceito? Experimentem! Bebe-se bem gelado, como um branco. Vão querer repetir!
A cisma da moda é com relação ao fechamento das garrafas, as famosas rolhas. Já existem as de material plástico, de vidro e até mesmo alguns métodos de fechamento bem curiosos como usar uma tampinha de refrigerante para selar espumantes. Mas a discussão toda gira em torno das tampas de rosca. Como podem imaginar, isto é para vinho barato. Digam isto para um produtor Neozelandês…
A origem desta implicância está na produção de cortiça, uma indústria 100% artesanal, dominada por Portugal que controla 50% da produção mundial. Por ser um produto de origem vegetal, com um ciclo longo de produção – cada Sobreiro produz uma camada que pode ser removida a cada 10 anos – é um dos segmentos mais vigiados com relação à proteção do meio ambiente o que apesar de louvável, implica em diminuição da produção e aumento de custos.
Para alguns produtores, notadamente Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, o custo da rolha tradicional se tornou proibitivo. Centros de pesquisas internacionais e universidades ligadas ao mundo do vinho começam a buscar alternativas e a tampa rosqueada, de alumínio, aparece como a melhor opção. E aí começou guerra. Argumentos são fortes em ambos os lados. Vamos resumi-los:
– evita que vinho fique bouchonée (com gosto de rolha);
– desaparecem os problemas com fungos e de oxidação por má vedação;
– dentro de certos parâmetros e apesar da perfeita vedação, o vinho pode envelhecer corretamente (é necessário alterar o processo de vinificação);
– perde-se o ritual de sacar a rolha, que tem o seu charme;
– se o processo de vinificação não for bem cuidado, podem aparecer aromas de sulfitos e outros indesejáveis, por falta da micro oxigenação, proporcionada pela rolha de cortiça.
Mas, está mudança é inevitável: dentro de 20 ou 30 anos a rosca será a regra. Só vinhos muito especiais ($$$) serão vedados com rolha.

A dica da semana é para detonar todo e qualquer preconceito:

Montes Cherub Rose – 2009
Produtor: Montes Alpha – Chile
Uva: Shiraz/Syrah
Muito fino e elegante, o Cherub é o primeiro rosado de altíssima qualidade na América do Sul e, por seu alto nível, estaria mais próximo da consagrada linha Montes Alpha. O Cherub não é elaborado a partir de sangria de vinhos tintos, mas de ótimas uvas Syrah especialmente cultivadas para sua produção. É elegante e classudo, com bastante frescor e um longo e complexo retrogosto. Tampa de rosca. RP – 88 pontos
Colaborou: Jose Paulo Gils
Saúde !
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