Categoria: O mundo dos vinhos (Page 18 of 72)

Vinhos “laranja” estão em alta!

Não é vinho com laranja e nem vinho de laranja. O que importa é a coloração desta interessante forma de vinificação. Poderíamos chamar de “cobreado” ou “âmbar”, mas o que pegou, em todo o mundo, foi o laranja ou orange.

Alguns críticos acham que é um modismo, coisa das novas gerações que estão mais preocupadas com o “como é produzido” do que com “o que é”.

Na verdade, é um resgate. Originalmente, vinhos elaborados com qualquer tipo de uva seguiam uma mesma receita. Assim, todo tinto tinha a sua cor característica, mas não eram límpidos, e os brancos eram turvos e alaranjados.

A razão é muito simples: as cascas eram fermentadas junto com o mosto.

Com o tempo, os vinhos brancos seguiram por um caminho, processando unicamente o mosto ou sumo, enquanto os tintos precisam das “peles” para lhes dar a cor.

Este ressurgimento trilha o mesmo caminho dos vinhateiros que elaboram os Vinhos Naturais, uma categoria que abarca os orgânicos, biodinâmicos e assemelhados. Os métodos de produção adotados por este grupo são chamados de “baixa intervenção”, logo, em algum momento, os brancos passaram a ser macerados com suas cascas, resultando na curiosa coloração do produto final.

Com características organolépticas esquecidas pelo tempo, os laranjas pegaram de surpresa toda a gama dos enófilos e críticos: agradaram em cheio.

Formam, agora, uma nova e diversa categoria que se soma às tradicionais dos brancos, tintos e rosados. Qualquer uva branca pode ser utilizada para esta elaboração. A cor final dependerá, apenas, do tempo de contato com as cascas. Há uma grande variação que tipifica, bem, as origens de cada rótulo. Produtores de todo mundo vinificam de acordo com suas melhores práticas, traduzindo de forma muito clara o seu “terroir”. Parece que este tipo de vinho foi feito para isto.

Algumas castas se mostram mais afetas a este estilo: pinot grigio/gris, ribolla gialla e uma das mais antigas varietais, a rkatsiteli da Georgia, país considerado como o berço dos vinhos laranja, onde já teriam sido vinificados há 8.000 anos atrás!

Aromas, sabores e sensações gustativas destes vinhos são absolutamente únicas. Imaginem um vinho branco ligeiramente tânico, com uma intrigante e agradável adstringência. Fechem os olhos e poderíamos afirmar que é um tinto leve. Notas de flores secas, feno, pêssego maduro, jaca, zimbro, nozes e castanhas diversas. Alguns críticos acrescentariam, num comentário ferino, verniz de madeira, óleo de linhaça e maçã passada …

Se o caráter e personalidade deste vinho já causaram uma boa sensação no mercado, foi na hora de harmonizar que brilharam, preenchendo uma lacuna onde os demais estilos de vinhos não conseguiam combinar adequadamente: culinária oriental e dietas vegetarianas e veganas.

Por suas características que se aproximam às de um tinto, os laranja enfrentam, galhardamente, carnes de qualquer tipo. São muito versáteis.

Alguns produtores nacionais que seguem a linha dos naturais oferecem excelentes laranjas, tranquilos ou espumantes. Destaco um produtor que, acredito, foi um pioneiro neste estilo: Luís Henrique Zanini e sua vinícola Era dos Ventos.

O vinho em questão é o Peverella, que na safra de 2018 recebeu 90 pontos do Guia Descorchados, o mais importante do cone sul.

A descrição, a seguir, foi obtida no site da vinícola:

“Parte das uvas são de produção própria e parte são provenientes de Vinhedos antigos de mais de 50 anos, lote inicial de 600 garrafas. Colheita manual. Desengace, maceração aberta por 21 dias em mastelas (cubas) de carvalho francês da década de 30, prensagem em prensa manual (tórchio) de madeira brasileira (araucária). Fermentação espontânea, leveduras indígenas, sem clarificação, sem colagem, sem filtração. Pequenas doses de SO2 no engarrafamento. 50% deste vinho estagia por dois anos em barricas brasileiras de ipê, de 250 litros, e os outros 50% em barricas de carvalho francês de vários usos. Álcool 12,8%.”

Um dos melhores vinhos brasileiros, acima de qualquer suspeita. Caro, por conta de sua limitada produção, mas vale cada centavo investido.

Os rosados que se cuidem!

Saúde e bons vinhos, laranja!

CRÉDITOS:

Orange Wine” por fs999 está licenciado sob CC BY-NC-ND 2.0.

Descritores pouco usuais: vinho gordo

Um amigo perguntou: “O que é um vinho gordo”?

Havia escutado o comentário de um Sommelier, numa rádio, que sugeria um vinho, assim, para acompanhar um determinado prato.

Não é um descritor usual como o que estamos habituados e até mencionados na nossa pequena série sobre “Descritores do vinho”. Também não é um mistério. Uma simples associação de ideias faz pensar num vinho que ocupasse todo o espaço de nossa boca.

Apesar de fazer sentido, este adjetivo pode alcançar outros aspectos menos aparentes.

Não há nada que impeça a utilização de termos bem pessoais para descrever as nossas sensações ao degustar um vinho. Profissionais e Enófilos tradicionais preferem se ater a uma terminologia mais clássica e consagrada. Outros, seja por desconhecimento ou por se sentirem mais confortáveis, cunham seus próprios descritores.

Honestamente, alguns destes neologismos são um achado: “xixi de gato”, muito usado quando citamos algum Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, ou um “nem para lavar cachorro serve”, quando a bebida não corresponde ao que esperávamos…

Curiosamente, “gordo” pode ser uma referência positiva, quando utilizado para elogiar algo abundante, farto, como um boi ou um porco no ponto de abate ou negativa, quando nos referimos à quantidade de gordura de uma pessoa. Experimentem chamar alguém do sexo feminino de “gorda” …

Mas é inegável que coisas gordas ocupam mais espaço, seja na realidade ou na fantasia (sem ofensas, ok?).

Neste sentido, um vinho gordo seria aquele que vai nos deixar cheio de camadas de aromas, sabores, texturas e teor alcoólico. Um vinho opulento, com boa viscosidade, mas sem lipídios, por favor.

Há um preço a pagar por tudo isso: pouca acidez, o que pode tornar um vinho, como este, absolutamente sem graça. Esta é a característica que nos faz gostar de um vinho: estimula a salivação realçando os sabores que virão.

Os grandes vinhos primam por seu equilíbrio. Um vinho gordo é, por definição, uma bebida que tende para um determinado lado da balança.

Saúde e bons vinho, equilibrados!

CRÉDITOS:

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Vinho na “mixologia”

A pergunta era meio retórica, mesmo assim, deixou muita gente pensando: “Existiriam coquetéis elaborados com vinho”?

A resposta é sim, existem, mas talvez não sejam tão óbvios.

A arte da coquetelaria ou como preferem atualmente, “mixologia”, anda em alta. Drinques lendários estão sendo reformulados, agradando a toda uma nova geração de apreciadores.

Destilados como o Gin, Tequila, Rum, entre outros, voltaram a ter destaque nos bares da moda, sempre bem acompanhados de licores, essências, frutas e outros complementos, alguns totalmente inusitados.

Voltemos ao nosso vinho.

Uma forma bastante conhecida de aproveitar um vinho numa preparação saborosa e refrescante são as sangrias ou clericots. Há várias receitas disponíveis: um vinho razoável, uma fruta, água gaseificada, uma dose de um destilado (opcional) e algo para adoçar. Tudo misturado numa jarra com gelo. Outra formulação, muito conhecida, é o nosso tradicional vinho quente, típico das festas juninas.

Os vinhos espumantes talvez sejam os que mais se prestam à preparação de elaboradas misturas. Kir, Belini, Mimosa e Aperol são figurinhas fáceis em qualquer carta de bar. Outro “inesquecível” é o Coquetel de Champanhe, inacreditável preparo com fruta em calda, creme de leite, leite condensado e um espumante, não necessariamente um Champagne, que, acho, ficaria muito ofendido em participar de tal combinação.

O vinho pode aparecer num aperitivo na forma de um Vermute, que nada mais é do que sua infusão com ervas e especiarias. O Negroni, que mistura Gin, Vermute e Campari é um ótimo exemplo. Há uma versão repaginada deste clássico onde o Gin é substituído por um Prosecco e o Vermute doce substitui o seco. Peçam um Negroni Sbagliato.

Existem combinações ou melhor, adaptações, de alguns drinques populares, que passam a ser elaborados com vinhos regionais. Um bom exemplo é o popular Portonic, a versão portuguesa do Gin Tonic, preparada com um Porto branco seco. Fica delicioso e é fácil de beber.

A nossa Caipirinha também teve releitura lusitana, e passa a se chamar Caipiporto: o Porto Branco substitui a nossa pinga.

Aliás, Portugal adora esta mistura de limão, açúcar gelo e uma bebida alcoólica. Uma bem exótica e comum em festas de casamento por lá, é o “Caipirão”: limão, licor Beirão e gelo. Não precisa adoçar…

Este tradicional licor português não tem nada em comum com o nosso vinho, a não ser o fato de ser produzido numa Quinta, na serra da Lousã, bem no centro de Portugal.

Em 2015, publicamos um texto sobre este mesmo tema, “Coquetéis com Vinho” um pouco mais detalhado e com outra sugestões onde o vinho vira um protagonista de modernos coquetéis.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

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Ouro, incenso e mirra. E o vinho?

Melquior, Baltasar e Gaspar ofereceram o que simbolizava a riqueza, a fé e a imortalidade. Deste gesto nasceu a tradição de trocar presentes no Natal. O vinho não foi um deles e os três Reis não poderiam, naquele momento, imaginar a importância deste néctar na vida adulta de Jesus.

Presentar uma bela garrafa no Natal é muito mais que cumprir um rito. Tem um forte simbolismo que nos remete a uma das histórias mais importantes da humanidade. Logo, acertar este presente não é uma tarefa simples e corriqueira.

Vamos ajudar!

Primeiro respondam esta pergunta: vocês conhecem as preferências gastronômicas de quem vão presentear?

Esta é uma pista importante. Tem gente que não consome determinados alimentos, outros preferem vinhos tintos aos brancos e tem, ainda, uma turma mais exigente, muito preocupada com as origens de alimentos e bebidas. Para cada um deles, há um vinho ideal.

Os “carnívoros” ficarão muito felizes ao receber bons tintos que combinem com seus assados. O mais clássico de todos é o Cabernet Sauvignon. Aqui no Cone Sul, Chile e Argentina elaboram verdadeiras joias com esta casta. Não podemos nos esquecer dos poderosos Malbec e nem dos Tannat elaborados no Uruguai. Uma outra opção, menos comum, seria um Tempranillo Crianza, espanhol.

Para a turma dos peixes e frutos do mar os brancos são o presente desejado. Há diversas boas opções começando pelos clássicos Sauvignon Blanc e Chardonnay. Brasil, Argentina, Chile, Austrália e Nova Zelândia são todos campeões nestas uvas. Brancos portugueses são perfeitos, não só, com o tradicional bacalhau, mas com diversas outras receitas com pescados: Alvarinho, Loureiro, Maria Gomes, Arinto e muitas outras varietais.

Os apreciadores de carnes brancas vão gostar destes mesmos vinhos, assim como o grupo da dieta vegetariana.

Se o alvo do presente é um apaixonado por vinhos, então é o momento de quebrar as regras e presentear com rótulos incomuns. Será preciso garimpar um pouco. Uma boa sugestão são os excelentes vinhos eslovenos e croatas.

No nosso país, pequenas vinícolas boutiques estão produzindo vinhos que nada devem aos dos nossos vizinhos. Já existem diversas lojas especializadas neste segmento. Uma busca na Internet indicará bons resultados.

Não podemos deixar de lado os produtores dos vinhos naturais. Duas estrelas se destacam: os vinhos laranja – brancos que foram vinificados em contato com as cascas das uvas – e os Pét-Nat, deliciosos espumantes obtidos por uma técnica ancestral. Este é o caminho trilhado por aquele grupo preocupado com as origens de tudo que consomem.

Um presente interessante para colocar na roda do “amigo oculto ou secreto” é um “bag-in-box”, também conhecido como vinho em caixa. Com excelente relação custo/benefício, pode se tornar a grande farra da noite se o ganhador for generoso e abrir a torneirinha. Há ótimas opções à venda, nacionais e importadas.

Alguns conselhos finais.

Não gastem mais com um bom vinho do que o seu limite pessoal. Um rótulo muito caro poderá deixar o presenteado numa situação pouco confortável. Optem por uma linha que vocês degustariam sem problemas.

Não esperem que o presente seja aberto e oferecido a todos. Vinho é visto como algo pessoal. Em grandes reuniões como as comemorações de fim de ano, com muitos convidados, a garrafa mal daria para todos, resultando numa insatisfação geral. Excetuam-se os “bag-in-box”.

Se nenhuma das recomendações acima lhes ajudou efetivamente, não desanimem, existem vinhos coringas, como um bom rosado ou um espumante. Além destes, outras castas clássicas são sempre apreciadas por quem gosta de vinho: Merlot, Riesling e Pinot Gris.

Não é ouro, incenso ou mirra, apenas um vinho, que sempre traz boas lembranças.

Boas festas e feliz ano novo!

Esta coluna semanal entra em recesso até janeiro.

Créditos:

Imagem de KamranAydinov no Freepik

Cozinhado com vinho.

Dentre as muitas regras “não escritas” que existem no mundo do vinho, uma diz sobre o vinho na cozinha: use o mesmo vinho que você vai beber.

Simples, direta e dentro de certos limites, um bom conselho. Mas não cobre todos os aspectos, nem da culinária e nem da famosa harmonização.

Esta regrinha olha, apenas, para a importância de usar bons produtos, ou seja, não estraguem uma boa refeição utilizando um vinho barato e ruim, seja na panela ou na taça.

Um ponto muito importante a ser observado é a técnica culinária que será utilizada no preparo: deglacear, reduzir e brasear são as mais indicadas. Para cada uma há um vinho mais adequado.

As reduções talvez sejam as mais conhecidas. Deixa-se o líquido, no qual um alimento foi cozido (foto), em lenta fervura até que sobre um caldo mais espesso, concentrado e cheio de sabores. O que quase nunca nos lembramos, na hora de escolher um vinho para este procedimento, é que o “concentrado e cheio de sabores” vai valer para ele também.

A escolha do que vamos usar é a chave para tudo dar certo. Vinhos tintos ou brancos, secos, são os mais aconselhados. Entretanto, se a ideia forem sabores diferentes, podem ser usados vinhos frutados e até mais suaves. Lembrem que estas características serão amplificadas.

Deglaçagem é a técnica de usar um líquido para soltar os resíduos do cozimento que estão no fundo da panela. Qualquer livro básico de culinária nos ensina que ali estão os sabores mais marcantes. Utilizar uma bebida alcoólica, vinho ou um destilado, é o segredo dos grandes Chefs para obter deliciosos molhos.

O truque, neste caso, é evitar vinhos amadurecidos em carvalho. Prefiram tintos ou brancos de corpo médio, Merlot e Sauvignon Blanc, que não passaram por madeira, são as sugestões que mais aparecem em consagradas receitas. Podem ser servidos na harmonização sem nenhum problema, nos aproximando da primeira regrinha.

A terceira técnica, o braseado, consiste em cozinhar, por um longo tempo, uma carne ou legumes e vegetais, previamente dourados, em uma pequena quantidade de líquido que resultará no molho, ao final. O vinho é considerado como um excelente veículo para esta forma de cocção, quase sempre cortado por um caldo culinário.

Assim como na redução, devem ser evitados os vinhos madeirados. O longo tempo de cozimento pode trazer sabores amargos e desagradáveis. Outra vantagem desta preparação é que podemos, por exemplo, usar um branco seco para preparar um prato de carne vermelha. O resultado é muito aromático e saboroso. O Chef do restaurante parisiense Jamin, Benoît Guichard, ficou famoso por seus cortes de carne cozidos assim.

Vinhos doces ou os fortificados devem ser usados para a elaboração de doces. Existem muitas sobremesas deliciosas com Porto, Sauternes ou algum colheita tardia. A menos que uma receita indique, especificamente, um vinho destes, como a do conhecido molho Madeira, não os utilizem para as técnicas descritas acima: a doçura será intensificada. Isto pode não ser do agrado de todos.

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto de Esra Özer

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