Categoria: O mundo dos vinhos (Page 22 of 72)

Vinho e Azeite caminham juntos

Realizou-se entre os dias 7 e 9 de agosto a 4ª edição do Brazil International Olive Oil Competitition (BRAZIL iOOC), simultaneamente, na Quinta da Pacheca, em Lamego, Portugal e no restaurante Kinoshita na cidade de São Paulo, Brasil.

Nesta edição, mais de 100 amostras de azeites, de quatro continentes, foram avaliadas por um qualificado corpo de jurados internacionais. O leque de países que enviaram amostras vai desde os mais tradicionais produtores até rincões como Israel, Uruguai, Tunísia e Estados Unidos da América. Os azeites brasileiros tiveram uma presença recorde.

Para compreender a importância do azeite no mundo do vinho, temos que voltar no tempo, mil anos atrás. Oliveiras e parreiras eram plantadas juntas, cabendo às oliveiras fazer o papel de guardiãs, como uma cerca, protegendo o vinhedo das intempéries e de alguns insetos. Muito antes de se falar de agricultura sustentável, orgânica e similares, esta técnica, nascida nos países mediterrâneos e trazida para o novo mundo no século 19, ficou conhecida como “coltura promiscua”.

Mas as afinidades entre estas duas espécies vegetais e seus principais produtos, vinho e azeite, não se resumem a isto. Existem diversos tipos de uvas e de azeitonas, o que implica em cortes e varietais. Os métodos de extração são, em parte, similares: ambos frutos precisam ser “esmagados” para iniciar seus processos de produção. Além disto, é um bom negócio: ambas colheitas se sucedem o que otimiza o emprego de mão de obra.

Azeites são degustados de forma bem semelhante aos vinhos. Concursos como o “Brazil IOOC” são, na verdade, provas comparativas que avaliam aspectos como aparência, aroma e sabor, além do design das embalagens. As “taças” de prova são aqueles simpáticos copinhos azuis que podem ser vistos no lado direito da foto que abre este texto.

Tudo é provado às cegas…

Especialistas na degustação deste ouro líquido são chamados de “Sommelier de azeite” e desenvolvem uma capacidade de avaliar, em maior detalhe, as notas de frutas, amargor, pungência e equilíbrio.

Para não deixar nenhuma dúvida pairando, a resposta para aquela pergunta que está na ponta da língua, sobre harmonização, é sim! Azeites também combinam melhor com este ou aquele alimento.

As coincidências não param por aí. Assim como nos grandes vinhos, os grandes “extra virgens” também são safrados! Afinal, é um produto de origem vegetal que está sujeito aos efeitos de um “terroir” e das variações climáticas: há anos bons e anos ruins, o que enfatiza a importância destes concursos.

A mais recente descoberta afirma que azeite e vinho tinto harmonizam entre si. O estudo foi feito pela renomada Universidade de Bordeaux. Em linha gerais, tanino e lipídios interagem, proporcionando ao degustador melhores condições sensoriais no paladar.

Aqui estão os “Top 10” desta edição do “Brazil IOOC”:

OLIOVITA CHANGLOT – ARGENTINA
CASA ALFARO KORONEIKI – BRAZIL
CAPOLIVO KORONEIKI – BRAZIL
DON JOSÉ CORATINA – BRAZIL
CAPOLIVO PICUAL – BRAZIL
OURO DA FÁBRICA PREMIUM – PORTUGAL
AL-ZAIT & CO. PICUAL – BRAZIL
DON JOSÉ BLEND – BRAZIL
PURO CORATINA – BRAZIL
PURO BLEND – BRAZIL

O resultado completo está neste link: Premiação Brazil IOOC – 2022

O idealizador deste já respeitado concurso é Maurício Gouveia, um simpático paulistano que se mudou, faz tempo, para Portugal em busca das origens de sua família. Atualmente é um craque de vinhos e azeites e está num exclusivo rol de 20 pessoas que empreendem estes concursos. Parabéns!

Estamos estudando, em parceria com ele, a possibilidade de oferecer cursos sobre este delicioso alimento nas principais cidades do Brasil. Para ajudar nesta nova aventura, gostaríamos de saber do interesse dos leitores. A página de comentários é perfeita para este fim.

Saúde, bons azeites e bons vinhos!

Degustações comparativas – de volta ao básico

Que tal aprender sobre vinhos e se divertir ao mesmo tempo?

Esta é a proposta deste texto: como fazer uma degustação comparativa, sem formalidades, sem termos complexos, num encontro entre amigos e com diversão assegurada.

Este tipo de degustação é muito usado nos cursos profissionalizantes para Sommelier, em todos os níveis. Afinal, eles têm a obrigação de conhecer, profundamente, os vinhos que vão nos oferecer em seus restaurantes ou lojas.

Nós, pobres mortais que apreciamos um bom vinho, podemos ter uma atitude bem mais relaxada com relação a extensos conhecimentos. Mas não podemos deixar de compreender qual ou quais vinhos nos agradam mais. A ferramenta que vai nos treinar nisto é a degustação comparativa.

De uma forma simples e direta, a maneira mais fácil de fazê-la é reunir alguns amigos e abrir duas ou três garrafas de vinho, ao mesmo tempo. Devem ser diferentes entre si, tintos, brancos ou qualquer outra combinação. Nesta primeira degustação a escolha será livre. O local não é relevante: um restaurante, uma residência ou ao ar livre ao lado de uma piscina. Além dos acessórios de sempre, temos que ter taças em dobro ou triplo.

A “regra do jogo” é simples: provem cada um dos vinhos servidos e escolham qual é o seu melhor. Anotem, fotografem, registrem. A partir deste resultado, outras provas poderão ser organizadas. Garantimos que na próxima degustação todos vão querer dar um passo adiante, acrescentar alguma sofisticação e, obviamente, aprender mais um pouco.

Não é difícil fazer isto. Aqui vão mais algumas ideias.

1 – Castas diferentes:

O objetivo é passear desde um vinho leve até um bem encorpado. Entre os tintos, comecem com um Pinot Noir ou mesmo um Beaujolais (Gamay), passem por Merlot, Cabernet Franc, até chegar em pesos pesados como um Tannat, Cabernet Sauvignon ou tintos da região do Douro.

Entre os brancos, comecem com um Pinot Gris seguindo com Chardonnay e finalizando com Viognier.

Procurem comparar a sensação de volume na boca que cada uma das castas passa. Se o paladar estiver apurado, comparar as notas frutadas (tintos) ou florais (brancos) é um bom treino.

Um interessante possibilidade nesta mesma linha é comparar vinhos que passaram por madeira ou não.

2 – Regiões produtoras

Está é uma das mais instrutivas, divertidas e fáceis de organizar. Escolham uma determinada casta e sirvam vinhos de diferentes regiões que a utilizam. Por exemplo, um Merlot nacional, um chileno e um italiano. Podemos usar um corte, desde que haja uma nítida predominância da casta escolhida.

Há diversas variações possíveis aqui. Um boa sugestão seria escolher vinhos da casta Malbec elaborados em diferentes regiões da Argentina: Mendoza, Patagônia e Salta. Outra possibilidade, neste mesmo país, é comparar as regiões de Mendoza: Lujan de Cuyo, Maipú e Vale do Uco. O resultado pode ser surpreendente!

Dentro desta lógica, podemos adaptar para outros países ou regiões. Portugal, Espanha, França e Itália são cheios de diferentes denominações que servem como uma verdadeira escola de estilos, aromas e sabores. Basta um pouquinho de paciência para escolher os vinhos com critério.

3 – Verticais e horizontais

Se existir uma “pós-graduação” em degustação comparativa, estas duas fazem parte do currículo. A Vertical abrange diversas safras de um mesmo vinho. A Horizontal busca comparar os vinhos de uma mesma safra, mesma região, diferentes produtores e mantendo a escolha de castas iguais.

No primeiro caso o ideal, para uma prova caseira e que não pese no bolso, é escolher safras não consecutivas. Três ou quatro garrafas seriam suficientes. O espaçamento entre as vinificações de 2 anos, no mínimo. O objetivo é perceber como cada safra evoluiu com o tempo. Em linhas gerais, os vinhos mais novos serão mais “duros” e os mais velhos mais “fáceis” de beber.

A horizontal é um pouco mais difícil de organizar, exigindo algum planejamento. Um ponto de partida bem interessante e relativamente fácil de obter os vinhos é olhar para a casta Merlot no sul do Brasil – Vale dos Vinhedos. Escolham, de uma mesma safra, três ou quatro produtores, misturando as grandes vinícolas com as de pequeno porte ou “boutiques”.

Com certeza teremos ótimas surpresas.

O que servir com estas provas?

Esta resposta dependerá do objetivo da reunião. Se for só treinar e aprender, o ideal é sermos minimalistas: pão ou bolachas neutras, azeite e água. O importante é limpar o paladar entre cada vinho. Após a parte “séria” do evento, nada impede que se sirva algo mais substancioso.

Saúde e bons vinhos!

Foto de abertura: “Garrafa de vinho” criada por aleksandr samochernyi para Freepik.

Esquisitices do mundo do vinho

Quem chamou a atenção para este tema foi um amigo e eventual colaborador, Pedro Arthur Sant’Anna: enviou um destes vídeos que correm na internet, mostrando como sacar a rolha de uma garrafa esquentando o gargalo.

Do ponto de vista da física, tudo deveria funcionar: o ar é aquecido, expande e expulsa a rolha.

Mas há limites, o que torna esta prática um tanto arriscada. Muita coisa pode dar errada, por exemplo, quebrar a garrafa ou mesmo esquentar demais o vinho e estragá-lo. Agora imaginem fazer isto num vinho de 1ª linha.

Existem outras técnicas incomuns para se conseguir o mesmo objetivo, coisas como usar parafusos e chaves de fenda, empurrar a rolha para dentro ou, acreditem, bater com o fundo da garrafa numa parede, apoiado no calcanhar de um sapato, até que o “vinho” empurre a rolha para fora. Será que o que ficou na garrafa ainda pode ser bebido depois de tanta agitação?

O mais seguro é ter um saca rolha sempre à mão!

Enófilos muito chiques e hábeis, amantes de bons espumantes, gostam de se exibir degolando a garrafa com um sabre ou algo semelhante. Novamente, ou estamos bastante treinados nesta arte ou o improvável vai se fazer presente. Por favor, não tentem isto em casa…

Existe uma outra técnica, igualmente arriscada, muito usada nas caves de Vinho do Porto, para degolar garrafas muito antigas. Neste caso, qualquer tentativa de tirar uma rolha centenária poderia ser um desastre ainda maior.

Uma tenaz específica para este fim é aquecida em brasa e, em seguida, aplicada no gargalo. O vidro trinca, liberando o preciosos líquido.

Há mais coisas pitorescas no mundo do vinho que podemos incluir nesta lista, entre elas, a “hiper decantação” ou se preferirem, a “hiper aeração”: consiste em bater o vinho num liquidificador, por uns poucos segundos. Esta curiosa ideia surgiu no livro “Modernist Cuisine” de Nathan Myhrvold, um antigo chefe de tecnologia da Microsoft que abandonou tudo pela arte de cozinhar…

Aqui só cabe um comentário: não se deve misturar alta tecnologia com vinho. Simplifiquem!

Outra novidade que pode parecer estranha, mas tem uma certa lógica, são os vinhos que envelhecem submersos, isto mesmo, embaixo d’água, seja em lagos, rios ou nos oceanos. Existe uma certa tendência aqui. Tudo começa com a descoberta do naufrágio de um antigo cargueiro com milhares de garrafas de, até onde se sabe, um ótimo vinho. Estavam naufragadas por um par de décadas, pelo menos. Quem provou achou tudo maravilhoso. Por alguma razão o vinho não teria sido contaminado com água salgada.

Pronto, foi a senha para vários vinhateiros tentarem a sorte com algo semelhante, afinal, uma boa cave de amadurecimento fica no subsolo e a baixa temperatura. Tudo a ver. Parece mais um bom marketing do que técnica de elaboração.

Os barris de carvalho, onde vinhos são produzidos ou envelhecidos é a mais nova fonte destas incomuns experiências. Após terminarem seu ciclo útil nas vinícolas, são disputadíssimos por fabricantes de destilados para “acrescentar mais uma camada de sabor” aos seus produtos. Até produtores de café estão usando barricas antigas para dar novos aromas e sabores para uma das bebidas mais populares do mundo.

Existem destilados que sempre usaram barris de carvalho, o Whisky e o Bourbon são dois deles. Alguns produtores de vinhos resolveram inverter o ciclo: já que usam os nosso tonéis, por que não usar os deles?

Surge o vinho envelhecido em tonel de Bourbon, de Rum…

Tem empresas do porte da californiana Robert Mondavi apostando nesta novidade.

Seguindo nesta linha, não é exatamente uma novidade voltar a usar recipientes de barro, as ânforas, para produzir ou amadurecer vinhos. Para muita gente parece algo estranho, um passo para trás.

Estas técnicas ficaram esquecidas, substituídas por modernas tecnologias que permitem um total controle na vinificação. Felizmente sempre tem algum abnegado disposto a reviver antigas metodologias. Neste caso foi surpreendente, diversos produtores tradicionais voltaram a empregar este método com muito sucesso. Novos e velhos ceramistas estão reaprendendo a fazer ânforas, “qvevris” e assemelhados. Parece que veio para ficar.

Os poucos vinhos que já provamos, dentro deste estilo, eram bem diferentes do que estamos habituados.

O emprego de madeira na elaboração de um vinho, para diversos fins, sempre despertou alguma curiosidade. Vão desde tanques de fermentação, armazenamento, envelhecimento e transporte. Muito versátil.

O vinho é uma bebida milenar e vem sendo produzida, basicamente, da mesma forma desde então. Nunca lembramos, por outro lado, de um pequeno detalhe: onde produzir, em que recipientes?

Estudos arqueológicos têm mostrado que lagares de pedra e os potes de barro, não cozidos, sempre foram usados para este fim. Em Portugal e na Geórgia ainda vinificam assim. O uso de madeira é quase tão antigo. Não só era capaz de produzir um tonel razoavelmente impermeável, como era um isolante térmico o que ajudava a conservar o vinho em seu transporte. Na Grécia há um estilo de vinho, muito apreciado até hoje, que combina sabores de madeira e da resina de pinho que era usada para selar as barricas. Chama-se “Retsina”.

Usar só Carvalho veio com o tempo. Antes dele, outras madeiras foram empregadas. Ainda hoje buscam-se alternativas, afinal, não existem florestas de carvalho “infinitas”. Aqui no Brasil, uma vinícola artesanal já produz vinho em barricas que misturam madeiras brasileiras, emprestando um pouco da filosofia de trabalho dos alambiques nacionais que envelhecem suas pingas em amburana, bálsamo, jequitibá rosa, entre outras.

Devem existir mais coisas que soam estranhas no mundo dos vinhos. Um velho provérbio diz: “a diversidade é o tempero da vida”. Degustar bons vinhos vai ao encontro deste adágio.

Há tantos caminhos a seguir que pode tornar nossas escolhas meio complicadas, às vezes. Então, se o vinho não lhe agradou, use-o para temperar a carne ou a salada e abra outra garrafa.

Meio que “se lhe deram limões, faça uma limonada”!

Saúde e bons vinhos!

CRÉDITOS:

Foto de abertura por Maksim Goncharenok

Sacando a rolha, obtida no “The Telegraph

Sabragem, obtida no site “Wine News

Tenaz, obtida no “Mercado Livre

Links para alguns dos métodos mencionados:

Uso da tenaz

Sacando a rolha 1

Sacando a rolha 2

Hiper decantação

Sabrando um espumante

Vinhos do vale do rio Ródano

São mais de 200 Km de extensão, entre Lyon e Avignon, com vinhedos em todas as margens deste rio que começa na Suíça, onde ajuda a formar o Lago Genebra, até desaguar no Mediterrâneo.

Ao todo somam 56.000 hectares plantados, divididos em duas grandes regiões, norte e sul, cada uma com diferentes tipos de solos, microclimas e uvas.

Região Norte

Terra da casta Syrah. É provável que tenha se originado nesta região ou, pelo menos, muito perto dela. Alguns dos mais famosos e caros vinhos do Rhône são elaborados aqui, como os Hermitage e os Côte-Rôtie.

As castas brancas são a Viognier, a Roussane e a Marsanne que podem fazer parte de um corte com a Syrah, dependendo da denominação de origem.

Denominações de origem controlada (AOC):

  • Côte-Rôtie – tintos à base de Syrah com até 20% de Viognier;
  • Condrieu e Château-Grillet – brancos com Viognier;
  • Saint-Joseph – tintos com Syrah podendo usar até 10% de Marsanne e/ou Roussanne. Brancos com estas duas castas;
  • Crozes-Hermitage e Hermitage – similar à anterior mudando para 15% a quantidade das uvas brancas no corte tinto. Mesmas castas nos brancos;
  • Cornas – 100% Syrah;
  • Saint-Péray – vinhos espumantes e tranquilos à base de Marsanne e Roussanne.

Região Sul

Com um clima mais mediterrâneo, há uma enorme variedade de castas plantadas. Algumas denominações permitem até 19 tipos de uvas em seus cortes. As mais comuns são as tintas Syrah, Grenache, Mourvedre, Cinsault e Carignan, e as brancas Ugni, Picpoul e Roussane. Quem brilha são os cortes GSM (Grenache, Syrah, Mourvedre).

O grande destaque é um vinho icônico na França e no Mundo: o Chateauneuf-du-Pape. Na sua elaboração podem ser usadas diversas castas, entre tintas e brancas.

Denominações de origem controlada (AOC):

  • Côtes du Vivarais
  • Châteauneuf-du-Pape
  • Grignan-Les Adhemar
  • Vacqueyras
  • Rasteau
  • Cairanne
  • Gigondas
  • Vinsobres
  • Lirac
  • Beaumes de Venise
  • Muscat de Beaumes de Venise
  • Tavel – produzem um excepcional rosé

A denominação Côtes du Rhône:

Certamente são os vinhos mais populares de todo o vale. A denominação é abrangente, sem uma localização específica. A regra de produção é simples e objetiva: mínimo de 11% de teor alcoólico e 21 castas permitidas.

O maior volume de produção está na região sul. Este vinho é ideal para o dia a dia, são fáceis de beber e harmonizam com uma grande variedade de pratos. Os cortes mais comuns são elaborados com Grenache ou com Syrah. Para os brancos usam Roussanne, Marsanne e Ugni blanc. Existe, ainda, uma rara versão rosada.

Dentro desta classificação, vamos encontrar os “Côtes-du-Rhône Villages” e os “Côtes du Rhône Villages, com indicação da região no rótulo”. São vinificações mais elaboradas e com um maior teor alcoólico, o que os fazem perfeitos para serem guardados. Somente 21 comunas podem usar o nome indicativo no rótulo.

Outras regiões

Já um pouco distante do rio, a cerca de 50 Km da cidade de Valence, quase nos Alpes, vamos encontrar o distrito de Die, onde são elaborados vinhos espumantes: o Clairette de Die, pelo método ancestral e o Crémant de Die, pelo método tradicional. São os vinhedos mais altos da França.

Recentemente a legislação francesa permitiu a vinificação de vinhos tranquilos neste distrito.

Produtores famosos:

Norte: Chapoutier; Guigal; Jaboulet e Jean-Louis Chave

Sul: Chateau de Beaucastel; Clos de Papes; Domaine du Clos Saint Jean; Domaine du Pegau

Saúde e bons vinhos!

Mapa obtido no site Vins Web

Vinhos de corte – de volta ao básico

Vinho de corte, blend, assemblage ou coupage são diferentes denominações para um mesmo produto: um vinho produzido com mais de uma casta.

Alguns dos vinhos mais famosos do mundo são elaborados assim. Um leitor mais atento vai lembrar do onipresente corte bordalês, que produz joias como Chateau Ausone, Chateau Cheval Blanc, Chateau Margaux, entre outros. Sempre uma composição entre Cabernet Sauvignon, Merlot e mais alguma outra entre limitadas e permitidas opções.

Curiosamente, quase nunca nos damos conta que existem outros vinhos, tão ou mais famosos que os de Bordeaux, que são elaborados “blends”. O Champagne é um deles. Tradicionalmente é vinificado a partir de um corte de Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier. Outros dois ícones do mundo do vinho que seguem este estilo são o Porto e o Madeira.

O objetivo de cortar um vinho é fazê-lo melhor. A cada safra, as uvas mudam algumas de suas características básicas, como teor de açúcar, presença de polifenóis etc. que influenciam diretamente no produto da vinificação. Uma das mais poderosas ferramentas que um enólogo dispõe para contornar estas variações é misturar ou cruzar, com outras outras vinificações, corrigindo acidez, taninos, aromas, sabores e até mesmo teor alcoólico.

Vários tipos e corte são possíveis, desde uma simples mistura de diferentes castas vinificadas separadamente, a combinação de vinhos de diferentes safras, de uma mesma casta ou de várias e, ainda, a cofermentação, onde várias uvas são processadas ao mesmo tempo.

Em Portugal vamos encontrar vinhedos com várias castas plantadas juntas, num arranjo chamado de “field blend” ou corte do campo. Este conceito pode ser estendido para o uso de frutos de diferentes vinhedos ou mesmo de parcelas de diferentes áreas. As possibilidades de combinações são múltiplas.

As proporções entre cada casta num corte ficam por conta do Enólogo. Durante o processo serão realizadas diversas provas que vão definir as dosagens de cada vinho. Apenas no caso dos “field blend” a proporção já vem definida.

Além dos cortes citados, alguns outros se destacam neste nosso universo vínico:

– GSM – iniciais de Grenache, Syrah e Mouverdre. Típico da região do Rhone, França. Um destaque vai para o Châteauneuf-du-Pape, que pode receber até 14 tipos de uvas na sua elaboração;

– Chianti – o típico vinho da Toscana, em sua versão original, é um corte entre Sangiovese (70% no mínimo), Canaiolo, Colorino, Ciliegiolo, Mammolo e a branca Trebbiano. Atualmente estas castas estão sendo pouco usadas e deram lugar a outras, mais europeias, como Cabernet e Merlot, originando os “supertoscanos”. A legislação mudou para aceitar estas uvas no corte deste clássico vinho;

– Na Austrália há um corte muito comum e bem aceito pelo mercado – Cabernet Sauvignon e Shiraz (Syrah). Alguns autores já apelidaram de “corte australiano”;

– Na Califórnia, alguns produtores se dedicaram a encontrar um vinho de corte que tipificasse a região e fosse uma alternativa aos varietais. Um vinhateiro, Dave Phinney, com o seu “The Prisoner”, estabeleceu uma tendência, pelo menos. Um complicado corte entre as duas mais famosas uvas da região, Cabernet Sauvignon e Zinfandel, com coadjuvantes como Charbono (Bonarda), Syrah e Petit Syrah, algumas delas plantadas num “field blend”.

Para finalizar, um lembrete: tecnicamente um vinho de corte é um produto de melhor qualidade, desde que bem elaborado. Existe outro tipo de “corte”, assim mesmo, entre aspas, aquele em que um produtor inescrupuloso estica sua litragem produzida misturando, sabe-se lá o que, no seu vinho base.

Seu objetivo?

Aumentar o faturamento…

Saúde e bons vinhos!

Imagem de nattynati por Pixabay 

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