Categoria: O mundo dos vinhos (Page 26 of 72)

“Enfrentando” uma carta de vinhos

Este é um dos mais belos ritos de passagem para quem se insere no mundo dos vinhos. Um momento esperado e ao mesmo tempo temido até por Enófilos experientes: selecionar um vinho no restaurante.

Há vários caminhos a serem considerados nesse momento: os preços, o tipo de comida que será servida, a variedade de opções e muito mais. O que vai estar em jogo, definitivamente, é a reputação de bom conhecedor de assuntos enológicos. E isto não é pouco.

O preço costuma ser um fator dominante, principalmente por estas bandas onde os impostos sobre vinhos importados são altíssimos. Some-se a isto, a necessidade de lucro de alguns restaurantes que não hesitam em colocar sobrepreços abusivos. Honestamente, seria melhor, para estes, não gastar o seu capital em vinhos, mas aplicá-lo na Bolsa…

A nossa defesa é um movimento clássico: o vinho mais barato ou o segundo mais barato e pronto. Nem sempre é o ideal.

Numa boa casa, a carta de vinhos chega pelas mãos de um Sommelier. Uma conversa franca com ele pode ajudar muito. Perguntar sobre vinhos em promoção é o primeiro caminho. Estoques têm que ser renovados e, por esta razão, alguns vinhos que ficaram meio esquecidos nas adegas são oferecidos, fora da carta, a preços convidativos.

Outro aspecto a ser conversado com o Sommelier é estabelecer um limite de preço: pretendo gastar até esta quantia no vinho, o que você tem a oferecer?

Se nenhum destes aspectos é significativo, podemos usar esta situação para aprimorar nossos conhecimentos. Que tal buscar por um vinho que ainda não conhecemos?

Cartas bem elaboradas trazem descrições confiáveis sobre cada rótulo oferecido. Com isto em mente, é a hora certa para provar um vinho de origem pouco comum ou mesmo de pequenos produtores que nunca chegam nas prateleiras de mercados ou lojas especializadas. Rótulos de produção orgânica, biodinâmica e outros desta mesma linha, estão cada vez mais presentes nestas listagens.

Não é difícil encontrar uma destas preciosidades, mas é preciso dedicar algum tempo e atenção na leitura da carta. O ideal é explorar da primeira até a última página. Surgiram dúvidas? O Sommelier está ali para isto.

Uma última ferramenta, que quase todos nós carregamos no bolso, o celular tipo smartphone, pode ser outra boa fonte de informação. Aqui vai uma regrinha básica: antes de escolher um vinho, perguntem se há uma rede “wi-fi” disponível. Acessem e peçam ajuda a aplicativos como Vivino, Cellar Tracker, Google ou outro mecanismo de pesquisa.

Recentemente esbarramos com um vinho esloveno elaborado com a casta “Sivi Pinot”. Obviamente, quem elaborou a carta apenas reproduziu o conteúdo do contrarrótulo e não se preocupou com maiores esclarecimentos. Uma rápida consulta a um mecanismo de busca logo esclareceu: Pinot Gris.

Saúde e bons vinhos!

Foto: de Georgia Pictures no Pixabay

Prêmio Vin de France – VDF

VDF ou Vin de France é uma denominação francesa, estabelecida em 2009. Basicamente substituiu a antiga Vin de Table (vinho de mesa) e passou a atender às normas da Comunidade Europeia. Além desta, continuam existindo a famosa AOC (Appellacion d’origine controlée) e a VDP (Vin de pays).

Com o intuito de divulgar estes vinhos a Anivin de France, associação que regula a comercialização dos vinhos tranquilos sob a denominação VDF, promove, anualmente, uma degustação de seus produtos, convidando avaliadores de todo o mundo. Nesta última edição, um deles era brasileiro.

Uma das características mais interessantes destes vinhos é o grau de liberdade criativa permitido nas normas. A regionalização é posta de lado e os vinhateiros podem usar uvas de qualquer parte do país. Vinhos varietais são bem-vindos e as castas estão declaradas nos rótulos. O resultado são vinhos deliciosos e com preços convidativos.

O movimento é um sucesso e um dos lemas mais simpáticos deste grupo pega carona na revolução francesa: Liberté, Egalité, Fraternité se torna Liberté, Qualité, Criativité.

O resultado da prova de 2022 foi considerado excepcional. 133 vinhos foram selecionados com Embaixadores: 64 medalhistas de ouro e 69 de prata. Muitos deles vão aparecer no nosso mercado, ostentando um dos selinhos que ilustram a abertura deste texto. Podem comprar, sem medo.

Na foto, a seguir, é possível ver alguns dos ganhadores e seus rótulos indicando as castas.

A relação completa dos vencedores está neste link, em inglês.

https://www.vindefrance.com/wines/contest-medals

Saúde e bons vinhos!

Explicando vinhos do velho e do novo mundo

Um evento, que tinha por finalidade apenas apresentar alguns vinhos norte americanos para o consumidor europeu, acabou se tornando um marco histórico, afinal, ninguém poderia imaginar que um painel de especialistas, daquela época, 1976, escolhessem desconhecidos rótulos como superiores a tradicionalíssimos e consagrados rótulos franceses.

O Julgamento de Paris foi quase um escândalo!

A partir disso, a utilização das expressões “vinho do Velho Mundo” e sua análoga, “vinho do Novo Mundo”, passaram a ser empregadas para marcar diferenças de estilo, principalmente. O estilo Napa Valley, com um frutado bem característico, quase sempre calcado numa única casta, encorpados, mais alcoólicos e, talvez o mais significativo, muito mais em conta que seus similares europeus. Nas entrelinhas, um “novo mundo” era uma espécie de senha para “vinho barato e de pouca qualidade”.

O Velho Mundo nunca gostou de concorrentes…

O que começou com vinhos dos EUA se tornou um grande negócio mundial e o “Novo Mundo” expandiu para outros países. Chile, Argentina, Uruguai, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e alguns outros, produzem vinhos respeitáveis e apreciados nos quatro cantos de nosso planeta.

Todos são vinhos e se olharmos para este fato por um ângulo diferente, vamos descobrir que esta divisão é bem injusta, principalmente agora que novas pesquisas arqueológicas datam as primeiras vinificações a cerca de 8.000 anos atrás, na Georgia. Velho Mundo é pouco…

Outro fato a ser ponderado nos leva aos tempos dos grandes descobrimentos e o papel da Igreja, que seria fundamental como base de toda a indústria do vinho nos países novos. Missionários levaram as primeiras mudas e produziram os primeiros vinhos que eram utilizados nas cerimônias religiosas. Algumas destas espécies, na América do Sul e EUA, ainda são usadas para produzir alguns dos vinhos mais inovadores do momento.

Talvez seria mais justo usar “vinhos tradicionais” e “vinhos modernos” como alternativa. Ainda assim não estaríamos sendo totalmente corretos. O que realmente diferencia os dois estilos de vinhos é a famosa definição de Terroir: o clima ou microclimas, as temperaturas de cultivo, os diferentes tipo de solo, mas não só isso. Importante, também, são as regras, as normas de elaboração, menos rígidas, que concedem maior liberdade aos vinhateiros.

O velho ou mundo tradicional sentiu o impacto e está reagindo.

Tendo como pano de fundo as mudanças climáticas, novas castas estão sendo aceitas nas principais regiões produtoras da Europa. Da mesma forma, alguns produtores começam a se aproximar do estilo dito “Novo Mundo”, em busca de melhores resultados comerciais.

Curiosamente, os produtores fora do circuito tradicional, também estudam mudanças em seus estilos, desta vez em busca de soluções que são inspiradas nos velhos vinhos de corte.

Não há mais uma clara e precisa linha divisória entre produtores de qualquer continente. Novos players surgem ou ressurgem a todo instante. Países que ficaram muitos anos escondidos sob regimes totalitários, como a Eslovênia, a Croácia ou a própria Georgia, agora têm luz própria e vinhos maravilhosos.

É só procurar e provar.

Saúde e bons vinhos!

Foto: Mapa vetor criado por channarongsds em Freepik

Novos enófilos são sempre bem-vindos

Uma das boas mudanças ocorridas em função da pandemia foi o aumento de apreciadores de vinhos no nosso país. Ainda não existem muitos dados a respeito, excetuando o previsível crescimento das vendas e do consumo. Inevitavelmente aumentaram as dúvidas dos neófitos.

Degustar um vinho sempre foi um ato cercado de “pompa e circunstância”, o que ainda deixa muita gente com medo de se aventurar por essas estradas. Mas não precisa ser assim. Não há nada de misterioso ou oculto e as famosas “regrinhas não escritas” são apenas pequenas adaptações de coisas que fazemos rotineiramente. Existem alguns conselhos que sempre valem à pena lembrar.

O primeiro deles é: perguntem!

Não tenham medo de questionar alguém que seja mais experiente. Enófilos são ótimos companheiros e, alguns, adoram exibir os seus conhecimentos. Aproveitem e tirem suas dúvidas.

A segunda melhor coisa que vocês podem fazer é degustar diferentes vinhos. Busquem uma direção, por exemplo, vinhos de um determinado país ou região. Outras possibilidades envolvem se dedicar a determinadas castas e apreciar suas formas de vinificação nos diferentes “terroirs” (perguntem, perguntem e perguntem…). Anotem tudo que puderem.

Há um claro objetivo neste tipo de pesquisa: definir as suas preferências. E isso é muito importante pois vai balizar as suas compras daqui em diante. Este é um dos grandes prazeres para um Enófilo: pesquisar, comprar e degustar o vinho certo no momento adequado.

Neste ponto surge uma dúvida que é clássica: as safras e o que fazer com elas?

Já foram mais importantes, quando ainda não havia tanta tecnologia envolvida e a vinificação era mais artesanal.

Hoje em dia o resultado, ano a ano, tende a ser mais parelho e as diferenças muito sutis para serem observadas por paladares ainda inexperientes (há controvérsias…).

Um bom uso para as datas estampadas nos rótulos, que indicam o ano da colheita das uvas, é saber se estamos na frente de um vinho jovem ou um maduro.

Mais um conselho que não pode passar em branco é como montar um conjunto de acessórios para suas casas. Isso inclui desde o básico sacarrolhas, passa pelas taças e pode chegar até os nem sempre usados decantadores. Apresentamos uma listinha mínima:

– sacarrolhas do tipo Sommelier;

– taças de cristal do tipo “universal” que serão usadas para todo e qualquer vinho;

– tampões do tipo “vacu-vin” ou similares para garrafas que não foram totalmente consumidas;

– um decantador médio ou um aerador. Não são exatamente intercambiáveis, mas ambos cumprem a função básica de aerar o vinho.

Por último, o famoso “rito” de degustar um vinho que contempla os nosso cinco sentidos. Há alguns anos escrevi uma ótima matéria sobre o assunto, dividia em 2 partes. Basta seguir os links:

O vinho e nossos sentidos – 1ª parte

O vinho e nossos sentidos – 2ª parte

Saúde e bons vinhos!

Foto de abertura: Pessoas, criada por marymarkevich para Freepik

Vinho no verão

A foto é bem sugestiva, um rosado bem geladinho, na beira da praia, duas taças, sugerindo uma ótima companhia. Entretanto, cabe uma questão, uma daquelas do tipo “que não quer calar”: você trocaria por uma cerveja?

Dúvida cruel para alguns, mas não para enófilos empedernidos que não abrem mão de sua taça predileta, mesmo sob uma “lua” de 40º. Alternativas não faltam. Ocorre é que nem sempre nos lembramos delas e corremos, o mais rápido possível, atrás das famosas “cervas”.

A primeira e mais simples opção são os espumantes, que já são oferecidos até em práticas latinhas. Podem ser brancos, rosados ou tintos. Champagne, Vin Mousseux, Blanquet, Cremant, Cava, Sekt, Lambrusco, Pétillant Naturel ou qualquer outra denominação que borbulhe.

Vinhos tranquilos, brancos ou rosados são as próximas escolhas. Prefiram vinificações mais leves e jovens. Nada muito encorpado e maduro. Algumas castas são ideais para climas mais quentes: Pinot Grigio, Chardonnay, Riesling, Torrontés, Alvarinho/Alabriño e Encruzado, entre as brancas. Nos rosados, optem por aqueles elaborados a partir da Merlot, Malbec, Garnacha ou simplesmente alguns dos ótimos vinhos da Provence.

A última categoria, tintos, pode parecer estranha, mas existem vinhos, aqui, que devem ser consumidos bem gelados. O famoso Beaujolais Noveau é um dos mais conhecidos, mas não é o único.

Lembrando que, no caso dos tintos, as temperaturas mais baixas tendem a acentuar os taninos, vamos apresentar uma pequena lista que os leitores podem explorar, dentro de certos limites. Quem sabe não descobrem novas delícias?

O nobre Pinot Noir é uma grande pedida para ser consumido no verão. Os produzidos no Chile, Nova Zelândia, EUA e Austrália são os ideais. Mas nada de vinhos caros e maduros.

Algumas castas que andam meio esquecidas são outras opções: a deliciosa Dolcetto e a Barbera, vindas da Itália. De Portugal, a Bastardo, que tem origens na região do Jura, França, onde é chamada de Trousseau.

Para degustar qualquer uma dessas delícias neste escaldante verão é preciso gelar todas elas. Brancos, rosados, espumantes ou não, devem ser mantidos frios. Os tintos devem ficar na geladeira antes de serem abertos. Depois, devem ser gerenciados para que não fiquem extremamente frios e sem graça.

Quanto ao ritual de serviço, simplesmente esqueçam tudo que sabem. Usem copos comuns, prefiram meias garrafas e/ou latas e bebam direto do recipiente. Não fazemos isso com as cervejas? Por que não com os vinhos?

Divirtam-se e desencanem, são as palavras de ordem.

– Mais um pouco sobre Aromas e Sabores.

Meio frustrado pela baixa receptividade do tema da semana passada, já que ninguém se interessou pelas respostas que ligariam os aromas sugeridos a alguns vinhos, resolvi publicá-las de qualquer maneira.

Fui mais longe. Creio ter sido um pouco limitado nas opções de exercícios dedicados a reestimular o olfato e paladar, limitando as escolhas ao mundo do vinho. Busquei ajuda entre profissionais de gastronomia e recebi formidáveis sugestões que repasso para os leitores.

1 – Os vinhos que ninguém perguntou…

Amora – Zinfandel

Framboesa – Garnacha

Ameixa – Syrah

Cereja madura/seca – Sangiovese (Chianti)

Maçã Verde – Chardonnay

Damasco – Riesling

Melão – Chenin Blanc

Lchia – Gewürtztraminer

Estas são sugestões tiradas de referências clássicas e compêndios consagrados. Outras castas/vinhos podem ter notas similares.

2 – Mais exercícios para a recuperação da Anosmia, desta vez baseados em alimentos do dia a dia. Contei com a sempre excelente colaboração de Vanessa Nakamura (@vanessatnakamura) da Agência Sibaris Produções Gastronômicas:

Um passeio pelos nossos 5 sentidos, usando estes produtos sempre presentes em nossas casas, de forma análoga aos sugeridos anteriormente:

Doce – uma colher de mel

Sal – uma azeitona

Pimenta – um pedacinho de dedo de moça

Amargor – rúcula ou radicchio

Acidez – uma rodela de limão

Uamami – tomate seco

3 – Para os casos mais graves existe um tratamento fisioterápico, chamado “Terapia de cheiro”, que trabalha com óleos essenciais.

Apresento um link de uma escola de medicina, apenas como referência. Caso desejem seguir por este caminho, procurem um profissional habilitado.

https://www.cmmg.edu.br/wp-content/uploads/2021/09/5-Tratamento-para-anosmia.pdf

Saúde e bons vinhos

Foto de abertura por Schlappohr no Pixabay

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