Categoria: O mundo dos vinhos (Page 28 of 72)

Enólogo por 1 dia

Não chegou a tanto, “por algumas horas” estaria melhor. Foi uma das atividades mais divertidas e instrutivas pelas quais passei neste imenso mundo dos vinhos.

Tudo começa nestes pequenos tanques, cada um com um vinho semipronto: Trajadura; Loureiro; Avesso; Alvarinho e Arinto. A proposta é aprender as características de cada um e receber alguma informação sobre como se comportam quando misturados. Com tudo isso assimilado e anotado, partimos para o que realmente interessa: cortar o seu próprio vinho.

Para realizar essa tarefa, contamos um conjunto de taças, uma proveta graduada e um rótulo em branco, apenas com o nome da vinícola.

O primeiro passo é degustar cada vinho enquanto um orientador explica as características de cada uva. Em seguida começam os experimentos com as misturas. Uma das recomendações é limitar o número de castas a serem combinadas. Duas seria o normal, três para os aventureiros e mais que isso, “não vai dar certo”. A foto, a seguir, ilustra o momento em que já estava pronto para decidir o que gostaria de misturar e em quais proporções.

Uma das curiosidades ficou por conta da casta Avesso. Nosso mestre explicou que ela se comporta de maneira quase oposta às demais e tende a ser dominante, mesmo em proporções menores. Isso bastou para que eu resolvesse desafiá-la. Só pelo nome, já dava para desconfiar.

O blend inicial é feito com ajuda da proveta. Escolhi a casta Loureiro como base, acrescentei Alvarinho e um toque da rebelde Avesso. O olhar que recebi do professor não foi o de “aprovação” …

Foram necessários uns dois ou três ajustes. Provei a combinação de Loureiro e Alvarinho e fui acrescentando a Avesso até o meu paladar ficar satisfeito. O resultado foi este: 50% Loureiro; 30% Alvarinho; 20% Avesso.

Em seguida o professor calcula as quantidades para encher uma garrafa (750 ml), que nos é fornecida devidamente limpa e esterilizada. Tudo que resta fazer é, pacientemente, encher a proveta algumas vezes, despejando tudo na garrafa. Agora não tem mais volta, alea jacta est.

Mais passos são necessários: arrolhar, encapsular o gargalo, produzir e colar o rótulo. Hora de pagar um mico: como eu era o aluno mais próximo do equipamento, fui convidado a tentar colocar uma rolha na minha garrafa. Primeiro tentei só com um pouco de habilidade e força manual. Como é quase impossível, recebi, para ajudar, um malhete, que também não resultou em nada.

Gargalhadas à parte, e com uma ponta de decepção, sou apresentado à “máquina” arrolhadora, uma relíquia de tempos imemoriais, que funcionou perfeitamente depois de aprender a técnica correta, cheia de pegadinhas: centre a garrafa no apoio, coloque a rolha no receptáculo, ajoelhe no banco com a perna esquerda e faça força na alavanca com o braço direito.

Era assim, antigamente! Uma por uma…

A cápsula não foi difícil, era só escolher a sua cor predileta, colocar no gargalo e usar outra maquininha, aquela vermelha da foto à esquerda, que aquece e cola. Leva poucos segundos. O que vai no rótulo é de livre escolha. Mas ele deve ser colado a “três dedos” acima do fundo da garrafa.

Eis o produto acabado:

Dúvida de todo o grupo que participou dessa experiência: podemos gelar e beber?

A resposta foi: ainda não!

Os vinhos-base estavam em estado bruto. Não foram filtrados, decantados ou mesmo estabilizados. Sugeriu que deixássemos as garrafas de pé, por cerca de 1 semana e só depois estariam adequados para degustar. Podem ser guardados por pouco tempo. O ideal é não esperar muito. Aprendemos, também, que o resultado final pode ter ficado bem diferente do que foi imaginado.

A minha garrafa passou por todas estas recomendações. Viajou até o Rio de Janeiro, onde está repousando. Ainda não decidi quando e com quem vou experimentar este vinho único e que nunca será repetido.

Será que vou pagar outro mico?

Cartas para a redação! (os comentários são sempre bem-vindos)

Saúde e bons vinhos!

Portugal 2021 – resumo da 3a semana

Outra semana movimentada em terras lusitanas. Ainda no ótimo hotel Monverde, participamos da atividade Enólogo por 1 dia. A foto que ilustra este texto mostra o local onde foi realizada. São 5 vinhos que vamos experimentar e depois, seguindo algumas sugestões do instrutor, mistura-los em proporções ao nosso gosto. Quando tudo estiver a contento, engarrafamos, arrolhamos e colocamos um rótulo personalizado. Muito divertido e instrutivo. Para o meu corte usei Loureiro, Alvarinho e Avesso.  

Já devidamente instalados na cidade do Porto, fomos visitar o espetacular World of Wine, em Vila Nova de Gaia. Para os amantes dos vinhos é um programa imperdível. Um parque temático com atrações para todos os gostos, além de lojinhas e uma variada praça de alimentação. Optamos pela Wine Experience, um passeio interativo e interessantíssimo, mesmo para quem já tem um bom nível de conhecimento. 

Outras opções nos levariam pelo mundo das rolhas, dos vinhos rosados, do vinho do Porto, da moda e até uma fábrica de chocolates. Dentro do complexo há ainda uma escola com interessantes cursos. 

Para fechar a semana, um passeio até a simpática Vila do Conde, onde fica o melhor Outlet da região e outro até Aveiro, para visitarmos uma amiga. Ainda houve tempo para uma degustação de vinhos de pequenos produtores no Palácio do Vinho Verde. 

Bons restaurantes e bons vinhos, afinal, este é um blog sobre essa deliciosa bebida. Aqui está a relação da semana: 

Alma D’Ouro branco 2020 

Vinho da casa do bom restaurante Pobre Tolo, em Amarante.  

Terras do Minho Touriga Nacional Rosé 2020 e Quinta da Lixa Trajadura 2020 

Degustados no hotel Monverde. Ambos bem interessantes. O Trajadura foge do estereótipo dos vinhos verdes: muito seco. 

Encosta do Amieiro branco 

Vinho da casa do restaurante Cidade, no Porto. Acompanhou corretamente um bom bacalhau com natas. 

Akménine Sancerre 2016 e Quinta da Lixa Escolha White Blend 2020 

Estes dois foram degustados no domingo de pizza na casa de Tomás e Carol. Ele foi o pizzaiolo. O Sancerre, orgânico, estava na hora de ser consumido. O Escolha é outro bom vinho da Quinta da Lixa. 

Campelo Arinto 2020, Casal da Ventozela Arinto 2020 e Dom Diogo Arinto 2020 

Provados na degustação comparativa no Palácio do Vinho Verde. Vinhos quase exclusivos, pequenas produções. Foi uma ótima experiência, com direito a uma boa aula sobre o Minho e seus vinhos típicos. O favorito foi o segundo. 

Herdade do Peso Reserva 

Provado no jantar, restaurante Flow, Porto. 

.Com Premium branco 

Almoço no restaurante Bronze, em Aveiro/Ilhavo. 

Para terminar, o rótulo do meu vinho, elaborado no hotel Monverde/Quinta da Lixa. 

Neste sábado partimos para a Galícia. 

Saúde e bons vinhos 

El Artista – Bom e barato!

O mercado de vinhos finos é dividido em vários segmentos. Qualidade e preço são dois nichos que se destacam, mas nem sempre andam juntos. Excluindo as extremidades, vinhos ruins e baratos/vinhos ótimos e caros, há uma intensa disputa no miolo destes segmentos, com algumas sobreposições bem interessantes para o consumidor despretensioso, ou seja, a grande maioria.

Há algum tempo, o lançamento de um vinho espanhol, de boa qualidade e ótimo preço, causou uma verdadeira revolução no mercado. Comercializado como um produto de alta gama com um preço que beirava o ridículo de tão barato que era, conquistou igual legião de fãs e detratores.

Elogios e críticas recaiam sobre a qualidade do vinho: enófilos mais exigentes achavam que era fraca, já o grupo que consome vinhos diariamente percebeu logo o objetivo da marca e o adotou. Foi uma boa inovação, principalmente pela pouca penetração dos vinhos espanhóis no nosso país. Aqueles mais curiosos e experimentadores saíram em busca de conhecer mais vinhos de lá e não se arrependeram.

Recentemente Chegou ao mercado mais um bom espanhol para concorrer diretamente no segmento do bom e barato. Um concorrente direto do vinho “mucho loco” e muito barato.

O e-commerce de vinho Wine Duty Free está distribuindo este 100% Tempranillo, que pode ser adquirido em dois estilos:

El Artista Tempranillo 2020

Bodegas Fernando Castro

100% Tempranillo

12% teor alcoólico

Tampa de rosca.

Notas de prova: um vinho bem equilibrado e sem grandes pretensões. Fácil de beber, agradável. Aromas de frutas maduras e/ou secas. Taninos bem controlados, acidez correta. Ótima opção para o dia a dia, um vinho sem compromissos. Vai bem com carnes, massas com molhos vermelhos ou de queijos.

El Artista Gran Reserva D.O Valdepeñas 2012

Bodegas Fernando Castro

100% Tempranillo

18 meses em barricas de carvalho europeu e americano

13% teor alcoólico

Medalha de ouro no Berliner Wein Trophy 2018

Notas de prova: Um vinho mais encorpado que o anterior, mais sério e circunspecto. Muito bem equilibrado e harmônico, com aromas de frutas vermelhas escuras. Taninos no ponto certo para um vinho com quase 10 anos de elaborado. Final de boca longo e persistente. Acompanha pratos de carnes com sabor marcante, molhos encorpados para massas e queijos maduros e aromáticos.

Este vinho poderia ser facilmente comercializado em outro segmento. A Wine Duty Free está com preços promocionais o que torna esta compra uma verdadeira pechincha. Imperdível.

A Bodegas Fernando Castro foi fundada em 1850 e possui um extenso portfólio de produtos. Esses rótulos são elaborados para exportação, exclusivamente.

Agradecemos a Wine Duty Free e a Lucky Assessoria de Comunicação & Marketing Digital pelo envio do Press Kit.

Saúde e bons vinhos!

Um vinho bem equilibrado

Esta é uma das expressões mais utilizadas no jargão do vinho, tanto por produtores quanto por consumidores. Tem um significado amplo, representando a harmonia entre todas as características desejáveis num vinho.

Cinco fatores são dominantes na obtenção de um bem equilibrado vinho: álcool, taninos, acidez, açúcar e água. Mesmo em mão experientes, não é fácil ajustar todas essas características.

Tudo começa no vinhedo no momento que é decidida a colheita. Na composição da uva vamos encontrar água e um importante binômio – açúcar e acidez: quanto mais acidez, menos doçura e vice-versa.

Se a colheita for adiantada, o fator acidez será predominante e o resultado final não seria agradável de provar. Na colheita tardia a doçura será a principal característica, resultado nos chamados vinhos de sobremesa.

Colhidas no ponto ideal, haverá acidez suficiente e a quantidade certa de açúcares que serão convertidos em álcool, sem os quais o nosso vinho não passará de um glorificado e caro suco de uva.

Os taninos entram nesse cálculo de duas formas. A primeira é através das cascas, sementes e engaços. A outra decorre do armazenamento nos barris de carvalho. Desempenham um papel importante nessa equação, dando personalidade a nossa bebida. Se forem exagerados, aparece a famosa e desagradável sensação de boca seca. Se não estiverem presentes, o vinho fica sem graça. Os taninos são um dos fatores responsáveis pelo bom amadurecimento e envelhecimento dos vinhos.

A fórmula se completa com a água, ela representa, na média, 85% do volume do vinho. Para deixar claro, não se adiciona água na elaboração, ela decorre do mosto obtido das uvas.

Mesmo os mais habilidosos malabaristas teriam enorme dificuldade em equilibrar isso tudo. Para os produtores há mais dificuldades decorrentes dos fatores climáticos e alguns outros de ordem cultural.

Climas mais quentes tendem a produzir uvas com maior teor de açúcar o que implica em teores alcoólicos mais elevados (a recíproca é verdadeira). Em algumas regiões, esse teor elevado é visto com bons olhos e a definição de “equilibrado” fica desajustada por essa razão.

Atualmente não há mais um consenso: cada região produtora vai buscar o seu ponto de equilíbrio, relativo, para atender ao seu público consumidor, afinal, esse é o objetivo – vender o vinho.

Aos cinco fatores que originalmente definiam o equilíbrio de um vinho devemos, agora, acrescentar mais um, a percepção individual.

Como consequência, vamos encontrar diferentes noções do que seja “um vinho bem equilibrado” entre os diversos grupos que frequentamos: o seu vinho harmônico pode não ser o meu vinho bem equilibrado.

Pensem nisso.

Saúde e bons vinhos!

Créditos da foto:

“Balance scale” por Sepehr Ehsani está licenciada sob CC BY-NC-ND 2.0

Guardando vinhos: o que você deve ou não fazer…

Guardar vinhos pode ser uma atividade muito recompensante. Mas, se alguns procedimentos básicos não forem seguidos, pode se transformar numa tremenda dor de cabeça.

Vamos abordar alguns pontos chaves para que tudo seja um sucesso.

– Podemos guardar todo e qualquer vinho?

Sendo muito objetivo, a resposta é não. Há vinhos que devem ser guardados, há vinhos que foram elaborados para serem consumidos “jovens” e, como se isso não bastasse, há vinhos em que podemos arriscar guardar por um período.

– Como saber quem é quem?

Antes de mais nada, para iniciar uma coleção de vinhos é preciso ter uma boa base de conhecimentos sobre o assunto, um local adequado ou uma adega climatizada e um mínimo de organização.

Algumas castas se prestam mais a serem adegadas do que outras. Isso também é válido com relação à origem do vinho (região e produtor) e a forma como foi elaborado, informação que consta das fichas técnicas de produção, disponíveis nos sites das boas vinícolas.

Vinhos clássicos, como os franceses de Bordéus ou da Borgonha, ícones italianos como o Barolo, Brunello e Amarone ou grandes rótulos espanhóis e portugueses, são comercializados com essa ideia: compre e guarde…

Vinícolas do Novo Mundo preferem indicar determinados rótulos como “vinho de guarda”, o que dispensa maiores comentários. Por último, temos que levar em conta o fator preço. Nesse caso, inverta o raciocínio: os vinhos mais baratos não se prestam a isso.

– Como e onde guardar?

Aqui vale o bom senso: evite locais quentes e úmidos. Prefira ambientes com pouca incidência luminosa e bem ventilados. Outro detalhe que passa despercebido é evitar trepidações, por exemplo, decorrentes de motores de bomba de água, elevadores ou mesmo de ferramentas usadas em reformas de imóveis como marteletes e assemelhados.

Vinhos tranquilos devem ser guardados na posição horizontal enquanto os espumantes devem ficar na posição vertical.

– O que não devemos fazer?

A luz ultravioleta é o grande inimigo dos vinhos. Não é à toa que os grandes vinhos estão acondicionados em garrafas escuras, inclusive alguns brancos e os principais champagnes e espumantes. Nunca deixe suas garrafas ao sol ou as submeta a calores acima da média.

Não abandone sua adega. Visite-a periodicamente observando o estado das cápsulas e das rolhas. Manuseie cuidadosamente cada garrafa, examinado o gargalo contra a luz de uma lanterna. Procure por vazamentos, sinais de ressecamento e odores estranhos.

– Como organizar a adega?

O método mais simples é separar os vinhos por regiões e ordená-los por safras. Por exemplo, vinhos mais jovens ficam mais ao alto, enquanto vinhos mais velhos na parte inferior. Assim é mais fácil localizar uma garrafa específica ou pegar um vinho para o dia a dia.

Faça uma anotação esquemática da sua arrumação num caderno de notas ou use algum sistema de identificação em cada garrafa. Na foto que ilustra a matéria é possível perceber uma etiqueta colocada no gargalo. Ali estão, de forma clara, nome do vinho, safra e data em que foi adegado.

Por quanto tempo podemos guardar?

Vinhos brancos e rosados são os que menos se beneficiam de guardas prolongadas: 3 anos é um bom período, nas condições ideais. Vinhos tintos, dependendo de suas origens, podem começar a ficar interessantes após 10 anos de guarda. Na média, 4 a 6 anos já acrescentam novas e intrigantes camadas de aromas e sabores.

Um conselho final: mesmo que sua coleção não ultrapasse umas poucas garrafas, considerem investir numa adega climatizada. É uma tranquilidade que permite cometer alguns exageros, como os vinhos da foto: um Barolo de 18 anos e um Pinot Noir de 14 anos.

Saúde e bons vinhos!

« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑