Categoria: O mundo dos vinhos (Page 37 of 77)

Aromas do vinho são importantes!

Quem resiste ao cheiro de um cafezinho recém-coado ou daquele delicioso aroma de pão fresquinho na porta da padaria? Os dois juntos então…

Enófilos têm uma especial ligação com os aromas de um vinho, que surgem logo ao sacar a rolha: quanta informação está ali!

Naquele momento do primeiro contato, olfativo por definição, é que vai ser decidido o próximo passo.

Para compreender tudo isso é preciso ter um pouco de conhecimento.

Essa peculiar característica de nossa bebida predileta começa a ser desenvolvida no solo onde as uvas estão plantadas. É um dos pilares do pouco compreendido “terroir”. A combinação da casta e do tipo de solo (granítico, arenoso, cascalho etc.) vai implicar num tipo de cheiro. Mais tarde, outras características vão se juntar por conta dos processos de fermentação e de maceração empregados, passagem ou não por madeira e por quanto tempo.

Cada tipo de vinho nos proporciona uma coleção de sensações olfativas únicas, também conhecidas por buquê ou nariz. Para os que têm boa memória, é quase uma carteira de identidade do que vem a seguir, no momento do provar. Pode-se identificar a origem, casta e método de vinificação só por aquele curioso gesto de colocar o nariz na taça do vinho e aspirar, levemente. Mas leva tempo e muita disciplina. Não é uma coisa que se consegue de um dia para o outro.

Identificar os aromas é um dos ritos mais celebrados de qualquer degustação.

Alguns exemplos são clássicos, como o aroma de couro molhado dos cortes bordaleses, o famoso pimentão verde (pirazina) do Carménère chileno e muitos outros. Importante mesmo é saber distinguir bons aromas dos aromas ruins, como o conhecido “papelão molhado” que é associado a um defeito da rolha, a contaminação por T.C.A. (tricloroanisol): bouchonée, no nosso jargão.

Para os que desejam se aprofundar nesse tema, desafiar o seu olfato é o primeiro passo. A ideia é procurar por experiências que estão no nosso dia a dia, na nossa rotina. Por exemplo, o cheiro de terra molhada nos dias de chuva, o ar salitrado da praia no dia ensolarado, o respirar limpo do campo ou do alto da montanha. Cada um será um registro único e pessoal. A pessoa que está ao seu lado terá, necessariamente, impressões diferentes das suas.

Aromas caseiros também são importantes, como os temperos usados na sua culinária, a mistura de cheiros de uma quitanda ou mercado, incluindo os que não são agradáveis. Um ótimo exemplo é o das ruas e calçadas após uma feira livre.

Para os que tem um viés mais científico, o Disco dos Aromas e os kits de essências, como o Nez du Vin são boas ferramentas.

O passo seguinte é associar toda essa experiência ao momento que sentimos os aromas de um vinho recém-aberto. Muito importante é ter em mente que sempre existirá um leque de opções e não um único e monótono cheiro. Se não identificar mais que um ou dois não significa que é um problema, com o tempo outros surgirão. O objetivo é registrar as associações dos aromas vínicos com o (seu) olfato. Serão únicas. É a chave para futuras aventuras nesse universo.

Para não deixar dúvidas, vinhos que foram abertos e novamente arrolhados, vão desenvolver novos aromas. Alguns deles indicativos da qualidade da bebida: se for estranho, descarte.

A partir do momento que dominarmos, com confiança, esta técnica teremos uma poderosa ferramenta que vai nos ajudar e entender as razões pelas quais apreciamos determinados vinhos e não gostamos de outros. Depois do binômio cor/visão, a dupla olfato/aromas é quem vai reger a nossa capacidade de apreciar ou rejeitar.

Um corolário importante é desenvolver a habilidade de identificar as melhores harmonizações, algo muito bem visto entre os apreciadores de vinho: evitem aromas que não se combinam.

Desafio lançado, caminho e ferramentas indicadas. Só depende de cada um.

Saúde e bons vinhos e bons aromas!

Foto de abertura: “The smell of the portuguese wine” por pedrosimoes7 está licenciada sob CC BY 2.0

Oxidação e Redução

São dois termos que causam muita confusão no mundo dos vinhos, até para os mais experientes. Podem ser interpretados como bênção ou maldição, tudo vai depender da forma como cada um for empregado.

Para entender do que estamos falando, tentem responder estas questões:

– O que significa cada um desses termos: vinho oxidado, vinho oxigenado, vinho reduzido e vinificação redutiva?

– Seria possível um defeito do vinho ser visto como uma qualidade?

– Um vinho pode estar oxidado e reduzido, ao mesmo tempo?

Vamos esclarecer estes pontos sem transformar este texto e uma aula de química.

Diz-se que um vinho está oxidado quando ele foi muito exposto ao oxigênio (do ar) e passa a apresentar uma coloração mais escura, tendendo ao marrom (tijolo), com aromas que lembram frutas secas (amêndoas, nozes etc.) ou maçãs muito maduras. No paladar perde o frescor e já começa a fazer referências aos sabores avinagrados. Um defeito muito comum em garrafas mal arrolhadas ou nas que foram adegadas incorretamente permitindo o ressecamento da cortiça e a entrada, indesejável, de ar. Não deve mais ser consumido.

O que torna isso tudo muito complicado é perceber que, ao abrirmos uma garrafa, servir um taça e girá-la, estamos buscando uma forma de oxidação, nesse caso benéfica. Queremos que o vinho “respire”.

No jargão dos enófilos estamos “abrindo” o vinho para que ele nos apresente toda sua gama de aromas e sabores. Muitas vezes usamos decantadores e aeradores para acelerar esse processo. A ideia é acrescentar oxigênio.

Podemos ir mais longe: na elaboração de um vinho podem ser usados processos de micro oxigenação controlada, em busca de melhor cor, sabor e compostos fenólicos bem comportados. Algumas regiões produtoras oxidam, propositadamente, seus vinhos como o Madeira, o Jerez e alguns vinhos da região do Jura, na França.

Em lugar de ser um defeito é uma grande qualidade e traz, a cada um desses produtos, uma característica marcante.

Para não deixar pedra sobre pedra, não se esqueçam dos vinhos que passam por maturação em barris de carvalho, madeira que permite uma quase perfeita micro oxigenação. Isso vale para as boas rolhas de cortiça, também.

Se a oxigenação pode ser benéfica, o vinho reduzido é uma outra história.

Diz-se que um vinho está reduzido quando apresenta aromas de fósforo queimado, ovo podre ou borracha. Geralmente se dissipam com um pouco de aeração. Ocorrem pelo motivo oposto ao da oxidação: pouco oxigênio na sua elaboração.

Em lugar de oxigenar o mosto em alguma etapa da sua elaboração, a técnica denominada “vinificação redutiva” trabalha num ambiente (tanques fechados) sem ar, que pode ser substituído por um gás inerte. O enólogo busca por um maior frescor no seu vinho deixando aromas e sabores bem destacados.

Um bom exemplo são alguns Chardonnay da Borgonha, conhecidos por apresentarem característicos aromas de palito de fósforo. Novamente, um possível defeito se torna uma boa qualidade, destacando a personalidade de uma marca. Muitos especialistas acham errado o termo “vinho reduzido” preferindo usar “vinificação redutiva”. Legislações específicas já exigem que esta técnica seja declarada no contrarrótulo.

Existe uma enfadonha explicação técnica para tudo isso, envolvendo os Compostos Sulfurados Voláteis (CSV), formados durante a fase de fermentação. São responsáveis, não só, pelos aromas estranhos do vinho, como por muitos outros fora desse universo, inclusive o mau hálito…

Para fechar a coluna desta semana, é sim possível um vinho estar oxidado e reduzido ao mesmo tempo.

Alguém se arrisca a uma explicação?

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Foto de ELEVATE no Pexels

EDIÇÃO EXTRA!

Desde o primeiro texto deste blog e por 8 anos seguidos, indiquei um bom vinho, semanalmente. Foi bem divertido e devo ter ajudado muito dos meus leitores. Ainda faço indicações, eventualmente.

Esta edição extra do O Boletim do Vinho é justamente sobre vinhos bons e baratos, mas não estão aqui, nem na foto de abertura, borrada intencionalmente.

Estão neste link: (se preferir, clique na foto)

Vinho Bom e Barato: 6 Rótulos de até R$100 Indicados por Sommeliers e Enófilos

Recebi um convite do site de recomendações, my best Brazil, para indicar um vinho, junto com outros 5 Sommeliers e Enófilos. Cada um selecionou um rótulo e fez uma pequena resenha.

Ficou ótimo, foram boas escolhas.

Não deixem de prestigiar a minha indicação e nem a dos meus parceiros nesta deliciosa aventura: Ana Flávia de Abreu, Cristiane Jardim, Jeriel da Costa, Rodrigo Sitta e Alexandre Santucci.

Feliz 2021!

Listas de fim de ano

São piores que promessas de campanha dos políticos: ninguém as cumpre. Como toda regra que se preza tem exceções, os “Livros de Ouro”, lista de contribuições em dinheiro, continuam populares nas nossas portarias, garantindo um 14º salário para os empregados.

Resolvi que na última matéria do ano eu vou escrever sobre as minhas listas, sejam elas de melhores ou piores vinhos, desejos, esperanças e o que mais me vier a cabeça.

Começo pelos vinhos.

O melhor vinho degustado nesse maluco ano de 2020 foi:

Quinta da Ervideira Invisível 2017, um Blanc de Noirs elaborado com a casta Aragonez. Foi degustado antes da pandemia, lá no mês de fevereiro.

Seu contraponto, o pior vinho degustado, foi o Chiroubles 2015 do Domaine Marcel Joubert. É um Cru de Beaujolais, uva Gamay, vinificado por métodos naturais. Não caiu no meu gosto.

As Confrarias

Todas encolheram. Só me recordo de um encontro, no início do ano. O meu grupo principal, a Diretoria, é composto por amigos que estão no grupo de risco, eu inclusive. Ninguém quis se arriscar muito. Somente a partir de outubro aconteceram pequenos encontros, em restaurantes ao ar livre, com no máximo 3 confrades.

Fica o primeiro desejo: que no próximo ano as reuniões sejam mais frequentes para compensar o ano perdido.

Eventos de Degustação

Foram substituídos por “lives” ou degustações virtuais. Nova modalidade onde você fica vendo os outros beberem enquanto chupa o dedo ou paga um rio de dinheiro para ter os mesmos vinhos na sua frente.

Um belo desperdício.

Optei por assistir algumas master classes no Youtube. Consegui não dormir em 1 ou duas, e só. Chaaaaato…

Espero que essa modalidade desapareça naturalmente.

Compras e consumo pessoal

Honestamente, ficou bem mais fácil comprar vinhos durante essa epidemia. Empresas que nunca se preocuparam em vender pela Internet rapidamente se organizaram e colocaram seus portfólios a disposição de todos.

Muitas boas ofertas de lotes de vinhos, o que permitiu organizar compras em grupos, com vantagens para todos.

Meu desejo: que não voltem atrás encerrando as lojas virtuais e nem sobretaxem compras pela rede como anseia um determinado “ministro”.

Mais um desejo: que o vinho seja enquadrado e taxado como alimento e não como artigo de luxo.

Considerações finais

Este foi um ano complexo em vários aspectos. Há muitas lições a serem aprendidas por todos nós. Ficou evidente que a falta de cultura geral, por parte da grande maioria da nossa população, tem causado os maiores danos ao nosso país.

Resumo numa simples frase: Perdemos a capacidade de ter senso crítico!

Preferimos acreditar em redes sociais, em vez de ler, compreender, filtrar e avaliar o que é publicado na imprensa, TV ou rádio, seja nacional ou internacional.

Ninguém verifica mais nada, esta é a nossa verdade.

Por exemplo: recebemos um áudio de alguém que se intitula Dr. Fulano de Tal, de um conhecido Hospital, afirmando barbaridades como “se vc tomar vacina vai ter seu DNA modificado” e todo mundo não só acredita como repassa a mensagem como urgente.

Se você foi um destes, esta mensagem era fajuta…

Meus desejos finais para os próximos anos:

Não acreditem em falsos mitos, profetas, ídolos e assemelhados.

Chequem e rechequem os fatos antes de encaminhar mensagens sensacionalistas.

Deem valor ao seu voto, nas próximas eleições, principalmente os meus conterrâneos cariocas.

Feliz Natal e um ótimo 2021!

Esta coluna entra em recesso de fim de ano.

Créditos:

Foto de abertura: Foto de Hide Obara para StockSnap

Foto de encerramento: Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay 

Wine Spectator TOP 100 2020

Chegou a lista mais esperada do ano pelos “Enófilos de carteirinha” e outros aficionados, a relação dos 100 melhores vinhos deste complicado ano de 2020, escolhidos pela equipe especializada da revista Wine Spectator.

Para começar, apresentamos os 10 melhores:

Um excelente e tradicional tinto espanhol encabeça a lista. Elaborado a partir das castas Tempranillo e Mazuelo. Recebe o título de “Vinho do Ano”. Bela escolha. Está à venda no Brasil, em outras safras.

Um Chardonnay norte-americano é o único branco desta relação de TOP 10, assim como o Champagne Bollinger La Grande Année, que representa a categoria de espumantes.

Um vinho argentino, o Piedra Negra Los Chacayes, poderia ser visto como o estranho no ninho. Nada disso! Já há algum tempo temos alertado para a excelente qualidade dos vinhos produzidos no nosso vizinho e eterno rival futebolístico. Estão melhores a cada dia e não se resumem mais só aos Malbec. Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon e Chardonnay, daquelas terras, não devem nada a nenhum outro.

A lista completa pode ser consultada neste link, em inglês:

https://top100.winespectator.com/lists/

A publicação oficial da revista será no último dia do ano.

Alguns dados curiosos.

Distribuição por países:

Distribuição por tipo de vinho:

O vinhos americanos, franceses e italianos dominaram as indicações. O Cone Sul foi agraciado com 7 indicações, entre Argentina (4), Chile (2) e Uruguai (1), por sinal, um ótimo Tannat, outra casta vista como difícil na Europa e que se adaptou muito bem por aqui.

Uma surpresa foi a pouca presença dos vinhos portugueses, sempre muito fortes em edições anteriores desta publicação. Simplesmente nenhum dos seus famosos vinhos generosos entrou na lista. Coube ao bom Wine & Soul Pintas, um tinto duriense, representar a terrinha, assim mesmo lá na posição 87.

Saúde e bons vinhos!

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