Categoria: O mundo dos vinhos (Page 40 of 82)

Dois concursos importantes

Concursos são ótimas fontes de informação para os enófilos. Há uma infinidade deles, alguns muito mambembes e outro duríssimos e considerados imparciais, como o International Wine Challenge (IWC).

Os resultados da edição de 2021 estão neste link:

IWC  (em inglês)

Nele, vocês poderão pesquisar de diversas formas: por tipo de premiação (Award), pontos atribuídos (Points), país (Country) e muitas outras opções.

Eis alguns destaques.

Na categoria máxima, Trophy (Troféu), 82 vinhos foram premiados. Entre eles, alguns sul americanos:

Vigno 2019, da Vina Undurraga, Vale do Maule, Chile, um belo corte das uvas Carignan e Cinsault;

Gran Sombrero Malbec 2020, da Huentala Wines, Mendoza, Argentina;

Besoain Cabernet Sauvignon 2016, da Besoain Estate, Vale de Maipu, Chile;

55 vinhos brasileiros obtiveram prêmios expressivos com medalhas de prata, bronze e comendas. A maioria são espumantes, com alguns vinhos tranquilos bem conhecidos por aqui:

Casa Valduga 130 Blanc de Noirs, medalha de prata;

Casa Valduga 130 Brut Rosé, medalha de bronze;

Casa Valduga 130 Blanc de Blanc, medalha de bronze;

Destacamos, também, a vinícola Zanoto com 11 prêmios.

A lista completa está no link a seguir.

IWC – Vinhos Brasileiros

Para os que gostam dos sempre surpreendentes vinhos portugueses, o concurso Vinhos de Portugal é um dos mais respeitados. No nosso país há uma grande legião de apreciadores que se dividem nos diversos estilos produzidos por lá, como o Porto, o Madeira, únicos por sinal, e vinhos como os do Alentejo, Dão e Minho, sempre associados com uma cultura gastronômica que tem fortes raízes no Brasil.

A página dos resultados está no link abaixo.

Vinhos de Portugal

São quatro categorias de premiação: prata, ouro, grande ouro e melhores.

Listamos os campeões:

– Melhor do ano e melhor tinto de corte- Quinta Vale D. Maria Vinha da Francisca, 2018, Quinta da Aveleda, Douro. Medalha de prata no IWC;

– Melhor tinto varietal – Grande Rocim, 2017 (Alicante Bouschet), Quinta do Rocim, Alentejo;

– Melhor branco varietal – Falcoaria Vinhas Velhas, 2018 (Fernão Pires), Quinta do Casal Branco, Tejo;

– Melhor branco (corte) – Quinta do Sobreiró de Cima – Reserva, 2019, Quinta do Sobreiró, Douro;

– Melhor espumante – Casa de Santar Vinha dos Amores Espumante Encruzado, 2013, Dão;

– Melhor fortificado – Porto Kopke Colheita 1966, Sogevinus, Douro.

Alguns desses vinhos podem ser encontrados nas boas lojas daqui. Mas olho nos preços.

Saúde e bons vinhos.

Quais vinhos podemos decantar?

Depois do sacarrolhas, o decantador talvez seja o acessório mais importante de um enófilo que realmente aprecia bons vinhos. Ao mesmo tempo, é a ferramenta menos compreendida e usada, acabando seus dias transformada num belo vaso decorativo em cima do balcão do bar.

Vamos mudar isso?

Decantar significa, na química, “passar suavemente um líquido de um vaso para outro, a fim de o separar de impurezas, sedimento ou depósito, que se fixam no fundo”.

O decantador é o vaso para o qual vertemos, lenta e cuidadosamente, o conteúdo de uma garrafa de vinho. Os profissionais realizam esta manobra com toda a pompa e circunstância num show de habilidade. Sommeliers são treinados nesta arte que além de melhorar o vinho que será servido, aumenta a expectativa dos que vão prová-lo em seguida.

Em casa podemos ser menos requintados e mais práticos, mas nada de pressa: decantar é uma operação que leva tempo e pede paciência.

Um dos fatores colaterais é aumentar a oxigenação do vinho, fazendo com que ele “abra”, termo do jargão corrente, indicando que os aromas podem ser percebidos com maior intensidade, influindo diretamente na etapa de degustação.

Se os decantadores foram pensados para limpar os vinhos de resíduos típicos de vinificação sem filtragem ou por longa guarda, o uso mais comum, atualmente, é funcionar como um aerador, liberando de forma mais rápida todo o seu potencial.

Colocado dessa forma, logo imaginamos vinhos tintos: os de safra mais antigas devem ser decantados, e os mais jovens, que ainda estão muito fechados, só têm a ganhar quando são vertidos num dos muitos tipos de garrafas decantadoras.

Vinhos brancos beneficiam-se, igualmente. Os espumantes, inclusive Champagne, também podem ser decantados embora parte do perlage seja perdida. Um dos estilos mais atuais, denominado “sobre as borras” (sur lie) deve passar por uma decantação antes de ser servido. O processo mais comum é fazê-lo na própria garrafa, mantendo-a na posição vertical por, pelo menos, 12 horas antes de abrir e servir, cuidadosamente.

É muito tempo? Não desanimem, há vinhos que devem ser decantados por até 24 horas antes de serem consumidos.

Para complicar um pouco as coisas, nem todo vinho deve ser decantado. A satisfação pessoal é o mais relevante nesse momento. Se você aprecia vinhos na sua forma mais primitiva, assim como saem da garrafa, não hesite e esqueça o decantador.

Por outro lado, quanto mais antigo o vinho, mais crítica é a decantação. Vinhos com 20 anos, ou mais, de guarda podem ter pouco tempo de vida logo após uma decantada.

O controle do tempo é peça chave na decantação: pouco tempo não muda nada e muito tempo pode ser um desastre. Quem sabe não seria melhor não decantar nesse caso?

Uma das coisinhas que não se deve fazer é agitar uma garrafa que vai ser decantada. Planeje antes e, dependendo das sua condições de armazenamento, deixe-a na vertical por alguma hora antes de abrir e processar.

Por último, higiene absoluta no seu decantador: o risco de contaminar um vinho é grande se resíduos de outros usos estiverem presentes.

Não é fácil lavar um acessório como este, cheio de curvas de difícil acesso. Existem no mercado algumas escovas e esferas de aço que ajudam nesta operação. Se pretendem usar algum tipo de detergente, que seja absolutamente neutro e sem cheiros. O correto é usar só água quente.

Saúde e bons vinhos, decantados ou não.

Foto de abertura: “Wine Decanters” por Rod Waddington está licenciada sob CC BY-SA 2.0

O mercado de vinhos pós epidemia

Um dos piores efeitos colaterais, resultante das tentativas de conter a propagação do vírus COVID-19, foi uma devastação na área comercial. Diversos tipos de negócios não sobreviveram ao fechamento, mesmo temporário, ou não conseguiram se adaptar e trabalhar de forma remota ou online, criando um comércio eletrônico (e-commerce), por exemplo.

Um dos segmentos que sobreviveu e cresceu de forma inesperada foi o dos vinhos. O brasileiro, que nunca chegou a fazer parte das estatísticas de consumo, passou a arranhar a parte inferior dos gráficos que medem esse aspecto. No meio de tantas coisas preocupantes, essa é uma ótima notícia que traz no seu bojo mais uma novidade, a descoberta dos bons vinhos finos produzidos no país. Algumas vinícolas conseguiram zerar seus estoques!

Um dos fatores que contribuíram, decisivamente, para esse sucesso foi a grande variedade de lojas on-line que permitiram desde a compra direta do produtor como através de uma rede de revendedores muito confiável. Clubes de vinhos também fazem um excelente trabalho neste segmento. Um único entrave, o frete, tem sido contornado com boa logística e ofertas do tipo combo que simplificam e reduzem as despesas de envio.

Como até mesmo os mais pessimistas esperam o fim deste período de muitas restrições, já há alguma preocupação com as atuais operações de compra e venda, que estão funcionando azeitadinhas. Uma pergunta é comum: será possível manter este esquema no futuro?

Uma resposta afirmativa é o resultado mais provável, mas adaptações serão necessárias. Apresentamos, a seguir, algumas ideias do que pode ocorrer. Não é um exercício de futurologia, apenas uma observação comparativa sobre o que ocorre aqui e em outros países.

1 – A venda direta do produtor vai continuar e ser ampliada. Algumas novidades, principalmente no que se refere a embalagens, estão chegando ao mercado: garrafas mais leves e produzidas com outros materiais, vinho em lata passa a ser uma opção mais comum assim como vinhos melhores vendidos em volumes maiores, por exemplo, em caixas de papelão ou em barriletes para uso doméstico.

As lojas na Internet devem se adaptar para oferecer mais flexibilidade na hora das encomendas. Assim como não tem sentido comprar uma garrafa, somente, nem sempre é interessante adquirir uma caixa de um só vinho. Caixas com um mix de produtos de uma vinícola podem ser opções muito atrativas.

2 – Aproveitando as mudanças climáticas, tão faladas no momento, haverá uma maior variedade de vinhos à disposição dos consumidores. Castas que ficaram esquecidas ou eram apenas coadjuvantes tendem a ser mais exploradas com resultados muito bons. Esperem por produtos inovadores não só no conteúdo como na apresentação. O foco é conquistar jovens consumidores que ainda não embarcaram nesta deliciosa aventura. O ganho é para todos…

3 – Ainda, como consequência das variações climáticas, as vinificações terão um menor teor alcoólico ao final. Os 15% a 17% que são comuns atualmente darão lugar a faixas mais baixa, em torno de 12%, o que é desejável.

Vinhos sem álcool é outro “trend” que aparece com frequência nos noticiários. Será que podemos classificar este tipo de bebida como um vinho? Acho que seria um “suco de uva luxuoso”. Fazendo uma analogia, já existe cerveja sem álcool: apresenta a mesma coloração, tem gosto semelhante, mas não é cerveja…

4 – Novas oportunidades de negócios podem surgir para complementar as vendas diretas do produtor ao consumidor. Um dos grandes problemas é conseguir fretes que não desestimulem a compra. Dentre as soluções viáveis, a de criar uma rede de estocagem para atender localidades fora do grande eixo das capitais pode ser um bom negócio. Desta forma, o custo do frete em grande volume não impactaria muito no preço final do vinho. O consumidor faria uma compra local, em sua cidade. É uma boa oportunidade se planejada corretamente. Lembrem-se que este estoque deve ser mantido em temperatura e umidade controladas.

5 – Embora os custos de um e-commerce não sejam abusivos, para os pequenos produtores nem sempre é viável. Uma das saídas é criar lojas multimarcas on-line reunindo diversas vinícolas de pequeno porte. O segmento dos vinhos naturais já tem algumas soluções nesse caminho. Bom para todos.

6 – Do ponto de vista dos consumidores, as melhores compras poderão ser feitas reunindo um grupo de amigos e aumentando o volume da encomenda. Sempre se obtém melhores preços e, quase sempre, consegue-se que o frete seja por conta do vendedor. Está é uma de nossas regrinhas mais antigas, sempre batemos nesta tecla e vamos continuar batendo.

Boas compras, saúde e bons vinhos!

FOTO: “Wine Store” por mastermaq está licenciada sob CC BY-SA 2.0

Novidades, novidades…

“E pour si muove!”, afirmava Galileu sobre o movimento heliocêntrico da terra. O mundo dos vinhos também está em eterno movimento, sempre surpreendendo os Enófilos mais atentos. A primeira novidade chega a ser um paradoxo: um vinho do Porto da safra de 1896.

A respeitada Taylor’s, seguindo a tradição do raríssimo Porto Scion de 1855 e do Single Harvest (colheita única) de 1863, o último produzido antes da devastação nos vinhedos provocada pela Filoxera, lança este Single Harvest de 1896, uma safra magnífica, já do período de renovação dos vinhedos devastados. Serão 1.700 garrafas, apenas.

A comercialização será feita em luxuosa caixa de madeira de cerejeira que acomodará um decantador de cristal, soprado à mão. Cada peça é única. Acompanha um certificado assinado pelo CEO da Taylor’s, Adrian Bridge.

Preço estimado: € 5.000 (cinco mil Euros)

Porto-Tonic ou simplesmente Portonic, em lata, é o outro lançamento da Taylor’s. Um drink, polêmico, que deve ser preparado com Porto Branco seco, o da Taylor’s é ótimo, e água tônica. Foi pensado para ser uma alternativa ao Gin Tonic, mas nem todo mundo gostou da inovação.

Sou um dos apreciadores desta singular mistura. Mas, sempre que a preparo, tenho que escutar alguma chacota desabonadora. É leve, saborosa, refrescante e com baixo teor alcoólico. Esta nova latinha tem tudo para dar certo.

A propósito: existe uma Caipi-Porto, coquetel que leva Porto Branco seco, limão, gelo e açúcar (opcional). Quem sabe não aparece uma versão em lata também?

Vinhos coloridos propositadamente estão se tornando uma tendência mais que uma novidade. Conheçam o australiano Purple Reign, o primeiro vinho de cor púrpura do mundo.

Elaborado pela vinícola Masstengo, é um corte das castas Semillon e Sauvignon Blanc que recebe um aditivo de origem botânica, uma alternativa ao uso de sulfitos, conferindo essa vibrante coloração ao vinho.

Notas de prova destacam boa mineralidade, acidez equilibrada e discreto paladar vegetal. Um vinho refrescante para ser bebido ainda jovem. 12% de teor alcoólico.

Quem começou esta moda foi um vinho espanhol, o Gik, que escolheu a cor azul como seu cartão de visitas. Foi muito criticado e recebeu algumas proibições, em determinados países, que o impediam de ser comercializado como um “vinho”.

Não surtiu o efeito desejado pelos burocratas. A foto a seguir dispensa comentários.

Saúde e bons vinhos, coloridos ou não!

Fotos obtidas nos sites das vinícolas e em “Under the Moonlight

Vale a pena comprar um vinho premiado?

Numa das boas confrarias das quais participei houve uma cisão por conta da grande diferença de qualidade entre os vinhos levados pelos confrades. Dois grupos se formaram: aqueles que só se interessavam por vinhos com pedigree e os que compravam vinhos no esquema do custo x benefício.

O assunto esquentava quando alguém preferia um vinho muito barato, comprado na oferta do mercado da esquina, em vez de um consagrado e muito premiado rótulo cheio de medalhinhas. Nunca houve consenso entre os confrades resultando na divisão, definitiva, em duas outras confrarias.

Muito mais do que egos feridos, a análise deste problema envolve uma generalização que, em condições normais, não poderia deixar dúvidas: vinhos premiados deveriam ser melhores que os demais. Mas nem sempre isso é verdadeiro, nos levando a acreditar numa segunda forma de universalizar esses fatos, onde vinhos baratos podem ser melhores do que vinhos caros. Tampouco é verdadeiro.

Um dos grandes prazeres de um enófilo é dedicar algum tempo e dinheiro para garimpar vinhos. Pode ser numa boa loja em sua cidade, numa viagem e, atualmente, numa navegada pelos sites de vendas on-line. Apesar das ajudas indiretas dos mecanismos de pesquisas e de uma infinidade de aplicativos de análise de vinhos, se a escolha recair entre duas garrafas, uma com prêmios e a outra não, temos uma forte inclinação em ficar com a primeira.

Concursos são uma poderosa ferramenta de marketing. Por outro lado, existem diversos tipos de concursos, cada um com um foco, com juízes mais ou menos ecléticos, que podem distribuir prêmios a quase todos os produtos que participam ou apenas para uns poucos, considerados como melhores. Não é uma tarefa fácil, para o consumidor final, filtrar todas as informações pertinentes e separar o joio do trigo.

Alguns resultados desses concursos já entraram para o mundo das lendas, principalmente aqueles que envolveram marcas consagradas, que ninguém discute se é um bom vinho ou não: juízes de uma destas avaliações depreciaram uma determinada safra enquanto outro grupo a colocou nas alturas. Cada cabeça uma sentença.

Aqui vai o primeiro conselho: o prêmio vale apenas para aquele concurso. Generalizar é muito arriscado. A decisão foi feita com base em uma análise técnica, com regras bem determinadas. Mas é uma prova comparativa entre todos os vinhos inscritos. O prêmio de melhor significa, apenas, que ele foi um produto superior naquela oportunidade. Para decidir se vale a pena investir os nossos recursos num rótulo desses, precisamos conhecer quem foram os avaliadores e quais eram os outros produtos na mesma categoria.

Pode parecer fantasioso, mas existem vinícolas que organizam concursos regionais quase que só com os seus vinhos e se autoproclamam “os melhores”, esquecendo de citar que se restringem a uma microrregião produtora. Uma antiga anedota, sobre 3 lojas numa mesma rua, demonstra bem esta ideia: a primeira escreveu no seu letreiro, “a melhor do mundo”; Seu vizinho, espertamente, escreveu, “a melhor do universo”; O terceiro concorrente simplesmente colocou em seu anúncio “a melhor da rua” e liquidou a fatura. A analogia é imediata: os concursos são as ruas do mundo dos vinhos.

Outro aspecto importante é a finalidade que se vai dar a um vinho premiado.

Se o objetivo for guardar a garrafa por um tempo em busca de uma evolução que agrade ao nosso paladar, usar estes resultados pode ser um bom ponto de partida. Nas análises feitas nestas degustações comparativas sempre aparecem indicações favoráveis a guarda ou não.

Para os que buscam uma indicação de um bom vinho para o seu consumo habitual, não basta aceitar tacitamente a premiação. Devemos analisar os outros pontos já mencionados, além do preço: um prêmio faz com que o valor suba rapidamente. Como os concursos se repetem anualmente, é interessante manter um pequeno histórico dos produtores que nos interessam. Assim, pode-se ter uma boa fotografia do desempenho de seus produtos, permitindo uma boa compra antes mesmo da premiação.

Por fim, se a ideia for apenas estabelecer um status ou impressionar os amigos, você nem deveria estar lendo esta coluna agora. Corra na loja e compre os rótulos com mais medalhas.

Saúde e bons vinhos!

Créditos: Foto por Tatiana Rodriguez em Unsplash

« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑