Categoria: O mundo dos vinhos (Page 42 of 77)

Se não der certo, a gente tenta de novo…

Um dos maiores comunicadores do Brasil, o saudoso Chacrinha, foi muito feliz ao modernizar a “Lei de Lavoisier” quando cunhou sua célebre frase “na TV nada se cria, tudo se copia”.

Certamente estaria se divertindo ao perceber a extensão que sua máxima atingiu nos epidêmicos dias de hoje: chegou ao mundo dos vinhos.

Talvez aproveitando a patuscada de um de nossos questionáveis Ministros de Estado, quando sugeriu que se aproveitasse o momento para “passar a boiada”, alguns gananciosos e pouco brilhantes dirigentes de entidades reguladoras da produção vinícola nacional, resolveram ir por este caminho ao tentarem ressuscitar a tentativa de impor (que tal?) salvaguardas ao vinho nacional, limitando a importação de produtos estrangeiros.

Nem ao menos foram originais.

Em 2012, um outro grupo, que provavelmente ainda tem alguns representantes neste bloco atual, tentou, sem sucesso, esta mesmíssima manobra.

Vários subtítulos poderiam ser aplicados a esta coluna:

– Memória curta…

– Tem gente que nunca aprende.

– Já vimos este filme!

Vamos aos fatos:

Deunir Argenta (já sabem qual é a vinícola?), Presidente da UVIBRA (União Brasileira de Vitivinicultura), enviou ofício ao Ministério da Economia, endossado por duas outras entidades a AGAVI (Associação Gaúcha de Vinicultores) e a FECOVINHO (Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul), solicitando diversas medidas de cunho protecionista para o vinho nacional, entre elas, duas mal disfarçadas cláusulas de salvaguardas:

– Criação de um mecanismo de controle de importações, mediante aprovação prévia das licenças de importação, como forma de criar barreiras não tarifárias para o ingresso de vinhos importados (vinhos e espumantes) por, pelo menos, 5 anos.

– Proibir o ingresso de vinhos e espumantes que não atendam os estritos termos da Lei brasileira de vinhos no que tange aos Padrões e Identidade e Qualidade estabelecidos. Veja-se a possibilidade legal existente para vinhos chilenos na sua legislação interna, que permite o uso de água, os quais transitam no Brasil, onde a prática é proibida.

A reação negativa foi imediata, seguida de uma patética tentativa de desmentir o que foi solicitado, acreditando no que hoje se tornou a prática comum, impor (olha ele de novo aí gente!) uma possível falta de entendimento.

As explicações do Sr. Argenta não convenceram nem a ele mesmo.

Uma atitude simplesmente covarde, em todos os sentidos.

O consumidor brasileiro de vinhos não é ignorante e nem inculto. Percebeu rapidamente a nefasta manobra e se manifestou disposto a um novo boicote, nos mesmo moldes do que foi, objetivamente, feito em 2012.

Logo agora que, por conta do voluntário isolamento social, o enófilo mais atento redescobriu os bons vinhos brasileiros. O consumo aumentou de modo muito satisfatório, o que estimulou algumas empresas a aumentarem a oferta de vinhos de boutique, brasileiros, que são difíceis de serem encontrados nos lojas e mercados.

Nosso especial aplauso para a Evino que está com ótimas promoções para os vinhos das vinícolas Don Giovanni, Bertolini e Cainelli. Se não conhecem, se apressem, os lotes são pequenos e os vinhos excelentes.

Para os demais, a ganância falou mais alto. Em lugar de lutar por redução de impostos e taxas, como já fora sugerido anteriormente, preferem continuar com a velha escola de “vamos aumentar tudo e proibir o resto”.

Isto não é nem democrático e nem republicano!

O boicote é a nossa arma e tem se mostrado muito efetiva nestes tempos de pandemia e de descontrole geral da nação: a destrambelhada proposta de um bilionário empresário de assumir uma função no Ministério da Saúde foi logo derrubada na primeira menção de boicotar a suas organizações que incluíam lojas de produtos naturais, cursos de idiomas, material esportivo e redes de fast food.

Mudou de ideia rapidinho…

Para encerrar a conversa:

– Assim como na tentativa anterior, a Salton rapidamente se pronunciou contra esta atitude da UVIBRA. Palmas para ela;

– Adolfo Lona e Luiz Henrique Zanini (Era dos Ventos) fizeram coro com a Salton. Recebem nossa total admiração;

– Uma tremenda vaia para os Argenta! Nunca fui muito fã de seus vinhos. Estes, nunca mais…

“Tem gente que aprende na primeira, tem gente que aprende na segunda. Mas parece que tem gente que não aprende nunca”.

Boicote nestes!

Saúde e bons vinhos brasileiros. Isto basta!

Matéria publicada em 2012: Enófilos unidos jamais serão vencidos

Vinho, bebida para qualquer hora?

“Peaceful” por Laura Jane College está licenciada sob CC BY 2.0

“It’s five o’ clock somewhere”, ou “já são cinco horas em algum lugar” foi um bordão criado pelo comediante norte-americano, Red Skelton, para justificar o início dos trabalhos etílicos em qualquer hora do dia (nos EUA o expediente é de 9:00 às 17:00). Poderíamos adaptar, sem problemas, mudando o horário de final de expediente adotado por aqui.

Brincadeiras à parte, será que existe um momento ou hora específica do dia para se consumir bebidas alcoólicas, vinhos inclusive?

Qualquer Enófilo que se preze sabe da importância dos ritos envolvidos na degustação de um vinho: pesquisar, comprar, adegar, abrir, decantar ou não, servir, olhar, cheira, provar…

Ufa!

E alguns entusiastas acreditam que um determinado horário pode melhorar ou piorar esta experiência…

Temos antecedentes na nossa cultura. Algumas gerações foram tocadas com os famosos comandos “menino/menina tá na hora disto ou daquilo”, que poderia variar desde o temido “estudar”, passando por “tomar banho” e encerrando o dia com “dormir”.

Perguntamos, novamente: depois desta pequena nostalgia, o leitor aceita que exista um “tá na hora do vinho”?

Creio que o denominador comum para entendermos esta colocação está no que significa, verdadeiramente, degustar um vinho. Poderíamos dissertar por várias hipóteses, mas é bem claro que se trata de um prazer. Ninguém abre uma garrafa de vinho por obrigação, nem mesmo os profissionais de serviço do vinho em um restaurante.

Estabelecida esta relação de prazer, resta saber como vamos justificá-la, por exemplo, para compensar um bom ou um mau dia.

Atribuem a Napoleão Bonaparte uma famosa frase, sobre o Champagne:

“Na vitória é merecido, na derrota, necessário!”

Deixando citações de lado, o mais simples é descomplicar e assumir que vamos provar este ou aquele vinho porque estamos com vontade, com desejo, não importando, muito, hora e local. Regras básicas, apenas.

No atual tempo pandêmico há um complicador: não podemos mais dividir nossas descobertas enológicas com os amigos.

É temporário, esperamos!

Mas nos remete, de volta, ao tal horário ideal. Reuniões de confrades são altamente controladas: dia, hora local e tema, pelo menos.

Há quem desfrute um bom vinho em todas as refeições e até um vinho generoso, antes de encerrar o dia.

Há quem só tire a rolha de uma garrafa em ocasiões muito especiais.

Bons Enófilos vão encontrar qualidades mesmo nos vinhos mais simples.

Enochatos vão criticar até os melhores vinhos.

Harmonizadores escolhem o vinho de acordo com o prato.

Os demais, degustam o vinho, com qualquer alimento.

Depois analisam…

Assim é a vida.

Escolham suas turmas e embarquem nelas.

Um último chavão: “A variedade é o verdadeiro tempero da vida, que lhe dá todo o seu sabor!” (William Cowper).

Saúde e bons vinhos!

Desfrutando os vinhos comprados on-line

“Negócio” –  foto criada por Freepik

Comprar nossos vinhos on-line está deixando de ser novidade e começa a se encaixar nas nossas rotinas. Já selecionamos os nossos fornecedores, seja por preço e condições de venda ou, mais importante, pelos rótulos que oferecem.

Uma tendência que está sendo muito bem aceita é a compra nos Kits ou Combos: trios, quartetos e até sextetos. Um grupo de diferentes vinhos com bons preços para tornar o nosso resguardo (lembram?) mais agradável.

Como os leitores procedem ao receber seus pacotes?

Já pensaram nisto?

Aqui vai uma boa dica: higienizem as garrafas recebidas!

Um pano com álcool 70º ou com outra solução desinfetante, à base de cloro ou água sanitária é mais do que suficiente. Cuidado com os rótulos para não os danificar.

Outra tendência que está em voga é degustar estes vinhos numa “live”, usando o jargão do momento. Isto também requer uma preparação.

O ponto de partida é muito simples: já que não podemos desfrutar da companhia física de nossos amigos, garrafas de vinhos são agregadoras, a solução mais perto disto é criar uma videoconferência onde um ou mais vinhos serão degustados e analisados.

Dois estilos são possíveis.

Um, mais informal, onde cada um abre seu vinho e comenta sua escolha, em meio a outros assuntos.

Outra forma, que achamos mais interessante, é escolher um moderador que vai fazer uma apresentação, comentada, de um ou mais vinhos. Poderia ser, por exemplo, as últimas descobertas ou aquisições.

Não precisa degustar todos. Apresente os vinhos e escolha um para ser provado.

Os demais participantes podem abrir a mesma garrafa, se combinado com antecedência, ou fazer comparações com outros rótulos que tenham em casa. Será sempre divertido e instrutivo.

Já pensaram em organizar uma reunião tipo Master Class?

A apresentação poderia ser dividida com mais de um participante. Mas devem fazer um “dever de casa”, antes da reunião.

Os vinhos poderiam ser comprados em regime de grupo, reduzindo os custos. Todos teriam acesso às mesmas garrafas. Um pouco de logística será necessário para distribui-las.

Vamos imaginar uma aula com a casta Malbec. São ótimos vinhos, fáceis de comprar no nosso mercado. A maior oferta é de argentinos. Mas podemos encontrar alguns chilenos e franceses. Há uma pequena produção brasileira.

Inicialmente faríamos uma comparação entre Malbec sem e com madeira. Devem ter a mesma safra, origem e região.

O primeiro tende a ser mais frutado e menos encorpado que o segundo.

A segunda dupla poderia contemplar dois vinhos argentinos de diferentes terroir. Importante nesta degustação é encontrar dois vinhos com processos de vinificação bem semelhantes:

– Ambos passam por madeira ou não;

– mesmo tipo de tanque de fermentação – inox, concreto, madeira;

– Mesma safra;

– Mesmo tipo de garrafa e de fechamento.

Uma boa aula seria comparar dois Malbec mendocinos, um de Lujan e outro do Vale do Uco. Outra opção seria comparar vinhos de Mendoza com seus pares de Salta ou Patagônia.

Uma variante possível seria comparar diferentes tipos de fermentação. Mas vai exigir uma busca mais técnica por estes vinhos. Esta informação só consta das “fichas técnicas”.

A última rodada poderia contemplar as diferenças entre o Malbec francês da região de Cahors com sua cópia sul-americana.

Novamente, valem as recomendações acima.

Talvez seja a mais interessante e instrutiva das aulinhas. Quem já teve a oportunidade de provar um “original” pode avaliar como são muito diferentes os vinhos produzidos na Argentina.

Divirtam-se.

Saúde e bons vinhos!

Antes, durante e depois.

Foto de Tomas Williams para StockSnap

Muita coisa está mudando durante este período de isolamento social. O leque é bem amplo, começando por tarefas domésticas que nunca pensamos fazer, passa por novos hábitos alimentares e chegando na nossa adega e no modo como estamos degustando os vinhos de sempre e como vamos repor nosso estoque.

Muitos amigos estão pedindo ajuda para comprar vinhos on line, o que, para muitos, é uma nova experiência bem diferente do que estão habituados, por exemplo, entrar numa loja e pesquisar, demoradamente, o que vai adquirir. Um ritual que faz parte do prazer de beber um bom vinho.

A compra não presencial é fria, sem graça, baseada numa descrição tipo bula de remédio. Some-se a isto, a dificuldade de encontrar aqueles rótulos que são os nossos “portos seguros”.

As atuais condições da economia nos impõem mais uma dificuldade: preços totalmente fora do padrão. Nunca a famosa relação custo x benefício foi tão relevante.

Sempre há boas alternativas. Serão ainda melhores se adotarmos uma pequena mudança de atitude, deixando o espírito aberto para a experimentação.

Por exemplo; vinhos naturais; Merlot em lugar de Cabernet Sauvignon; Garnacha em vez de Tempranillo. Estas são apenas poucas sugestões. Há muito mais castas, tipos de vinhos e vinificações a serem provadas e comprovadas.

Pensem nas uvas exclusivas de Portugal ou da Itália só para ter uma pequena ideia do mundo que poderá ser descortinado a partir disso.

Que tal deixar, definitivamente, sua zona de conforto?

Não sabemos ao certo quando estas restrições vão ser flexibilizadas ou suprimidas por completo. Todos estamos cheios de esperança e vontade que isto acabe o mais cedo possível.

Só depende de nós, da atitude de cada um. Não pensem só em vocês, pensem na coletividade.

Uma coisa é certa, quando isto acabar, uma grande comemoração se fará necessária, obrigatória, indispensável. Usando um termo bem antigo, um grande “happening”.

Para aumentar as expectativas, esta coluna propõe a seguinte questão:

Que vinho você vai beber na sua comemoração?

Se puder, responda nos comentários desta coluna.

Algumas ideias:

– Espumante, talvez um Champagne;

– Um tinto ou um branco, muito caro, e que nunca provei;

– Vou reunir uma turma para degustar meu melhor vinho;

– Vou tomar 1 garrafa sozinho e no escuro…

Interessante seria pensar, também, no que você não consumiria.

Exemplo?

Pastel do chinês da esquina…

Muita saúde e bons vinhos.

O que é Pétillant Naturel ou Pét-Nat?

Pét-Nat brasileiros no Cru Natural Wine bar

No idioma francês, Pétillant significa efervescente, gasoso, espumante. Junte tudo isto e chame, simplesmente, de avô do Champagne.

Produzido através de um método conhecido como Ancestral, ou uma só fermentação. Parte dela ocorre na garrafa. Os espumantes atuais usam o método tradicional, que prevê duas fermentações, separadas.

Sua descoberta foi acidental. Segundo alguns historiadores do vinho, lá pelos anos 1500, um monge da Abadia Beneditina de Saint Hilaire, França, notou que bolhas estavam se formando no vinho que fora engarrafado no inverno.

Naquela época, a fermentação ainda não era totalmente compreendida e as técnicas de controle eram muito rudimentares. Para os vinhateiros, assim que o vinho parava de fermentar, no clima frio, era a hora de engarrafar.

O que o monge beneditino descobriu, sem saber do que se tratava, foi que com a chegada da primavera e temperaturas mais elevadas, o açúcar residual estimularia a retomada daquela fermentação.

Nascia o Pét-Nat.

Um ponto é muito importante para que se entenda a fundamental diferença para os demais espumantes: esta fermentação na garrafa acontece naturalmente, não é induzida, como no Champagne, por exemplo.

Numa explicação bem simples, o vinho seria engarrafado antes de toda a fermentação ser concluída.

Este processo acabou sendo superado por outras técnicas e ficou esquecido por várias décadas. Somente nos anos 90, novamente, por acaso, o produtor de Vouvray, Christian Chaussard, um dos Papas do vinho natural, notou que o açúcar residual em alguns dos seus vinhos haviam estimulado um novo ciclo fermentativo.

Renascia o Pét-Nat, sob a égide dos vinhos elaborados com pouca interferência ou manipulação.

Foi um longo caminho até 2011, quando pode-se afirmar que estes leves e deliciosos espumantes ganharam popularidade. Se tornaram uma espécie de cartão de visitas dos produtores deste segmento. Estão sendo elaborados em todos os países produtores, cada um com sua personalidade.

São simples, pouco alcoólicos e com regras de produção nada complicadas.

Some-se a isto tudo a sintonia e o respeito com as produções mais artesanais que encantam as gerações do milênio e posteriores. Estes simpáticos vinhos espumantes, com rótulos irreverentes e chapinha de garrafa, voltaram para ficar.

Já tiveram a oportunidade de provar?

Não sabem o que estão perdendo!

Saúde e ótimos Pét-Nat.

« Older posts Newer posts »

© 2025 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑