De alguma forma não se combinam, como água e óleo. Mas é inevitável que o assunto surja nas rodas de conversa das reuniões de algumas Confrarias.
Com tanta informação sendo bombardeada em todas as mídias, inúmeros candidatos ao título de Presidente da República, inclusive um presidiário, mais de 30 partidos políticos, como se fôssemos pluralistas bastantes para compreender e escolher entre tantas ‘ideologias’ diferentes, o tema surge e ressurge a cada nova taça degustada.
Uma das últimas reuniões que participei acabou ficando maçante pela repetição do assunto, a exaustão, inclusive com a pressão exercida por quase todos em busca do voto ao que poderia ser definido como “candidato anti-Lula ou anti-PT”.
Sou capaz de concordar com esta colocação com uma pequena, mas importante ressalva: este ‘anti’ significa, na minha lógica de engenheiro, um sinal de menos, ou negativo (-), que na matemática corresponde ao oposto (de positivo) ou a negação.
É subtrair.
Entre vários goles de vinhos altamente positivos, depois de devidamente provocado, elaborei o texto a seguir e o distribuí entre os confrades.
Estou aguardando, até o momento, uma crítica ou resposta.
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Para começar, pergunto: Leram e compreenderam a nossa Constituição?
Se a resposta for sim, escolham uma das opções abaixo e, caso contrário, leiam, e voltem aqui:
O sistema de governo brasileiro pode ser descrito como:
a) Presidencialismo;
b) Parlamentarismo;
c) Uma Aberração.
Se escolheram as opções (a) ou (b) erraram feio.
A nossa Constituição, promulgada em 05/10/1988, há quase 30 anos, criou um sistema de governo que o Cientista Político Sergio Abranches cunhou como “Presidencialismo de Coalizão”, um verdadeiro monstrengo ou aberração que, infelizmente, é a prova da baixa qualidade da nossa democracia.
Em linhas gerais, fizeram uma salada entre Presidencialismo e Parlamentarismo, criando uma figura de Chefe de Estado, ou de Governo ou do Executivo que nem é um Presidente da República, ipso facto, e nem é um Primeiro Ministro.
O título, disputado em concorridas eleições, é um apelido, apenas.
Tudo que ele pretender fazer dependerá do aval do Congresso, o que significa que precisa ter uma maioria, nas duas Casas Legislativas, ou seja, a tal “coalizão”.
Esta maioria não existe naturalmente e tem que ser conquistada ou comprada, de alguma forma, o que não é barato.
Um ótimo exemplo, recente, que vai ajudar no entendimento deste ponto é o Impedimento da última Presidente eleita.
Achou que era a dona do pedaço e tentou pilotar sozinha. Foi abatida em pleno voo.
O recado foi claro: o Congresso é quem manda neste país.
Entretanto, houve um efeito colateral indesejado: dividiu-se o congresso, a tal ponto, que nenhum entendimento (coalizão) mais é possível, tornando o Governo do Vice, que assumiu a presidência, uma tarefa muito árdua.
A solução foi aumentar a aberração da forma de Governo, agora sob a orientação da mais alta Corte do nosso Judiciário:
Qualquer ato do Executivo passa a ser questionado no “Supremo”, com uma enxurrada de ações que buscam, unicamente, serem julgadas por este ou aquele ministro ou turma, mais politicamente inclinada com a linha de pensamento dos querelantes.
Se, ao menos, fossem juízes de verdade…
Isto se chama “Estado Judicializado”, e estamos vivendo esta estranha experiência.
Para os bons entendedores duas coisas ficam bem claras:
1 – Tudo que os candidatos afirmam que vão fazer é uma mentira deslavada, pois nenhum deles pode garantir, de antemão, que vai ter esta coalizão formada ao ser eleito;
2 – A corrupção, que hoje é revelada pela Operação Lava Jato, é fruto direto desta necessidade imprescindível de formar uma coalizão para poder governar o país. É um princípio constitucional. Acreditem!
Some-se a isto a baixíssima qualidade dos congressistas habitualmente eleitos, uma plêiade de figuras caricatas que incluem atletas aposentados, vencedores de reality shows, artistas de diversas modalidades do entretenimento, os habituais desempregados, descendentes dinásticos das tradicionais oligarquias políticas e assemelhados.
Todos com um traço em comum: representam o ideal do brasileiro médio – subir na vida sem fazer muita força – projetado na imagem do que convencionou-se chamar de “nossos ídolos ou heróis”, todos falsos por sinal.
Elegê-los é um prêmio!
Política, no Brasil, é sinônimo de emprego público vitalício.
Mas e o país?
Levando-se em conta que umas das melhores representações para o nosso desinteresse pelo bem comum é explicada pela conhecida Lei de Gerson, “Gosto de levar vantagem em tudo”, ao que eu acrescento, “o quanto mais rápido melhor”, temos um forte sinal que a cidadania vigente é muito egoísta: o brasileiro só olha para seu próprio umbigo. E na hora do vamos ver ou pega para capar, o que vale é: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. O resto que se exploda…
Faço um plágio a Otto Lara Resende: “O brasileiro só é solidário no câncer”. (e acho que nem isto vale mais…)
Chegamos onde estamos…
A nossa Constituição é tão pouco lida que sou capaz de garantir que nenhum dos candidatos a Presidente a conhece ou a interpreta corretamente. Caso contrário, não falariam o monte de asneiras que estão vomitando em suas ridículas campanhas.
Um boquirroto candidato nordestino, por exemplo, afirma que vai limpar o nome de milhões de brasileiros.
Com que dinheiro?
Parece que não entendeu, ainda, que o estado não produz riquezas, mas gasta toda a riqueza que é produzida por quem trabalha, paga uma fortuna em impostos e não tem nenhum retorno, seja em educação, saúde, transporte ou segurança.
Nem a única estatal que poderia dar algum lucro, a nossa ‘Petrolífera’, não consegue dar um resultado diferente do que um rombo inimaginável.
Quem já passou por uma escola de Administração de Empresas conhece a história: 3 entre os 10 maiores lucros são de empresas do setor de óleo e gás. Atualmente são estas: Exxon Mobil, Chevron e PetroChina, que é estatal. Só que lá, corrupto morre, com um tiro pago pela família.
Aqui, a incompetência para administrar e a competência para roubar transformou a Petrobras no maior prejuízo do mundo!
Qualquer das reformas que anunciam (ou não), jamais sairão do papel: política, previdência, tributária, trabalhista (de verdade e não a meia-sola que fizeram), redução do tamanho do estado, etc…
Pura utopia.
O que nos leva a outro traço da nossa cultura: ainda estamos na Idade da Pedra quando acreditarmos que “só com a lei do mais forte” vamos resolver os atuais problemas.
Esta era a forma como os povos primitivos escolhiam seus líderes: quem sobrevivesse a uma disputa dominava o resto.
Povos anteriores à revolução neolítica, chamados genericamente de “caçadores e coletores”, evoluíram muito ao decidir a forma como lidariam com o resultado de seu trabalho. Duas soluções bem distintas se destacaram: a distribuição imediata, de forma igualitária e a distribuição retardada, buscando atender outros interesses, coisa típica de líderes ditatoriais, se é que me faço entender.
Estes foram os modelos para as sociedades modernas atuais.
Por que contei tudo isto?
Para que vocês percebam que nem na Era pré-neolítica chegamos!
Continuamos atrás de um Brucutu qualquer que “resolva o nosso problema”, bem entendido aí que este “nosso” é o meu, que é diferente do seu, que é diferente do dele.
Os que frequentavam o antigo Maracanã vão lembrar deste bordão:
“A SUDERJ informa”: Assim não vai certo…
Qualquer dos candidatos que for eleito não poderá fazer nada, a menos que componha com o Congresso, entregando ministérios, secretarias, agências, etc…
Não importa quem seja o eleito.
– Começo com candidato com um sinal negativo antes do nome. Uma personalidade mais perniciosa que a do pretenso candidato presidiário. Nada além do que o “pinto que canta de galo”. Garantia de que permaneceremos na Idade da Pedra.
Já pararam para pensar em quantos candidatos de seu micropartido vão ser eleitos para o congresso? 1, 2, nenhum?
Com quem ele vai formar algum tipo de coalizão para governar se mantiver este seu discurso, mais apropriado para um Neandertal?
Ou melhor: Quanto vai nos custar a formação desta coalizão?
E tem um monte de eleitores que acreditam nele.
Devem acreditar também em Papai Noel, Coelho da Páscoa e em vinhos de ótima qualidade com preço de banana na feira…
É mais falso que uma nota de 3 reais…
– Sigo com a tentativa de eleger presidente + coalizão pelo famoso Centrão e seus satélites. Três candidatos, pelo menos. Um desesperado esforço para manter tudo como está.
Teoricamente é a melhor chance de acontecer alguma mudança positiva, mas seguida de várias outras de interesses escusos ou duvidosos.
Mais do mesmo…
– Do truculento candidato nordestino nem preciso falar, coronelismo em seu estado mais puro e baixo.
– Há fanáticos religiosos que têm como plano de Governo “entregar tudo a Deus”. Amém!
Isto é a mesma coisa que tenta fazer o Bispo Evangélico e atual Prefeito do Rio de Janeiro, que coloca os ‘obreiros’ da IURD para administrar a cidade, pois serão ‘ungidos por Deus’, e saberão o que fazer. Qual!
Não descobriram, e talvez não tenham a capacidade para fazê-lo, que o Estado Brasileiro é laico, ou secular.
Se tiver dificuldade de compreender estes termos, ajudamos:
LAICO
adjetivo substantivo masculino
1. que ou aquele que não pertence ao clero nem a uma ordem religiosa; leigo.
2. que ou aquele que é hostil à influência, ao controle da Igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as instituições e os serviços públicos.
– Tento compreender como funcionarão as maluquices da esquerda radical que pretende expropriar a propriedade privada ou “ocupar a Casa da Moeda para resolver a dívida pública”.
– Não tenho explicações para a candidata fantasma, aquela que só aparece para assombrar, de quatro em quatro anos. Quem mesmo?
– Termino com a ingenuidade do candidato milionário para quem eu só teria uma pergunta: como você vai governar?
Nenhum deles pode cumprir o que promete.
Acabam se dedicando a fazer conchavos, tramoias e manobras ilícitas, em prol de ninguém menos que eles próprios. A nossa história é repleta de provas e contraprovas…
Se vocês acreditam que os candidatos podem cumprir as promessas de campanha, lamento, mas vocês foram, estão sendo e serão sempre enganados.
Tem solução?
Talvez.
Uma coisa me parece óbvia: é melhor eleger um Congresso forte do que um presidente inútil.
A escolha de nosso voto deve recair nos candidatos mais preparados e que demonstrem real interesse no bem-estar coletivo.
Chega de votos de protestos como Cacareco, Macaco Tião, etc., etc., etc…
Usei o adjetivo ‘preparados’ não como forma de exclusão ou de limitação de raça, cor, gênero ou profissão. Nada disso. Apenas sugiro que os bons candidatos sejam aqueles que cumpriram, pelo menos, o ciclo básico de educação formal, ou seja, todos os graus que são oferecidos pelas escolas públicas. Analfabetos e principalmente os analfabetos funcionais estariam fora.
Atletas e artistas são bem-vindos, desde que tenham esta mínima bagagem e sejam bons exemplos de vida.
Sei que estamos na escala inferior da educação e cultura. Talvez por isto, não tenhamos a ideia do que seja possível. Olho para a outra ponta desta escala e vejo estes exemplos, a seguir. Faço uma comparação direta com os nossos “ídolos ou heróis”:
– O boxeador ucraniano Wladimir Klitschko, medalha de ouro nas Olimpíadas de 1996, Campeão Mundial dos Pesos pesados, é PhD em Ciências do Esporte pela universidade de Kiev e fala 5 idiomas.
Por aqui, aplaudimos o Maguila…
– Shaquille O’Neal, genial jogador de basquete, obteve um PhD em educação com uma interessante tese sobre a bom humor no ensino.
Preferimos premiar Romários e Bebetos, elegendo-os para cargos de Vereador, Deputado, Senador, Governador e, por que não, Presidente…
– Miuccia Prada, designer da famosa marca que leva seu sobrenome e herdeira de uma fortuna estimada em 4 bilhões de dólares, obteve um PhD em moda pela Universidade de Milão.
Enquanto o nosso intelecto se encanta com Benedita da Silva, o único candidato, empresário de sucesso na iniciativa privada que declarou um milionário patrimônio, é atacado por seus pares por ser preparado, honesto, trabalhador e rico…
– Os atores consagrados Gerald Butler e James Franco preferem não dormir sobre os louros. O 1º é graduado em Direito pela Universidade de Columbia. O 2º tem duas graduações, uma em Cinema pela Universidade de Nova York e outra em Literatura de Ficção pelo Brooklin College. Atualmente estuda para obter um título de PhD em Língua Inglesa na Universidade de Yale.
O povo brasileiro se preocupa em quem será na nova companheira de Cauã…
– Brian May, legendário roqueiro do Queen, é um PhD em Astrofísica. Um título que obteve após 35 anos de estudos, necessários para cumprir todos os ritos e ser laureado. Um feito impressionante se levarmos em conta que foi obtido em 1974, no auge da fama de sua banda.
Aqui discutimos se Chico Buarque está certo ou errado, ou se quer ser, apenas, mais um apaniguado do estado, como muitos artistas de regimes comunistas…
Existem bons exemplos, bem brasileiros, tão discretos hoje em dia que quase não são lembrados: Afonsinho, Tostão e Sócrates são alguns poucos atletas, numa lista que não ultrapassa 20 nomes.
Preparados que são, não se envolvem com o lamaçal político nacional (há exceções).
Deu para entender o tamanho da nossa irresponsabilidade e descaso na hora de votar?
Precisamos de líderes que promovam profundas reformas nas nossas leis (nova constituição se for o caso), uma mudança radical no Judiciário, exonerando os atuais tribunais superiores e escolhendo novos juízes por critérios meritórios e não políticos e por último, mas não por fim, uma drástica redução do gasto público, diminuindo efetivamente o número de ministérios, secretarias e outros órgãos, preenchendo os cargos de direção e chefia com quem entende do assunto e não apadrinhados da tal coalizão.
Enquanto a nossa preferência eleitoral for por um ditadorzinho ignorante, falastrão e fanfarrão, dias melhores não virão.
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Este texto foi sendo pensado e maturado ao longo da degustação de alguns grandes vinhos, apresentados a seguir:
• Alfa Crux Blend 2001
• The Chocolate Block 2013
• Sterling Vineyards Limited Edition Celebration Red Blend 2012
• St. Francis Old Vines Zinfandel 2013
Meu voto, nestas eleições, vai para um Vinho, como estes.
Elaborados a partir de boas cepas, colhidas no momento certo. Vinificados por mãos competentes e amadurecidos com toda a dignidade, pelo tempo que for necessário, para se tornarem néctares.
O Brasil bem que poderia copiar a qualidade destes vinhos.
Só depende de nós.