Categoria: O mundo dos vinhos (Page 50 of 73)

Efeitos da Madeira nos Vinhos

O texto anterior a este, “Um Tinto Para o Seu Paladar”, gerou interessantes comentários, entre eles, um que me chamou a atenção para uma dificuldade, do leitor, em identificar a presença de madeira nos vinhos.

Na resposta, destaco que o aroma de baunilha é o indicador mais simples que confirma a passagem de um vinho pelos famosos barris de carvalho, como na foto que ilustra esta matéria.

Identificar os diferentes aromas e sabores presentes numa bebida é quase uma arte e, como tal, exige algum treinamento ou aperfeiçoamento. Nada difícil e laborioso. Pode ser muito divertido adquirir esta capacidade, o que inclui passeios por mercados e feiras livres, experimentando as várias frutas, verduras, legumes e flores.

Para identificar as características adquiridas pelos vinhos que foram armazenados ou fermentados nos recipientes de carvalho, o caminho será outro, ainda assim bem prazeroso.

Eis um plano em duas etapas.

A casta branca Chardonnay será a nossa guia nesta primeira fase. Os dois tipos de vinhos produzidos a partir dela, com e sem madeira, são facilmente identificáveis, permitindo que um leigo treine seu paladar sem dificuldades.

Começamos pela coloração: o vinho que passou por madeira exibe tons mais escuros, amarelo palha, em comparação com um Chardonnay jovem que apresenta uma coloração bem clara, quase transparente.

Na prova olfativa, os vinhos sem madeira apresentam os aromas de frutas, tipicamente maçã verde, abacaxi e nectarina, bem em evidência. Nos madeirados será fácil perceber a presença das notas de baunilha e tostado.

No palato estão as maiores diferenças. Os que passaram por madeira terão aqueles deliciosos e marcantes sabores cremosos e amanteigados em oposição à acidez quase crocante dos vinhos jovens.

Não tem como errar, são quase antagônicos.

Na segunda fase, aplicamos estes princípios aos tintos.

A maioria dos varietais, Cabernet, Merlot, Syrah/Shiraz, e muitas outras, tem versões com e sem madeira.

Para tudo ficar coerente, alguns detalhes são importantes:

– Os vinhos devem ser de um mesmo produtor e se possível dentro de uma mesma safra;

– Não usem vinhos de corte;

– Analisem as fichas técnicas dos vinhos antes de comprá-los. Muitas vezes um determinado vinho varietal não preenche as características ideais para este exercício. Prefira os que declaram ser elaborados com 100% da casta.

Há uma interessante alternativa, por conta de normas de produção bem estruturadas e rígidas: vinhos tintos espanhóis.

Destaco os DOC Rioja, elaborados com Tempranillo.

Serão quatro etapas, correspondendo as tradicionais classificações destes vinhos.

A primeira, chamada comumente de Cosecha, abrange os vinhos com um ou dois anos de produzidos, que não foram amadurecidos ou envelhecidos em tonéis de carvalhos. São jovens, frutados e com muito frescor.

Na segunda denominação, Crianza, vamos encontrar vinhos com três anos de idade, dos quais, um ano em madeira. Já é possível notar os aromas e sabores de baunilha e algumas especiarias. Pouca influência sobres os taninos, embora paladares mais treinados possam perceber uma evolução ao comparar com o Cosecha.

As categorias seguintes, Reserva e Gran Reserva vão apresentar diferenças bem marcantes. Com tempos em barricas que podem chegar a dois anos, o impacto sobre os taninos é dramático. Os sabores frutados dão lugar a camadas mais complexas. A sensação de boca seca é nítida, tornando estes vinhos bem gastronômicos. Quanto mais envelhecerem na sua adega, melhor vão ficar. Justificam aquele velho ditado…

Os caminhos estão apresentados. Trilhá-los é sua responsabilidade.

Saúde, bons vinhos e bom treino!

Vinho da Semana: um Crianza, para começar a educar o paladar.

Rioja Bodegas Ramirez Crianza Tempranillo 2013

Cor vermelho rubi profundo com reflexos violáceos. No nariz a característica de frutas vermelhas combinam com toques de madeira e especiarias. Na boca é saboroso, picante e estruturado, com notas de baunilha e café e um bom equilíbrio entre o vinho e o carvalho. O final é longo e com um sabor pronunciado.

Harmoniza com: carnes na brasa com pouco tempero, molhos à base de aves para massas (pato, ganso), Pernil/Paleta de Cordeiro e queijos amarelos, de macios a duros.

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Um Tinto Para o Seu Paladar

Estamos cercados de tantas informações, muitas vezes divergentes ou conflitantes, que a simples escolha de um vinho para nos acompanhar se torna uma batalha:

Desta região ou daquela?

Esta casta, outra casta ou um corte?

Jovem ou envelhecido?

Pontuado ou não?

Isto sem falar no preço, muitas vezes o principal limitador para (não) atingirmos aquele patamar que foi considerado como o ideal.

A má notícia é que, resolvidas todas estas questões, podemos não gostar do vinho comprado. A razão é muito simples: o nosso paladar não combinou com alguma característica desta vinificação. Ocorre mais do imaginamos.

A proposta deste texto é sugerir um outro caminho a ser percorrido na hora de escolher um vinho: agradar o seu paladar.

Não é nada complicado. Exigirá, apenas, um pouco de dedicação e de momentos que podem ser de grande satisfação ao identificarmos, entre quatro opções, quais são as características de um vinho tinto que nos agradam.

O caminho é: Acidez, Corpo, Taninos e Teor Alcoólico.

Para cada uma destas qualidades existe um vinho que vai nos explicar ou melhor que vai ativar os nossos sensores, permitindo avaliar o grau de satisfação que nos passam.

Uma boa analogia é aquele conhecido provérbio chinês: “Uma imagem vale mais que mil palavras”. (Confúcio)

O melhor vinho para provarmos e sentirmos o efeito da Acidez mais elevada num tinto são os Pinot Noir. Originalmente produzidos na Borgonha, hoje tem representantes em todos os países produtores. Obviamente, há diferenças entre cada origem.

A principal sensação transmitida por este vinho é um efeito refrescante, quase uma leve gaseificação, deixando a boca úmida e o paladar limpo. O equilíbrio entre os taninos e acidez é o que induz aos conhecidos sabores frutados.

Outras castas produzem vinhos similares, entre elas a Grenache/Garnacha.

O Corpo de um vinho é um dos descritores mais usados por quem faz análises e as divulga, seja nos contrarrótulos ou em publicações especializadas. Para entender, de forma definitiva, o que é um vinho encorpado, o caminho é provar um Syrah/Shiraz de boa origem.

Aromas e sabores bem marcantes, como chocolate, ameixa preta, um pouco de tabaco e algumas especiarias. A sensação após a prova é muito aveludada, macia, amanteigada.

Os vinhos elaborados com a casta Malbec, na Argentina, são uma boa opção para confirmar esta preferência.

A marca registrada dos vinhos tintos são seus Taninos. Estão presentes em todos eles, não importa a casta ou a origem. Mal vinificados, ficam adstringentes e desagradáveis. Mas se o Enólogo tem mão boa, se torna a alma do vinho.

Os famosos Cabernet Sauvignon são considerados muito tânicos e apreciados por isto. Após uma prova, fica a sensação de boca seca, pedindo algum alimento untuoso, o que faz deste tipo de vinho o companheiro quase perfeito para as carnes gordas.

Se este for o caminho a ser seguido, vamos pesquisar, também, Merlot, Chianti, e o Tempranillo riojano.

Teor Alcoólico é a última característica a ser avaliada. Tudo vai depender da quantidade de açúcar contido nas uvas que será convertido em álcool (etanol). Atualmente são comuns vinhos com teores acima de 15%, o que tem gerado uma saudável discussão sobre como diminuir estes valores. Há vinhos no mercado com 17,5% de TA.

Uma das castas campeãs nesta área é a Zinfandel, que produz vinhos com uma sutil doçura, remetendo a fruta madura.

Vinhos generosos, como Madeira e Porto são outros bons pontos de partida para entendermos como se comporta a variação do teor alcoólico.

As cartas estão na mesa, a regra do jogo é clara. Escolha o seu caminho e prove o máximo que puder. Não é preciso gastar uma fortuna atrás do vinho ideal. Prove o que está no mercado e ao alcance do seu bolso.

Para entender um bom vinho de corte, basta associar a característica que mais nos agradou com as castas que estão na vinificação.

Saúde e bons vinhos tintos!

Vinho da Semana: um interessante corte de Tempranillo e Garnacha.

Caño Tempranillo Garnacha 2015

Apresenta intensa cor cereja com reflexos violeta, com aromas de frutas do bosque. Em boca é frutado com final longo. Medalha de prata no Vinhos do Mundo 2016

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Vinhos São Divertidos

Olhem atentamente para esta foto. Leitores mais antigos reconhecerão, facilmente, alguns dos confrades à mesa. Chamo atenção para o “terroir” onde a foto foi tirada: mesas e cadeiras de plástico, talheres comuns, taças chamadas ‘meio cristal’ e sem maiores requintes, um improvisado balde de gelo feito a partir de um pote de margarina envolto em folha de alumínio e guardanapos de papel, é claro.

Estamos, literalmente, na calçada, ao ar livre.

Alguém parece aborrecido com isto?

Pelo contrário, foi um belo almoço, a comida lá é maravilhosa!

O mais importante é que não havia nem pompa e nem circunstância para preocupar ninguém. Como peixes e frutos do mar eram a tônica do cardápio, os vinhos brancos e espumantes foram os coadjuvantes perfeitos.

Degustamos alguns estilos bem diferentes entre si: Vinho Verde, Sauvignon Blanc e Chardonnay. Cada um levou o que achava mais adequado, sem stress.

Existem enófilos que dedicam muito tempo na hora de escolher um vinho. Analisam se é para sua adega, presentear ou para levar para um encontro. Se preocupam demasiadamente com detalhes que, provavelmente, vão passar despercebidos na hora de serem degustados. Nem sempre resultado corresponde a tanta dedicação.

Esquecem que o melhor propósito, na hora de abrir e compartilhar um vinho, é a diversão.

Sem querer esgotar este assunto, há alguns erros que todos cometemos, talvez por desconhecimento ou simplesmente por temer alguma gafe no momento da escolha, na conversa com o Sommelier de um restaurante, ou mesmo nas reuniões informais, como a da foto que ilustra este texto.

Relaxem!

A primeira recomendação é:

– O mundo do vinho não é para ser levado tão a sério, como você imagina.

Reconheço que é intimidador entrar numa loja de vinhos e encarar as prateleiras cheias opções. Mesmo num supermercado as ofertas podem parecer confusas demais.

No fundo, somo nós que complicamos. Seguir algumas regrinhas básicas, neste momento, pode ser tudo o que se precisa para ficar com um sorriso no rosto.

Se vale um conselho, não compre um vinho só porque tem um rótulo bonito, nome interessante e é barato.

Responda esta questão: estou comprando para mim ou para outra pessoa?

As razões de cada resposta podem ser diametralmente opostas, mas não deveriam ser.

Mais uma recomendação:

– Presenteie com os mesmos vinhos que você gosta e está habituado a comprar. Não invente. Não saia da sua zona de conforto.

Esta afirmação vale também para quando você for instado a levar o vinho que será servido.

Esqueça a harmonização perfeita ou o que dizem os especialistas. Se lhe pediram ajuda é porque confiam no seu bom gosto. E isto basta.

Há um corolário importante: nunca presenteie ou leve, de surpresa, um vinho para uma comemoração imaginando que será servido. Isto pode ser um grande transtorno para o anfitrião. É o show dele, não o seu…

Uma última recomendação:

– Ouse sempre que puder, mas com você primeiro.

Nada é mais divertido do que fazer novas descobertas. Mas antes de revelar o seu novo tesouro, tenha certeza que poderá ser apresentado para seus pares, sem causar estranhezas.

Para fazer novas escolhas com segurança, não hesite em pedir ajuda aos profissionais que atendem nas boas lojas ou leia a opinião dos principais críticos. Mas não fique só nisto. Forme o seu próprio conceito a respeito de uma descoberta recente. Leia rótulo e contrarrótulo, pesquise um pouco sobre a região produtora e sobre a casta, se lhe for desconhecida. Prove ele puro e acompanhado de um alimento, qualquer um, sem se preocupar em harmonizar nada.

Tire suas próprias conclusões e seja feliz.

Se achar que pode compartilhar com os amigos, melhor: expandiu sua zona de conforto.

Saúde, bons vinhos e muita diversão!

Vinho da Semana: o nosso parceiro, Casa Rio Verde/Vinho Clube está com ótimas ofertas de trios e quintetos.

Trio Espanha – $$

– Vinho Tinto Espanhol Casa Maria Tempranillo 2015

– Vinho Tinto Espanhol La Villa Real Tempranillo Roble La Mancha D.O. 2015

– Vinho Tinto Espanhol Gran Campellas Crianza 2013

Ótima oportunidade para descobrir novos aromas e sabores.

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Mitos Revisitados

Um artigo recente, publicado em revistas especializadas e jornais de grande circulação, afirmava que o consumo de bebidas alcoólicas, vinhos inclusive, em qualquer quantidade, é prejudicial à saúde.

Mais uma tentativa de desmontar o famoso mito, chamado de Paradoxo Francês: 1 taça por dia de vinho faz muito bem à saúde.

Quem está com a razão?

Gosto de avaliar estes problemas desde a origem. Fico com uma incômoda curiosidade e me pergunto, quem poderia promover um estudo em grande escala, em pleno século XXI, sobre os efeitos do álcool no corpo humano.

A melhor resposta, na minha opinião, está nos Movimentos da Temperança, muito populares a partir de 1820. Conseguiram aprovar várias leis, em diversos países, proibindo o consumo de bebidas alcoólicas, apostas em jogos de azar, consumo de drogas, inclusive tabaco, tudo em busca de uma vida perfeita. Obviamente, eram calcados em princípios religiosos.

Alguma coisa me diz que estamos voltando a estes velhos tempos.

Esta coluna vai se “abster” de publicar qualquer outra nota sobre este tema. Não há mais como verificar o que é bom ou ruim.

Fica uma única recomendação: consuma com moderação.

Enquanto uma faceta da evolução cultural olha para trás, outra olha para o futuro, sempre em busca de novas soluções tecnológicas que melhorem a vida de todos.

O cultivo de uvas viníferas e a produção de vinhos têm evoluído muito nos últimos anos, graças a múltiplas pesquisas que entregaram resultados fantásticos, permitindo que o Wine Business, antes restrito a uma estreita faixa geográfica, pudesse ser desenvolvido em todo o mundo, com excelentes resultados.

Tecnologia de ponta.

Um dos mitos mais tradicionais, o da safra, está passando por uma reavaliação por conta destas inovações. Hoje pode se fazer um grande vinho a partir de qualquer condição climática ou de terroir: a safra deixou de ser determinante na escolha de um vinho.

A frase, “19xx foi um grande ano”, virou cartão de visitas dos Enochatos.

Como consequência, duas tradicionais afirmações ou mitos, deixam de ter sentido:

– Os vinhos desta ou aquela região, são os melhores deste ano;

– Uma determinada casta é escolhida como a melhor da temporada.

É fácil compreender que estas colocações estão ficando fora de contexto. Não há mais uma razão objetiva para esta preferência setorizada. Com a tecnologia existente, podemos obter vinhos interessantes em qualquer lugar e em qualquer época.

Para melhorar as coisas, castas que ficaram esquecidas, por serem de difícil cultivo ou complicadas para se utilizar na vinificação, ressurgem, ainda que modestamente, mas com grande potencial.

As castas nobres que se cuidem…

Para terminar esta revisão de alguns mitos, não podemos deixar de abordar o tema “fechamento das garrafas”.

Entre as falhas mais temidas pelos vinhateiros está a contaminação da rolha de cortiça por TCA ou Tricloroanisol, um composto químico decorrente da presença de fungos na cortiça.

Deixou de ser um problema grave.

Uma das melhores notícias recentes é que já existem rolhas à prova de TCA. Diversos produtores já as disponibilizam para seus clientes.

Isto reduz, consideravelmente, as discussões sobre qual o melhor método de fechamento de uma garrafa. A escolha passa a ser quase que por motivos de preço final ao consumidor. Dependendo do local de produção, umas das múltiplas soluções existentes no mercado, pode ser a ideal.

Tecnicamente, as diferenças de resultados obtidos entre cortiça, materiais sintéticos, vidro ou a polêmica, mas eficiente, tampa de rosca, ficam no campo dos detalhes imperceptíveis para o consumidor comum.

Termino como comecei: “In Vino Veritas”.

Saúde e bons vinhos!

Vinho da Semana: um interessante italiano, elaborado com uvas pouco conhecidas – Groppello, Marzemino e um pouco de Barbera e Sangiovese

Trepió Benaco Bresciano IGT 2010

“Pió” de Terre é uma medida de superfície muito comum na Lombardia. Os produtores deste ótimo vinho consideram que “3 Pió” é uma medida ideal.

Encorpado, frutado, boa acidez e taninos na medida. Harmoniza bem com carnes, peixes em molhos suculentos e queijos maduros.

100% vegano.

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Vinho e Política

De alguma forma não se combinam, como água e óleo. Mas é inevitável que o assunto surja nas rodas de conversa das reuniões de algumas Confrarias.

Com tanta informação sendo bombardeada em todas as mídias, inúmeros candidatos ao título de Presidente da República, inclusive um presidiário, mais de 30 partidos políticos, como se fôssemos pluralistas bastantes para compreender e escolher entre tantas ‘ideologias’ diferentes, o tema surge e ressurge a cada nova taça degustada.

Uma das últimas reuniões que participei acabou ficando maçante pela repetição do assunto, a exaustão, inclusive com a pressão exercida por quase todos em busca do voto ao que poderia ser definido como “candidato anti-Lula ou anti-PT”.

Sou capaz de concordar com esta colocação com uma pequena, mas importante ressalva: este ‘anti’ significa, na minha lógica de engenheiro, um sinal de menos, ou negativo (-), que na matemática corresponde ao oposto (de positivo) ou a negação.

É subtrair.

Entre vários goles de vinhos altamente positivos, depois de devidamente provocado, elaborei o texto a seguir e o distribuí entre os confrades.

Estou aguardando, até o momento, uma crítica ou resposta.

==========

Para começar, pergunto: Leram e compreenderam a nossa Constituição?

Se a resposta for sim, escolham uma das opções abaixo e, caso contrário, leiam, e voltem aqui:

O sistema de governo brasileiro pode ser descrito como:

a) Presidencialismo;

b) Parlamentarismo;

c) Uma Aberração.

Se escolheram as opções (a) ou (b) erraram feio.

A nossa Constituição, promulgada em 05/10/1988, há quase 30 anos, criou um sistema de governo que o Cientista Político Sergio Abranches cunhou como “Presidencialismo de Coalizão”, um verdadeiro monstrengo ou aberração que, infelizmente, é a prova da baixa qualidade da nossa democracia.

Em linhas gerais, fizeram uma salada entre Presidencialismo e Parlamentarismo, criando uma figura de Chefe de Estado, ou de Governo ou do Executivo que nem é um Presidente da República, ipso facto, e nem é um Primeiro Ministro.

O título, disputado em concorridas eleições, é um apelido, apenas.

Tudo que ele pretender fazer dependerá do aval do Congresso, o que significa que precisa ter uma maioria, nas duas Casas Legislativas, ou seja, a tal “coalizão”.

Esta maioria não existe naturalmente e tem que ser conquistada ou comprada, de alguma forma, o que não é barato.

Um ótimo exemplo, recente, que vai ajudar no entendimento deste ponto é o Impedimento da última Presidente eleita.

Achou que era a dona do pedaço e tentou pilotar sozinha. Foi abatida em pleno voo.

O recado foi claro: o Congresso é quem manda neste país.

Entretanto, houve um efeito colateral indesejado: dividiu-se o congresso, a tal ponto, que nenhum entendimento (coalizão) mais é possível, tornando o Governo do Vice, que assumiu a presidência, uma tarefa muito árdua.

A solução foi aumentar a aberração da forma de Governo, agora sob a orientação da mais alta Corte do nosso Judiciário:

Qualquer ato do Executivo passa a ser questionado no “Supremo”, com uma enxurrada de ações que buscam, unicamente, serem julgadas por este ou aquele ministro ou turma, mais politicamente inclinada com a linha de pensamento dos querelantes.

Se, ao menos, fossem juízes de verdade…

Isto se chama “Estado Judicializado”, e estamos vivendo esta estranha experiência.

Para os bons entendedores duas coisas ficam bem claras:

1 – Tudo que os candidatos afirmam que vão fazer é uma mentira deslavada, pois nenhum deles pode garantir, de antemão, que vai ter esta coalizão formada ao ser eleito;

2 – A corrupção, que hoje é revelada pela Operação Lava Jato, é fruto direto desta necessidade imprescindível de formar uma coalizão para poder governar o país. É um princípio constitucional. Acreditem!

Some-se a isto a baixíssima qualidade dos congressistas habitualmente eleitos, uma plêiade de figuras caricatas que incluem atletas aposentados, vencedores de reality shows, artistas de diversas modalidades do entretenimento, os habituais desempregados, descendentes dinásticos das tradicionais oligarquias políticas e assemelhados.

Todos com um traço em comum: representam o ideal do brasileiro médio – subir na vida sem fazer muita força – projetado na imagem do que convencionou-se chamar de “nossos ídolos ou heróis”, todos falsos por sinal.

Elegê-los é um prêmio!

Política, no Brasil, é sinônimo de emprego público vitalício.

Mas e o país?

Levando-se em conta que umas das melhores representações para o nosso desinteresse pelo bem comum é explicada pela conhecida Lei de Gerson, “Gosto de levar vantagem em tudo”, ao que eu acrescento, “o quanto mais rápido melhor”, temos um forte sinal que a cidadania vigente é muito egoísta: o brasileiro só olha para seu próprio umbigo. E na hora do vamos ver ou pega para capar, o que vale é: “Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. O resto que se exploda…

Faço um plágio a Otto Lara Resende: “O brasileiro só é solidário no câncer”. (e acho que nem isto vale mais…)

Chegamos onde estamos…

A nossa Constituição é tão pouco lida que sou capaz de garantir que nenhum dos candidatos a Presidente a conhece ou a interpreta corretamente. Caso contrário, não falariam o monte de asneiras que estão vomitando em suas ridículas campanhas.

Um boquirroto candidato nordestino, por exemplo, afirma que vai limpar o nome de milhões de brasileiros.

Com que dinheiro?

Parece que não entendeu, ainda, que o estado não produz riquezas, mas gasta toda a riqueza que é produzida por quem trabalha, paga uma fortuna em impostos e não tem nenhum retorno, seja em educação, saúde, transporte ou segurança.

Nem a única estatal que poderia dar algum lucro, a nossa ‘Petrolífera’, não consegue dar um resultado diferente do que um rombo inimaginável.

Quem já passou por uma escola de Administração de Empresas conhece a história: 3 entre os 10 maiores lucros são de empresas do setor de óleo e gás. Atualmente são estas: Exxon Mobil, Chevron e PetroChina, que é estatal. Só que lá, corrupto morre, com um tiro pago pela família.

Aqui, a incompetência para administrar e a competência para roubar transformou a Petrobras no maior prejuízo do mundo!

Qualquer das reformas que anunciam (ou não), jamais sairão do papel: política, previdência, tributária, trabalhista (de verdade e não a meia-sola que fizeram), redução do tamanho do estado, etc…

Pura utopia.

O que nos leva a outro traço da nossa cultura: ainda estamos na Idade da Pedra quando acreditarmos que “só com a lei do mais forte” vamos resolver os atuais problemas.

Esta era a forma como os povos primitivos escolhiam seus líderes: quem sobrevivesse a uma disputa dominava o resto.

Povos anteriores à revolução neolítica, chamados genericamente de “caçadores e coletores”, evoluíram muito ao decidir a forma como lidariam com o resultado de seu trabalho. Duas soluções bem distintas se destacaram: a distribuição imediata, de forma igualitária e a distribuição retardada, buscando atender outros interesses, coisa típica de líderes ditatoriais, se é que me faço entender.

Estes foram os modelos para as sociedades modernas atuais.

Por que contei tudo isto?

Para que vocês percebam que nem na Era pré-neolítica chegamos!

Continuamos atrás de um Brucutu qualquer que “resolva o nosso problema”, bem entendido aí que este “nosso” é o meu, que é diferente do seu, que é diferente do dele.

Os que frequentavam o antigo Maracanã vão lembrar deste bordão:

“A SUDERJ informa”: Assim não vai certo…

Qualquer dos candidatos que for eleito não poderá fazer nada, a menos que componha com o Congresso, entregando ministérios, secretarias, agências, etc…

Não importa quem seja o eleito.

– Começo com candidato com um sinal negativo antes do nome. Uma personalidade mais perniciosa que a do pretenso candidato presidiário. Nada além do que o “pinto que canta de galo”. Garantia de que permaneceremos na Idade da Pedra.

Já pararam para pensar em quantos candidatos de seu micropartido vão ser eleitos para o congresso? 1, 2, nenhum?

Com quem ele vai formar algum tipo de coalizão para governar se mantiver este seu discurso, mais apropriado para um Neandertal?

Ou melhor: Quanto vai nos custar a formação desta coalizão?

E tem um monte de eleitores que acreditam nele.

Devem acreditar também em Papai Noel, Coelho da Páscoa e em vinhos de ótima qualidade com preço de banana na feira…

É mais falso que uma nota de 3 reais…

– Sigo com a tentativa de eleger presidente + coalizão pelo famoso Centrão e seus satélites. Três candidatos, pelo menos. Um desesperado esforço para manter tudo como está.

Teoricamente é a melhor chance de acontecer alguma mudança positiva, mas seguida de várias outras de interesses escusos ou duvidosos.

Mais do mesmo…

– Do truculento candidato nordestino nem preciso falar, coronelismo em seu estado mais puro e baixo.

– Há fanáticos religiosos que têm como plano de Governo “entregar tudo a Deus”. Amém!

Isto é a mesma coisa que tenta fazer o Bispo Evangélico e atual Prefeito do Rio de Janeiro, que coloca os ‘obreiros’ da IURD para administrar a cidade, pois serão ‘ungidos por Deus’, e saberão o que fazer. Qual!

Não descobriram, e talvez não tenham a capacidade para fazê-lo, que o Estado Brasileiro é laico, ou secular.

Se tiver dificuldade de compreender estes termos, ajudamos:

LAICO

adjetivo substantivo masculino

1. que ou aquele que não pertence ao clero nem a uma ordem religiosa; leigo.

2. que ou aquele que é hostil à influência, ao controle da Igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as instituições e os serviços públicos.

– Tento compreender como funcionarão as maluquices da esquerda radical que pretende expropriar a propriedade privada ou “ocupar a Casa da Moeda para resolver a dívida pública”.

– Não tenho explicações para a candidata fantasma, aquela que só aparece para assombrar, de quatro em quatro anos. Quem mesmo?

– Termino com a ingenuidade do candidato milionário para quem eu só teria uma pergunta: como você vai governar?

Nenhum deles pode cumprir o que promete.

Acabam se dedicando a fazer conchavos, tramoias e manobras ilícitas, em prol de ninguém menos que eles próprios. A nossa história é repleta de provas e contraprovas…

Se vocês acreditam que os candidatos podem cumprir as promessas de campanha, lamento, mas vocês foram, estão sendo e serão sempre enganados.

Tem solução?

Talvez.

Uma coisa me parece óbvia: é melhor eleger um Congresso forte do que um presidente inútil.

A escolha de nosso voto deve recair nos candidatos mais preparados e que demonstrem real interesse no bem-estar coletivo.

Chega de votos de protestos como Cacareco, Macaco Tião, etc., etc., etc…

Usei o adjetivo ‘preparados’ não como forma de exclusão ou de limitação de raça, cor, gênero ou profissão. Nada disso. Apenas sugiro que os bons candidatos sejam aqueles que cumpriram, pelo menos, o ciclo básico de educação formal, ou seja, todos os graus que são oferecidos pelas escolas públicas. Analfabetos e principalmente os analfabetos funcionais estariam fora.

Atletas e artistas são bem-vindos, desde que tenham esta mínima bagagem e sejam bons exemplos de vida.

Sei que estamos na escala inferior da educação e cultura. Talvez por isto, não tenhamos a ideia do que seja possível. Olho para a outra ponta desta escala e vejo estes exemplos, a seguir. Faço uma comparação direta com os nossos “ídolos ou heróis”:

– O boxeador ucraniano Wladimir Klitschko, medalha de ouro nas Olimpíadas de 1996, Campeão Mundial dos Pesos pesados, é PhD em Ciências do Esporte pela universidade de Kiev e fala 5 idiomas.

Por aqui, aplaudimos o Maguila…

– Shaquille O’Neal, genial jogador de basquete, obteve um PhD em educação com uma interessante tese sobre a bom humor no ensino.

Preferimos premiar Romários e Bebetos, elegendo-os para cargos de Vereador, Deputado, Senador, Governador e, por que não, Presidente…

– Miuccia Prada, designer da famosa marca que leva seu sobrenome e herdeira de uma fortuna estimada em 4 bilhões de dólares, obteve um PhD em moda pela Universidade de Milão.

Enquanto o nosso intelecto se encanta com Benedita da Silva, o único candidato, empresário de sucesso na iniciativa privada que declarou um milionário patrimônio, é atacado por seus pares por ser preparado, honesto, trabalhador e rico…

– Os atores consagrados Gerald Butler e James Franco preferem não dormir sobre os louros. O 1º é graduado em Direito pela Universidade de Columbia. O 2º tem duas graduações, uma em Cinema pela Universidade de Nova York e outra em Literatura de Ficção pelo Brooklin College. Atualmente estuda para obter um título de PhD em Língua Inglesa na Universidade de Yale.

O povo brasileiro se preocupa em quem será na nova companheira de Cauã…

– Brian May, legendário roqueiro do Queen, é um PhD em Astrofísica. Um título que obteve após 35 anos de estudos, necessários para cumprir todos os ritos e ser laureado. Um feito impressionante se levarmos em conta que foi obtido em 1974, no auge da fama de sua banda.

Aqui discutimos se Chico Buarque está certo ou errado, ou se quer ser, apenas, mais um apaniguado do estado, como muitos artistas de regimes comunistas…

Existem bons exemplos, bem brasileiros, tão discretos hoje em dia que quase não são lembrados: Afonsinho, Tostão e Sócrates são alguns poucos atletas, numa lista que não ultrapassa 20 nomes.

Preparados que são, não se envolvem com o lamaçal político nacional (há exceções).

Deu para entender o tamanho da nossa irresponsabilidade e descaso na hora de votar?

Precisamos de líderes que promovam profundas reformas nas nossas leis (nova constituição se for o caso), uma mudança radical no Judiciário, exonerando os atuais tribunais superiores e escolhendo novos juízes por critérios meritórios e não políticos e por último, mas não por fim, uma drástica redução do gasto público, diminuindo efetivamente o número de ministérios, secretarias e outros órgãos, preenchendo os cargos de direção e chefia com quem entende do assunto e não apadrinhados da tal coalizão.

Enquanto a nossa preferência eleitoral for por um ditadorzinho ignorante, falastrão e fanfarrão, dias melhores não virão.

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Este texto foi sendo pensado e maturado ao longo da degustação de alguns grandes vinhos, apresentados a seguir:

• Alfa Crux Blend 2001

• The Chocolate Block 2013

• Sterling Vineyards Limited Edition Celebration Red Blend 2012

• St. Francis Old Vines Zinfandel 2013

Meu voto, nestas eleições, vai para um Vinho, como estes.

Elaborados a partir de boas cepas, colhidas no momento certo. Vinificados por mãos competentes e amadurecidos com toda a dignidade, pelo tempo que for necessário, para se tornarem néctares.

O Brasil bem que poderia copiar a qualidade destes vinhos.

Só depende de nós.

 


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