Categoria: O mundo dos vinhos (Page 9 of 72)

Se eu gosto, o vinho é bom…

Este pode ser considerado como um parâmetro universal, mas não é suficiente para classificar um vinho como “bom”.

O reverso desta moeda, se me permitem a franqueza, é que existem enófilos que não gostam de vinhos reconhecidamente bons e há outros enófilos que se emocionam com zurrapas feitas a partir de qualquer coisa, inclusive uvas de mesa.

Uma comprovação desta última afirmação é encontrada nas prateleiras de vinhos de qualquer mercado brasileiro. Lá está um campeão de vendas, um grande “meme” e personagem de diversas anedotas entre os amigos do vinho. A qualquer hora destas, aparece como sinônimo de vinho ruim, num dicionário …

Definir o que é um bom vinho não é tarefa fácil, são inúmeros fatores que devem ser considerados.

Quando aprendemos sobre vinhos, somos levados a acreditar que os melhores produtos vêm desta ou daquela região. Que determinadas castas, chamadas “nobres”, vinificam melhor que as outras. Há ainda a imprecisa definição de “terroir”, onde solo, clima, orientação do vinhedo e até a qualidade da mão de obra se tornariam determinantes para a elaboração de um bom vinho.

Obviamente, o “eu gosto” simplifica e resolve toda esta mixórdia, mas qual é o seu verdadeiro alcance?

Vinho não é um produto de prateleira. Um bom amigo, que antes de se iniciar na arte desta bebida, achava que vinhos eram produzidos por encomenda ou necessidade. Na sua imaginação, acreditava que o vinhateiro chegava na cantina e decidia: hoje vou produzir tal vinho.

Nada mais longe da verdade. É exatamente o oposto: um produtor se preocupa, diariamente, com “o que será possível produzir”!

Cada safra é uma história diferente. Sempre haverá muito trabalho e dedicação para se chegar a um “bom vinho”.

Algum tempo depois desta verdadeira epopeia, esta garrafa chega em nossas mãos e vamos provar.

Será que o “eu gosto” basta?

Aqui vai uma pequena verdade quase esquecida por nós, apreciadores: existe uma forma de “terroir” na hora de degustar um vinho. Assim como existem diversos fatores, para o produtor, existem outros tantos, de outras ordens, para os que vão consumir a bebida.

Apenas para citar alguns: o ambiente; a companhia ou a ausência dela; a comida; a temperatura; a taça…

Uma experiência simples e esclarecedora é experimentar um mesmo vinho em duas situações bem diferentes, por exemplo, numa degustação solo e outra, em divertidas companhias. O resultado será bem diferente.

Outra, clássica, envolve camarões e vinho tinto, mistura que, invariavelmente, resulta num desagradável gosto metálico. O vinho, por melhor que seja, fica ruim.

Para acrescentar mais um tempero nesta crônica, existem vinhos que são chamados de “fáceis de beber”. São saborosos, têm boa textura no palato, harmonizam com vários tipos de alimentos, estão numa faixa de preços muito acessível e podem ser consumidos imediatamente.

Quase imbatíveis, mas tudo isto não basta para serem considerados “bons vinhos”. Apenas nos agradam.

Que tal comparar com um vinho clássico?

Um daqueles que só conseguimos comprar depois de um planejamento e poupança. Além disto, temos que adegá-lo por alguns anos.

É uma outra história.

Se um era “imbatível” este é “incomparável”. Há muitos outros fatores envolvidos que podem ser diretamente comparados com a dedicação do enólogo que o produziu.

Perceberam a diferença?

Como bons enófilos, devemos, cada um a seu modo, criar uma noção própria de um “terroir” degustativo. Em lugar de nos adaptar aos vinhos, devemos buscar os produtos que se adequem ao nosso “território”.

Este é o caminho dos bons vinhos.

Saúde e boas degustações.

CRÉDITOS:

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Vinho tem que ser tinto?

Acreditem, há muitos apreciadores de vinho que pensam exatamente assim e são cheios de argumentos para defender esta ideia.

Por exemplo, gostam de alegar, com algum fundamento, que a complexidade de aromas e sabores de um tinto de primeira linha é insuperável. Outra afirmação bastante comum é sobre sua versatilidade para harmonizar com diversos alimentos. Há, ainda, quem ache o aspecto visual muito importante, complementando com a sempre presente ideia de que é mais saudável, o que é um ponto muito questionável.

Excetuando este último fato, não há nada que desabone as demais colocações, mas é preciso levarmos em conta alguns outros aspectos. Os vinhos tintos são bebidas para climas mais frios, o que pode, por si só, explicar boa parte desta preferência. Até sua cor escura e opaca é reconfortante.

Mas enquanto o mundo gira (e a Lusitana roda…), a OIV, Organização Internacional da Vinha e do Vinho, publicou, em 2023, uma pesquisa sobre a produção e consumo de vinho, baseada na sua coloração. (OIV Focus 2023)

Surpreendeu a todos!

A soma dos dados observados para vinhos brancos e rosados, superou a dos vinhos tintos, pela 1ª vez.

Este resultado confirma uma tendência surgida há duas décadas, pelo menos, indicando uma mudança na preferência dos consumidores.

Há um grande peso introduzido pelas novas gerações de consumidores que preferem vinhos mais leves ou mesmo nenhum vinho, optando por outras formas de consumir bebidas alcoólicas. Em alguns segmentos, preferem se manter abstêmios.

Desta atitude, surgem ou ressurgem “velhas novidades”, como uma certa idolatria pelo Gin e seus múltiplos coquetéis, Tequila, Mezcal e até a nossa boa pinga.

Com relação ao vinho, preferem os chamados “naturais”, oriundos de vinhedos manejados de forma orgânica e vinificações elaboradas com a técnica de “mínima intervenção”.

Um comportamento de difícil explicação, algo como uma ida para o futuro com as técnicas e ferramentas do passado.

“Há algo no ar além dos aviões de carreira”, diria o Barão de Itararé, pseudônimo do Jornalista e Escritor, Aparício Torelly. Até nas garrafas de vinho as novas gerações de consumidores estão provocando mudanças. Materiais como papelão e alumínio parecem que vieram para ficar. Vidro, por sua “alta pegada de carbono”, virou o vilão da vez.

Alguns dados da pesquisa

– A produção e demanda de vinhos tintos vem caindo desde 2004. No começo deste século, os tintos eram responsáveis por cerca de 48% do mercado. Hoje respondem por 43%. Uma queda significativa. A maior perda foi na Europa. Nas Américas, Austrália e África do Sul houve um ligeiro acréscimo.

– Com relação aos brancos, a produção e consumo vem crescendo desde o ano 2000. Em 2013 superou as marcas do vinho tinto e, nesta última avaliação, atingiu 49% do mercado.

– O desempenho dos vinhos rosados também é notável. Partindo de uma posição quase insignificante, atingiu a 8% do mercado ao final de 2021. Os maiores produtores estão concentrados no hemisfério norte, França principalmente. Chile e África do Sul também se destacam. Os grandes consumidores são os EUA, Alemanha, Inglaterra e França.

Alguém ainda concorda que “vinho é tinto”?

Saúde e bons vinhos!

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Imagem de Freepik

Vamos brindar com um “Kalte Ente” (Pato Frio)?

Há muitas maneiras de celebrar as festas de fim de ano. São tradições que foram importadas de outras culturas. Nosso Papai Noel veste roupas adequadas para um rigoroso inverno em plena canícula carioca de 40º…

Este princípio vale, também, para as ricas comidas que serão servidas nas fartas mesas das nossas famílias e se estende nas bebidas.

Foi pensando nisto que resolvemos resgatar uma receita de origem alemã, uma bebida gelada e refrescante, à base de vinhos e muito fácil de preparar: o “Kalte Ente”.

Traduzido literalmente vira “Cold Duck” em inglês ou “Pato Frio” no nosso idioma.

A origem deste primo dos Ponches festivos tem algumas variantes. A mais aceita nos relata que um Príncipe da Saxônia, Clemens Wenceslaus Von Sachsen, tinha o hábito de misturar as sobras das diversas garrafas de vinho servidas no jantar, tintos, brancos e espumantes e degustar esta combinação para ter um “kalte ende” ou uma bebida fria, ao final de sua refeição substituindo um café ou chá.

Curiosamente, a ideia vingou e esta mistura começou a ser copiada em outros lugares, com ligeiras variações. Isto acabou alterando a pronúncia do nome original: “ende” que significa fim, virou “ente” que é pato.

Coube a um bar em Detroit, o Pontchartrain Wine Cellars, que pertencia a um imigrante alemão, o Sr. Harold Borgman, criar a versão norte americana, desta bebida, que fez enorme sucesso.

Um produtor de espumantes pegou carona na fama desta bebida e lançou o “Cold Duck”, bastante popular até hoje.

Não existe uma receita exata desta deliciosa e divertida bebida de festa. Na Alemanha, terra de fabulosos vinhos brancos, costumam usar os seguintes ingredientes:

2 partes de vinho Riesling seco;

2 partes de vinho Mosela meio seco;

2 partes de vinho espumante brut

Folhas de erva cidreira, coentro, capim limão ou rodelas de limão

2 colheres de suco de limão

2 colheres de açúcar, açúcar de baunilha ou fava de baunilha

2 partes de água mineral gasosa

Gelo

Inúmeras variações desta fórmula podem ser elaboradas, inclusive com vinhos tintos e rosados. As ervas aromáticas são opcionais, escolham 1 ou 2 no máximo.

A doçura é outro ponto delicado. Um truque que pode ficar muito agradável é usar um de nossos espumantes de uva Moscatel, com dois vinhos brancos secos. Prove e ajuste a seu gosto.

Tradicionalmente é apresentado em jarrões de vidro transparente, para que todos os ingredientes sejam vistos. Se um de vocês é da “velha guarda” e ainda tem aquela poncheira ganha no seu casamento, chegou a hora de tirar a poeira e usar, com concha e tudo.

Sirvam em taças, canecas, copos, potes com tampa, enfim, qualquer recipiente de vidro claro pode ser usado.

Decore com rodelas de limão, laranja ou com as ervas utilizadas. Podem beber de canudinho!

Uma coisa garantimos: tenham mais garrafas à mão para preparar novos lotes. Neste calorão que estamos enfrentando é a bebida ideal.

Saúde e bons vinhos!

Nossa coluna entra em recesso até janeiro.

Feliz Natal e um grande Ano Novo!

Créditos:

Foto de abertura por vecstock no Freepik

Qual a sua lista de vinhos para Natal e Ano Novo?

Enófilos, de boa cepa, adoram escolher estas datas para abrir seus melhores vinhos. Nem sempre os convidados estão à altura das preciosidades que serão servidas, o que pode gerar uma grande frustração por parte do anfitrião.

Além de serem ocasiões muito especiais, as ceias de Natal ou de Ano Novo têm características próprias, como troca de presentes ou aquele desejo de ter um ano melhor que o anterior, resultando que vinhos e alimentos quase não sejam tão importantes quanto se imagina.

É muito desapontamento abrir aquela garrafa guardada com tanto zelo e carinho e nenhum dos convivas tecer comentários emocionados sobre o que está degustando. Pior, podem reclamar…

Esta seleção de vinhos tem que ser feita com muito critério, vários fatores terão que ser levados em consideração.

– Qualidade ou custo?

Este é um ponto chave. Estas reuniões tendem a ser longas, com numerosos convidados e as quantidades de bebidas consumidas podem extrapolar qualquer orçamento.

Espumantes são obrigatórios. Mas não precisa ser um Champagne. Temos excelentes produtos nacionais, com preços mais que aceitáveis. Também não precisa ser aquela manjada “Cidra”.

O serviço pode ser feito durante toda a festa ou apenas num brinde. Calculem 2 a 3 pessoas por garrafa, no primeiro caso, ou 8 pessoas no segundo.

– Harmonizando

Harmonizar com o cardápio também é importante. Há uma certa tendência para os brancos e rosados. Vinhos tintos leves e frutados são boa opção. Saladas, tender, bacalhau e aves são as presenças mais comuns. O nosso clima tropical também pede vinhos menos encorpados e mais frescos.

Pinot Grigio, Sauvignon Blanc e Chardonnay que não passou por madeira são opções ideais. Tintos como Pinot Noir, Barbera e Gamay (Beaujolais) são aceitáveis. Devem ser servidos entre 6º C (brancos) e 12º C (tintos).

Calculem 1 garrafa para até 4 pessoas.

Vinhos que possam ser comprados por até R$ 90,00, por garrafa, são a melhor opção. Podemos gastar um pouco mais nos espumantes. Brut, por favor.

– A garrafa especial

Muitas vezes sonhamos com uma oportunidade para desarrolhar e compartilhar um de nossos melhores vinhos. Para dar certo, é preciso fazer algum planejamento e avaliação.

O primeiro ponto são os convidados: quantos e quem são.

Baseado no cálculo acima, com uma única garrafa especial só vamos oferecer uma taça para 8 pessoas ou 2 taças para 4 pessoas, e acabou…

Pensem nisto antes de decidir.

Como é bastante comum que as pessoas se dividam em grupos, muitos enófilos separam uma ou duas garrafas especiais que serão degustadas “en petit comité”. Se alguém, de outro grupo, reclamar desta exclusividade, convide-o para provar ou leve tudo para a brincadeira com uma tirada como “este é o vinho da diretoria”.

– Para a sobremesa

Não é um hábito consolidado no nosso país, mas servir um vinho doce para acompanhar a sobremesa, neste caso, sobremesas, é simplesmente delicioso.

Há muitas e boas opções entre vinhos nacionais e sul-americanos. Os chamados Late Harvest (colheita tardia) são perfeitos para a “farandole” dos doces tradicionais desta época.

Mas há um que se destaca.

Vem de Portugal e, assim como aquela garrafa toda especial, pode, sozinho, demonstrar todo o bom gosto e conhecimento do anfitrião: Vinho do Porto!

Com rabanadas, é uma experiência inesquecível.

Não precisa ser um vintage. Um bom Ruby ou um LBV são perfeitos.

Os vinhos de sobremesa devem ser servidos refrescados.

Saúde, bons vinhos e ótimas comemorações!

CRÉDITOS: Imagem de Freepik

Presentes para o amigo enófilo

Presentear os nossos amigos que adoram vinhos nem sempre é uma tarefa simples. Existem presentes óbvios, como uma garrafa de vinho, o que traz dificuldades adicionais, por exemplo, como saber se vai agradar ou o quanto gastar neste presente.

A proposta da nossa coluna semanal é fugir do batido e presentear com objetos que são sempre necessários e bem-vindos. Elaboramos uma pequena lista, a seguir.

– Rolhas para vinhos tranquilos e para espumantes

Existem em diversos formatos e cores. Algumas incluem uma bomba de vácuo para aumentar a vida de um vinho depois de aberto. Preferimos as de silicone para os vinhos tranquilos e as metálicas para os espumantes.

Os preços giram em torno de 20 reais para as metálicas. As de silicone são vendidas em conjunto por um valor semelhante.

– Cooler térmico

Dois modelos são mais comuns, uma manta que enrola uma garrafa e o outro, tipo uma luva que veste a garrafa. Servem para vinhos tranquilos e espumantes. No verão brasileiro são imprescindíveis, até para aquele tinto que exige um “microclima” para ser degustado.

Preço em torno de 100 reais.

– Bolsa para transporte de garrafas

Outro acessório de grande utilidade. Pode ser uma simples bolsa de lona com alças largas para pendurar no ombro até sofisticadas e caras bolsas de couro que, além das garrafas, podem levar taças e outros acessórios.

Nossa sugestão recai nas mais simples, de Neoprene e térmicas, para um par de garrafas, pelo menos.

Preços a partir de 50 reais.

– Saca rolhas profissional

Nada melhor do que uma boa ferramenta na hora do serviço do vinho. Apresentamos dois modelos de saca-rolhas: o da direita é chamado de modelo Sommelier; o da esquerda é conhecido como “pinça” ou lâminas paralelas.

Existem inúmeros outros modelos, sofisticados e caros, que na hora “H” falham por que esquecemos de colocar pilhas ou carregar pelo USB …

Os modelos sugeridos são “old school” e infalíveis. O de lâminas paralelas é menos conhecido. Foi desenvolvido para abrir vinhos antigos, não estraga a rolha. Pode abrir vinhos novos, sem problemas. Exige algum treino para dominar sua técnica.

Preços em torno de 150 reais para o primeiro e 50 reais para o segundo.

– Decantador e aerador

Dois acessórios muito úteis, principalmente o aerador: pequeno, leve e eficiente. Ambos fazem o mesmo trabalho, em linhas gerais. A vantagem do decantador é permitir a separação de sedimentos, presentes em alguns tipos de vinhos.

Existem aeradores com pequenas telas filtrantes. São mais caros e nem sempre dão conta do recado, colmatando facilmente.

Preços a partir de 50 reais. Para os decantadores de cristal, calculem acima de 200 reais.

– Balde de gelo/Champanheira

Um presente que deve ser avaliado com cuidado, afinal, é uma peça grande e o amigo pode não ter onde guardá-la.

Mas é uma mão na roda, principalmente os que servem como balde de gelo, também.

A nossa sugestão é um modelo como o da foto, onde duas garrafas podem ser acomodadas. Prefiram os de acrílico.

Preços a partir de 20 reais.

Saúde, bons vinhos e ótimos presentes!

Créditos:

Imagem de abertura por Freepik

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