Este pode ser considerado como um parâmetro universal, mas não é suficiente para classificar um vinho como “bom”.
O reverso desta moeda, se me permitem a franqueza, é que existem enófilos que não gostam de vinhos reconhecidamente bons e há outros enófilos que se emocionam com zurrapas feitas a partir de qualquer coisa, inclusive uvas de mesa.
Uma comprovação desta última afirmação é encontrada nas prateleiras de vinhos de qualquer mercado brasileiro. Lá está um campeão de vendas, um grande “meme” e personagem de diversas anedotas entre os amigos do vinho. A qualquer hora destas, aparece como sinônimo de vinho ruim, num dicionário …
Definir o que é um bom vinho não é tarefa fácil, são inúmeros fatores que devem ser considerados.
Quando aprendemos sobre vinhos, somos levados a acreditar que os melhores produtos vêm desta ou daquela região. Que determinadas castas, chamadas “nobres”, vinificam melhor que as outras. Há ainda a imprecisa definição de “terroir”, onde solo, clima, orientação do vinhedo e até a qualidade da mão de obra se tornariam determinantes para a elaboração de um bom vinho.
Obviamente, o “eu gosto” simplifica e resolve toda esta mixórdia, mas qual é o seu verdadeiro alcance?
Vinho não é um produto de prateleira. Um bom amigo, que antes de se iniciar na arte desta bebida, achava que vinhos eram produzidos por encomenda ou necessidade. Na sua imaginação, acreditava que o vinhateiro chegava na cantina e decidia: hoje vou produzir tal vinho.
Nada mais longe da verdade. É exatamente o oposto: um produtor se preocupa, diariamente, com “o que será possível produzir”!
Cada safra é uma história diferente. Sempre haverá muito trabalho e dedicação para se chegar a um “bom vinho”.
Algum tempo depois desta verdadeira epopeia, esta garrafa chega em nossas mãos e vamos provar.
Será que o “eu gosto” basta?
Aqui vai uma pequena verdade quase esquecida por nós, apreciadores: existe uma forma de “terroir” na hora de degustar um vinho. Assim como existem diversos fatores, para o produtor, existem outros tantos, de outras ordens, para os que vão consumir a bebida.
Apenas para citar alguns: o ambiente; a companhia ou a ausência dela; a comida; a temperatura; a taça…
Uma experiência simples e esclarecedora é experimentar um mesmo vinho em duas situações bem diferentes, por exemplo, numa degustação solo e outra, em divertidas companhias. O resultado será bem diferente.
Outra, clássica, envolve camarões e vinho tinto, mistura que, invariavelmente, resulta num desagradável gosto metálico. O vinho, por melhor que seja, fica ruim.
Para acrescentar mais um tempero nesta crônica, existem vinhos que são chamados de “fáceis de beber”. São saborosos, têm boa textura no palato, harmonizam com vários tipos de alimentos, estão numa faixa de preços muito acessível e podem ser consumidos imediatamente.
Quase imbatíveis, mas tudo isto não basta para serem considerados “bons vinhos”. Apenas nos agradam.
Que tal comparar com um vinho clássico?
Um daqueles que só conseguimos comprar depois de um planejamento e poupança. Além disto, temos que adegá-lo por alguns anos.
É uma outra história.
Se um era “imbatível” este é “incomparável”. Há muitos outros fatores envolvidos que podem ser diretamente comparados com a dedicação do enólogo que o produziu.
Perceberam a diferença?
Como bons enófilos, devemos, cada um a seu modo, criar uma noção própria de um “terroir” degustativo. Em lugar de nos adaptar aos vinhos, devemos buscar os produtos que se adequem ao nosso “território”.
Este é o caminho dos bons vinhos.
Saúde e boas degustações.
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