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Portugal e as novas denominações vinícolas da EU – 1ª parte

Com a intenção de padronizar as diversas formas de denominação de vinhos utilizadas dentro do mercado comum da União Europeia, foi elaborada uma regulamentação a ser adotada por todos os países produtores. Basicamente são reconhecidas duas categorias de vinhos, os “Vinhos de Mesa” e os “Vinhos de Qualidade Produzidos em Regiões Determinadas.” Nesta última é que se enquadram os vinhos de “Indicação Geográfica Protegida (IGP)” e os vinhos de “Denominação de Origem Protegida”.
 
Alguns países não estão aceitando estas mudanças facilmente. A França, por exemplo, não quer trocar “AOC” por um “AOP”. Se pensarmos em Alemanha e Itália, com inúmeras denominações regionais importantes, fica fácil perceber que a batalha será longa. Mas há vantagens nesta mudança, tanto para o consumidor quanto para os produtores: para a implantação do novo sistema será necessária uma ampla atualização das regiões demarcadas, o que vai implicar em controles mais rígidos sobre o que será produzido, eliminando o risco do consumidor final comprar ‘gato por lebre’.
 
O primeiro país produtor europeu que se adequou às novas regras foi Portugal, e o fez com muito sucesso. O mapa a seguir, obtido no site “Wines of Portugal”, mostra todas as regiões produtoras com suas novas denominações. Algumas se mantiveram, surgiram novas que não existiam e poucas mudaram de nome (Estremadura virou Lisboa, Ribatejo virou Tejo, etc.)
 
 
Não vamos detalhar as regiões mais tradicionais como Vinho Verde, Porto e Douro, Alentejo, Madeira, entre outras. Vamos olhar o que nos é pouco conhecido. Alguns destes vinhos talvez nunca cheguem por aqui.
 
A região de Trás-os–Montes é quase uma extensão do Douro e produz vinhos e azeites de 1ª qualidade. Subdividida em três sub-regiões: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês; cultivam as seguintes castas:
 
Brancas: Côdega do Larinho, Fernão Pires, Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato, Síria e Viosinho;
 
Tintas: Bastardo, Marufo, Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Trincadeira.
 
A região de Távora e Varosa foi demarcada em 1989 e se dedica a produzir espumantes. Foi a primeira a ser certificada como “DOP” em Portugal para este tipo de vinho. Castas cultivadas: 
 
Brancas: Bical, Cerceal, Fernão Pires, Gouveio e Malvasia Fina;
 
Tintas: Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional.
 
Além destas uvas típicas do país, cultivam a Chardonnay e Pinot Noir, essenciais para espumantes. 
 
Beira do Interior é a região mais montanhosa de Portugal. Seus solos graníticos produzem vinhos muito minerais e bastante típicos.
 
Esta dividida em três sub-regiões: Castelo Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira. As duas primeiras, apesar de separadas por cadeias montanhosas, produzem vinhos muito semelhantes. Cova da beira, que se estende desde a conhecida Serra da Estrela até o vale do Rio Tejo, produz vinhos com características próprias.
 
Principais castas:
 
Brancas: Arinto, Fonte Cal, Malvasia Fina, Rabo de Ovelha e Síria;
 
Tintas: Bastardo, Marufo, Rufete, Tinta Roriz e Touriga Nacional.
Semana que vem mais algumas regiões. Até lá, divirtam-se com a…

Dica da Semana: mais um bom vinho português, elaborado com uma uva internacional.
 

Cortes de Cima Syrah 
Exibe excepcionais frutos silvestres, com especiarias e alguma baunilha. No paladar, os frutos densos estão muito bem integrados, com os taninos do carvalho e o fim de boca persistente e longo.

Tem uma extensa relação de prêmios em várias safras.
 

Decantar: sim ou não?

 O mundo do vinho tem vários temas que geram discussões infindáveis, por exemplo: vinhos do Velho Mundo e do Novo Mundo, algo como comparar austeros senhores que fumam charutos e jogam Bridge, com uma garotada que vai à praia e ao show de Rock and Roll. Mais questionável ainda é a discussão sobre decantar ou não vinhos e as modernas variantes como aerar e até mesmo agitar com um mixer.
 
A necessidade de decantar um vinho surge quando se vai servir um vinho como um ótimo Bordeaux que foi guardado por 10 ou mais anos. Há um depósito de resíduos na garrafa, a borra, que deve ser evitada ao verter o vinho em uma taça. O melhor truque é usar um decantador, seguindo um bonito ritual em que o Sommelier verte cuidadosamente o líquido no jarro e, com o auxílio de uma vela estrategicamente colocada sob o gargalo da garrafa consegue interromper a operação ao aparecer o primeiro vestígio do resíduo.
 
 
Após esta explicação, parece totalmente sem sentido decantar um vinho jovem, como os produzidos no Novo Mundo. Posso assegurar que estamos entrando num campo cheio de armadilhas com defensores ferrenhos do ‘Sim, devemos!’ e do ‘Não devemos!’. Para complicar, há razões de sobra para apoiar qualquer dos lados.
 
A alegação mais comum dos que defendem a decantação do vinho jovem é que a oxigenação obtida com este processo começa a domá-lo e alegra o nosso paladar. Ponto para eles, mas esta não é a única maneira de aerar um vinho, jovem ou maduro: existe uma grande variedade de acessórios para esta finalidade, o mais famoso talvez seja o Vinturi. Mas não separa sedimentos.
 
 
O que realmente acontece quando decantamos um vinho?
 
A ciência tem explicações interessantes. Um estudo feito pela Escola de Farmácia de Shenyang demonstrou que este procedimento efetivamente altera a composição química do vinho, diminuindo a concentração dos ácidos orgânicos que são importantes agentes na formação dos sabores azedos. A presença de polifenóis, tanino entre eles, também diminui, tornando o vinho mais agradável.
 
Uma descoberta que surpreendeu os especialistas foi a influência da temperatura ambiente e da intensidade luminosa: aumentando significativamente estes dois fatores, o vinho reage rapidamente e pode ser consumido antes do tempo padrão de espera, que gira em torno de 1 hora. Mas nada de exageros, procure o lugar mais quente da sala e acenda todas as luzes…
 
No lado negativo, este mesmo estudo mostrou que se há um ganho no paladar, em contrapartida ocorre uma perda significativa dos famosos antioxidantes que trariam benefícios à saúde de todos. Só por isto já não seria recomendado decantar.
 
Nem mesmo o estudo da Escola de Farmácia fica impune: outra corrente de estudiosos da química afirma que a quantidade de oxigênio incorporada ao vinho pela decantação não seria suficiente para permitir as alterações alegadas. Em lugar de 1 hora seriam necessárias 12 horas ou mais para permitir que todas as reações se completem de modo satisfatório. Isto não é prático…
 
Pode parecer, neste ponto, que apreciadores de um bom vinho estão perdendo a razão. Uma nova corrente, liderada por Nathan Myhrvold, uma polêmica figura que mistura tecnologia com alta gastronomia – ele já foi o Chefe de Tecnologia da Microsoft – introduziu a “hiperdecantação”, um processo radical:
 
– esqueçam delicadezas ou sutilezas, verte-se o vinho num copo cilíndrico e com o auxílio de um mixer de cozinha agita-se vigorosamente por 30 a 60 segundos. Pode-se usar um liquidificador, como alternativa. Aguarda-se a espuma baixar para degustar.
 
Segundo este autor de ‘Modernist Cusine’, o mesmo efeito pode ser obtido fechando a garrafa com uma tampa temporária e submetendo-a a uma agitação intensa. Coisa impensável segundo os cânones do vinho.
 
 
Resumo da ópera: obviamente testamos este inovador processo. Os resultados foram desanimadores, mas ainda não desistimos totalmente de fazer uma nova experiência. O nosso sistema preferido é usar um bom aerador. Vinturi e Vinoair são os preferidos.
 
Como sugestão final, aconselhamos que experimentem estas técnicas radicais e tirem suas conclusões. Mas não estraguem um bom vinho!
 
Dica da Semana: para decantar com todo o requinte!
 
Sessantanni” Farnese Primitivo di Manduria DOC 2009
Elaborado com 100% da casta Primitivo.
Vinho de cor rubi intensa e profundida. Aroma de frutas, com notas de café e doce tabaco. Este é um vinho suave e rico, com sabores de frutas vermelhas, cerejas e toques de frutas secas. É apoiado por um denso e complexo meio, com taninos suficientes para equilibrar os enormes sabores, terminando em um incrivelmente rico e acetinado final.
Harmonização: Acompanha carne vermelha grelhada, caça e massas com molhos intensos.
 

A uva Tannat tem seu genoma desvendado

A dica de vinho da semana passada era um belo vinho uruguaio, com ótima relação custo x benefício. Mas não poderia imaginar que, além disto, descobertas muito recentes de pesquisadores daquele país junto com italianos, acrescentaram mais um fator: ótimo para a saúde!
 
Tudo isto só foi possível com o estudo do DNA desta curiosa casta, originária da região de Madiran, França, aos pés dos Pireneus e bem próxima à Espanha. Aqui no nosso vizinho Uruguai encontrou seu terroir especial.
 
 
Numa recente entrevista, o Professor Francisco Carrau que liderou esta importante pesquisa feita pelo Programa de Biodiversidade na América Latina e Caribe (BIOLAC) da Universidade das Nações Unidas, em Montevidéu, mencionou:
 
“A vinificação sempre foi uma arte; hoje em dia é uma ciência também. Se pudermos determinar, através da biotecnologia, os fatores que determinam a cor e o aroma dos vinhos, poderemos aplicar potencialmente esta informação para criar produtos mais prazerosos e valiosos.”
 
O que torna este estudo particularmente interessante é a carga de taninos que carrega esta uva. Seu nome, Tannat, pode ser traduzido em linhas gerais como “Tânica”: o que poderia ser um fator negativo é seu grande trunfo.
 
Comparada com a Cabernet Sauvignon, Merlot ou Pinot Noir, a quantidade de taninos mais que dobra nos vinhos obtidos com esta uva franco-uruguaia. Isto significa uma alta concentração de agentes antioxidantes que ajudam a combater o envelhecimento das células, propriedade atribuída ao grande número de sementes nos bagos. Os altos níveis detectados de Procianidinas, quatro vezes mais que as encontradas em outros vinhos, ajudam efetivamente a combater a pressão alta, baixar o colesterol e melhorar as condições de coagulação do sangue.
 
Não resisto ao chavão: em lugar de rir, Vinho é o melhor remédio!
 
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Dica da Semana:os vinhos portugueses nunca saem de moda. Mais um belo produto para termos em nossa adega.
 
Pacato 2009 Vinificado no Alentejo com as castas Trincadeira e Syrah é concentrado e cheio de fruta. Um vinho fácil de gostar com ótima relação custo x benefício.
Harmoniza com pizza, churrasco, risotos, massas com molhos à base de tomate e queijos em geral.

Ainda as “Castas Nobres”

Parece que a coluna da semana passada causou mais confusão do que esclarecimentos. Muitos leitores questionaram se existiriam vinhos de qualidade produzidos com castas “não nobres”, uma preocupação válida, mas muito distante do objetivo do texto anterior a este, que pretendia, apenas, discutir a razão do adjetivo Nobre.
 
Para que todos fiquem tranquilos, existem vinhos de alta qualidade produzidos, até mesmo, com castas consideradas como “obscuras”. Também existem vinhos de péssima qualidade, as zurrapas, produzidos com as mais famosas castas do mundo.
 
Conclusão: a qualidade de um vinho não pode ser determinada só pelo tipo de uva que será utilizada na sua produção. Diversos outros fatores têm um peso mais significativo na qualidade final: o binômio terreno e clima; os métodos de vinificação e amadurecimento e até mesmo as técnicas de engarrafamento e selagem da garrafa. A qualidade final de um vinho dependerá, sempre, de um conjunto de fatores.
 
Para auxiliar os leitores na compreensão das razões pelas quais classificaram determinadas castas como superiores às demais, foi sugerido que se pesquisasse em relações de melhores vinhos, quais as varietais empregadas que se destacavam.
 
Na semana passada, um dos sites de maior importância para quem é realmente aficionado e tem recursos financeiros para investir em vinhos de alta qualidade, publicou a relação dos vinhos mais procurados. O site em questão, o Wine Searcher (http://www.wine-searcher.com/) tem como principal objetivo encontrar vinhos raros que são colocados à venda em diversas lojas ou casas de leilão, por todo o planeta. Vamos comentar, em grupos de 10 vinhos, os 50 primeiros apresentando as principais características.
 
1 a 10
 
1. Chateau Margaux, Margaux, Corte Bordalês;
2. Domaines Barons de Rothschild Chateau Lafite Rothschild, Pauillac, Corte Bordalês;
3. Baron Philippe de Rothschild Chateau Mouton Rothschild, Pauillac, Corte Bordalês;
4. Moet & Chandon Dom Perignon Brut, Champagne;
5. Petrus, Pomerol, Corte Bordalês, na verdade quase 100% Merlot;
6. Chateau Latour, Pauillac, Corte Bordalês;
7. Chateau Cos d’Estournel, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
8. Chateau d’Yquem, Sauternes, Vinho de Sobremesa;
9. Chateau Haut-Brion, Pessac-Leognan, Corte Bordalês;
10. Opus One, Napa Valley, EUA, Corte Bordalês.
 
Como era de se esperar, completo domínio dos vinhos de Bordeaux, cortes obtidos a partir de Cabernet Sauvignon e Merlot, castas nobres. Três interessantes destaques, um Sauternes obtido a partir da Casta Semillon que nunca foi classificada como nobre, um Champagne vinificado a partir de Chardonnay e Pinot Noir, ambas nobres, e um vinho norte americano produzido ao estilo dos vinhos de Bordeaux.
 
11 a 20
 
11. Domaine de la Romanée-Conti Romanée-Conti Grand Cru, Côte de Nuits, Borgonha;
12. Chateau Lynch-Bages, Pauillac, Corte Bordalês;
13. Tenuta San Guido Sassicaia Bolgheri, Super Toscano;
14. Armand de Brignac Ace of Spades Gold Brut, Champagne;
15. Penfolds Grange Bin 95, Shiraz Australiano;
16. Chateau Cheval Blanc, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
17. Chateau Pontet-Canet, Pauillac, Corte Bordalês;
18. Louis Roederer Cristal Brut Millesime, Champagne;
19. Chateau Montrose, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
20. Domaine de la Romanee-Conti La Tache Grand Cru Monopole, Cote de Nuits, Borgonha.
 
Continua o pleno domínio dos Bordaleses, com 4 destaques: dois vinhos da Borgonha produzidos com a nobre Pinot Noir, um italiano que é uma das muitas versões italianas de um vinho de Bordeaux. Por último, um potente Shiraz australiano, outra casta que ainda não foi dignificada com um título real, mas deveria.
 
21 a 30
 
21. Chateau Leoville-Las Cases ‘Grand Vin de Leoville du Marquis de Las Cases’, Corte Bordalês;
22. Chateau Pichon Longueville Comtesse de Lalande, Pauillac, Corte Bordalês;
23. Chateau Palmer, Margaux, Corte Bordalês;
24. Chateau Leoville Barton, Saint-Julien, Corte Bordalês;
25. Krug Brut, Champagne;
26. Chateau Pavie, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
27. Chateau Ducru-Beaucaillou, Saint-Julien, Corte Bordalês;
28. Marchesi Antinori Tignanello Toscana IGT, Super Toscano;
29. Chateau Angelus, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
30. Chateau Pichon-Longueville au Baron de Pichon-Longueville, Pauillac, Corte Bordalês.
 
Dois destaques: outro Champagne e outra versão italiana de um vinho de Bordeaux.
 
31 a 40
 
31. Chateau La Mission Haut-Brion, Pessac-Leognan, Corte Bordalês;
32. Chateau Leoville Poyferre, Saint-Julien, Corte Bordalês;
33. Tenuta dell’Ornellaia ‘Ornellaia’ Bolgheri Superiore, Toscana, Super Toscano;
34. Screaming Eagle Cabernet Sauvignon, Napa Valley, EUA, 100% varietal;
35. Dominus Estate Christian Moueix, Napa Valley, USA, Corte Bordalês;
36. Caymus Vineyards Cabernet Sauvignon, Napa Valley, EUA, 100% varietal;
37. Perrin & Fils Chateau de Beaucastel Chateauneuf-du-Pape, Rhone, França;
38. Chateau Talbot, Saint-Julien, Corte Bordalês;
39. Tenuta dell’Ornellaia Masseto Toscana Igt, varietal 100% Merlot;
40. Joseph Phelps Vineyards Insignia, Napa Valley, EUA, Corte Bordalês.
 
Destacam-se dois italianos vinificados ao modo de Bordeaux e dois 100% Cabernet Sauvignon da América do Norte. Além destes, aparece o primeiro vinho da região do rio Ródano, um Chateneuf–du-Pape, tradicionalmente um corte que envolve até 13 castas diferentes entre tintas e brancas, nenhuma delas consideradas nobres. Por outro lado, o mais respeitado crítico de vinhos do mundo, Robert Parker, cansou de atribuir os almejados 100 pontos aos vinhos desta região…
 
41 a 50
 
41. Chateau Gruaud-Larose, Saint-Julien, Corte Bordalês;
42. Chateau Calon-Segur, Saint-Estephe, Corte Bordalês;
43. Domaines Barons de Rothschild Chateau Lafite Rothschild “Carruades de Lafite”, Pauillac, Corte Bordalês;
44. Chateau Ausone, Saint-Emilion Grand Cru, Corte Bordalês;
45. Vega Sicilia Unico Gran Reserva, Ribera del Duero, varietal 100% Tempranillo;
46. Chateau Beychevelle, Saint-Julien, Corte Bordalês;
47. Domaines Barons de Rothschild Chateau Duhart-Milon, Pauillac, Corte Bordalês;
48. Chateau Grand-Puy-Lacoste, Pauillac, Corte Bordalês;
49. Taylor Fladgate Vintage Port, Portugal, Vinho do Porto;
50. Moet & Chandon Brut, Champagne;
 
Neste último lote temos alguns destaques interessantes. O Vega Sicilia Único, um dos vinhos mais famosos da Espanha e do Mundo, é produzido com uma casta não nobre. Aparece o primeiro Vinho do Porto, produzido com castas exclusivas de Portugal que nunca chegaram perto da “corte”…
 
Com estes exemplos, esperamos que os leitores percebam que a nobreza de uma uva está muito mais ligada ao que é possível se obter a partir dela do que uma simples relação direta do tipo “se a uva é nobre o vinho é bom”.
 
Isto é falso!
 
Um segundo ponto fica claro nesta relação, o pleno domínio dos vinhos franceses, principalmente os produzidos em Bordeaux.
 
Antiguidade é posto, até no mundo dos vinhos.

Dica da Semana: um bom Tannat produzido no Uruguai, para que ninguém duvide das castas ‘não nobres’.
 
Don Pascual Reserve Tannat 
Intensa cor vermelha com reflexos rubi. Aroma onde domina frutas vermelhas e cassis. Muito bem estruturado com presença de taninos revestidos e frutas vermelhas.
Harmonização: Carnes, massas e queijos.

Serra Gaucha IV

2º dia, tarde
 
Após o espetacular almoço oferecido pela Chandon nos deslocamos para conhecer outra ‘peso pesado’ dos vinhos nacionais, a Vinícola Miolo, que desde 2006 adotou a denominação Miolo Wine Group e se tornou uma multinacional do vinho.
 
 
Focada exclusivamente em vinhos finos, tornou-se a maior produtora nacional deste segmento e também a maior exportadora de vinhos brasileiros, estando presente nos 5 continentes.
 
 
Uma potência, sem dúvida, que exigiu muito investimento e parcerias diversas para ampliar o seu leque de produtos com mais de 100 rótulos produzidos em diferentes regiões brasileiras. Conta, ainda, com a importante consultoria de renomados vinhateiros internacionais, entre eles, o conhecido Michel Rolland. O mapa abaixo mostra as operações da Miolo.
 
 
Aqui no Brasil trabalham com uvas de diferentes regiões, algumas em vinhedos próprios e outras sob a forma de parcerias com outros produtores. Elaboram seus vinhos com olho no mercado internacional, apostando que vai satisfazer ao paladar nacional. Uma estratégia ousada e algumas parcerias não muito simpáticas para uma determinada faixa de consumidores. Há um viés muito claro para o segmento de alto nível.
 
A visita foi conduzida por Gustavo Duarte, um dos muitos enólogos da casa. Para acessar a área de produção é necessário usar uma vestimenta adequada, fornecida pela vinícola. 
 
 
Devidamente paramentados, assistimos à chegada de uma partida de uvas que foi rapidamente separada dos engaços de forma automática.
 
 
Os grãos caem num coletor móvel que vai transportá-los até a boca do tanque de fermentação. Há um piso especialmente projetado para permitir esta operação. As fotos a seguir esclarecem o assunto. Notem as placas resfriadoras que são utilizadas, dentro do tanque, para manter as uvas em baixa temperatura até a carga completa, quando são removidas e fechado o recipiente. 
 
 
Ficou nítida a incansável busca pela alta qualidade na Miolo. Além dos equipamentos de ponta, há um grande investimento no preparo da mão de obra. Dali seguimos pela sala das barricas, muitas delas construídos pelo Sr. Mesacaza, até a luxuosa sala de degustação, coisa de 1º mundo. 
 
 
A degustação foi composta de 14 vinhos. A proposta do enólogo que nos guiava era apresentar os diferentes ‘terroirs’ da vinícola. Pela ordem foram servidos os seguintes rótulos:
 
Bueno Sauvignon Blanc 2012 (Campanha Gaúcha)
Cuvée Giuseppe Chardonnay 2012 (Vale dos Vinhedos)
RAR Viognier 2011 (Campos de Cima da Serra)
RAR Pinot Noir 2011 (idem)
Cuvée Giuseppe Tinto 2010 (Vale dos Vinhedos)
Gran Lovara 2008 (Serra Gaúcha)
Bueno Paralelo 31 2009 (Campanha)
Quinta do Seival Castas Portuguesas 2008 (Campanha)
Miolo Merlot Terroir 2009 (Vale dos Vinhedos)
Miolo Lote 43 2011 (idem)
Miolo Millésime 2009 (idem)
Bueno Cuvée Prestige 2009 (idem)
Terranova Moscatel (Vale do São Francisco)
 
Talvez preocupado com a importância do grupo, a degustação teve por tônica produtos que recém chegaram ao mercado. Resultou que alguns vinhos necessitavam de mais tempo em garrafa para demonstrar o seu potencial.
 
Entre os brancos, o que mais apreciei foi o RAR Viognier e, entre os espumantes, o Millésime. O capítulo dos tintos foi bem mais interessante, com um vinho que surpreendeu a todos: Quinta do Seival Castas Portuguesas, na minha opinião, o melhor do grupo apresentado. Mas não posso negar que o icônico Lote 43 e o Merlot Terroir são dois vinhos que teriam lugar na minha adega. O grande problema é o preço: (preços médios em 2013)
 
Lote 43 – R$ 100,00
Merlot Terroir – R$ 75,00
Castas Portuguesas – R$ 60,00
 
Infelizmente, por questões burocráticas, a concorrência oferece vinhos de melhor qualidade nesta mesma faixa de custos.
 
Para encerrar o dia, jantar na Osteria Mamma Miolo com um cardápio mais que tradicional:
 
Sopa de Capeletti (acompanha pão colonial e queijo ralado);
“Radicci” com bacon;
Polenta “brustolada”;
Galeto “al primo canto”;
“Pien” (uma pasta de carne de frango temperada e cozida num caldo);
“Crem” (pasta de raiz forte para acompanhar o Pien);
Carne “lessa” (cozida no caldo da sopa);
Salada mista;
Spaguetti da nona.
 
Para sobremesa o famoso Sagu ao molho de vinho tinto…
 
Tudo isto regado com bons vinhos da Miolo.
Dica da Semana: só poderia ser este.
 
Quinta do Seival Castas Portuguesas 2008 
Vinho tinto de cor vermelho rubi intenso, elaborado através do corte de uvas Touriga Nacional e Tinta Roriz origina um vinho de corpo generoso e macio, complexo e potente. Vinho de guarda, com estrutura para suportar muitos anos de envelhecimento.
Harmonização: Acompanha carnes vermelhas e grelhados, como pernil de cordeiro com ervas. Ótimo acompanhamento para lingüiças e pratos tipicamente portugueses como caldo verde com chouriço, leitão assado em forno a lenha ou arroz de Braga. Bom acompanhamento para queijos duros e maduros.
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