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Uvas autóctones da Itália – Um trio da pesada – I

Corvina, Rondinella, Molinara
Vamos deixar as brancas descansar um pouco e voltamos a falar de uvas tintas. Este trio é responsável pelo maior volume de exportação vinícola da Itália. Um destes vinhos, o onipresente Valpolicella, rivaliza diretamente com o Chianti em termos de popularidade: não há um supermercado do mundo que não tenha uma garrafa desta à venda. O problema é a qualidade…
Conhecido como Trio de Verona, são típicas da região do Veneto, e responsáveis por diversos vinhos que transitam entre o medíocre e o maravilhoso. Mais adiante vamos falar um pouco mais sobre eles. Primeiro as damas…

Corvina é a uva mais importante. Seu nome deriva de Corvo, talvez por associação de sua escura coloração com as penas da ave. Estudos recentes de DNA apontam para um distante parentesco com a francesa Pinot Noir. Uma casta muito complexa, com alto teor de açúcar, é responsável pelos persistentes sabores frutados de ameixa, cereja e cassis. Mesmo após um longo período em contato com madeira esta característica permanece, evoluindo para ameixa seca, geleia de cereja e similares.

Tentativas de plantar a Corvina fora da Itália foram infrutíferas, esta casta está muito ligada a esta região onde, dependendo dos diferentes solos e micro-climas, surgiram alguns clones. Os especialistas preferem citar Corvinas, no plural, abrangendo todas as variações.
Rondinella, que significa pequena andorinha, tem no formato de suas folhas alguma semelhança com o rabo deste pássaro. É a parceira ideal da Corvina (de quem é um parente distante) na produção dos vinhos de Valpolicella, além do vizinho Bardolino. Embora não tenha um alto teor de açúcar, é responsável por introduzir aromas e sabores herbais e trazer frescor ao vinho. Apesar de fornecer grandes volumes da fruta, é uma casta irregular e não é usada para produzir vinhos varietais.

Molinara, que significa Moleiro (aquele que faz farinha), é a não menos importante terceira uva. O nome foi inspirado pela aparência da casca que apresenta uma fina camada branca que lembra uma farinha. Ao contrário das anteriores, sua cor é clara e contribui com a acidez, maciez e suculência.

Os vinhos
Embora na história de cada uva não tenha nada de especial, brilham na hora de produzir quatro vinhos muito importantes e significativos no cenário vinícola da Itália: Valpolicella, Amarone dela Valpolicella, Ripasso e Reciotto dela Valpolicella. Tecnicamente, um depende do outro.
Começamos pelo básico: o Valpolicella, um corte composto por Corvina (max. 70%), Rondinella, Molinara e outras uvas menos significativas. O nome vem da cidade homônima e tem origem controversa. Num documento de 1117, assinado pelo Imperador Romano-Germânico Frederico I, alcunhado de Barbarossa, aparece a primeira menção a “Val Polesela”. Deste ponto em diante, existem algumas versões, todas elas com algum grau de verdade.
Expressões gregas ou latinas podem ter sido a primeira forma de Valpolicella. Exemplos: do latim “pulcella”, um termo usado para qualificar Santa Eulália – buona pulcela fut Eulália – como escrito em sua cantilena. Pouco provável, ela foi uma mártir da Espanha; do grego “polyzelos” que significa “abençoado” ou ainda “de muitas frutas” termos que se estenderiam por toda a região. Pouco aceita embora a região tenha um solo muito bom para a agricultura.
A versão mais provável hoje, remete novamente ao latim, “pollus”, que genericamente se traduz como fértil ou rico em sementes. “Val-poli-cellae” significaria, literalmente, “vale das muitas cantinas” (cantina = vinícola).
Infelizmente o vinho ali produzido com esta denominação não é de boa qualidade. O alto volume de produção, as leis que permitem adições de uvas sem controle de procedência e até mesmo fatores como baixa qualidade de controles sanitários promoveram um desinteresse geral em melhorar a qualidade deste produto: é um vinho barato de consumo em massa. Curiosamente, tem um concorrente, o Bardolino, elaborado numa região vizinha que não dista mais de 20 km. Na opinião de muitos especialistas, são um desastre.
Há exceções, mas é preciso fazer uma licença poética: vamos falar de “vinhos de Valpolicella”  em lugar de “vinho Valpolicella”. Com a consequente queda de preços devida ao alto volume de produção, os vinicultores e vinhateiros resolveram investir em vinhedos de altitude para produzir outros vinhos, com as mesmas uvas. Mas esta história fica para a próxima coluna.

Dica da semana: como tudo na vida, ainda existem produtores que fazem Valpolicellas de primeiríssima qualidade. Este é um deles.


Valpolicella Classico 2006
Produtor: Guerrieri-Rizzardi
País: Itália/Veneto
Uvas: Corvina, Rondinella, Negrara, Molinara e Barbera
Eis um vinho elegante e com bastante personalidade, para surpreender aqueles que ainda não conhecem o estilo dos melhores vinhos de Valpolicella, que nada têm a ver com os exemplares mais comerciais. Um Valpolicella bastante superior à grande maioria dos existentes no mercado, com grande classe e tipicidade, perfeito para acompanhar massas.

Algumas uvas brancas – Vernaccia

Esta é outra cepa pouco divulgada que tem na cidade de San Giminiano o seu principal terroir.
A história desta varietal é muito antiga e perde-se nas brumas do tempo. Supõe-se que foi introduzida pelos Etruscos, mas até hoje os ampelógrafos não conseguiram determinar com exatidão sua origem. Algumas referências trazem provas curiosas, por exemplo, na Idade Média havia um vinho denominado Vernage, obtido a partir desta uva que era muito consumido na Inglaterra. Dante, em sua Divina Comédia (Purgatorio XXIV) faz referência a esta casta quando menciona a gulodice do Papa Martin IV que se deliciava com as Enguias de Bolsena curtidas em vinho de Vernaccia:
“:ebbe la Santa Chiesa in le sue braccia:

 dal Torso fu, e purga per digiuno

    l’anguille di Bolsena e la vernaccia”.
Durante o período da renascença, o vinho produzido a partir desta casta era a inspiração de artistas, escritores e autoridades eclesiásticas. Foi aclamado como o melhor vinho branco da Itália.
A Vernaccia não é uma uva de fácil cultivo e manejo. Ao final do século XIX, ela havia sido substituída por castas mais favoráveis como Trebbiano e Malvasia. Somente a partir de 1960 haveria um ressurgimento graças a características únicas obtidas no terroir de San Giminiano, a cidade italiana de maior apelo turístico. Em 1966 o vinho “Vernaccia di San Giminiano” obteve o primeiro registro DOC do país, sendo elevado para a categoria DOCG em 1993.
Existem outras uvas homônimas, mas esta é considerada única e não relacionada às demais. É uma das mais antigas varietais conhecidas e sua origem é motivo de amplas discussões: pode ser indígena da península italiana ou ter sido trazida do leste europeu ou mesmo da Grécia.
Importante é que não é possível separa-la de sua cidade. Quase uma marca registrada. Um vinho marcante, encorpado, com ótima acidez, aromas florais e sabores cítricos. Harmoniza com a culinária local, sendo um dos poucos vinhos que podem ser consumidos com a exótica culinária oriental.
Três estilos de vinho são produzidos:
Tradizionale: elaborado a partir de um mosto no qual as casacas (brancas) foram deixadas em maceração prolongada para se garantir a coloração original (próxima ao dourado). Por este motivo, muitos produtores afirmam que o Vernaccia é um branco produzido como um tinto;
Fiore:obtido a partir da fermentação do sumo que corre livre antes da prensagem. O produto final é um vinho oposto ao tradicional, muito leve e delicado, ideal para acompanhar peixes assados;
Carato: o mosto é fermentado em barris de carvalho, técnica mais moderna dos vinhateiros toscanos. O vinho adquire características voltadas para o paladar internacional, ainda assim, um Vernaccia. Ideal para frutos do mar.
Alguns produtores, como Casale (Azienda Agricola Casale-Falchini), estão localizados nas portas de San Giminiano. A foto mostra como fica próxima da cidade, sendo possível observar as famosas sete torres da cidadela.
Dica da Semana: um vinho premiado.
Vernaccia di San Giminiano 2009
Produtor:Piccini
Vinificação:Fermentação tradicional com controle de temperatura. Não passa por madeira.
Ótimo exemplo da uva Vernaccia elaborado por Piccini. Foi o vencedor da medalha de Bronze na edição 2005 da Vinitaly, mostrando grande frescor aromático e um levíssimo e saboroso amargor, típico desta casta. 

Uvas autóctones da Itália – Algumas uvas brancas

Não esgotamos o tema Sangiovese, pelo menos mais duas denominações se destacam neste extenso cenário: Carmignano e Morellino di Scansano.
A primeira, produzida nos arredores da cidade homônima é um interessante corte da Sangiovese e Cabernet Sauvignon (podem também entrar outras castas). Portanto, um precurssor dos afamados Super-Toscanos. Curiosamente são DOCG.
A segunda, outra DOCG, fica na região de Marema. Produz um vinho com base na popular Sangiovese, 85% no mínimo, cortada com qualquer outra casta “não aromática”, desde que obtida segundo uma extensa lista de exigências emitida pela autoridade da DOCG. Resumindo: qualquer outra uva plantada dentro dos limites da região. Há, sem dúvidas, ótimos vinhos nestas denominações, mas vamos deixá-los para outra oportunidade.
Verdicchio e Vernaccia
São duas castas, pouco divulgadas, que produzem vinhos brancos deliciosos num país que prima pelos tintos. A Verdicchio, ilustração a seguir, tem seu principal terroir na região do Marche (Itália Central), sendo conhecida desde o século XIV. Apesar de ser uma variedade temperamental. Dados do censo de 1980 mostravam uma área plantada de 65.000 hectares tornando-se a 15ª uva mais cultivada no mundo, superando a Chardonnay, Pinot Noir, Sauvignon Blanc e a própria Sangiovese. Surpreendente!

Seu nome significa “Verde”, provavelmente devida à coloração amarela esverdeada dos vinhos obtidos. São de alta acidez e com aromas e sabores que remetem aos frutos cítricos. Além do vinho tranquilo, são obtidos bons espumantes também e um vinho de sobremesa tipo “passito”. Existem diversas DOC para esta varietal. A mais importante é Verdicchio dei Castelli di Jesi, localizada na cidade de Jesi na província de Ancona.

O principal produtor é Bucci. Seu vinho é considerado como um dos vinhos brancos “premium” do país sendo o único a receber os “Tre Bicchiere” do Guia Gambero Rosso ano após ano. Infelizmente, sem importador para o Brasil até o momento.
Semana que vem vamos falar da uva Vernaccia e da bela cidade de San Gimigniano.

Dica da Semana: Uma boa alternativa é o vinho produzido por Garofoli.

Garofoli Anfora Verdicchio dei Castelli di Jesi DOC Classico
A vínicola Garofoli foi criada no final do século 19 no ano de 1871, por Antonio Garafoli. Essa vinícola familiar que já está na quinta geração. É uma vinícola tradicional, sempre respeitando os métodos de vinificação por gerações, porém segue constantemente as evoluções e técnicas de produção.
Degustação: Aromas de frutas brancas, leve floral e um toque de grama no final. Na boca tem um bom corpo, acidez correta e um final marcante.
Harmonização: perfeito com frutos do mar preparados de diversas maneiras, inclusive crus. Carnes brancas leves como coelho.

Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos – II

Vino Nobile di Montepulciano e Brunello di Montalcino
Nesta semana mais dois tintos importantes produzidos a partir da Sangiovese, neste caso, com uma sutil diferença: as castas são denominadas, respectivamente, “Prugnolo gentile” e “Brunello” nas regiões produtoras. Uma terceira denominação é a “Sangiovese Grosso”.
Durante muitos anos admitiu-se que estas uvas eram mutações ou alterações da casta principal. Estudos mais recentes mostraram que, apesar do nome, era a mesma uva do Chianti. Para designá-las usamos a expressão clone. O que é isto?
Para melhorar um vinhedo um produtor pode selecionar as melhores vinhas e usando técnicas de “repicar”, multiplica estas vinhas como se fossem cópias da original. Replantar um galhinho ou simplesmente enterrar a ponta de um galho mais longo são as formas mais simples de se melhorar um vinhedo a um custo relativamente baixo. O processo todo até a produção é lento, mas assegura sempre uma boa qualidade.
Vino Nobile
O Vino Nobile, um dos vinhos mais antigos da Itália, é produzido nas proximidades da bela cidade de Montepulciano, a partir da vinificação da Prugnolo Gentile, considerado um clone da Sangiovese, cortada com as varietais Canaiolo e Mammolo, entre outras. Há registros da produção deste vinho desde o ano 789, mas só recebeu a denominação “Vino Nobile” por volta de 1930. Era conhecido como “Vino rosso scelto di Montepulciano”.

Muito semelhante ao Chianti, tem as coadjuvantes Canaiolo que ameniza a aspereza da Sangiovese e a Mammolo que introduz maciez ao vinho. Por lei (DOCG) deve passar um mínimo de dois anos de envelhecimento em barris de carvalho.

O Nobile é uma interessante alternativa ao Chianti, com ótima relação custo benefício. Isto se deve, em parte, a pouca divulgação deste vinho. Em 1965 foi criado o Consórcio del Vino Noble di Montepulciano com o objetivo de proteger a qualidade e divulgar os produtos que incluem o Vin Santo e o Rosso di Montepulciano que é uma versão para ser consumida jovem. Os principais produtores são: Poliziano; Cantina Nottola; Tenuta Valdipiatta e Tenuta Trerose.

No Brasil encontramos com facilidade estes produtos:

Poliziano Vino Nobile di Montepulciano
Este é o maior nome do Nobile. Encorpado, potente e cheio de personalidade, é um bom exemplo do melhor que a região pode produzir. RP 90 pt safra 2006
Custo aproximado: R$ 160,00 (em 2012)

 

Nottola Vino Nobile di Montepulciano
Este vinho é vermelho rubi intenso. Cravo, pimenta e terra úmida surgem primeiro no nariz e são seguidos de amora. Especiarias com aroma delicado de cheiro doce de violeta. Há uma nota madura por trás de toda a concentração densa e ao final do vinho com uma explosão de tempero cereja preta e duradoura. Saboroso e aveludado.
Custo Aproximado: R$ 100,00 (em 2012)


 

Brunello di Montalcino
Ao contrário do anterior que era um corte, o Brunello é um varietal: 100% Sangiovese Grosso. Não são admitidas outras uvas e apesar de alguns problemas, esta tradição é que faz este vinho ser uma das grandes glórias da Itália e do mundo da enologia.
Sua história está ligada à família Biondi Santi, reconhecidos como os inventores do Brunello. Já produziam excelentes vinhos desde 1865, pela mão de Clemente Santi. Dois de seus vinhos foram reconhecidos como excelentes na França, um deles, o “vinho tinto selecionado” seria o avô do Brunello.

Coube a seu neto, Ferruccio Biondi Santi levar adiante o projeto de vinhos longevos. Mas não foi uma tarefa fácil. Estabeleceu rigorosas normas de produção e de higiene elevando a qualidade de seus vinhos a padrões até então desconhecidos. Isto estimulou outros produtores. Mas, ao fim da 2ª grande guerra somente os Biondi Santi ainda produziam. Como num conto de fadas, foi preciso uma grande adversidade para que todo o potencial de Ferruccio como administrador e empreendedor fosse revelado. Os vinhedos de sua propriedade foram atacados por diversas doenças e pela temida Filoxera: a destruição foi completa.

Não se deixando seduzir pelas promessas de um lucro rápido e fácil, retomou com todo o empenho o projeto inicial de seu avô e replantou os vinhedos com o objetivo único de produzir vinhos longevos à base de 100% Sangiovese. Usando as técnicas já descritas no início deste texto, clona as melhores videiras por toda a sua propriedade. Foi um pioneiro antecipando em mais de um século a tendência dos toscanos de hoje: vinhos encorpados e duradouros. Faleceu em 1917 sendo sucedido por seu filho Tancredi. Em 1932 uma comissão interministerial do governo da Itália reconheceu Ferruccio como o inventor do Brunello moderno.
Tancredi continuou e expandiu o estilo de seu pai. Respeitadíssimo como vinicultor, era constantemente convidado a prestar consultoria em outras regiões, como as dos vinhos Lugana, Chianti, Ciró, entre outros. Partiu dele a sugestão de denominar como “Nobile” o vinho de Montepulciano.

A Biondi Santi é respeitada até os dias de hoje como o principal produtor de Brunellos, mantendo a fama e tradição obtida através de tantos anos. Hoje comandada pelo preparado Dr. Franco Biondi Santi, filho de Tancredi, mantem os mesmo ideais de sempre. Coube a ele expandir a área plantada para 25ha e manter e espetacular coleção de safras em sua adega que vem desde 1888. Seus dois filhos já trabalham no negócio e se preparam para sucedê-lo.

Em 1999, um grupo de respeitados especialistas elegeu o Biondi Santi, safra 1955, como o “Vinho do Século”. Uma honraria digna desta linda história.
Hoje existem na região cerca de 200 produtores. Manter a qualidade de todos eles é o desafio. Houve em 2008 o escândalo chamado de “Brunellogate” quando vários produtores importantes tiveram seus vinhos confiscados pelo Ministério Público sob a alegação de fraude: uvas não autorizadas teriam sido usadas na vinificação. Depois de acaloradas discussões, o vinho foi liberado à venda sob a denominação “Rosso di Montalcino”. Mais tarde, após estudos feitos em centros respeitados, quase nada ficou comprovado. A maioria dos vinhos suspeitos era mesmo o verdadeiro Brunello.
Se o Chianti era comparado com os vinhos de Bordeaux, o Brunello é equiparado aos Pinot da Borgonha por seus taninos macios e maduros e o caráter frutado de seu corpo. Os aromas e sabores mais comuns são amora, cereja e framboesa escuras, chocolate, couro e violetas. Sua boa acidez o faz um perfeito acompanhante para carnes grelhadas e suculentas.
Não é um vinho para ser bebido jovem. Um bom Brunello só vai estar pronto depois de 10 anos no mínimo de espera. Os melhores só mostram suas excepcionais qualidades após algumas décadas…
Além de Biondi Santi, destacamos estes produtores importantes: Fattoria dei Barbi, Castelo di Banfi, Argiano, La Pieve di Santa Restituta.

Brunello di Montalcino Biondi Santi
De incrível reputação e prestígio, é o mais tradicional e aristocrático nome de Montalcino. Foi apontado pelo Gambero Rosso como o melhor Brunello na safra de 2003, coroado com os cobiçados “3 bicchieri”. Mostra o bouquet clássico, com frutas escuras e especiarias. Na boca é amplo e potente, austero, no estilo mais tradicional possível. Um verdadeiro monumento ao vinho da Toscana.
Custo aproximado: de R$ 800,00 a R$ 2.800,00 dependendo da safra (2012)
 

Dica da Semana: um irmão menor do Vino Nobile.
 

Nottola Rosso di Montepulciano DOC 2010
Castas: 80% Prugnolo Gentile, 15% Cannaiolo, 5% Mammolo
Produtor: Villa Nottola
Envelhecimento: 6 meses em barricas de carvalho eslovenas
Cor intensa vermelha rubi. Aroma de frutos vermelhos escuros com notas de violeta e especiarias. Um corpo suave, com notas elegantes de frutas harmoniosamente equilibradas e com taninos macios. É considerado “irmão” do Vino Nobile de Montepulciano: emocionante, complexo, leve e frutado.
RP: 89 pt
       

Uvas autóctones da Itália – Sangiovese e seus vinhos

A história do Chianti começa lá no século XIII, como um vinho branco! Percorreu um longo e atribulado caminho até se tornar o vinho da Toscana mais conhecido internacionalmente. As principais mudanças passaram por alterações nas regiões demarcadas e no tipo de vinho que muda para tinto. Não podemos esquecer que estamos na Itália, obviamente, apaixonadas disputas políticas entre as cidades de Florença e Siena sublinharam isto tudo.
Na idade média, as províncias de Gaiole, Castellina e Radda, fundaram a “Liga do Chianti”, demarcando uma área de produção considerada, até os dias de hoje, como o coração da produção deste vinho. Com a crescente popularização, outras comunas começam a fazer pressão para que seus vinhos também pudessem ser rotulados como Chianti, gerando, durante alguns séculos, uma expansão sem muito controle e a consequente vulgarização do produto: qualquer coisa em uma garrafa de palha era vendida como Chianti…
A composição do vinho também passou por mudanças importantes passando, gradualmente, de brancos para tintos. Coube ao Barão Bettino Ricasoli (ilustração a seguir), em 1782, estabelecer uma “receita” para a elaboração: recomendava um corte de 70% Sangiovese, 15% Canaiolo e 15% Malvasia branca. Este corte, considerado clássico, foi endossado pelo governo em 1967 quando regulamentou a DOC Chianti, impondo a “Fórmula Ricasoli”, um blend com as uvas Sangiovese (até 90%) e Malvasia e Trebbiano (de 10% a 30%).

Mas esta aventura não termina aqui. Alguns produtores iniciaram um movimento para modificar a “fórmula”. Dois caminhos foram trilhados: a produção de vinhos com 100% de Sangiovese; a introdução das chamadas castas nobres no corte. Como estes vinhos não podiam ser classificados, pela lei, como Chianti, passariam a ser vendidos como “Vino da Tavola (vinho de mesa)” ou IGT. São vinhos simplesmente maravilhosos e tinham um preço de venda muitas vezes superior aos DOC, criando um paradoxo. Estes “super-Chiantis” se tornariam conhecidos como Super-Toscanos (anos 80). O sucesso foi enorme e acabou por dobrar as rígidas regras: alguns destes excepcionais vinhos já podem ser rotulados como Chianti.
Atualmente são consideradas duas regiões produtoras, a do Chianti Clássico DOCG e as demais que rotulam apenas como Chianti. O mapa a seguir é autoexplicativo.

Para serem enquadrados na DOCG Chianti Clássico, os vinhos devem ter em sua composição pelo menos 80% da Sangiovese e 20% de outras varietais. A partir de 2006, não são mais permitidas uvas brancas no corte. Para os Reserva, são exigidos 24 meses de amadurecimento em carvalho e 3 meses em garrafa.
Nas demais regiões, a regra é mais flexível: mínimo de 75 a 90% de Sangiovese, 5 a 10% de Canaiolo Nero, 5 a10% de Trebbiano Toscano, Malvasia Branca e até 10% de outras varietais.
Curiosidades
O nome deriva da pequena cadeia de montanhas que se distribui entre Florença e Siena. Durante a ocupação pelos Etruscos, a região era conhecida como “Clante” ou “Clanis” o que pode ter evoluído para a atual denominação.
Há um nítido paralelo entre este vinho e os de Bordeaux e isto teria influenciado a fórmula Ricasoli. A Sangiovese, muito aromática, tem os seus taninos suavizados pelo frutado proporcionado pela Canaiolo da mesma forma que a Cabernet Sauvignon é suavizada pelo corte com a Merlot. Alguns críticos consideram o Chianti como o Bordeaux italiano.
Desde 1980 foi criado o “Consorzio Chianti Classico” com o objetivo de aprimorar a qualidade do vinho, aumentar sua divulgação e impedir fraudes. Os produtores associados, todos da região do Chianti Clássico, colocam em seus rótulos a imagem do Galo Nero, que simbolizou a paz entre as cidades de Florença e Siena após anos de disputadas batalhas para delimitar fronteiras. A disputa final seria entre dois cavaleiros que partiriam de suas cidades, um ao encontro do outro. O cantar de um galo ao raiar do dia iniciava a corrida. O ponto de encontro seria o limite da cada território.
Os moradores de Siena criaram um galo branco que foi tratado com todo o carinho e respeito, tornando-se um belo e vistoso animal, enquanto os florentinos optaram por um galo preto que foi deixado à mingua. Como resultado prático, o “Galo Nero”, por estar faminto, cantou muito mais cedo permitindo ao cavaleiro de Florença ir muito mais longe e “encampar” toda a região do Chianti…

O primeiro “Super-Toscano”, o Tiganello, foi produzido por Marchese Piero Antinori em 1978 como um delicioso corte de Sangiovese e Cabernet Sauvignon. Foi uma revolução e permitiu a produção de outros vinhos fabulosos. Alguns, como o Sassicaia, já existiam desde 1944 como um vinho do patrão, só sendo comercializado após 1971, mas não era um estilo Chianti predominando a Cabernet.

Alguns vinhos icônicos
Há uma série de grandes produtores que se equivalem em seriedade e qualidade. O que os diferenciam é apenas um marketing melhor ou uma boa assessoria de imprensa. Somente alguns super toscanos atingiram os 100 pontos de Parker, mas o grande guia italiano, Gambero Rosso, já premiou com seus “tre bicchieri” diversos produtores. Eis alguns deles:
Isole e Olena, Castello di Fonterutoli, Fontodi, Marchesi Antinori, Fattoria di Felsina, Fattoria La Massa, Castello di Ama, Ruffino, Badia a Coltibuono, entre outros. 

Castello di Ama– Um dos melhores Chianti Classico, merecedor dos “tre bicchieri” do Gambero Rosso. Provavelmente o mais conceituado produtor desta denominação. Robert Parker: 93 pontos (safra 2007)
 

Chianti Classico Rancia Riserva – Este cultuado Chianti é, para muitos, o melhor Chianti da atualidade – “uma das melhores compras entre os vinhos de grande qualidade” para Robert Parker, que classificou a safra de 2007 com impressionantes 96 pontos! Uma das mais grandiosas expressões de Chianti clássico.

 Chianti Classico Riserva Badia a Coltibuono – Descrito como “incrivelmente expressivo, com notável profundidade” pelo Gambero Rosso e classificado como “outstanding” por Robert Parker, o Chianti Classico Riserva da Badia a Coltibuono é um dos maiores embaixadores da região, ostentando grande classe e imensa capacidade de envelhecimento. De fato, ele ganha em elegância e complexidade por mais de 20 anos! É um dos poucos vinhos orgânicos da região de Chianti Classico, sendo muito equilibrado – uma bela expressão da uva Sangiovese!
 

Semana que vem vamos abordar o famoso Brunello di Montalcino.

Dica da Semana: existem ótimos Chianti nas regiões fora do clássico. A denominação Rufina é das melhores. Não é barato, mas vale o investimento.

Chianti Rufina DOCG Nipozzano Riserva
Produtor: Marchesi de Frescobaldi
País: Itália/Toscana
Uva: 90% Sangiovese e 10% uvas complementares.
Vermelho púrpuro brilhante. Aroma expressivo de frutas silvestres como amora, mirtilo, framboesa e cereja escura que se mescla a notas de alecrim, baunilha e canela. Palato: Harmonia entre álcool, taninos, acidez e fruta. Final elegante e marcante. Acompanha carne assada, guisados e queijos maturados.

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