Categoria: Sem categoria (Page 3 of 40)

Vinhos brancos secos de Bordeaux

Menos famosos que seus irmãos tintos, os brancos bordaleses secos também têm fama e história. São vinificados nesta região há mais de 1000 anos. Somente a partir dos anos 70 foi que a produção dos tintos, em volume, superou a dos brancos.
 
 Duas castas, Sauvignon Blanc e Semillon, são as principais, podendo ser cortadas, nas 10 AOC’s estabelecidas, com outras uvas como Muscadelle, Colombard, Ugni Blanc, Sauvignon Gris, Merlot Blanc, Mauzac e Ondenc.
 
Atualmente os brancos respondem por 9% da área plantada produzindo anualmente cerca de 64 milhões de garrafas.
 
Dois estilos se destacam:
 
– vinhos frutados e refrescantes, com coloração esverdeada, aromas cítricos e florais e acidez equilibrada. São elaborados sob as denominações Bordeaux (genérico), Entre-Deux-Mers e Côtes de Bordeaux. Devem ser consumidos ainda jovens, e harmonizam muito bem com pratos leves;
 
– vinhos delicados, mais estruturados, com maior complexidade e potencial de guarda (8 anos ou mais). Típicos das denominações Graves e Pessac-Léognan. Perfeitos para acompanhar comida asiática e peixes defumados.
 
As AOC’s (denominação de Origem Controlada)
 
1 – Bordeaux
 
Cobre a região de Gironde, respondendo por 70% da produção. Os vinhos têm coloração amarelo-palha com reflexos dourados, apresentando aromas florais, cítricos e de pêssegos.
 
2 – Entre-Deux-Mers
 
Área localizada entre os rios Garonne e Dordogne, produz 17% dos brancos. Além dos aromas típicos, são encontradas notas de frutas tropicais.
 
3 – Graves
 
Localizada a sudoeste da cidade de Bordeaux, se estende por 50Km com seus solos de cascalho (graves). Seus vinhos são de coloração amarelo-ouro, apresentando aromas complexos como os cítricos, botões florais, maracujá, ervas, castanhas, nozes, amêndoas e buxo. Sua suavidade é notável além da elegância e frescor no paladar. Podem ser guardados por 10 anos.
 
Nesta região são produzidos alguns dos melhores brancos do país.
 
4 – Pessac-Légnan
 
Esta região na margem esquerda do rio Garonne é considerada como o berço da viticultura bordalesa. Apenas 2% do brancos são produzidos aqui.
 
Os vinhos são intensos e ricos, com toda a gama de aromas citados. No palato são mais encorpados. A legislação local exige que 25% do corte seja com Sauvignon Blanc e quase sempre passam por madeira.
 
5 – Côtes de Bordeaux, Côtes de Blaye, Côtes de Bourg, Graves de Vayres, Sainte-Foy-Bordeaux, Côtes de Bordeaux Saint-Macaire.
 
Estas denominações, juntas, respondem por 5% da produção dos brancos. Sua principal característica são os aromas cítricos e alguma complexidade.
 
Embora nos dias atuais não sejam tão lembrados pelos enófilos iniciantes, o apelo dos tintos é quase irresistível, são vinhos deliciosos que merecem uma prova. Certamente um deles vai para a relação de prediletos.
 
Dica da Semana: um Bordeaux branco para completar esta explicação.
 
 
La Croix Barton Blanc 2012
 
O nariz é muito aromático, floral, frutado, vivo e fresco.
Na boca se mostra vibrante e persistente.
 

Mineralidade, um atributo ambíguo

Esta palavra tem sido usada por muitos especialistas para descrever uma sensação percebida no olfato e paladar que nos faz lembrar ou associar com pedras, terra e minerais diversos.

Nenhuma explicação até hoje foi capaz de dar uma resposta convincente. A grande maioria dos enólogos e críticos internacionais acreditavam que tudo se resumia ao Terroir.

Mas como explicar, por exemplo, que um Sauvignon Blanc vinificado a partir de uvas plantadas em terreno arenoso, apresente características minerais que só poderiam surgir, em tese, se as parreiras estivem plantadas em áreas pedregosas? 

Fruto da nossa imaginação, talvez?

foto: http://www.fabricioportelli.com
Um conceito tão intrigante que acabou se tornando um sinônimo de qualidade: basta procurar nas descrições dos mais importantes vinhos, tintos ou brancos, de qualquer origem, que vamos encontrar em destaque uma frase contendo “mineral”.

Usam e abusam do termo para torná-lo popular, mas poucos sabem o real significado do adjetivo.

Diversos estudos estão em andamento na França, Nova Zelândia e Espanha, entre outros. Muita coisa nova foi descoberta e algumas teorias já foram derrubadas.

Uma constatação muito interessante, que tem implicação direta com a ideia de que este atributo é uma sensação criada pela memória do degustador, mostrou que diferentes culturas são capazes de ter a mesma percepção sobre um determinado vinho: o conceito de mineralidade não é regional.

A Dra. Wendy Parr, que participou de um estudo conjunto entre França e Nova Zelândia, acredita que o termo surge no momento em que não são percebidos os aromas e sabores mais convencionais num vinho: na falta de outros termos por que não usar “mineral”.

Na concepção dela, vinhos muito frutados nunca serão minerais.

Mais radicais ainda são as revelações da mais recente pesquisa (2015) sobre o tema, conduzida por uma empresa espanhola que analisa vinhos, a Excell Ibérica:

“Os resultados indicam que a composição química dos vinhos e a sua percepção como “minerais” não estão diretamente ligadas ao solo do vinhedo”.

Foram identificados cerca de 17 compostos químicos presentes no vinho, que seriam derivados do seu metabolismo, das bactérias e leveduras da fermentação e dos processos de vinificação e amadurecimento, aos quais se poderia atribuir esta percepção.

Isto se opõe diretamente a um estudo anterior (2013) que apresentava alguns Ésteres e Tióis como sendo a razão dos aromas e sabores em questão.

Matéria controversa até para experientes cientistas.

Cito, novamente, a Dra. Parr:

“Ainda não sabemos com segurança o que é mineralidade (no vinho). Um assunto que não será resolvido facilmente. Não é algo “preto no branco”. Apesar de extensos esforços, os estudos até agora demonstraram, apenas, que o conceito é real e compartilhado por diferentes culturas”.

 
Use com parcimônia…
 
Dica da Semana: um bom branco para descobrir se é mineral ou não.
 
 
Chocalan Inspira Reserva Sauvignon Blanc
 
Vinho fresco e equilibrado, com sabores cítricos e ligeiras notas de ervas.
Ideal como aperitivo ou com frutos do mar frescos e saladas.

Limpando as taças e outros acessórios

Esta coluna foi sugerida pela Leitora Rosineide Saraiva, de São Luís, do Maranhão, que também pediu que comentássemos sobre como arrumar as taças numa mesa de jantar.
Nada pior que uma taça de vinho com manchas de batom, marcas de dedos, aromas estranhos e resíduos não identificados. Estes defeitos podem se estender aos decantadores e outros acessórios.

 
Limpar tudo isto corretamente envolve ciência e arte. Tão importante, que todo enófilo que se preze, deveria dominar pelo menos uma técnica e lavar seus próprios cristais.


1 – Material necessário

– detergente neutro inodoro – muito difícil de achar por aqui. Quase todos que se declaram “neutros” possuem algum tipo de aroma.

No Rio de Janeiro existe um sabão pastoso bastante popular, o Neutral. Se preferir use o tradicional Limpol Neutro.

Uma alternativa é buscar detergentes usados na área médica, vendidos apenas em embalagens de 5 litros. Monte um grupo e divida isto entre todos.

– esponja de limpeza macia – procure as que não tenham um lado abrasivo. Se for inevitável, escolha as que são indicadas para panelas antiaderentes.

A turma da Velha-guarda ainda acha que o instrumento mais perfeito para lavar uma taça é a nossa mão…

Se for possível, reserve uma esponja só para este fim, evitando contaminações cruzadas.

– toalhas de microfibra ou flanelas macias para a secagem;

– álcool, água sanitária e água quente.

2 – Taças e acessórios de cristal ou vidro

O primeiro passo é remover marcas de batom ou de gordura.

Geralmente com água quente e detergente se consegue um bom resultado.

As manchas mais persistentes não resistirão a um tratamento com papel toalha, com um pouco de álcool ou mesmo aquelas pequenas esponjas para remover maquiagem.

A próxima etapa é uma boa ensaboada com especial atenção para a borda e fundo da taça, seguida de um extenso enxague em água aquecida.

Taças de cristal são mais porosas que as de vidro comum e, por esta razão, a quantidade de detergente usada deve ser a mínima possível: 1 gota por peça no máximo.

Taças de vidro podem ser lavadas em máquina lava-louça sem problemas.

As fotos a seguir mostram uma série de acessórios que podem facilitar muito este trabalho.
Não são muito fáceis de encontrar por aqui:



Diferentes esponjas de limpeza, a mais comprida serve para limpar um decantador;

 

Estas bolinhas de aço são próprias para os decantadores e garrafas de cristal. Use-as com água e detergente e recolha-as com auxílio de uma peneira;


3 – Finalização

Esta é a parte mais importante deste processo. Envolve escorrer as taças e acessórios, seguida de uma etapa de checagem e polimento.

Opcionalmente, pode-se fazer uma esterilização, passando cada peça por uma solução de 1 colher de sopa de água sanitária em 4 litros de água (não pode ter cheiro forte de cloro), antes de colocar para escorrer.

Taças e decantadores devem secar com a boca para baixo, seja pendurados em racks próprios, nos tradicionais escorredores ou sobre tapetes que absorvam a água (dish drying mat).

Veja as ilustrações:


Uma vez secas, deve-se fazer uma boa checagem visual em busca de resíduos que não foram removidos e odores estranhos. Neste caso, lave novamente.

Se tudo estiver certo, antes de guardar se deve passar um pano macio para polir. Use qualquer tecido que não solte fiapos. O ideal são os panos de microfibra, mas os profissionais ainda preferem uma flanela de ótima qualidade embebida em um pouco de álcool.

Guarde tudo com a boca para cima e com espaço entre a peças. Se não for possível e as taças ficarem muito próximas, envolva-as em papel de seda.

Arrumando a mesa

Não é nenhum mistério a colocação das taças numa mesa formal ou informal. Poucos princípios devem ser observados.

Vamos a eles:

– todas as taças serão colocadas no lado direito do prato, seja formando um triângulo, uma linha diagonal ou em semicírculo;

– sempre haverá uma taça para água, que deve ser colocada em alinhamento com a faca principal;

– o número total de taças, por pessoa, vai corresponder ao número de vinhos que serão servidos;

– serão dispostas à direita da taça para água, em ordem que corresponda do último vinho para o primeiro;

Exemplo no caso de 2 vinhos:
(da esquerda para direita) – água – tinto – branco.

Existe uma razão para isto, os vinhos são servidos pelo lado direito do convidado. Ao final de cada etapa da refeição, as taças utilizadas são removidas.

Se for servido um espumante ao final da refeição, a taça pode ficar por fora do alinhamento tradicional ou ser a mais próxima da taça para água.

O mesmo raciocínio vale para o caso de um Porto ou vinho de sobremesa.

Atualmente, principalmente em reuniões informais, adota-se uma única taça para todos os tipos de vinho, a denominada ISO, inclusive para os espumantes.

Não se preocupem com a troca de taças entre vinhos diferentes. Há um velho chavão que diz:

“Nada melhor para lavar uma taça que o próximo vinho”.

Dica da Semana: Ainda é tempo para degustar um bom tinto

Aliwen Reserva Cabernet Sauvignon Carménère


Coloração violeta profundo.

Aromas de frutas maduras, especiarias e madeira.
Bom corpo, taninos maduros e final persistente.
Harmonização: Costelinha de porco com molho agridoce

Descomplicando

O mundo do vinho anda em franca expansão. Atualmente existe uma infinidade de estilos, uvas, produtores (todo dia surge um nome novo) o que torna o simples ato de comprar uma garrafa uma tarefa que já está exigindo um doutorado.
 
Não deveria ser assim.
 
Para simplificar esta complexa operação, vamos explicar uns poucos fatos sobre a nossa bebida predileta que vão ajudar na hora de fazer escolhas.
 
1 – Diminuindo o número de opções
 
Quem nunca visitou uma loja especializada em vinhos é capaz de se perder lá dentro. Há um pouco de tudo numa confusão visual (para quem não é do ramo) atordoante.
 
Os vinhos podem estar organizados por país produtor, dentro deste por região e finalmente, dependendo das normas locais, por variedade ou estilo.
 
Aqui vai o 1º conselho: simplicidade.
 
Se o leitor já tiver um paladar definido, procure por suas castas prediletas ou cortes elaborados a partir delas.
 
Se ainda não definiu o seu vinho de cabeceira, este é um bom momento para começar a apurar o seu gosto pessoal.
 
Comece pelas principais castas, algumas chamadas de “nobres”, o que não é por acaso: Cabernet Sauvignon, Merlot e Pinot Noir entre as tintas e Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling entre as brancas.
 
No nosso país podemos acrescentar a esta relação mais algumas castas que são famosas no continente: Malbec, Carménère, Syrah e Tannat, além das brancas Torrontés e Albarinho.
 
Com o tempo, expanda para castas mais regionais como as italianas Sangiovese e Nebbiolo, a espanhola Tempranillo ou as diversas uvas de Portugal (Touriga Nacional, Baga, etc.).
 
2 – Entendendo os rótulos
 
Dependendo das normas de produção de um país e de algumas tradições, os vinhos podem ser rotulados de várias formas, o que pode ser muito confuso:
 
– por casta (varietal);
– por região;
– por nome ou marca.
 
O primeiro tipo é o mais fácil e direto: Cabernet, Merlot, Zinfandel, etc. Não pode haver dúvida, mas é interessante pesquisar um pouco mais, ler o contrarrótulo, em busca de detalhes: nem sempre o conteúdo de uma garrafa deste tipo contem 100% da varietal declarada.
 
Os rótulos por região, muito comum nos vinhos franceses, podem complicar a vida de um comprador leigo.
 
Exemplos clássicos são os rótulos com a expressão Bourgogne: os tintos são Pinot Noir e os brancos, Chardonnay.
 
Vinhos com a indicação Bordeaux são cortes onde predominam Cabernet Sauvignon ou Merlot.
 
Outros países que adotam este tipo de rótulo são Itália (Chianti), Espanha (Rioja) e Portugal (Douro, Dão, etc.).
 
Os rótulos mais enigmáticos são dos vinhos que recebem apenas um nome ou marca, onde o produtor quer prestar uma homenagem ou contar a história de uma vinificação através de uma única palavra ou frase.
 
São, quase sempre, vinhos que de alguma forma fogem à regulamentação do país produtor.
Um exemplo conhecido são os chamados Supertoscanos, elegantes cortes da casta Sangiovese com uvas nobres como Cabernet ou Merlot. Como não poderiam ser vendidos como os vinhos tradicionais, receberam “marcas” que acabaram por se tornar icônicas: Tiganello, Ornelaia, Sassicaia, etc..
 
Outros países que adotam este estilo: Estados Unidos, Austrália, Chile, África do Sul e Argentina.
 
3 – Terminologia
 
Experimentem responder a este desafio: descreva o seu vinho predileto.
 
Parece fácil, mas não é.
 
Não existe uma “linguagem comum” no mundo do vinho. Excetuando-se alguns descritores mais conhecidos, o número de adjetivos que podem ser usados nesta resposta é bastante alto, outro fator que causa confusão, principalmente se o seu interlocutor for alguém encarregado de lhe oferecer um vinho, seja ele um Sommelier, o vendedor de uma loja ou o seu anfitrião numa reunião social.
 
Para sair deste dilema só aprendendo a usar corretamente alguns destes termos o que pode ser feito em cursos de degustação ou com leituras especializadas.
 
Mas muito cuidado na hora de usar: fácil ficar monocórdico e receber a temida pecha de “Enochato”…
 
4 – Safras
 
Saber quais as safras que foram as melhores é para os que realmente são especialistas e profissionais.
O enófilo do dia a dia, por outro lado, deve usar a indicação do ano de vinificação de outra forma, muito mais simples:
 
– saber se é um vinho jovem ou não e degustá-lo de acordo;
– entender que o seu vinho predileto hoje, não vai ser mais o mesmo na próxima safra.
 
Um conselho final com linguajar bem atual: desgourmetize!
Dica da Semana: um bom exemplo para entender rótulos varietais…
 
PALO ALTO RESERVA MERLOT 2012
(60% Merlot, 33% Shiraz, 5% Tempranillo e 2% Viognier)
 
Aroma fresco e complexo.
Notas de frutas vermelhas provenientes da Merlot, notas de especiarias da Tempranillo e notas de damasco da Viognier.
No paladar é suave, fresco e mineral. O carvalho aporta complexidade e doçura.
Harmonização: Bastante versátil, acompanha carnes brancas, risotos, massas e queijos maduros.
 

O Mercado do Vinho e a Crise Brasileira

Prezados leitores.
 
O texto de hoje não é meu. Foi transcrito do jornal Valor Econômico pelo amigo e leitor, sempre atento, Ronald Sharp.
 
Achei muito importante em função do período de vacas magras que se aproxima. Espero que seja do interesse de todos.
 
Eis a transcrição:
 
Publicação: Valor Econômico – Empresas – 22/09/2015 – p. B 8
 
Título: No consumo de vinhos, brasileiro vai migrar para rótulo mais barato.
 
Autor: Maria da Paz Trefaut
 
A disparada do dólar e os novos impostos que incidirão sobre as bebidas alcoólicas a partir de 1º de dezembro têm levado um clima de incerteza aos importadores de vinho. Mas eles parecem concordar em como o consumidor vai reagir: haverá migração imediata para rótulos mais baratos.
 
“As regras do governo não são claras e é difícil compreendê-las”, diz Adolar Hermann, proprietário da importadora Decanter, que contratou um especialista em tributação para entender o que vai mudar.
 
“Estamos esperando os resultados desse estudo para ver como poderemos nos adequar sem prejudicar demais o consumidor”.
 
Conforme anunciado em 31 de agosto, o novo modelo de tributação incide sobre vinhos nacionais, do Mercosul, e de outros países, e cria um imposto extra de 10% sobre o valor de cada rótulo. No caso dos uísques e outros destilados, o imposto eleva em 30% o que era pago até agora.
 
De acordo com a Receita Federal, a medida deve gerar uma arrecadação extra de R$ 1 bilhão em 2016. No caso do vinho, os importadores parecem unânimes em reconhecer que a consequência imediata será uma migração para os rótulos mais baratos.
 
“Precisamos buscar alternativas para fidelizar o consumidor, com oferta maior de produtos no segmento que denominamos ‘preço versus prazer’, nossa versão para o tradicional ‘custo versus benefício'”, diz Hermann.
 
Embora a Decanter produza vinhos e espumantes no Rio Grande do Sul e na Serra Catarinense, 98% do faturamento é proveniente da importação. O maior volume de vendas concentra­se na faixa entre R$ 30 e R$ 70. Pelos cálculos preliminares, uma garrafa vendida a R$ 80 passará a R$ 100, se somada a desvalorização do dólar e o novo imposto.
 
“Na verdade, a crise para nós não é nenhuma surpresa. Ela vinha sendo camuflada e tínhamos um dólar irreal. Só que agora, a queda do grau de investimento do país agrava a situação ainda mais e a solução não será rápida”, diz o empresário.
 
Para ele, neste momento, é hora de reduzir custos para ficar mais competitivo.
 
“Nossas vendas estão sendo mantidas com um sacrifício enorme de margens e com negociações duras com fornecedores. Mas é evidente que o consumo vai mudar de patamar e o cliente vai escolher vinhos mais baratos”.
Uma visão bem parecida é compartilhada por Celso La Pastina, proprietário das importadoras World Wine e La Pastina.
 
“Vivemos um momento negro, que representa um golpe duríssimo sobre um mercado pequeno, que vinha se afirmando na última década. A alta do dólar até entendo, e teria sido absorvida com mais tranquilidade se não tivesse havido interferência do governo para manter a moeda norte-americana em patamares irreais”, afirma.
 
O importador explica que os impostos anteriores, entre R$ 0,73 e R $1,08 por litro, viravam custo. Já a nova alíquota de 10% incide sobre o preço de venda de cada garrafa. Com ela, numa avaliação prévia, ele imagina que a soma de impostos atingirá 70% do preço final.
 
“Todos na categoria vinho serão prejudicados, independentemente do país. Precisamos de tempo para ver como o consumidor vai absorver esse impacto e como será a evolução da crise econômica brasileira. Se não houver aumento de renda não haverá consumo”, diz La Pastina.
 
Na World Wine, onde o portfólio soma mais de mil rótulos, os mais vendidos ficam na faixa entre R$ 50 e R$ 100. Na La Pastina, que possui acervo de 300 rótulos, as vendas se concentram entre R$ 30 e R$ 40.
 
Segundo o importador, os vinhos caríssimos, acima de R$ 1 mil já não se vendiam aqui, porque o pessoal traz de fora. Agora, os caros, entre R$ 500 e R$ 700, ficarão caríssimos.
 
Para fazer face ao momento, a World Wine começou a antecipar promoções. A cada semana cerca de trinta rótulos entram em promoção desde que vendidos em caixas com seis unidades. Os descontos, que chegam a 50% permitem, por exemplo, comprar o espanhol Setze Gallets 2012 por R$ 48,50 a garrafa, e o Maduresa 2009, também da Espanha, por R$ 121 a unidade. As promoções mudam semanalmente e incluem diversas nacionalidades.
 
Para quem trabalha apenas com vinhos caros, o mercado deve encolher ainda mais, prevê o francês Philippe de Nicolay Rothschild, que há cinco anos abriu a PNR e batizou a importadora com suas iniciais. Como parte expressiva de suas vendas é de vinhos e champanhes acima de US$ 70, nos quais a carga tributária é maior, ele calcula que com os novos impostos a soma total dos tributos pode chegar a 150% do preço final.
 
A PNR é uma importadora butique, que possui 38 rótulos, entre os da família, provenientes do Domaine Barons de Rothschild e outros, escolhidos pelo empresário ­ barão. O rótulo mais barato sai por R$ 75 e o mais caro por R$ 2,4 mil.
 
“Para vinhos raros não há promoções”, diz ele, que afirma praticar margens cada vez menores e que continua a vender garrafas de importações antigas pelo mesmo valor, sem reajuste.
 
“Para as próximas remessas terei que aumentar os preços, mas se o dólar abaixar também vou repassar essa queda para o cliente”, explica.
 
Outra mudança por conta da alta do dólar, segundo ele, é a redução no estoque.
 
“Hoje nosso estoque é apertado, suficiente apenas para dar conta das vendas nos próximos três meses”.
 
No ano passado, a PNR já registrou uma queda de 30% nas vendas e Rothschild trabalha com a hipótese de que cairão ainda mais.
 
“O grande teste será agora, porque o melhor período de vendas é o fim do ano. Mas sei que para o consumidor é muito mais complicado gastar R$ 300 hoje do que há 24 meses”, diz.
 
A PNR concentra 70% das vendas no atacado, onde tem como cliente a rede St. Marché, o que inclui o Empório Santa Maria. Para pessoas físicas, as vendas são para eventos específicos, na maioria casamentos, para os quais a bebida escolhida costuma ser o champanhe. Otimista, Rothschild acredita que apesar da crise o cliente continuará a gastar um valor semelhante com vinhos, o que o levará para rótulos mais acessíveis.
 
“Em tempos de crise acaba acontecendo sempre o mesmo em todos os países. Se já é difícil viver, fica ainda mais difícil se tirarmos todos os prazeres. Então, nessas horas, comprar uma garrafa para compartilhar com os amigos torna a vida melhor”.

Dica da Semana: para tentar fugir desta crise, um interessante vinho da tradicional Vinícola Aurora.
 
 
Pequenas Partilhas Malbec 2013
 
Coloração roxa profunda com matizes púrpura.
Aroma frutado lembrando ameixas pretas maduras.
Paladar agradável e taninos suaves, acidez equilibrada e boa persistência.
Um vinho harmônico e muito sedutor.
Harmonização: Bife de chorizo, entrecot, costela ou lombo de porco assado, empanadas ou aves como codorna e perdiz.
 
« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑