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Mudando o Foco: Derivados do Vinho – 1ª parte

Nas últimas semanas mencionamos as aguardentes vínicas que compõem os fortificados. Hoje, vamos conhecê-las detalhadamente. Surgiram como subproduto do vinho, mas algumas se tornaram tão importantes que passaram a ser produzidas a partir de uma vinificação própria, dedicada. Assim, na Itália, a Grappa; em Portugal, a famosa Bagaceira e a Aguardente Vínica; na França, o Marc, o Cognac e o Armagnac; na Espanha, o sofisticado Sherry Brandy, ou Aguardente de Jerez, e o popular Orujo. No Peru e no Chile, nossos vizinhos, o Pisco. A lista é grande, mas essas são as mais conhecidas. 

O destilador

Para quem nunca visitou um alambique, ou não se lembra mais das aulas de química na época do curso científico, a foto acima dará uma boa ideia sobre esta indústria. Uma vez fermentado, o mosto é colocado nestes curiosos caldeirões, e aquecido fortemente. O vapor é coletado na tubulação superior e conduzido para um sistema de resfriamento. O resultado é um álcool de uva. Só para refrescar a memória, existe álcool de cana de açúcar, de cereais, de legumes e de quase qualquer fruta.

Coleção de aguardentes de diferentes frutas 

Comecemos pelas bebidas obtidas a partir da destilação dos bagaços: Grappa, Bagaceira, Marc e Orujo. Tecnicamente trata-se do mesmo produto. O que os diferencia são as uvas e pequenos detalhes do processo produtivo, alguns obrigatórios por lei. O Pisco sul-americano tem origem semelhante, mas é produzido de outra maneira. 
Grappa 
Existe uma lenda em torno desta bebida, que teria sido obtida, pela primeira vez, por meio de um destilador roubado do Egito, durante o reinado de Cleópatra, e levado para a cidade de Bassano del Grappa, na região do Veneto, nordeste da Itália. Estudos recentes, porém, mostram que somente depois de 1600 é que a tecnologia de destilação sofisticou-se a ponto de permitir a produção. 

Bassano del Grappa 

A União Europeia estabeleceu normas para o seu reconhecimento: 
1 – dever ser originária da Itália, da parte italiana da Suíça ou de San Marino; 
2 – deve ser destilada dos bagaços, isto é, cascas, sementes, polpa e caules das uvas prensadas para a produção vinícola; 
3 – não pode sofrer adições (água, alcool etílico, etc.). 
A destilação exige extremo cuidado, pois a presença das sementes e caules implica na obtenção de metanol, que é tóxico. A legislação italiana é muito severa a este respeito. 

Coleção de Grappas 

A Grappa é uma bebida clara. Alguns produtores, no intuito de sofisticá-la, a envelhecem nos barris usados na vinificação, do que resulta uma bebida de cor escura. No Brasil, além da produção de vinhos, os colonos italianos destilaram uma aguardente conhecida por Graspa, denominação de origem veneziana e conforme o processo do seu país de origem. Alguns adotam a denominação mais comum, Grappa. São servidas como digestivos, após uma lauta refeição, geladas ou na temperatura ambiente. Outra opção deliciosa é adicionar ao café expresso ou fazer como em Veneza: ao terminar o café, lave a xícara com uma dose e beba num só gole. 

Bagaceira 
Para os brasileiros, apreciadores de uma boa cachacinha, a Bagaceira desempenhou papel fundamental. Explica-se: foi a partir do know how português que, nos séculos XVI e XVII, aqui se instalaram as primeiras casas de cozer méis, ou destilarias de cachaça. A técnica original, aprendida com os mouros, era utilizada para produzir a Bagaceira, em Portugal. No Brasil de então, à falta de uvas, destilava-se o fermentado de cana de açúcar 

A lei portuguesa define como Bagaceira a aguardente de vinho com teor alcoólico de 35% a 54% em volume, obtida a partir de destilados alcoólicos simples de bagaço de uva, com ou sem borras de vinhos, podendo ser retificada parcial ou seletivamente. Admite-se o corte com álcool etílico potável, da mesma origem, para regular o conteúdo de congêneres. É justamente esta adição que a torna diferente da Grapa. Assim como sua irmã italiana, a Bagaceira é servida como digestivo, colocada no café ou utilizada na culinária. 

Marc e Orujo 
França e Espanha produzem versões do destilado de bagaços. Embora não tenham conquistado o mundo, são conhecidas e apreciadas regionalmente. O Marc ainda é utilizado na produção do Macvin, vinho fortificado da região montanhosa do Jura. 

O Pisco Peruano e o Chileno 
Nossos vizinhos produzem este delicioso destilado que se tornou famoso por causa de um drinque, o Pisco Sour, quase tão popular quanto a caipirinha. A curiosidade fica por conta da disputa travada entre os dois países pela origem da bebida. 
São duas bebidas na verdade, com o mesmo nome, mas diferentes matérias primas e técnicas de produção. Do ponto de vista histórico, o Pisco se originou no Peru. Os colonizadores espanhóis foram os primeiros a fabricá-lo a partir de vinhas transplantadas das ilhas Canárias. O Pisco chileno é produzido a partir de um vinho; o Peruano, a partir de um suco de uva. Ambos são deliciosos. 

Para quem gosta de se aventurar como Bar Tender, eis uma das muitas receitas do coquetel nacional do Chile e Peru: 
Pisco Sour 
Pisco – 100 ml 
Suco de limão – 100 ml 
Açúcar – 1 colher de chá (ou a gosto) 
Clara de ovo – 1/4 
Essência de rosas – 2 gotas (opcional) 
Gelo picado 
Bata tudo num liquidificador e sirva numa taça, ou copo de boca larga. Salpique canela em pó sobre a espuma. 

Dica da Semana: escolha uma! 

Grappa de Cabernet Sauvignon da Casa Valduga 
Elaborada através da destilação natural de uma das mais finas castas, a Cabernet Sauvignon, pelo processo lento e artesanal em alambiques de cobre. O efeito do solo, a ação do clima, a paciência e a atenção resultaram neste produto exclusivo e de alta qualidade. Produzido no Vale dos Vinhedos Bento Gonçalves, RS. Graduação alcoólica 40,8% vol. 

Aguardente Bagaceira Caves Aliança 
Produzido pela tradicional vinícola Aliança, a partir de uvas selecionadas. Graduação alcoólica 46% vol. 

Pisco Capel (Chile) 
O Pisco mais vendido no mundo. De sabor adocicado, trata-se de um destilado de uvas Moscatel, utilizado na confecção de inúmeros drinques, desde o mais famoso, o Pisco Sour, até a versão chilena do Manhattan, e a caipirinha. O Pisco Capel é produzido na zona pisquera do Valle de Elqui, ao norte do país. Graduação alcoólica 40% vol.

Saúde!

Vinhos Fortificados – Final

O Madeira e outras delícias 
Neste último episódio da série sobre os Fortificados, deixamos a Andaluzia e vamos para o território português da Ilha da Madeira, que batiza o seu vinho emblemático. Ele é o 3º peso-pesado deste grupo sendo tão importante quanto os outros dois. 

A vinificação nesta simpática ilha remonta à Era das Explorações (posterior aos descobrimentos). Sendo um porto obrigatório para os navios que seguiam para o Novo Mundo ou para as Índias, o vinho local abastecia os navios e, para resistirem à longa viagem, eram misturados com aguardente. Os barris ficavam, muitas vezes, no convés, sem proteção contra as altas temperaturas e sendo suavemente agitados pelo balanço das ondas. Em algum ponto não registrado da história, uma sobra da carga de vinhos retornou à Ilha da Madeira. O comerciante que a recebeu resolveu abrir uma das barricas e provar. O sabor havia mudado completamente. Estava descoberta uma nova delícia que traria fama e reconhecimento aos vinicultores locais. 
O Processo Produtivo 
As varietais usadas são: Malvasia ou Malmsey, Boal, Verdelho e Sercial, todas brancas e a Tinta Negra Mole. Cada uma vai gerar um Madeira que poderá ir do seco ao doce, dependendo do processo utilizado. O início é igual a todo e qualquer vinho, as uvas são prensadas e fermentadas. Dependendo do grau de doçura desejado pelo produtor, a fermentação pode ser interrompida pela adição de aguardente vínica. 
Por exemplo: 
Os vinhos de Sercial fermentam até quase o final, produzindo uma bebida mais clara e um pouco mais ácida; 
Os vinhos de Malvasia/Malmsey tem sua fermentação interrompida bem cedo, obtendo-se uma bebida mais escura, doce e grande acidez, o que dá equilíbrio ao excesso de açúcar evitando que se torne enjoativo. 

O que faz a diferença é o processo que segue, chamado de estufagem, quando os produtores tentam reproduzir os efeitos de uma longa viagem em climas tropicais: o vinho será aquecido até temperaturas em torno de 55 graus Centígrados! 
Existem três processos aceitos pelo Instituto do Vinho Madeira. Os vinhos comuns serão aquecidos, por um mínimo de 90 dias, em tanques de aço inoxidável ou concreto – Cuba de Calor. 
Para o vinho de melhor qualidade, emprega-se o Armazém de Calor, um galpão aquecido onde os barris de madeira de grande capacidade são submetidos a um ambiente com vapor d’água, por um período entre seis meses a um ano. 
O terceiro método, usado para os grandes vinhos, é o Canteiro. Tudo aqui é natural. Os barris são tratados ao sol, em pátios especiais. Pode durar de 20 a 100 anos para um 1ª linha ser considerado pronto. 

Canteiro 

Estilos 
O Madeira pode ser classificado pela sua doçura, idade, cor, corpo, colheita e processo de fabricação. Com tantas possibilidades, gera um pouco de confusão. Vamos apresentar uma classificação básica, que nos permitira escolher, com segurança, um bom vinho. 
Reserva – envelhecimento de 5 anos; 
Reserva Especial – 10 anos de envelhecimento e aquecimento natural;
Colheita – vinho de uma única safra com mais de 10 anos de envelhecimento; 
Frasqueira – 20 anos, no mínimo de envelhecimento. 
Segundo o teor de açúcar podem ser: seco, meio seco, meio doce e doce
Harmonização 
O Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira faz as seguintes sugestões: 
As combinações gastronômicas possíveis de se fazer com Vinho da Madeira são imensas e variam também em função do seu grau de doçura. Os secos, vinhos mais refrescantes, podem ser acompanhados com peixes defumados ou sushi, enquanto os mais doces combinam na perfeição com frutos secos, bolo de mel, chocolate escuro ou de leite. Os meio secos são muito agradáveis com consommé e sopa de cebola gratinada, ou ainda, com fois gras de pato ou ganso, enquanto o meio doce combina bem com suflês de queijo ou de frutos silvestres. 
Outras delícias 
A Península Ibérica é muito rica em vinhos fortificados, Portugal, por exemplo, ainda nos brinda com o excelente Moscatel de Setúbal. Da França vem o fabuloso Banyuls que é uma denominação controlada e os Macvin da região do Jura. O Marsala, da Sicília, que foi muito importante, hoje está desprestigiado. Quase todos os produtores do novo mundo fazem algum tipo de vinho licoroso: EUA, Austrália, África do Sul, Brasil e Argentina, entre outros. Alguns adotam os nomes de Porto e Madeira, o que é proibido. Caso típico brasileiro são os vinhos da marca Isidro, muito usados na culinária. O Instituto do Vinho do Porto os considera como uma fraude. No link abaixo há coleção de produtos piratas: 
http://www.ivdp.pt/pagina.asp?codPag=96&codSeccao=6&idioma=0 
(role a tela para as fotos) 
Uma interessante curiosidade vem da Argentina. A vinícola Família Zuccardi produz uma linha de vinhos fortificados, muito saborosos, mas que não teve o sucesso esperado entre os argentinos. Resultado – passaram a denominá-lo Malamado. No estilo mais seco é usado para fazer caipirinha… 

Finalizando 
Muitos leitores escreveram para esta coluna quase sempre colocando os vinhos fortificados como doces, o que não é verdade. Talvez por terem sido apresentados logo após as colunas sobre os de sobremesa, tenha gerado a confusão. Para dirimir quaisquer dúvidas, compilamos este resumo: 
Fortificados Secos e Ácidos 
Jerez dos tipos Fino, Manzanilla e Amontillado 
Madeira das cepas Sercial e Verdelho 
Fortificados Escuros, que variam de meio doce a doce 
Jerez Oloroso e Pedro Ximenez 
Porto, safra tardia, vintage 
Madeira das cepas Malvasia/Malmsey e Bual 

Dica da Semana: 

Ferraz Medium Rich Madeira 
Produtor: Madeira Wine Company País: 
Portugal /Ilha da Madeira 
Este Madeira Medium Rich é elaborado pela famosa F.F. Ferraz & Cia, responsável por alguns dos melhores vinhos Madeira de toda a história. Mostra muita tipicidade, com um agradável e típico bouquet, um palato levemente doce e excepcional relação qualidade/preço.

Vinhos Fortificados – 2ª parte

Um aperitivo por excelência 
O vinho desta semana vem da Espanha, da região da Andaluzia, que além desta deliciosa e complexa bebida, é o berço dos magníficos cavalos Andaluz, das touradas e da dança Flamenca. Conheçam o Jerez, também chamado de Sherry ou Xérès. 

Em sua legião de apreciadores, vamos encontrar nomes como o de Cristovam Colombo e Fernão de Magalhães, que teriam levado barris de Jerez em suas viagens de descobrimento. William Shakespeare, Alexandre Fleming e Edgar Allan Poe eram apreciadores desta bebida. Até no cinema vamos encontrar referências, como o personagem Mr. Banks, do filme Mary Poppins, que degustava um cálice, junto com seu cachimbo, diariamente às 18:02. Na TV moderna, a comédia Frasier usava este vinho para unir os dois irmãos após um dia de trabalho. A cena ficou tão icônica que foi usada como chavão para encerrar o seriado: quando o Jerez acabou… 
O seu nome tem uma longa e antiga história, que começa com os Fenícios. Eles plantaram as primeiras vinhas e começaram a vinificar por volta de 1100 AC. Esta prática foi mantida através dos períodos de dominação grega, cartaginesa e romana. A partir do ano 711, começa a ocupação pelos Mouros. Coube a este povo a introdução das técnicas de destilação e o desenvolvimento da bebida fortificada. A cidade onde era produzido foi chamada de Scherish, palavra de onde derivam Jerez, em espanhol, e Sherry, em inglês. A cidade, atualmente, se chama Jerez de La Frontera. A expressão La Frontera foi agregada para indicar que, naquela região, havia uma separação entre cristãos e muçulmanos.
Estilos e Processos Produtivos 
O Jerez é um vinho muito peculiar: são 3 tipos de uva, 3 solos e pelo menos 2 métodos de produção bem diferentes. As várias combinações possíveis entre estes elementos é que determinam o tipo de bebida final. Para compreendermos este complexo sistema, vamos nos guiar pelos diferentes estilos: Fino, Manzanilla, Amontillado, Oloroso, Palo Cortado e Pedro Ximenes ou Jerez Doce. 
A Pedro Ximenes é uma das uvas mencionadas. É plantada em solo do tipo barro vermelho ou em terrenos arenosos. Após a colheita, são colocadas ao sol para aumentar o teor de açúcar, um processo chamado soleo. Atingido o grau desejado, as uvas são prensadas e a aguardente vínica é adicionada ao mosto, sem fermentação. O vinho é colocado em barris, para envelhecer, obtendo-se uma bebida doce, muito aromática e saborosa. A uva Moscatel também produz um Jerez doce. 
A uva mais importante, Palomino, recebe um tratamento diferente. É plantada num solo bastante calcário, chamado Albariza. As uvas são prensadas e fermentadas em grandes barris de carvalho, com capacidade entre 500 e 600 litros, que não são totalmente cheios. Após a fase tumultuosa de fermentação, o espaço vazio permite a formação de uma película sobre o mosto, denominada Flor. O segredo desta complexa vinificação está na evolução desta película que, na verdade, é uma levedura. 

– Se a película for espessa e a cor permanecer um branco amarelado, o vinho será acrescido de aguardente (encabezado) dando origem ao tipo Fino, que é seco e de tonalidade clara. 
– Caso a cor se altere e a película for mais fina, se obtém o tipo Amontillado de tonalidade mais escura e paladar de nozes. 
– Quando o desenvolvimento da película for quase inexistente, o produto final será o Oloroso, rico em aromas e o mais alcoólico de todos. Este é o grande Jerez, apreciado em todo o mundo. 
O estilo Palo Cortado deriva do Amontillado. É obtido pela interrupção da Flor, seja por acidente ou propositadamente. Aproxima-se, em cor e sabor, do Oloroso. 
O Envelhecimento ou Afinando o Vinho 
O grande charme deste fortificado esta no complexo processo de amadurecimento ou afinamento, conhecido como Solera. Começou a ser usado no século XIX, para atender não só a grande demanda de todo o mundo, mas principalmente para se obter um produto homogêneo, ano a ano, sem se preocupar com as safras. 

Para cada tipo de vinho são montadas três fileiras de barricas, com capacidade de 500 litros. A fileira mais acima é a 2ª criadeira, a seguinte é a 1ª criadeira e a última, junto ao solo, é a Solera – não confundam com o Soleo, que vem de Sol. Desta última fileira é que sai o vinho que será comercializado. Retirada a quantidade necessária, sempre com muita delicadeza para não perturbar o que acontece dentro dos barris, é transferida da 1ª criadeira a mesma quantidade. O vinho da 2 ª criadeira é usado para repor o que falta na linha inferior e, finalmente, vinho novo é colocado na linha de cima. Parece mais complicado do que é. A lógica toda se baseia em repor, exatamente a mesma quantidade que for tirada em cada linha. Um detalhe importante: os barris nunca são totalmente cheios, para permitir uma evolução, controlada do vinho. 

Serviço e Harmonização 
Deve ser bebido nas copitas, um cálice alto, de desenho próprio. Uma das atrações mais elegantes que se pode presenciar, numa Bodega Jerezana, é assistir um Venenciador servir uma copita diretamente do barril. Venencia é a haste metálica com um pequeno reservatória na extremidade. 

As temperaturas de serviço são: 
Finos e Manzanillas entre 7 a 9 º C; 
Olorosos 16 º C ; 
Amontillados 14 º C ; 
Pedro Ximenez 17 º C. 

Os vinhos de Jerez são o acompanhamento ideal para as tapas, aquelas pequenas entradas, muito em moda por aqui. Mas podemos ir mais longe. Apresentamos, abaixo, algumas sugestões, por tipo de Jerez: 
Fino: servido normalmente como aperitivo. Acompanha bem mariscos, peixes temperados fritos, hadock defumado. Tem suficiente personalidade para contrastar com aspargos, alcachofras, comida mexicana picante ou saladas avinagradas; 
Manzanilla: por ser mais delicado é indicado especialmente como aperitivo, acompanhado de azeitonas ou mariscos; 
Amontillado: um senhor vinho para ser degustado tranquilamente, sem pressa. Perfeito com embutidos de sabor marcante, jamón serrano, chistorra e com o queijo manchego. Sopas de pescados, cremosas, à base de queijo e patês de aves, são opções mais ousadas. 
Oloroso: é considerado o Jerez típico, sucesso em todo o mundo. Muito versátil, pode acompanhar uma refeição, ser servido como aperitivo ou acompanhar sobremesas não muito doces. Perfeito com frutas secas. O de estilo mais seco, acompanha pratos com tempero marcante, à base de pimentão ou curry. 
Pedro Ximenez: o mais doce dos tipos de Jerez deve ser servido após as refeições ou acompanhando sobremesas. 
Olé! 
Dica da Semana: 

Manzanilla Clássica Hidalgo 
Produtor: Hidalgo 
País: Espanha/Jerez 
Irmão menor do consagrado Manzanilla La Gitana, o Hidalgo é um Jerez seco e leve, ideal para aperitivos ou para acompanhar tapas.

Vinhos Fortificados – 1ª parte

Vinho do Porto – uma tradição portuguesa para o mundo 
Os leitores devem estar curiosos por não termos colocado este vinho junto com os de sobremesa. Há um grande motivo: vinho do Porto é um vinho como nenhum outro. Tem uma história interessantíssima e se há alguma bebida que pode ser chamada de tradição, este é o caso. 
Portugal é, provavelmente, o país com o maior número de castas viníferas, nativas, disponíveis no seu território e um dos 10 maiores produtores de vinho. A origem da vinificação na Península Ibérica remonta cerca de 2000 anos AC, quando um povo bárbaro, os Tartésios, teriam introduzido as vinhas na região. Os Fenícios teriam sido os primeiros a produzir vinho, tradição mantida pelos Romanos até o domínio Muçulmano durante os séculos VII a XII. A nação portuguesa surge entre os séculos X e XII, quando os cristãos se estabelecem na região hoje conhecida. 
O nosso vinho desta semana não chega a ser tão antigo assim. Surgiu, para o comércio mundial, a partir do século XVII, embora sua forma de produção já fosse conhecida desde os tempos dos descobrimentos. Reza uma tradição que um Porto teria sido o primeiro vinho a ser engarrafado e datado, em 1775, originando a indicação das safras nos rótulos. Mas há outra curiosidade: a cidade do Porto, que batizou o nosso vinho de hoje, não o produz! Ele é feito na região Vale do Douro, distante cerca de 100 km. O nome foi atribuído por ele ser comercializado nesta cidade, um porto exportador. 
Tecnicamente, não é um vinho de sobremesa, embora tenha um característico paladar adocicado, resultado de sua peculiar forma de produção. É um vinho fortificado ou generoso. Como ele, existe o Madeira, também produzido em terras portuguesas, o Xerez espanhol, o Marsala italiano, um Muscat Australiano e algumas falsificações históricas, inclusive no Brasil. O sabor doce resulta quando parte dos açúcares do mosto não é convertida em álcool ao se adicionar a aguardente vínica, para interromper fermentação. Este singular processo tem por finalidade preservar o vinho para enfrentar as longas viagens marítimas, sem azedar. Foi quase por acidente que se descobriu que isto o transformava numa bebida deliciosa, única. 
Para compreendermos melhor este vinho, vamos nos deslocar para a região do Douro, onde nascem as uvas que serão usadas no seu preparo. São 80 tipos diferentes de uvas que podem ser usadas na sua produção. Desde os anos 70, há uma tendência para utilizar as varietais Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional e Tinto Cão. 
O tipo de terreno, xistoso, fez com que os vinhedos fossem plantados em patamares, solução ainda adotada nos dias de hoje, embora conviva com técnicas mais modernas. A visão destes vinhedos é monumental. Foi a primeira região demarcada e regulamentada, no mundo, quando o Marquês de Pombal criou a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756.

Marquês de Pombal 


 Vinhedos 

Depois de colhidas, as uvas são pisadas, como manda a tradição portuguesa. Mas já há maquinas robóticas nos maiores produtores. A foto a seguir foi copiada do site da Graham´s, um dos maiores produtores, prova de que as tradições são mantidas. 
Depois de vinificados, os vinhos são preparados para o envelhecimento, que será feito em armazéns, especiais, na cidade de Vila Nova de Gaia. Antigamente, os barris eram transportados, pelo rio, nos Barcos Rabelos. 
Hoje, viaja em modernos caminhões- tanque. 
Neste link do YouTube há um interessante vídeo:
São nos armazéns que o vinho do Porto nasce. As diversas vinificações serão misturadas, de acordo com cada enólogo, e envelhecidas por um período mínimo, obrigatório, de três anos. Os comerciantes britânicos dominaram este estágio por muitos anos. Por esta razão é que surgem, num produto tipicamente português, os nomes ingleses, que não se restringem às marcas comerciais (Taylor, Graham, Croft, entre outros), mas principalmente definiram sua classificação, seus estilos. 
São duas formas de classificação, pela cor e pela forma de envelhecimento. 
Segundo a cor, temos: 
Ruby – obtido através da mescla de vinhos com diversas origens e anos. Envelhecido em garrafas de grande volume por 3 anos. Tem sabor doce, encorpado, escuro, com um intenso aroma frutado. É um porto jovem. Representa a maior parte da produção; 
Tawny – obtido a partir dos vinhos que já passaram, pelo menos, 3 anos envelhecendo em madeira. É mais claro e menos doce que o anterior.
Segundo a forma de envelhecimento, temos: 
Indicação da idade – Tawny que recebe, no rótulo, uma clara alusão à sua idade – 10, 20, 30 ou mais de 40 anos; 
Late Bottled Vintage (LBV) – vinho de uma só colheita, num bom ano, mas que não atinge a mais alta qualificação (Vintage); 
Vintage Character ou Crusted Port – obtido pela mistura de diversos vinhos com diferentes idades. Permanece engarrafado por até 6 anos antes de ser comercializado; 
Vintage – vinho de uma só colheita, de safra reconhecida como excepcional e certificado pelo Instituto do Vinho do Porto. Permanece envelhecendo em madeira por 2 a 3 anos, antes de ser engarrafado. Depois, são 20 a 50 anos de garrafa! É o que há de melhor, a elite entre os portos. Tem cor escura, encorpado, com sabor marcadamente frutado. Deve ser consumido entre 15 a 30 anos após a colheita. 
Podem ser encontradas outras denominações, bastante raras, como Colheita e Garrafeira, definindo safras muito especiais. Há ainda uma categoria especial: Vinho do Porto Branco, considerado um vinho mais leve, menos alcoólico. Recentemente surgiu um Porto Rosé.
Harmonização 
Portos são vinhos muito versáteis, tanto podem ser consumidos como aperitivos, acompanhando uma refeição leve, ou como vinho de sobremesa e ainda pode ser utilizado na preparação de coquetéis. A seguir algumas sugestões, sempre lembrando que estes vinhos tem alto teor alcoólico, em geral 20%. Seu delicioso sabor acaba nos traindo e se consumido em excesso… 
– Porto Branco Seco e água tônica (Portonic) é uma deliciosa alternativa ao Gin Tônica; 
– com salmão defumado, amêndoas torradas e frutas secas use um Porto Branco; 
– o Branco pode ser harmonizado com saladas, peixes grelhados e sopas à base de creme de leite; 
– com patês e queijos fortes prefiram um Tawny de 10 anos; 
– assados e bifes com molhos intensos com pimentas ou algumas especiarias, o LVB é opção ideal; 
– nas sobremesas à base de chocolate o Porto ideal é o Vintage ou um LBV;
– para os doces portugueses prefiram os Tawnys envelhecidos. 
As opções são inúmeras e um pouco de experimentação é sempre bem vinda. Sirva sempre em cálices e com temperaturas entre 6 a 14 graus. 

Dica da Semana: 

Porto Burmester Jockey Club 

Este é um Porto Tawny com cerca de 7 anos, resultante da cuidadosa seleção de vinhos longamente envelhecidos no silêncio das caves, representando um tributo ao espírito e paixão dos Burmester pelo Desporto e pela Natureza.

Adoçando a Vida! – Final


Vin Santo, Passito, Icewines, Late harvest… ou: 
Não só de uvas botritizadas se fazem vinhos doces.

Se houvesse uma competição entre alguns vinhos de sobremesa, os dois produtos já apresentados seriam os favoritos. Mas há sempre aquele competidor inesperado, que surpreende os demais, deixando-os para trás. É o caso do primeiro personagem de hoje. Ele não é produzido a partir de uvas atacadas pela podridão nobre, mas com semi passificadas. Como o vinho húngaro, ele é um orgulho nacional. Conheçam-no! 
Vin Santo, da Itália
Batizado assim por ter sido usado, pela Igreja Católica, na consagração da missa. Outra explicação sugere que o nome surgiu em 1439, na época do Concílio Ecumênico que se realizou em Florença, capital da Toscana, onde é produzido. Alguns o grafam como Vinsanto, mas há uma pequena confusão com esta denominação: alguns vinhos, de origem grega, da ilha de Santorini, adotam este nome. 

Tradicionalmente, o Vin Santo provém das uvas Trebbiano, Malvasia, San Colombano e Canaviolo Branco. Algumas varietais mais contemporâneas já são aceitas, como Grechetti, Pinot branco e a Chardonnay. Existe um Vin Santo tinto, raro e delicioso, obtido a partir da uva Sangiovese. Não chega a ser um vinho de cor escura, estando mais próximo de um rosé, bem fechado. Ficou conhecido como Occhio di Pernice, ou Olho da Perdiz. Após a colheita, as uvas maduras são colocadas para secar sobre esteiras de palha durante um período de até 4 meses. As uvas serão prensadas, e o mosto fermenta e amadurece, em pequenos barris, os Caratelli. O período de amadurecimento pode durar de três a oito anos. Pode ser encontrado nos seguintes estilos: doce, amabile (meio doce) e seco. Deve ser bebido em cálice, ligeiramente resfriado, a 12°C. 

Uma das boas coisas da vida (realmente muito gostosa) é acompanhar o Vin Santo com um biscoito de amêndoas, o Cantuccini. Mergulha-se no cálice e… 
É fácil de encontrar, e também pode ser feito em casa (*receita depois da dica*). 

Vin Santo e Cantuccini 

A técnica de vinificação a partir de uva passa, Passito, origina excelentes vinhos. A Itália contribui com várias delícias, entre elas o reputado Passito de Pantelleria. A França nos dá os Côtes du Jura. Até no Brasil já temos o Passito de Moscato Giallo, produzido pela Vinícola Santa Augusta, em Sta. Catarina. 

Icewines 
Uma forma interessante de aumentar o teor de doçura na uva é deixar os cachos congelarem ainda na videira: a água congela, o açúcar, não. Obviamente, isto só é possível em países de climas frios. Alguns produtores, em países com climas mais temperados, adotam a criogenia, técnica de congelamento mecânico. Ao contrário das uvas passificadas e apodrecidas, para o Icewine a fruta dever estar intacta ou não resistirá aos rigores do processo. Podem ser usadas as uvas tradicionais, inclusive varietais tintas. 

Uvas congeladas 

Alemães e Canadenses dominam este mercado e os caldos são preciosos. Também já existe um Icewine brasileiro, produzido pela vinícola Pericó. 

Late harvest – Colheita Tardia 
O termo designa todo e qualquer vinho feito com frutas colhidas algum tempo depois de terem sido consideradas no ponto, o que abrange a grande maioria dos vinhos aqui descritos: Sauternes, Tokajis, Vin Santo, Passitos. Entretanto, produtores do Novo Mundo adotaram, informalmente, esta denominação para indicar os seus vinhos de sobremesa. Frequentemente, isso sinaliza o uso de uvas muito maduras, ainda não botritizadas. Se for o caso, haverá uma informação a respeito num dos rótulos. São ótimas opções, tendo excelente relação custo x benefício. 

Late Harvest Chileno 

Neste segmento, os vinhos brancos alemães se destacam indiscutivelmente, mas nem todos são doces. Por isso é indispensável compreender sua terminologia, algo bem ordenado, mas complexo. Vamos enfrentar esta fera! 
Os brancos germânicos são classificados como: 
Tafelwein – um vinho de mesa comum, sem grandes pretensões.
Landwein – vinho regional, normalmente seco. A lei exige uvas mais maduras, o que se traduz em melhor qualidade. 
Qualitätswein – vinho de qualidade. As uvas devem satisfazer um nível legal mínimo de maturação. 
Qualitätswein mit Prädikat – vinho de qualidade, dotado de seis predicados, mencionados nos rótulos, e indicativos de um determinado nível de maturação durante a colheita. As uvas são deixadas para amadurecer lentamente, e desenvolvem grande concentração de fruta e caráter, embora mantendo altos níveis de frescor e acidez. 
São elas:
    Kabinett – uvas totalmente maduras que resultam em vinhos leves, secos. 
    Spätlese – uvas colhidas no mínimo sete dias, ou mais, após a colheita principal, contendo grande conteúdo de açúcar. Os vinhos são intensos e concentrados, em duas versões, doce ou seco (Trocken).
    Auslese – uvas muito maduras, colhidas de maneira selecionada, muitas vezes botritizadas. Vinhos de paladar doce, produzidos nos estilos seco ou meio seco – Trocken ou Halbtrocken.
    Beerenauslese – bagos super maduros normalmente botritizados, produzindo vinhos muito doces e intensos.
    Trockenbeerenauslese – bagos super maduros, botritizados e passificados, e vinhos deliciosos, doces, incrivelmente concentrados, com acidez refrescante. Este é um vinho raro e muito caro, resultado de safras excepcionais.
Cabe nesta classificação o nosso conhecido Icewine (Eiswein). Sua doçura equivale a um Beerenaulese. 

Beerenauselese

Recomendações Finais Existe, principalmente no Brasil, um vinho de mesa, vendido em garrafão, sob a denominação de Suave. É um vinho doce, obtido graças à adição de açúcar refinado ao vinho denominado Seco.  
Não é sobre este tipo de vinho que estamos escrevendo!

Nunca, jamais, em tempo algum, devemos consumir vinhos de sobremesa para acompanhar o prato principal de uma refeição. Admitem-se, neste caso, os brancos alemães, até a categoria Spatelese, com carnes claras e acompanhamentos como os da cozinha contemporânea. É impensável usar estes caldos para amenizar sabores fortes ou picantes. São perfeitos para harmonizar com queijos tipo Roquefort, Gorgonzola, patês, etc. Devem ser degustados em cálices, como um licor, e de preferência gelados. 

Dica da Semana: um Vin Santo. 

Poderi del Paradiso Vin Santo (375ml) 
Região Produtora: San Gimignano 
Safra: 2004 
Cor amarela dourada intensa. Aromas de frutas secas (amêndoas, damasco), flores secas. Na boca é doce, equilibrado, untuoso, encorpado, boa acidez, longa persistência. Ideal para acompanhar sobremesas em geral, doces de colher e os tradicionais Cantucci (biscoitos de amêndoas). 

Receita dos Cantuccini 
Ingredientes 
250g de farinha de trigo 
200g de açúcar 
1 pitada de sal 
100g de amêndoas sem pele 
2 colheres (café) de fermento em pó 
Raspas de casca de laranja 
1 colher (café) de baunilha 
2 ovos 
2 gemas 
Modo de preparo 
Misture a farinha, o açúcar, o sal, as amêndoas, o fermento, as raspas de casca de laranja e a baunilha. Adicione os ovos e as gemas. Mexa bem. Com as mãos, enrole a massa dando-lhe o formato de cordões com aproximadamente 2 cm de diâmetro. Ponha os cordões em uma assadeira untada com margarina e asse-os em forno preaquecido (180°C) até que fiquem dourados. Assim que retirá-los do forno, corte os cordões em pedaços de 2 cm de largura, tomando cuidado para que não se quebrem. Arrume os biscoitos em outra assadeira virando uma das partes cortadas para cima. Leve para assar por mais uns 5 minutos até dourar levemente.

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