Categoria: Viagens (Page 7 of 9)

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – III

O segundo dia no Pinhão prometia uma aventura bem diferente. Nosso destino era a conhecida Quinta do Crasto. Partiríamos de barco pelo Rio Douro num percurso de 1 hora até o Ferrão, um pequeno cais de onde um “transfer” nos levaria morro acima até a vinícola.
Às 11h, de acordo com a nossa agenda, estávamos à bordo do Pipadouro, partindo logo em seguida para um tranquilo passeio, singrando o rio e observando a linda paisagem em ambas margens. Para animar, foi servido um Evel branco, saboroso corte das castas Rabigato, Arinto, Viosinho e Fernão Pires, produzido numa das muitas quintas da Real Companhia Velha.
 
Honestamente, um luxo só, estávamos nos sentindo muito VIPs com este tratamento todo. Vejam as imagens:
 
 
 
Este passeio custa 35€ por pessoa e dura 2 horas. No nosso caso, como tínhamos uma visita e almoço agendados, desembarcamos no “Cais do Ferrão” após 1 hora de viagem. Foi agradável, mas achamos que ficaram nos devendo mais uma hora de passeio…
 
No desembarque, novas surpresas nos aguardavam: o nosso “transfer” era um simpático caminhão marca Bedford da década de 50, devidamente preparado para transportar os visitantes morro acima.

Eu achei muito interessante e bem dentro do espírito deste tipo de visita. Tudo nesta região respira tradição, inclusive a modernidade que é encontrada nos robôs que simulam o pisa-a-pé; os atuais tanques de fermentação com temperatura controlada; ou em outros equipamentos de ponta. Alta tecnologia, mas com um ar de pompa e circunstância de antigamente. Novamente, me senti “o rei do pedaço”, no alto da carroceria. A foto que está logo abaixo bem que merecia uma legenda como “Quinta do Crasto, aqui vou eu”!
 
 
Com localização privilegiada na Região Demarcada do Douro, esta empresa é propriedade da família de Leonor e Jorge Roquette há mais de um século. Como costuma ser com as grandes Quintas do Douro, a origem da Quinta do Crasto remonta a tempos longínquos – o nome Crasto deriva do latim “castrum”, que significa forte romano. Produzem vinhos brancos, tintos e do Porto além de deliciosos azeites. Importantes investimentos realizados nos últimos anos permitiram modernizar as vinhas e as instalações de vinificação. Utilizam as mais avançadas tecnologias, conjugadas com o tradicional método de pisa-a-pé em lagares.
 
 
 
Chamou a nossa atenção o formato tronco cônico dos tanques. Tem alguma semelhança com os ovais mostrado em colunas anteriores. Esta tecnologia é bem recente e, definitivamente, influi positivamente no resultado final.
 
Depois do recorrido nas instalações fomos levados para o local do nosso almoço, que foi previamente encomendado com base no programa abaixo.
 
 
 
 
Nossa escolha foi o Arroz de Pato. Estava delicioso e harmonizou corretamente com os vinhos oferecidos. A vista, deslumbrante, nos deixou maravilhados com o local, difícil foi ter que deixar isto para trás e voltar para o hotel.
 
 
 
O estilo duriense de receber os visitantes tem uma característica própria que enfatiza mais o estilo de vida, a gente e os vinhos, um trinômio indissolúvel. No almoço, não há aquela preocupação de harmonizar isto com aquilo. Tudo estava ao nosso alcance, os vinhos “eram nossos”, segundo um atendente, o que significava que estávamos livre para fazer as nossas próprias combinações.
 
Ao final, na hora da sobremesa, foi servido um queijo tipo Serra da Estrela, delicioso, no ponto certo, fez a alegria de todos. Eu experimentei com todos os vinhos que foram oferecidos até fazer a minha escolha. Sensacional!
 
Um resumo do que foi degustado:
 
Quinta do Crasto Branco 2012: Elaborado com Gouveio, Viosinho e Rabigato. Cloração citrino. Excelente intensidade e frescura aromática, onde se destacam notas de lima, maracujá, flor de laranjeira, e vibrante mineralidade. No palato apresenta início envolvente, evoluindo para um vinho com excelente volume, acidez e estrutura, tudo em perfeito equilíbrio com notas de grande frescura e profunda mineralidade. Termina vibrante, fresco e persistente.
 
Crasto Douro Tinto 2012: Elaborado com Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Barroca. Coloração Violeta intenso. Perfeita projeção de aromas de frutos silvestres do Douro de grande frescura e intensidade, muito bem integrados com suaves notas florais. Na boca é elegante, com volume correto, taninos redondos de textura fina que lhe conferem uma estrutura em perfeito equilíbrio. Muito rico em notas de frutos silvestres frescas que consolidam um conjunto harmonioso. Boa persistência.
 
Crasto Superior Tinto 2011: Vinificado a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Souzão e Vinha Velha. Coloração violeta intenso. Ótima expressão e intensidade aromática, onde se destacam frescos frutos silvestres, em perfeita harmonia com elegantes notas de esteva (uma flor), e suaves especiarias. No paladar tem início fresco, evoluindo para um vinho sério, de excelente volume, e estrutura compacta, onde se destacam taninos redondos e firmes. Termina persistente com agradáveis sensações de frutos silvestres em perfeita integração com especiaria fresca.
 
Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2011: Vinificado a partir de Vinhas Velhas (25 a 30 castas diferentes, inclusive brancas). Coloração rubi carregado. Fantástica expressão, concentração e complexidade aromática, onde se destacam frutos silvestres do Douro, em perfeita harmonia com suaves notas de especiaria e aromas frescos de cacau e esteva. Ataque poderoso no palato, evoluindo para um vinho muito elegante, de excelente densidade. Taninos de textura muito fina, em perfeita envolvência com frescos sabores de frutos silvestres do Douro. Termina longo e muito persistente, com uma agradável sensação de frescura. Elevado potencial de envelhecimento.
 
Quinta do Crasto LBV 2008: Obtido a partir de Vinhas Velhas (mistura de castas). Coloração violeta muito escuro. Impressiona pela fantástica frescura e exuberância aromática, que apresenta distintos aromas de frutos silvestres do Douro, muito bem integrados com elegantes notas de flor de esteva. Início harmonioso, de perfil muito elegante. Estrutura compacta, de volume correto, com taninos redondos. Textura fina e excelente profundidade. Final intenso, elegante, muito fresco e de excelente persistência.
 
Nosso retorno estava programado por volta das 15h. Seria de trem, que passa pontualmente às 15:27 na estação do Ferrão que fica ao lado do cais. Depois de uma curta viagem de 5 minutos, a um custo de 1,50€ por pessoa, o que nos fez achar que foi um mau negócio a ida de barco, exceto pelo visual, desembarcamos na estação do Pinhão com seus azulejos classificados como Patrimônio da Humanidade.
 
 
 
Este dia ainda teria mais uma surpresa, a visita do amigo Maurício Gouveia, sua esposa e filha que vieram de Mirandela e nos levariam até Vila Real. Mas este episódio fica para a última coluna desta série.
 
Nosso próximo destino: Quinta das Carvalhas.
 
Dica da Semana:  qualquer dos vinhos citados seria uma ótima escolha. Optamos por indicar um delicioso branco que foi descoberto numa prova aqui no Rio de Janeiro.
 
 
MC-Maria do Céu Reserva Branco 2012
 
Vinificado com as castas Malvasia, Moscatel Galego e Gouveio.
Apresenta cor amarelo palha, aromas de flor de laranjeira menta, chá de ervas e um leve toque fumado devido à sua fermentação em barricas.
Na boca é um vinho encorpado, fresco e equilibrado, com carácter gastronómico.
 

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – II

Pinhão é uma freguesia do concelho de Alijó com 3Km2 de área e população em torno de 700 habitantes. Situada na margem direita do rio Douro, no centro da região demarcada do Vinho do Porto, onde estão localizadas várias quintas produtoras. A paisagem do Pinhão está classificada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade.
 
A chegada, de carro, é cinematográfica. A estrada margeia o lado esquerdo do rio terminando na ponte que cruza o Douro e nos deixa na porta do nosso hotel, o Vintage House.
 
 
 
Depois de acomodados, saímos em busca do almoço. O restaurante do hotel, excelente por sinal, oferecia um menu harmonizado que optamos por experimentar no jantar. Indicaram-nos uma alternativa, o Veladouro, localizado à curta distância. Fomos caminhando pela bonita orla do cais.
 
Não era bem o que esperávamos. Uma casa simples, confortável, especializada em grelhados. Nada de alta gastronomia. Optamos por compartilhar um Bacalhau com Batatas, que estava muito seco e uma Dourada que achei correta, embora o peixe fosse servido inteiro, exigindo um paciente trabalho de remover as espinhas.
 
Melhor estava o vinho. Escolhemos um Pedra Cancela branco, da região do Dão (embora estivéssemos no Douro). Elaborado a partir das castas Encruzado, Cercial e Malvasia Fina recebeu 15 pontos (15/20) do Guia Vinhos de Portugal de João Paulo Martins. Foi um bom acompanhante para este dia de temperatura inesperadamente alta para a época. Mostrou leve notas de feno e vegetais secos no aroma além de fruta madura. Nada de cítricos, o que o torna diferente da média. Boa acidez, fresco e fácil de beber.
 
 
Nosso próximo compromisso seria às 18h quando visitaríamos a Quinta do Seixo (pertence à poderosa SOGRAPE) onde é produzido o Porto Sandeman, uma das marcas mais conhecidas internacionalmente. Fica a 5 minutos de carro.


Sandeman

 

 
Esta foi a única vista não agendada previamente. Assim que chegamos ao nosso hotel solicitamos que nos reservassem um horário. Conseguimos o último disponível neste dia. É uma visita clássica, orientada para o turista curioso e não para um especialista. Mas surpreendeu pela simpatia de nossa guia e pela qualidade de tudo que nos foi apresentado ou servido. Na chegada selecionamos qual tipo de visitação gostaríamos de fazer: os homens optaram pela “Vintage” com uma degustação com 5 vinhos do Porto incluindo o premiado “Vau Vintage” (16€ pax); as esposas preferiram a opção “Clássica” (6€ pax) com degustação de 2 vinhos apenas. O tour é o mesmo para todos.
 
Passamos para uma pequena antessala onde somos recebidos pela nossa simpática guia que vem caracterizada como o “Don”, o cavalheiro que está no logotipo da empresa. Ela explica que se trata de uma dupla homenagem: “O “Sandeman Don” é uma das primeiras imagens de marca criada no mundo e o primeiro grande ícone no mundo dos vinhos. Foi pintado, em 1928, por George Massiot Brown e, com a sua capa negra de estudante de Coimbra e o “sombrero” típico de Jerez, ainda hoje mantém toda a sua mística e atração, representando o mistério e a sensualidade da marca Sandeman”.
 
Esta imagem teria inspirado, entre outros heróis da ficção que usam capas, a do Zorro, alter ego de Don Diego de la Vega.
 
O passeio é interessante e fácil. Passamos pelos lagares onde as uvas são processadas, observamos um recorte do subsolo, a cave de envelhecimento, assistimos a um rápido filme institucional e fomos conduzidos para o conjunto sala de degustação e loja. A imagens falam por si.
 
 
Apesar de pouco técnica, foi uma bela introdução ao mundo das vinícolas do Douro. Os vinhos provados estavam ótimos.

Para encerrar este primeiro e movimentado dia, depois de alguns momentos de descanso, provamos o jantar harmonizado com os bons vinhos da Quinta da Pedra Alta, no luxuoso restaurante Rabelo. Um cardápio de 4 etapas.

1º passo:

Melão com presunto e geleia vermelha
Porto Branco Seco Reserva

 
Interessante combinação (a foto do prato se perdeu). O vinho do Porto está em fase de modernização numa tentativa de reaquecer o seu consumo que, hoje, está restrito a grandes comemorações e pessoas idosas. Jovens não se interessam. Este branco, consumido gelado, é uma das opções para conquistar novos apreciadores.


2º passo:

Massa folhada recheada com Alheira e Pasta de Azeitonas
Quinta da Pedra Alta Branco Reserva 2011

 
Elaborado com as castas Malvasia Fina, Rabigato e Gouveio, se mostrou equilibrado e agradável de beber. Ótima combinação com o sabor marcante das Alheiras, um embutido condimentado produzido a partir de carne de aves.


3º passo:

Pato Mudo – corte da ave caramelizado acompanhado de Purê de Batata
Quinta da Pedra Alta DOC Douro (15,5/20)

 
Um corte de Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Tinta Barroca com agradável acidez e taninos finos. Boa presença de frutas maduras que harmonizaram delicadamente com o toque de caramelo da ave. Aprovado!


4º passo:

Maçã Assada, Sorvete de Creme e Frutas Vermelhas
Porto LBV Quinta da Pedra Alta

 
Harmonização clássica que encerou esta boa refeição.

Nossa próxima etapa: Quinta do Crasto.

Dica da Semana:  um porto branco para inovar os drinques de verão: Portonic e Caipiporto.

Porto Cálem Velhotes Fine White

Portonic – Num copo alto com gelo sirva 1 dose de Porto Branco Seco e complete com água tônica bem gelada. Decore com uma rodela de limão.

Caipiporto – num copo baixo coloque 4 gomos de Lima da Pérsia, gelo picado e açúcar a gosto. Esmague até obter um bom sumo. Cubra com generosa dose de Porto Branco seco.

Viagem Enogastronômica à Espanha e Portugal – I

Mais uma grande aventura, desta vez em terras do Velho Mundo. O principal objetivo era conhecer a região do Douro, Portugal, onde é produzido o famoso vinho do Porto e também alguns dos melhores vinhos de alta gama deste tradicional país produtor. Aproveitamos a oportunidade para experimentar a sempre sofisticada gastronomia espanhola e alguns de seus vinhos icônicos.
 
Nosso roteiro começou por Madrid onde ficamos um par de dias. Depois, a bordo de um confortável automóvel, passeamos por Ávila, Salamanca, Pinhão, Vila Real, Peso da Régua, Porto, Óbidos, Sintra e Lisboa. Foram 10 dias e muito chão. Visitamos algumas Quintas no Alto Douro onde conhecemos pessoas encantadoras, restaurantes deliciosos e vinhos espetaculares.
 
Ao contrário de outros relatos das nossas viagens, este será mais focado no aspecto enogastronômico. Começamos pela nossa estadia em Madrid.
 
O Restaurante Estay
 
 
Com um estilo que se intitula “Pinchos & Vinos” procura unir a ideia das Tapas, pequenos bocados, com alta gastronomia. Um ambiente muito acolhedor e confortável com um cardápio para se pedir todas as opções e passar longas horas desfrutando boa comida e bons vinhos.
 
 
Para acompanhar a diversidade de pequenas porções escolhidas (Queso puro de Oveja, Jamón Bellota, Crepe de Txangurro, etc.) selecionamos uma ótima Cava, a Juve y Camps Rose Brut de Pinot Noir, que harmonizou corretamente.
 
Este produtor já recebeu diversos prêmios por suas Cavas, talvez as melhores do país. A ilustração a seguir mostra as medalhas ou notas deste espumante.
 
 
Na nossa segunda e última noite na capital espanhola fomos nos divertir na tradicional Bodega de La Ardosa, uma casa fundada em 1892. Um ambiente que nos leva de volta no tempo. Oferece um cardápio das mais tradicionais tapas e uma seleção de bebidas que passeiam desde a boa cerveja até um vermute tirado diretamente do barril, como se fosse o nosso Chopp.
 
 
Na manhã seguinte partimos para Salamanca.
 
Bar Tapas 2.0, Salamanca
 
Este foi o local escolhido para o almoço na chegada a esta cidade universitária, cheia de história. Muito interessante ser chamado de “Gastrotasca”, praticamente um bar de rua, sem nenhuma pretensão. Mas tudo que nos foi servido estava delicioso. Para acompanhar um grande vinho: Predicador!
 
 
Elaborado por Benjamin Romeo, autor do consagrado Contador (100 pts Parker), este vinho, embora jovem (2012) já mostrava excelentes qualidades. Um corte de 94% de Tempranillo e 6% de Garnacha, que estagiou por 15 meses em barricas de carvalho francês de 1º uso.
 
O nome é uma homenagem ao eterno personagem de Clint Eastwood, “The Preacher”, reparem no chapéu do rótulo. Excelente vinho.
 
Restaurante El Monje, Salamanca
 
Para a despedida, jantamos num dos melhores da cidade. Ambiente elegantíssimo, comida refinada e uma carta de vinhos que nos deixou cheio de dúvidas sobre qual escolher. Decidimos pelo Abadia Retuerta Selecion Especial 2009, um clássico da região de Castilla e Leon (Sardon del Duero). A safra de 2001 foi considerada a melhor do mundo no International Wine Challenge de 2005. Um delicioso e complexo corte de 75% Tempranillo, 15% Cabernet Sauvignon e 10% Syrah que estagiou por 16 meses em barricas de carvalho francês e americano.
 
 
Plagiando o lema da vinícola: “um trabalho bem feito”. Ficou perfeito com os pratos pedidos, inclusive com o meu polvo, acreditem.
 
 
Próxima parada: Pinhão, no coração do Douro, Portugal.
 
Dica da Semana:  o irmão menor do melhor vinho degustado na Espanha.
 
Abadia Retuerta Rívola 2009
60% Tempranillo, 40% Cabernet Sauvignon
Cor cereja intenso, lágrima densa e transparente.
No nariz, se mostra apurado, com aromas complexos: morango, café, alcaçuz, pimenta negra, cacau.
Na boca, é redondo, frutado muita fruta roxa, barrica, caramelo e toque mineral.
Robert Parker: 88 pontos
 
 
 

Mendoza 2014 – Epílogo

Muita coisa divertida acontece numa viagem como a que relatamos nas três colunas anteriores. O grupo era muito unido proporcionando bons momentos durante os deslocamentos ou nas visitas às lojas de vinho da cidade de Mendoza. Vamos contar alguns destes “causos”…
 
1 – Os grandes vinhos provados
 
Houve, sem dúvida, um vinho que foi escolhido como o melhor de todos. Esta honraria foi concedida, por unanimidade, ao Paradigma elaborado no Domaine St. Diego pelo enólogo Angel Mendoza, que também foi eleita como a “melhor visita”. O problema foi que qualquer outro vinho provado depois deste ficou em segundo plano…
 
Para permitir uma avaliação, destacamos os seguintes vinhos degustados:
 
Bodega Sinfin Guarda de Família – 93 pontos Descorchados
 
 
Bodega Melipal Nazarenas Vineyard Malbec – 93 pontos Wine Enthusiast
 
 
Dominio del Plata Brioso – 93 pontos Descorchados (mesma pontuação do Bem Marco Expressivo)
 
 
Ainda de acordo com o Guia Descorchados o campeão Paradigma recebeu 94 pontos. Outro grande vinho provado, o Mariflor Camille de Michel Roland ainda não foi cotado por nenhum crítico. O Malbec Gran Reserva da Dolium, cotado com 92 pontos por Robert Parker, foi o que menos nos impressionou.
 
Se a St. Diego não tivesse sido a 1ª visita do dia este resultado poderia ser outro. Estratégias a serem pensadas na próxima viagem…
 
2 – Quase uma debandada
 
Estávamos a caminho da última visita do dia onde seria o nosso almoço. Atrasados, como de hábito, pois a cada vinícola multiplicavam-se os interesses, o nosso simpático motorista se perdeu e resolveu fazer uma paradinha para perguntar qual seria o melhor caminho até nosso destino. Vejam onde ele resolveu parar:
 
(jamon crudo = presunto crú)
 
O que vocês estão vendo sobre o balcão do reboque é um enorme filão de pão caseiro com uma aparência estupenda. Some a nossa fome e…
 
Pena que não deu tempo de provar, mas ficou anotado para uma visita futura. A foto é do Fábio.
 
3 – Final de tarde na cidade
 
No mesmo quarteirão de nosso hotel, bastando virar a esquina, estava localizada uma das melhores lojas de vinho de Mendoza, a Sol y Vino. Muito sofisticada é mais que uma simples loja de bebidas incluindo no seu leque de produtos itens como conservas, chás, objetos de decoração, etc. Ao contrário do nosso país, onde vinho é considerado um artigo de luxo e taxado de acordo, na Argentina faz parte da cesta básica, é um alimento! A seguir uma foto do salão principal para os leitores avaliarem.
 
 
Toda noite havia um evento, aberto, com vinícolas boutiques, degustação de novos produtos ou até mesmo eventos privados como o que fizemos. O grupo resolveu degustar um dos meus vinhos favoritos, o Lagrima Canela da vinícola Bréssia, um excelente corte branco de Chardonay e Semillon escolhido pelo Guia Descorchados como o melhor em sua categoria, recebendo 94 pontos.
 
 
Outros vinhos foram provados e várias compras efetuadas: os preços eram ótimos. Não existe nada parecido por aqui, pena… (foto do Marcio)
 
4 – As opiniões de cada um
 
Pedi aos companheiros de viagem que resumissem os melhores momentos: reproduzo a seguir alguns comentários:
 
“Para mim, os harmonizados, todos, foram o alto da viagem. Excepcionais. A qualidade dos pratos aliada à perfeita harmonização dos vinhos, em ambiente extremamente agradável e exclusivo superou todas as expectativas.
 
A visita ao Angel Mendoza foi também legal, especialmente pela qualidade dos vinhos.
 
A visita à Dolium me pareceu o ponto baixo. Não era bonita e o vinho não era bom. A Sin Fin, ao menos, tem belíssimas instalações”.
 
Fábio
 
————————————
 
“Concordo com o Fábio, as harmonizações foram o forte: na Melipal, onde a carne estava deliciosa; na Suzana Balbo o lugar é fantástico. A vinícola do Angél Mendonça é realmente especial.
 
Toda viagem foi muito bem balanceada entre lugares arquitetônicos e produção artesanal”.
 
Gustavo
 
————————————
 
“Nossa viagem foi recheada de momentos especiais, vou destacar alguns:
 
– Parada em Buenos Aires com almoço relâmpago no Sucre. No retorno, o Ronald resolveu encarnar no taxista que, vendo o grupo de trás rindo aos borbotões, não deixou barato. Os dois, trocando farpas em espanhol, protagonizaram uma cena hilária, impagável!
 
– Jantar no restaurante Ana Bistrô. Tive a sorte ao escolher um cordeiro fantástico, o melhor prato da viagem.
 
 
– Ponto alto da viagem foi a visita ao Domaine St. Diego, local belíssimo e os melhores vinhos da viagem. Considero este vinho (Paradigma) o melhor da viagem, deveria ter comprado mais.
 
– Gostei muito da loja de vinhos próxima ao nosso hotel, infelizmente não temos algo parecido por aqui, até porque os preços assustam e o vinho ainda é encarado como algo elitizado, uma pena.
 
– Por fim, não posso deixar de destacar a nossa visita a Susana Balbo. O local é muito bonito, bons vinhos e comida excelente, melhor harmonizado da viagem”. 
 
(Lobianco, Ronald, Márcio e Fábio)
Márcio
 
———————————————-
 
Ronald preferiu dividir com todos os leitores alguns instantâneos especiais. Segundo suas palavras, “pura diversão”:
 
(Borrachera = Bebedeira)
5 – as “últimas” garrafas
 
Numa das minhas visitas anteriores provei um vinho chamado Oportuno, uma das muitas aproximações a um Vinho do Porto (o nome é uma referência) produzido em Mendoza. Ficou na memória e sempre o mencionava quanto o assunto era harmonizar sobremesas.
 
Fiquei todo animado pois visitaríamos a vinícola que o produzia (Domaine St. Diego) e comecei a tecer loas a respeito dele. Todos se interessaram, especialmente o Ronald, apreciador deste tipo de vinho. Para aumentar as nossas expectativas, lá estava ele na carta de vinhos do Ana Bistró, no nosso jantar de boas vindas a Mendoza. Nem pedimos, queríamos provar na fonte!
 
Mal sabíamos que não era mais produzido. Foi aquele banho de água fria. As uvas originalmente destinadas ao Oportuno são usadas atualmente para o Pura Sangre Nueve Lunas.
 
Inconformado, pedi ajuda a nossa guia para saber se o Ana Bistró me venderia uma garrafa. María José descobriu que restavam apenas duas na adega do restaurante e as arrematou, me presenteando com elas.
 
Para não deixar de cumprir a minha promessa, repeti a gentileza entregando uma garrafa para o Ronald.
 
Provavelmente as últimas deste raro vinho que deixou de ser produzido há quatro anos.
 
 
Houve outro episódio semelhante. Tínhamos uma encomenda de um licor Triple Sec (à base de laranja), produzido por uma destilaria mendocina, a Tapaus, localizada do outro lado da rua em frente à Domaine St. Diego. Seria uma compra fácil, era só atravessar a rua…
 
Não foi bem assim! A destilaria não existe mais, os sócios se desentenderam, venderam todos os equipamentos e o antigo prédio está sendo convertido para uma olivícola e um restaurante. Outra ducha fria…
 
Lembramo-nos de uma lojinha, em Mendoza, que há muito tempo atrás vendia os produtos desta finada empresa e fomos até lá. Encontramos uma única garrafa à venda. Segundo a vendedora, a última…
 
 
6 – A esticada em Buenos Aires
 
A capital da Argentina tem outros encantos bem diferentes da “capital do vinho”. Sempre vale a pena passar alguns dias desfrutando das boas tradições Portenhas. Não tínhamos uma programação definida como em Mendoza, apenas alguns desejos e uma boa lista de encomendas, inclusive de vinhos.
 
Os que viajaram para o Rio no próprio domingo compraram seus vinhos nas vinícolas, nas lojas da cidade ou no free shop do aeroporto. Como só retornaríamos no meio da semana, não tinha sentido chegar a Buenos Aires com as malas cheias. Aproveitamos para garimpar em lojas que não conhecíamos. Tivemos boas surpresas.
 
A primeira delas foi a Alma Terra, localizada em Palermo Soho (Thames 1653 – https://es-es.facebook.com/pages/Alma-Terra/198966506860063), uma “Wine Boutique and Organic Delicatessen”.
 
 
Sua proprietária, a simpática Tamara Evans, tem a preocupação de manter um leque de produtos muito interessantes que mistura o que ela classifica como “os mais procurados” e algumas garrafas especiais para os enófilos em busca de vinhos mais exóticos. Boas compras por lá.
 
A outra descoberta foi ao acaso. Uma das encomendas da nossa lista era o Linda Flor Chardonnay, geralmente uma compra fácil na Tonel Privado ou na Winery, duas lojas tradicionais. Estava em falta o que nos obrigou a pesquisar em outros estabelecimentos. Já estávamos quase desistindo quando descobrimos, ao lado de nosso hotel, uma loja de artigos de couro e vinhos, a Alpataco (Quintana 450 – www.alpatacoweb.com.ar), onde fomos muito bem atendidos e encontramos o que buscávamos. Aproveitei e fiz mais umas comprinhas… Duas novas descobertas que vão entrar na nossa lista de recomendações.
 
Mais dois destaques, desta vez puro entretenimento:
 
– na 2ª feira saímos em busca de um show de música folclórica que acontecem nas Peñas, misto de restaurante e casa de show. Neste dia, só havia na La Peña del Colorado (http://www.lapeniadelcolorado.com/) oferecendo um espetáculo “Afro-Peruano”. Sem ter bem certeza do que se tratava, lá fomos nós 4 atrás de boa diversão. Valeu a pena! Apesar do vinho…
 
Ambiente rústico e familiar, cardápio típico, boa música e uma minúscula carta de vinhos quase desconhecidos. Para não arriscar, optamos por um Malbec Penedo Borges, que depois de todos os bons vinhos provados em Mendoza nos pareceu fora de contexto. Para acompanhar, empanadas (deliciosas) e Choripan (pão com linguiça).
 
Divertimo-nos muito. “Afro-Peruano” provou ser uma série de boleros e uma pitada de salsa (pista de dança aberta), muito bem interpretados pelo grupo musical que absorvia todos os músicos que apareciam por ali, com especial ênfase nos que tocavam o “cajon peruano”, uma caixa de madeira que se encarregava da percussão. Excelente. Vamos voltar lá sem dúvida.
 
 
– Para não perder o ritmo de Mendoza continuamos nossa maratona enogastronômica. Um dos destaques foi um restaurante que reabriu, em novo endereço, agraciado com o título de “melhor cozinha de Buenos Aires – 2013”, o Freud & Fahler (Cabrera y Godoy Cruz – Palermo). Como era hora do almoço, optamos pelo menu executivo da casa, 180 pesos (R$ 36,00) com entrada, prato principal, sobremesa e 1 taça de vinho. Dentre as várias opções escolhemos saladas, carne e massa, escoltados por um bom Chardonnay patagônico (o nome se perdeu em minha anotações).
 
O restaurante é bem simples e confortável. A base é uma padaria, a cesta de pães oferecidas como couvert era de comer rezando. A tudo estava delicioso e as porções eram mais que suficientes. Muito bom, na próxima visita vamos para o jantar que tem um cardápio muito elaborado. 
 
 
Na manhã seguinte partimos de volta ao Rio de Janeiro, já sonhando com a próxima viagem. Estamos pensando seriamente em inaugurar o “Boletim Eno Tours”, muita gente interessada.
 
Cartas para a redação!
 
Dica da Semana:  para não fugir do tema, mais um bom argentino, desta vez branco.

 
Crios Chardonnay 2012
 
Vinho muito versátil que apresenta aromas de frutas brancas maduras, abacaxi e maçã, notas de baunilha.
 Paladar frutado, refrescante, com bom corpo e estrutura.
 Harmonização: peixe assado com tomilho e alecrim, espaguete com molho cremoso de queijo, salada de bacalhau, torta de palmito, quiche de alho poro, moqueca, bolinho de arroz.
 88 pontos no Guia Descorchados

Mendoza 2014 – 3º dia

Nosso último dia em Mendoza seria mais curto, pois o voo de retorno à Buenos Aires era às 17:00. Parte do grupo voltaria no mesmo dia para o Rio de Janeiro enquanto minha esposa e eu, Lu e Gustavo esticaríamos um par de dias na capital da Argentina.
 
Seriam duas visitas somente. Na primeira, descobrimos o que é uma “vinícola ecológica”, a Bodega Dolium.
 
 
A foto mostra o que está sobre o solo, apenas o pequeno restaurante/sala de degustação e os escritórios. A parte de produção está enterrada cerca de 14m no subsolo.
 
Mostramos, na coluna anterior, algo parecido na Bodega Sin Fin, que colocou embaixo do solo as áreas de entretenimento, loja e degustação. Na Dolium isto foi invertido.
 
A ideia por trás deste curioso projeto é minimizar o consumo de eletricidade e diminuir emissões ou, no jargão dos ecologistas, reduzir a pegada de carbono (carbon footprint). Interessante notar que esta empresa não trabalha com cultivo orgânico ou biodinâmico nos vinhedos, apesar de serem opções dentro da mesma linha ecológica.
 
As fotos, a seguir, foram tiradas de um mesmo ponto mostrando o lado esquerdo e o direito: está é toda a área de produção. Fazia muito frio lá embaixo, mesmo a nossa guia, que é mendocina e estava bem agasalhada, não aguentou o frio neste ambiente.
 
Resumindo: custo zero para manter o processo em baixa temperatura. Os tanques são simples, não usam qualquer tipo de controle de temperatura. Emissões nulas. Neste aspecto é formidável!
 
 
Retornamos para a sala de degustação para uma experiência bem diferente do que nos fora oferecido até agora nas outras vinícolas: uma prova comparativa. Os vinhos seriam servidos aos pares para que pudéssemos perceber as diferentes nuances entre formas de elaboração, castas, vinhedos, etc.
 
 
A Dolium trabalha com algumas linhas de produtos que começam com a denominação Andes Peak, de viés ecológico, passa pela linha Clássica e termina com os Reserva e Gran Reserva. Nesta degustação experimentamos um rosé jovem e outro envelhecido em carvalho; dois Malbec de diferentes regiões, Lujan e Uco, além de um Tempranillo em confronto com um Cabernet Sauvignon. Ao final, dois vinhos top de linha foram servidos.
 
Toda esta ação foi comentada pelo nosso anfitrião que sempre se interessava pelas nossas escolhas. Diferente e esclarecedor.
 
 
A última visita do dia foi realmente um “Gran Finale”. Embora já conhecêssemos os vinhos da Domínio del Plata (Suzana Balbo), nem em sonhos poderíamos imaginar o que nos aguardava neste deliciosos almoço harmonizado no restaurante da vinícola, o “Osadia de Crear”. (faz jus ao nome…)
 
 
Vários aspectos nos chamaram a atenção: um ambiente elegante e acolhedor, a tradicional atenção com que somos recebidos nas vinícolas, a qualidade dos vinhos que seriam servidos e um cardápio cheio de alternativas entre o tradicional e o ousado. Cinco passos e cinco vinhos, com opções para os não carnívoros, o que gerou um interessante debate.  
 
 
A primeira etapa foi regada pelo sempre bom Chardonnay 2012 da linha Crios. Para harmonizar foi servido um Escabeche de Coelho sobre uma Foccacia de Azeitonas. Equilíbrio correto e delicioso.
 
 
O próximo prato foi uma releitura de tradições locais, a Molleja ou glândula Timo dos bovinos, muito apreciada nestas terras. A apresentação era diferente: empanada e colocada num espetinho, acompanhada de cebolas caramelizadas, purê de batatas e alguns verdes. O vinho era o Crios Red Blend 2012, um corte de Malbec, Bonarda, Syrah e Tannat. Um verdadeiro festival de sabores e aromas que preparou o palato para o próximo passo.
 
 
Como a estação era supostamente fria, o prato seguinte foi uma sopa de Sobreasada, um embutido de carne de porco levemente picante. Uma harmonização sempre difícil, mas o bom Ben Marco Malbec 2012 cumpriu com galhardia o seu papel.
 
 
Para a próxima etapa havia duas opções: com ou sem carne. Cada uma seria acompanhada por um vinho diferente.
 
Obviamente a grande maioria partiu para o bife de Aberdeen Angus (raça bovina com carne muito macia) acompanhada do típico creme de milho à moda Cuyana (humita). O vinho servido foi o Ben Marco Expresivo 2013, muito bom por sinal e que proporcionou excelente casamento com o prato.
 
 
Para os que estavam mais atentos e optaram pelo prato sem carne, uma ótima surpresa estava reservada. Entra em cena o que muitos consideram como o vinho top da casa, o Susana Balbo Brioso 2012, pouco divulgado no nosso país por ter uma produção limitada.
 
Acompanhando este magnifico vinho, foi servido um elaborado Gnocchi feito com as borras do Brioso, com um pesto vermelho, cogumelos refogados e queijo defumado.
 
Supimpa! Não poderia ser melhor. Perfeito! (O mais complicado foi desviar os garfos e bocas alheias ao meu prato e vinho!)
 
 
Para terminar, foi servida a interpretação da casa sobre o que deve ser a dobradinha “doce com queijo”, harmonizada com um Susana Balbo Late Harvest Malbec 2011.  
 
 
Equilíbrio inacreditável, todos gostariam de repetir, mas era hora de partir. Ainda passaríamos por algumas peripécias no aeroporto, todas resolvidas a tempo.
 
Na próxima coluna comentaremos sobre Buenos Aires e alguns episódios curiosos que não se encaixaram neste relato dos 3 dias.
 
 
O grupo, da esquerda para a direita: María José, nossa Guia, Diretora da Divinos Rojos (www.divinosrojos.com.ar) e organizadora das visitas; eu, minha esposa; Gustavo e Lu; Lobianco; Fabio; Marcio e Ronald.
 
Dica da Semana:  como o Brioso já foi sugerido numa dica mais antiga, indicamos outro bom vinho desta vinícola.
 

Ben Marco Expresivo

 
Corte de 55% Malbec, 15% Bonarda, 10% Cabernet Sauvignon, 10% Syrah e 10% Merlot, oriundos de vinhedos em Agrelo, Chacras de Coria (Luján de Cuyo), Los Arboles (Tupungato) e La consulta (San Carlos) com idade média de 36 anos em pés francos.
Apresenta aromas de groselhas, carvalho e baunilha com notas defumadas de cacau, noz-moscada e chocolate. Taninos elegantes.
Acompanha carnes, queijos fortes e molhos intensos.
Tempo de guarda de 10 a 15 anos
 
 
 
« Older posts Newer posts »

© 2024 O Boletim do Vinho

Theme by Anders NorenUp ↑