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Machupicchu e os vinhos que não bebi – I

Ao contrário do que sempre fazemos, eu e Claudia decidimos que não passaríamos o Reveillon de 2014 no Rio. Trocamos a agitada festa carioca por uma viagem que sonhávamos há muito tempo, conhecer o Peru e visitar a famosa cidade perdida dos Incas, Machupicchu. Mas, não tínhamos ideia do que nos esperava!
 
Éramos 2 casais, Cecília e Rubens nos acompanhariam nesta deliciosa aventura, uma maratona de 7 dias, praticamente cada noite em uma cidade diferente.
 
Procuramos nos organizar o melhor possível para enfrentar esta maravilhosa jornada que começou no dia 26/12 quando embarcamos para Lima, via TACA uma boa, mas confusa empresa aérea peruana: os embarques, quase sempre, eram inexplicavelmente complicados…
 
1º dia: Lima
 
Com um fuso horário de -3 horas (em relação ao Rio de Janeiro) e após 5 horas de voo, chegamos à capital do Peru por volta das 9:30h (hora local) apesar do termos acordado às 4h (Rio) para dar tempo de chegarmos ao aeroporto, check-in etc.
 
Não chove nesta cidade e o tempo é sempre nublado devido aos efeitos da gelada Corrente de Humboldt, no Oceano Pacífico. A temperatura amena era um convite para conhecermos os arredores do bairro de Miraflores, onde ficava nosso hotel.
 
Começaram as surpresas: o nosso simpático guia, Jayson, fez várias recomendações para minimizar o “Soroche”, conhecido mal da altitude que nos esperava em Cusco, nosso próximo destino no dia seguinte: muito descanso, comidas leves e zero de álcool, tudo para não desperdiçarmos as energias que seriam necessárias nos 3.400 m de altitude da antiga capital do Império Inca.
 
Havíamos imaginado fazer um belo almoço no prestigiado restaurante Astrid e Gaston, mas não conseguimos mesa. Optamos por outro bom estabelecimento, o Alfresco, onde fomos muito bem recebidos e comemos divinamente. As fotos dão ideia do que é a sofisticada gastronomia peruana.
 
 
Escolhi um apimentado Ceviche de frutos do mar (1ª foto à direita) acompanhado de milho gigante cozido e de Camote, uma espécie de batata doce que só existe no Peru, sempre servida com os pratos mais picantes para ajudar a amenizar o impacto. Na impossibilidade de pedir um bom Sauvignon Blanc, como o chileno Morandé Pionero, não deixei passar em branco: pelo menos um tradicionalíssimo Pisco Sauer foi degustado, apesar dos protestos dos demais comensais, mais preocupados com o que poderia ocorrer em Cusco do que eu.
 
 
Após um merecido descanso fomos visitar o Parque das Fontes, atração muito interessante de Lima, com 13 gigantescas fontes de água, cada uma de um formato e vazão impressionantes. Em duas delas a garotada se deliciava com banhos de diferentes jatos de água, isto a uma temperatura de 19º. Noutra passamos por dentro de um túnel de água sem nos molharmos. Às 19h um show de luz e som projetava bonitas imagens numa cortina de água.
 
 
Ao final do dia um lanchinho leve no Punto Azul, ao lado de nosso hotel e cama, pois, no dia seguinte às 8h, embarcaríamos para Cusco.
 
2º dia: Cusco
 
Depois de um rápido voo, chegamos à bela cidade de Cusco que parece ter parado no tempo. Se alguém ainda se lembra dos filmetes do Zorro que passavam na TV de antigamente, o cenário é o mesmo. Belíssimo por sinal. Mas para fazer qualquer esforço nestas alturas paga-se um preço alto. O cansaço é instantâneo.
 
O simples ato de retirar a mala da esteira do aeroporto já nos deixava ofegantes. O nosso grupo se dividiu na maneira de lidar com esta dificuldade, que é passageira:
 
– 3 tomaram uma medicação preventiva para ajudar na adaptação;
 
– o valente autor destas mal traçadas linhas, orientado por seu personal trainer, optou por se tornar uma “tartaruga”, fazer tudo em “marcha lenta” e dedicar todo e qualquer tempo livre para relaxar, descansar e respirar pausada e regularmente.
 
Na verdade, todos nós sentimos os efeitos, uns mais, outro menos, se é que me faço entender…
 
 
Já as 13h haveria um City Tour de 4 horas. Tratamos de descansar no hotel e fazer um rápido almoço. Novamente o que nos foi servido estava apetitoso, bem que merecia um belo Rosé. Montes Cherub seria a pedida ideal para acompanhar os pratos a base de pescados e a carne pedida pelo Rubens.
 
O City Tour foi tipo “puxado”. Começamos pela Catedral que fica na Praça de Armas que corresponde ao centro da cidade. É a 2ª maior da América Latina (a 1ª fica no México, em Puebla) e seguimos, a pé, para visitar o Koricancha ou Templo do Sol, interessante exemplo de adaptação da arquitetura Inca transformada em convento pelos conquistadores espanhóis. Show!
 
Nossos companheiros de viagem, esgotados, abandonaram o Tour. Eu e Claudia voltamos para a van e continuamos o longo passeio pelas ruínas aldeãs de Sacsayhuamán, Kenko, Puca-Pucara e Tambomachay.
 
Destes, o mais impressionante foi o 1º da lista. Não dá para acreditar que sem uma escrita e meios mecânicos tenham conseguido transportar e colocar estas gigantescas pedras com precisão milimétrica. Tudo na base do “man power”.
 
Na foto abaixo, mostro uma rocha de 9 metros de altura (há mais 3 metros enterrados) que foi esculpida, polida, trazida até o local e erguida por cerca de 15.000 homens, com cordas feitas a partir de couro ou fibra vegetal trançada, planos inclinados e troncos de madeira para servir de roletes, armados como se fossem um trilho de trem. Espetacular! Eu, como engenheiro, fiquei fascinado.
 
 
Neste momento um belo Pinot Noir seria perfeito. Sentar em um local com sombra e meditar muito. Minha escolha seria um vinho da Califórnia, o Belle Gloss, para celebrar um povo genial que foi destruído pelos conquistadores europeus.
 
 
Fico pensando até onde eles poderiam ter chegado com sua Tahuantinsuyu (o seu império), sua precisão e visão holística do mundo: o Condor, o Puma e a Serpente, cada um representando uma parte da vida: o mundo de cima ou dos espíritos, o do meio ou dos homens e o do mundo de baixo ou dos mortos.
 
A vida seria controlada pela visão do Condor que nos remeteria ao mundo do meio como se fossemos um Puma a percorrer a Mãe-Terra ou Pacha Mama, a referência mais importante para eles. Sempre conscientes e corajosos, preocupados com os seus “rastros”, como uma Serpente, a guardiã do mundo de baixo, para então, um dia sermos levados para cima pelo “voo sagrado do condor”, ampliando a visão destes 3 mundos.
 
Impossível não traçar um paralelo entre esta brilhante civilização e outras como a dos Egípcios. Aliás, sem nenhuma dúvida, o Peru é o Egito das Américas.
 
 
Infelizmente não conseguimos alcançar o Templo das Águas ou Tambomachay, o cansaço chegara ao nosso limite e decidimos não encarar uma subida de mais 200m.
 
Voltamos para a van e descansamos até o hotel.
 
Depois de um bom período de repouso, saímos, nós dois, para um passeio noturno até a Praça de Armas e jantar algo leve. O outro casal não tinha forças para nos acompanhar, ficando no hotel.
 
Jantamos leve no simpático Calle del Meio, com uma linda vista para a praça. Eu ainda arrisquei uma Cusqueña, saborosa cerveja local, sob os olhares censurantes da esposa.
 
 
Era a hora de fazer a malinha para os próximos dois dias, pois o transporte que nos levaria até o Vale Sagrado e depois o trem que nos deixaria em Águas Calientes, também conhecida como Pueblo de Machupicchu tem espaços restritos para bagagem. A recomendação era levar o mínimo necessário. Mas esta parte da história fica para semana que vem.

Dica da Semana: mais um vinho que não tomei e muito agradável neste verão de sensações térmicas de 50º, no Rio de Janeiro.
 
Terrazas de Los Andes Reserva Torrontes
Vinho elegante, sem excesso de aromas, não passa por madeira, ótimo frescor, agradável. Frescor decorrente dos vinhedos de altitude de 1880 metros em Cafayate. Seus aromas puxam levemente para uma relva fresca lembravam algo de Sauvignon blanc. Vinho é fino, fresco, floral, equilibrado, versátil e muito agradável para o verão.
 

Serra Gaucha – Final

 Como naquele velho ditado, o melhor fica para o final, a última visita desta jornada, na Vinícola Salton, foi cheia de ótimas surpresas. Vamos conhecer um pouco desta história.
 
Foi constituída formalmente em 1910 por três irmãos que decidiram dar um cunho empresarial aos negócios de seu pai, Antonio Domenico Salton, um vinhateiro informal. A primeira sede era no centro de Bento Gonçalves e assim como a Cooperativa Aurora, viram a cidade crescer ao seu redor.
 
Desde o início das operações a Salton sempre teve um foco bem definido: produzir com qualidade. Sua extensa linha de produtos inclui suco de uva, vinhos, espumantes, vermutes e o conhecido Conhaque Presidente, um dos carros chefes da empresa, que é produzido exclusivamente na unidade de S. Paulo.
 
Hoje, mais de 100 anos depois, é reconhecida como uma das principais vinícolas deste país. Com as 3ª e 4ª gerações à frente dos negócios, continua sendo familiar e 100% brasileira. Em 2004 inauguraram a atual sede, no distrito de Tuiuty, encerrando as atividades na cidade de Bento Gonçalves.
 
A nova geração que dirige esta empresa trabalha para manter sua liderança no segmento dos espumantes além de se tornar a principal fornecedora de vinhos para restaurantes e similares. Pretende, até 2020, ser reconhecida como a melhor e mais respeitada indústria vinícola brasileira.
Posso assegurar que está preparada para isto.
 
 
A estrutura de turismo é a mais completa que conhecemos, com guias muito bem preparados. Por ser um Domingo, poucas atividades eram desenvolvidas na empresa. Mas o tour foi completo permitindo conhecer os equipamentos de ponta. Foram os primeiros tanques de fermentação horizontais que tive a oportunidade de observar.
 
Poucas vinícolas, no mundo, utilizam esta tecnologia. Moderníssimo.
 
 
O aspecto visual de toda a fábrica, 100% aço inoxidável, é impressionante. Passarelas preparadas para a visitação nos levam a todos os pontos, com estratégicas paradas onde o guia conta com suporte de áudio para suas explicações.
 
 
A visitação termina na sala das barricas, um espetáculo à parte.
 
 
Levados para a simpática sala de degustação, demos início aos ‘trabalhos’, 6 vinhos: 2 brancos, 2 tintos e 2 espumantes.
 
 
O primeiro vinho foi o Salton Intenso 2012, antiga linha Volpi, um corte de Sauvignon Blanc e Viognier. Seguiu o que consideramos o melhor branco provado nesta viagem, o Salton Virtude 2011, um Chardonnay muito classudo que passou brevemente por madeira.
 
Muito versátil e de paladar extremamente agradável.
 
 
O primeiro tinto era um produto exclusivo para o mercado externo o Intenso Export 2012, um varietal da uva Marsellan. O segundo, um vinho que homenageia os fundadores, foi o Paulo Salton Gerações, um bem elaborado corte Bordalês com 50% Cabernet Sauvignon, 40% Merlot e 10% Cabernet Franc.
 
Tem lugar seguro na minha adega embora ainda não esteja sendo comercializado, nem o rótulo foi definido ainda.
 
 
Na sequência foram servidos o Prosecco 2012 e o espumante Gerações Antonio Domenico Salton, um excelente brut nature com 50/50 de Chardonnay e Pinot Noir elaborado pelo método Champenoise.
 
A Chandon que se cuide…
 
 
Depois desta deliciosa prova só nos restou o bom almoço típico oferecido, acompanhado pelos honestos vinhos da linha Volpi e pelo espumante Salton Brut Reserva Ouro.
 
Despedimo-nos de Bento Gonçalves com uma certeza: voltaremos!
 
 
Dica da Semana: O melhor de todos!
 
 

st 0Salton Virtude Chardonnay 
Vinho com tonalidade amarelo claro. Possui aromas que lembram abacaxi , manteiga, maçã verde, melão e pronunciado aroma de mel, baunilha, coco, nozes e pão torrado, além de notas minerais. Seu sabor é equilibrado e estruturado, com acidez firme, deixando agradáveis sensações de frutas e especiarias na boca. Harmoniza com aves de caça, como perdiz, ema, avestruz, faisão e pato. Massas com molhos de base branca (béchamel) ou à base de ervas (pesto). Acompanha risotos e queijos como brie e camembert. Excelente opção para bacalhoada e cassoulet.

 

O Almoço em Punta del Este

Continuando o relato da viagem durante o carnaval de 2013, o próximo ‘regabofe’ foi programado para a simpática, mas cara, cidade balneária do Uruguai.
A primeira tarefa era escolher o local. A sugestão inicial era seguirmos até Pueblo Garzon, cerca de 1h30 de estrada, para almoçar no restaurante do renomado Chef Francis Mallmann. Como teríamos que embarcar de volta até às 17h, o grupo decidiu não arriscar.
Selecionamos outros locais, com base em vários guias para turistas, e acabamos com 2 opções: o La Huella na praia de José Ignacio e o Lo de Tere, que acabou sendo o escolhido.
Este é considerado o melhor de Punta. Fica bem perto da área do Porto, com uma bela vista para o mar. Fizemos a reserva pela internet sem nenhum problema. Às 14h chegamos e lá estava a nossa mesa na varanda. Como o dia estava mais quente que o normal, para aquela cidade, pedimos que nos colocassem num salão refrigerado. Houve um pouco de desapontamento por parte da gerente da casa – ele entendia que por sermos turistas gostaríamos de ficar de frente para a praia… Desfeita a confusão, fomos realocados em duas mesas, uma de 6 lugares e outra de 8 lugares no salão denominado Puerto Jardin.

Com o grupo dividido, optamos por fazer os pedidos ‘à la carte’. Um extenso cardápio foi apresentado, como era esperado, calcado em frutos do mar. A nossa mesa optou por entradas como o Tiradito, finas lâminas de atum marinadas e o Carpaccio de Polvo. Para os pratos principais houve um pouco de tudo, carnes, peixes e frutos do mar.

Os pratos recebem nomes sugestivos, como o ‘Iñaki’, elaborado a partir da Merluza Negra do Atlântico, um dos peixes mais valorizados, ou o simpático prato de pequenas lulas cozidas no vinho branco, o ‘Mi Amigo El Vasco’.

Alguns comensais pediram a excelente carne uruguaia, e por esta razão ficamos com 2 vinhos: um branco elaborado com a casta Albarinho ou Alvarinho, da região noroeste da Península Ibérica e outro tinto, um diferente corte de Tempranillo e Tannat, ambos da excelente Bodegas Bouza.

O branco estava muito interessante e surpreendeu a todos que o provaram. Apenas por curiosidade, provei o correto tinto, que promovia um casamento perfeito com o Ojo de Bife de novilho jovem. O peixe que faz mais sucesso foi a Merluza.

Mas o ponto alto do encontro foram as sobremesas, acreditem, uma variedade capaz de agradar a gregos e troianos.

Este grupo, em particular, tem um viés por doce de leite. Os produzidos no Uruguai são famosos. Para complicar, havia duas opções com esta iguaria: Homenaje al Dulce de Leche e A Quién no le Gusta el Chocolate.

A foto mostra a tal ‘Homenagem’, três preparações diferentes: mini-panquecas recheadas, sorvete caseiro e um drink feito com o Licor Bailey’s.

Vários ‘bis’… (houve quem pedisse as duas sobremesas!)
Para acompanhar e harmonizar com esta montanha de açúcar, só mesmo algo muito especial e que muitos não conheciam, o Licor de Tannat, outra especialidade daquele país. Apesar do nome (licor) é muito semelhante a um Porto. Supimpa!

Ao final, concluímos que esta fora ‘a melhor refeição’ feita num restaurante sul-americano. Parabéns à Chef Maria Helena.

Dica da Semana: para descobrir novos caminhos, um Cabernet Franc, casta que está na moda, numa versão uruguaia.

Reserva Cabernet Franc 2010

Produtor: Viña Progreso
País: Uruguai/Canelones
O produtor utiliza clones de baixo rendimento, plantados em altas densidades para a produção deste Cabernet Franc. Com taninos doces, boa complexidade e um sofisticado toque herbáceo típico da casta, é uma bela surpresa do Uruguai.
Harmonização: Massas, polenta, pato, perdiz, presunto cru, cogumelos, queijos como Brie, Camembert e Roquefort.
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