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Estariam as garrafas de vidro com os dias contados?

Foto por Ion Ceban para Pexels

Parece que o vidro é o novo vilão da sustentabilidade no mundo do vinho. Esta discussão já ocorre a algum tempo, a novidade é incluir o meio ambiente como um dos pontos negativos atribuídos a esta tradicional forma de embalagem.

Quase tudo está sendo questionado: o formato pouco eficiente das garrafas, o volume e principalmente as formas de transporte, estes sim, grandes vilões, levando-se em conta a ineficiência de todo este sistema.

Há, inclusive, pesquisas sobre o destino das garrafas vazias. Acreditem, raramente são recicladas…

Historicamente já se armazenou vinhos em diferentes tipos de materiais, entre eles, cerâmica, madeira e couro. O vidro foi a grande novidade, a quatro séculos atrás!

Já existem embalagens alternativas, como as latas e as caixas de papelão que, na verdade, são a roupa para um saco plástico onde está o vinho.

As conhecidas caixinhas de leite também já estão sendo utilizadas para embalar vinhos, sem muito apelo, na verdade.

Uma das novidades mais interessantes vem da Inglaterra, uma garrafa feita de material plástico reciclado, com um formato achatado. Muito mais leve, perfeita para empacotamento e com todos os méritos de ser um produto sustentável.

Nesta mesma linha há uma outra opção, que seria o resultado de “tirar a embalagem plástica que está dentro da caixa”.

Ficou alinhado!

Mais uma variante, desta vez australiana, com raízes espanholas:

Este é um sachet com 250ml, um pouco menos que o conteúdo de uma latinha de cerveja. Super prático e fácil de carregar. O plástico usado é certificado para alimentos e aceito pelos ambientalistas.

Não podemos dizer que esta última embalagem seja uma novidade. É uma atualização das famosas “botas”, muito populares na Espanha, até hoje. Avaliem:

Saúde e bons vinhos!

Vinho na folia

Imagem de lumpi por Pixabay

As comemorações carnavalescas têm múltiplas origens, todas na antiguidade. O carnaval não é uma festa brasileira, mas somos os especialistas nesta comemoração, que descende de ritos ou celebrações originais da Babilônia, Mesopotâmia, Roma e Grécia.

Muito ligada ao catolicismo, o que explica a denominação carnaval, decorrente do Latim Carnis Levale, que pode ser compreendido como “sem carne”, numa referência direta ao jejum realizado durante a Quaresma.

Os ritos mencionados envolviam situações como a subversão de posições sociais, o que explica a fantasia, ou mesmo a humilhação, com surras diante da estátua de um Deus, muito semelhante ao que fazem hoje os “bate-bolas” ou “Clóvis”, por sua vez uma corruptela de clown ou palhaço, no idioma Inglês.

Não podemos esquecer das festas que celebravam Baco ou Dionísio, onde o vinho era consumido em larga escala.

Esta é a parte que nos interessa: vinho, durante o carnaval, sempre foi uma tradição.

No Brasil é que houve mais uma subversão, entrando a cerveja como a libação predileta dos foliões.

Dois fatores são preponderantes nesta análise: a praticidade das latinhas e a forma moderna desta festa, quase sempre comemorada a céu aberto.

Ainda existem bailes carnavalescos, em grandes salões ou clubes, mas perdem feio para as comemorações mais populares como os blocos, que podem desfilar ou não, e o show das espetaculares Escolas de Samba.

Honestamente, cerveja tem tudo a ver.

Já existe o vinho em lata, inclusive espumantes. Será sempre uma opção, mas creio que jamais encontraremos um ambulante nos oferecendo estas delícias.

Numa analogia ao papel das louras suadas, que são perfeitas para o “terroir” das ruas e arquibancadas, o vinho é a bebida que vai preencher os salões e, melhor ainda, o conforto de nossas casas, se optarmos por um bom ar condicionado, uma TV de última geração, bons petiscos, um animado “bloco” de amigos, para assistir tudo que se passa nas ruas, Sambódromos e nos bailes que ainda resistem aos modismos.

Este é o “terroir” dos vinhos, particularmente os espumantes.

Se algum leitor decidir por este caminho, aqui vão alguns conselhos:

– Moderação é a chave de tudo;

– Além dos espumantes, vinhos tranquilos rosados e brancos são os mais indicados. Escolha os mais jovens, leves e frutados. Gelados, por favor;

– Um único tinto poderia fazer bonito nesta festa – Beaujolais Noveau;

Evoé!

(Significa bons vinhos…)

Entendendo a “estrutura” de um vinho.

Nem sempre os descritores de um vinho são claramente compreendidos pelos leitores. A definição de estrutura pode tomar rumos bem complexos, podendo beirar as ciências ocultas e esotéricas.

Não há um consenso entre os diversos autores e críticos que tentam, cada um a seu modo, explicar esta colocação.

Usando uma aproximação, bem cartesiana, podemos entender que sem uma estrutura não existiria nem vinho e nem uma série de outras coisas em nossas vidas, por exemplo, as edificações onde residimos ou o próprio ser humano, que sem seu esqueleto não sobreviveria.

Deixando de lado os ossos, pilares, vigas e lajes, vamos refletir sobre quais elementos constituem a estrutura de um vinho.

Alguns deles são óbvios e de fácil reconhecimento como os taninos e a acidez. Outro fator, de fácil compreensão, é o teor alcoólico.

A partir destes, precisamos usar algumas metáforas, nem sempre aceitas, para enriquecer esta importante definição.

Podemos acrescentar: glicerol, corpo e doçura.

São conceitos um tanto subjetivos e a inclusão do “corpo”, nesta explicação, é muito questionada pelos profissionais do mundo do vinho. Há quem afirme que corpo ou estrutura é a mesma coisa. Glicerol é um álcool e a doçura decorre de um maior ou menor teor alcoólico.

Aproveitando, ainda, a analogia com uma estrutura predial, os taninos seriam a viga mestra desta construção, o que nos traz um novo problema: será que vinhos brancos não têm estrutura?

É um conceito bem amplo, e a melhor maneira, de compreender e usá-lo, é pensar que a nossa estrutura vínica é maleável e adaptável, esquecendo a rigidez dos outros tipos estruturais mencionados.

Imaginemos um equilíbrio entre os três elementos básicos: tanino, acidez e teor alcoólico. Um vinho tinto, mais tânico, com pouca acidez e com 14%, ou mais, de álcool é uma bebida bem estruturada, ou com uma estrutura pesada e marcante.

Por outro lado, um branco, sem taninos, com ótima acidez e um álcool compatível, tem uma estrutura leve ou pouco estruturado.

Para classificar a estrutura de um vinho podemos usar algumas indicações visuais e no paladar.

Começamos pelo volume de álcool, que está no rótulo. Assumindo que o vinho está bem equilibrado: quanto maior o teor, mais pesada é a estrutura. O nível de álcool funciona como um compensador dos taninos e da acidez. Uma regrinha prática seria: 10-12% vinhos leves; 12.5-13.5% médios e 14-15.5% pesados.

Servido o vinho, observemos as discutidas “lágrimas”, que são indicadores da presença, mais intensa ou não, de glicerol, um dos componentes do teor alcoólico: se escorrem rapidamente, o vinho é pouco estruturado, e vice-versa.

A coloração é outro fator que ajuda a classificar mas, cuidado! Há diversas exceções aqui. A regra seria direta: quanto mais denso o vinho, maior a estrutura. Algumas castas como a Nebbiolo ou a Pinot Noir, produzem vinhos de coloração suave e transparente, mas que são muito estruturados.

Na prova, podemos identificar mais algumas pistas: vinhos estruturados nos deixam a sensação que poderiam ser mastigados. Sabores advindos da passagem por madeira acrescentam peso ao vinho. Vale para os brancos que foram barricados, também.

Para encerrar esta pequena aula sobre a estrutura, aqui vai mais uma regrinha de algibeira:

Vinhos estruturados ficam melhores se combinados com comidas mais pesadas.

Saúde e bons vinhos!

Uma casta, um vinho – Cabernet Sauvignon

Iniciamos esta série sobre as principais uvas viníferas apresentando a Sauvignon Blanc. Num segundo episódio, foi a vez da Cabernet Franc.

Há uma razão para isto: o cruzamento, espontâneo, destas duas variedades deu origem ao que muitos classificam como a mais importante uva vinífera, nossa personagem de hoje, a omni vinificada Cabernet Sauvignon.

Uma casta 100% francesa, com raízes em algum lugar na região do rio Gironde. A data deste nascimento ronda os meados do século XVIII.

A descoberta de sua linhagem foi quase por acaso e somente ocorreu em 1996, o que nos leva a uma grande questão: de onde surgiu o seu nome?

Algumas características morfológicas, entre estas castas, sempre foram bastante evidentes para os Ampelógrafos, o que poderia explicar a denominação. O que é aceito, atualmente, é que o nome decorre da semelhança de seu tronco e folhas com as da Sauvignon Blanc.

A identificação da genética da “Cab” foi um marco na história da viticultura. Foi a 1ª vez que, com o auxílio da análise de DNA, se identificou os progenitores de uma cepa. Antes desta importante descoberta, os estudiosos não admitiam que uma uva branca pudesse gerar uma uva tinta.

Já foi chamada por vários apelidos, alguns deles bem conhecidos até hoje: Bidure, Vidure, Carbonet, Carmenet, entre muitos outros. Por parte de pai (Cabernet Franc) seria uma prima da Merlot e da Carménère.

É uma casta muito vigorosa e capaz de se adaptar a diferentes solos e condições climáticas. Esta é uma das razões por ser tão difundida entre as regiões produtoras. Para os vinificadores, produzir um bom vinho com base nesta uva é quase que um rito obrigatório. Muitos enófilos julgam a qualidade de uma vinícola por seu Cabernet, seja corte ou varietal.

O seu cartão de visitas são os vinhos de Bordeaux, preferencialmente os da margem esquerda: Medoc e Graves.

Mas não podemos nos esquecer do famoso Julgamento de Paris, onde surgiu a maior força entre os vinhos feitos 100% com esta cepa: Napa Valley, EUA.

O Chile também entrou para este distinto grupo com seus  famosos cabernets da região de Puente Alto.

Os vinhos desta uva são cheios de personalidade e facilmente identificados numa degustação às cegas. Sua coloração é profunda, os taninos predominam e têm boa acidez o que os fazem muito agradáveis de provar.

Uma uva chamada de nobre e que produz, em mãos competentes, vinhos nobres e com características que tendem a se repetir em todos os terroirs: aromas de groselha negra e cedro (nem sempre muito evidentes).

Não são vinhos para serem apreciados em sua juventude. Os grandes cabernets precisam de tempo para domar suas características mais ásperas e a madeira é uma eterna aliada. Bem vinificados e armazenados, podem durar por décadas e até séculos.

Para deixar bem claro: Cabernets jovens e baratos talvez não valham o investimento.

Escolher um exemplar para representar, em nossas páginas, esta estupenda casta é tarefa árdua. Existe uma enormidade de opções passando pelos mais diversos países: França, EUA, Chile, Argentina, Itália, Austrália…

Contrariando uma regra não escrita do jornalismo, a que o autor deve evitar citar suas preferências, principalmente na área esportiva, sob pena de ser chamado de parcial, fiz uma escolha pessoal, endossada por uma plêiade de críticos internacionais.

Caymus Special Selection Cabernet Sauvignon

Um dos grandes representantes do Napa Valley. Segundo o renomado Robert Parker, um vinho muito difícil de ser igualado. Premiadíssimo, com uma média de pontos, nos últimos 10 anos, acima de 95 pts.

Um dos melhores vinhos que já degustamos. Poderíamos classificá-lo como “inesquecível”.

Não é um vinho barato, é caro em sua origem, com preços ao consumidor na ordem da centena de dólares. No nosso país, multiplique por 10…

Notas de degustação da safra 2011:

Profunda coloração rubi. Característicos aromas de groselha negra e amora que se combinam em notas complexas de alcaçuz, anis e cassis. No palato, oferece um grande e amplo leque de sabores como “subois” (chão do bosque), especiarias escuras, tabaco e frutas negras maduras, com um final de boca interminável. Um vinho opulento, aveludado e rico. Taninos perfeitamente equilibrados com a acidez. Delicioso!

Meu conselho: beba sozinho e no escuro. Não atrapalhe esta maravilha com nenhuma harmonização.

Saúde e bons vinhos!

Fonte consultada: Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavours, por Jancis Robinson, Julia Harding, Jose Vouillamoz.

Ávidos e apaixonados

Uma das melhores coisas da vida é estar apaixonado. É um potente sentimento que nos estimula a fazer as coisas mais inesperadas para alcançarmos os nossos objetivos, sejam eles pessoas ou projetos de vida.

Apreciadores de vinhos são eternos apaixonados, sempre em busca do seu “Santo Graal” que vai torná-lo o mais realizado dos homens. Poder ser aquela garrafa mítica ou, por que não, produzir o seu próprio vinho, uma realização máxima.

Transformar sonho em realidade foi o que levou dois amigos a adquirir terras em Portugal, na região do Alto Douro. Compraram a Quinta do Sardoal e a Quinta das Salgueiras, com uvas já plantadas e em franca produção.

Assim surgiu a Ávidos Douro, com o propósito de produzir excelentes vinhos, que foram apresentados num evento, exclusivo, nesta semana.

Há um enorme caminho a ser percorrido entre ser produtor de uvas e ser um vinhateiro de sucesso. Decisões importantes devem ser tomadas, que envolvem desde o tipo de castas que serão aproveitadas até o estilo de vinho que vai marcar e acompanhar os produtos desta nova casa.

Era preciso buscar inspiração, que veio na forma de uma bonita lenda:

“Nos primórdios da Lusitânia, uma jovem donzela se perdeu de amores por um alto oficial do Império Romano. Não aceitando o romance, a família retirou-a da Lusitânia, levando-a para além do Rio Douro. Ali, na margem direita, no Douro Superior, passou a viver entre os vinhedos, por onde errava, dia e noite, mergulhada em lágrimas por seu apaixonado.

As lágrimas da donzela, repletas de desejo e paixão, impregnaram o solo xistoso dos vinhedos, criando um terroir único para a produção de vinhos que facilitam o entendimento entre as pessoas e despertam o amor”.

Não tinham mais dúvidas, as paixões se completavam e inspirava o nome do vinho que seria o carro chefe da vinícola: Apaixonado.

Para abrir os trabalhos, degustamos o Apaixonado Rosé 2018, elaborado com 100% Touriga Nacional.

Apresenta uma bela coloração rosa mais pálida. Agradáveis aromas de frutas tropicais e vermelhas, com notas florais. No palato, sobressaiam morango, framboesa e groselha. Boa permanência e refrescante acidez.

Talvez pelo dia ter sido muito quente no Rio de Janeiro, foi um dos vinhos mais agradáveis da noite.

O segundo vinho servido foi o Apaixonado Reserva Tinto 2016.

Um equilibrado corte das castas Tinta Amarela (Trincadeira), Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca. Estagia por 16 meses em barricas de carvalho, francês, de 2º uso.

Com um estilo francamente internacional, tem um enorme potencial de guarda. Mesmo no quarto ano de vida, ainda estava “jovem” para o consumo.

Surpreendeu!

Bem encorpado, estruturado, já demonstrando estas qualidades na sua cor rubi profunda. No nariz, frutas negras maduras, notas herbais, florais e de baunilha. Na boca era muito elegante, taninos bem equilibrados e fácil de beber. Ainda tem muito a oferecer, podendo ser adegado por mais 5 ou 6 anos.

O próximo rótulo degustado foi o Ávidos 2014, vinho top da empresa.

Somente elaborado em safras consideradas como excepcionais, é um corte de oito castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz (Aragonez), Tinta Amarela (Trincadeira), Tinta Barroca, Tinta Francisca, Tinto Cão e Sousão.

Estagia por 18 meses em barricas de carvalho, francês, de 1º uso.

A primeira coisa que chamou nossa atenção foi a utilização da casta Sousão, neste vinho. Uva típica da região do Minho, onde é conhecida por Vinhão, foi trazida para o Douro em 1790 para substituir o uso de bagas de sabugueiro para dar cor mais escura aos vinhos do Porto, prática que foi condenada.

Blends multicastas são complexos e difíceis de serem elaborados. Neste vinho está perfeito. A Sousão foi usada para equilibrar a acidez.

A coloração rubi indicava as qualidades que vinham em seguida: aromas de frutos silvestres maduros com as esperadas notas decorrentes do estágio em madeira.

Tudo muito sutil, suave, introduzindo um palato de taninos domados e macios, com bom volume e acidez remetendo a uma agradável refrescância.

Excelente!

Ao final do evento foi oferecido mais um vinho, fora do programa original, o Amávio.

Um corte de uvas típicas da região, sem passagem por madeira, bem frutado, próprio para ser consumido jovem. Um vinho para o dia a dia.

Existem mais dois vinhos no line up da Ávidos, que provamos em outra oportunidade:

– Apaixonado Branco Reserva 2018

Delicioso corte de Viosinho, Gouveio, Rabigato, Códega do Larinho e Malvasia Fina. Esta vinificação foi de produção muito limitada. Por esta razão, este vinho não será trazido para o nosso país. Por enquanto…

– Anônimo 2014

Um corte de Touriga Naciona e Touriga Franca, com estágio de 18 meses em barricas de carvalho, francês, de 1º uso.

Talvez o mais clássico dos cortes Durienses. Estas duas castas são a assinatura desta região. Típico estilo português, num vinho sério e harmonioso. Bem frutado, com notas, no nariz e em boca, de frutas negras e maduras. Taninos bem marcados, indicando que pode ser guardado por mais alguns anos.

Promete!

Para adquirir estas delícias, entre em contato com Maurício Kaufman:

e-mail: [email protected]
cel: 55 21 99956-1912

Para contato com os produtores, use:

e-mail: [email protected]

site: http://www.avidosdouro.com/

Saúde e bons vinhos, como estes!

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