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Pagando algumas dívidas

Nenhum cronista gosta muito de usar chavões em seus textos. Algumas vezes perdemos um bom tempo procurando uma forma alternativa de passar uma ideia que é apresentada, de maneira simples e direta, por um daqueles provérbios que aprendemos quando criança. Quando decidimos ir contra as regras da boa escrita, embarcamos num novo problema: qual frase usar? 
O melhor é deixar a prosopopeia de lado. Hoje vamos começar a cumprir algumas promessas antes que entrem na relação dos arquivos mortos. Primeiro, as mais recentes. 
Uma das colunas que mais nos surpreendeu foi a das garrafas. Movimentou bem a caixa postal e trouxe uma nova visão sobre a curiosidade de nossos leitores. Na sequência, fizemos um pequeno desafio sobre as garrafas de Chianti, envoltas em palha. Havia uma foto, logo abaixo, mostrando a garrafa sem a palha e revelando, para os mais atentos, uma das razões da curiosa embalagem, mas não todas. A brincadeira era completada na Dica da Semana, quando sugeríamos um Chianti em garrafa Bordalesa e perguntávamos onde estava a forma tradicional. 

A primeira leitora a responder o teste foi a Mariana Almeida, de Uberlândia, sugerindo que a palha era uma forma de proteção, neste caso, para manter uma temperatura agradável para o consumo: acertou parcialmente, é uma forma de proteção, mas para outras finalidades. 
A resposta completa foi dada por um dos meus confrades, Mario Ramos, numa verdadeira aula sobre esta tradicional garrafa italiana. Saboreiem: 

“Caro Tuty, 
A palha era originariamente usada para proteger as garrafas (frágeis, sopradas à mão) e colocá-las em pé em cima das mesas graças ao formato achatado da base de palha. Facilitava muito a guarda das mesmas, com o hábito de pendurá-las no teto, paredes ou hastes, economizando espaço. Depois por tradição. Posteriormente a uma fase de conceito baixo (e as garrafas já eram seguras e perfeitas) alguns produtores resolveram mudar para o formato bordalês, numa tentativa de recuperar o prestígio. 
Mário” 

Resolvida esta questão, vamos propor outra: Por que será que existe aquele recesso no fundo das garrafas de hoje? Para ajudar, existem algumas explicações, mas uma é a razão original, as demais seriam usos alternativos para este detalhe. Cartas para a redação! (não resisti ao chavão)… 

O nosso comparsa José Paulo Gils está de volta:  
O assunto não poderia ser outro que o polêmico tema das Salvaguardas. Gils chamou a nossa atenção para dois textos publicados no Blog Wine Report. 
O primeiro, de Alexandre Lalas, intitula-se “A Luta Continua” e trata da audiência pública promovida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) no dia 28/06/2012 para julgar a necessidade de aplicação das salvaguardas. (http://www.winereport.com.br/winereports/a-luta-continua/2021)
Reproduzo, a seguir, os dois últimos parágrafos: 

“Nos corredores do MDIC corre a certeza de que o pedido de aplicação de salvaguarda para o vinho nacional carece de embasamento técnico. No entanto, a pressão política exercida pela corrente gaúcha do Governo Federal pode fazer com que a salvaguarda seja adotada assim mesmo. Em recente entrevista a uma rádio gaúcha, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, garantiu que o pedido seria aceito, independente da posição do MDIC.
Caso a salvaguarda seja adotada, um boicote aos vinhos nacionais dos produtores que não se manifestaram contra o pedido pode causar sérios prejuízos à indústria vinícola nacional. Um abaixo-assinado contra o pedido já ultrapassou as 10 mil assinaturas”.

De lastimável, somente a declaração inoportuna do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Pepe Vargas, também conhecido por Gilberto José Spier Vargas, gaúcho de Nova Petrópolis. Acho que não é preciso falar mais nada… O segundo texto, de Rogerio Rebouças, “Não há Caso” , comenta a atuação na audiência de dois representantes da indústria vinícola europeia, o Secretário-geral do Comitê Europeu das Empresas de Vinho (CEEV), Sr. José Ramon Fernandez e o Sr. Nicolas Ozanam Secretário-geral da Federação dos Exportadores de Vinhos e Espirituosos da França (FEVS).
(http://www.winereport.com.br/winereports/nao-ha-caso/2023)
Reproduzo alguns trechos abaixo: 

“O que os europeus tentaram mostrar na audiência é que não existem as condições necessárias, como alega o IBRAVIN e demais entidades gaúchas, para a aplicação das Salvaguardas. “Com base em todos os argumentos técnicos apresentados não há caso”, afirma Ozanam. Fernandez garante que o momento é de deixar os técnicos analisarem com calma as informações fornecidas e não jogar gasolina no fogo, ao menos da parte dos produtores europeus. Acredita que a questão técnica prevalecerá e também o bom senso. Seu desejo é de que esta disputa não tivesse sido criada e que os esforços dos produtores brasileiros fossem direcionados, conjuntamente com os importadores e produtores estrangeiros, em prol do vinho e de seu consumo. “Preferia estar investindo em promoção e formação ao invés de estar pagando advogados em Brasília”, assegurou. 
A decisão técnica deve acontecer até o final de julho. “Fomos firmes, mostramos a real situação e aguardamos a decisão do Ministério. O abaixo-assinado, a mobilização dos consumidores, importadores, lojistas e donos de restaurantes, associações de Sommeliers e amantes do vinho e da imprensa foi muito importante”, constatou entusiasmado o Secretário do CEEV. “Não vamos nos precipitar, vamos aguardar agora a decisão. O ideal seria que todos no Brasil se unissem em prol do vinho e que não desperdiçassem tanta energia e recursos neste tipo de confronto que não ajuda o mercado. Se a indústria brasileira do vinho crescesse e puxasse o consumo seria melhor para todos. Prefiro uma pauta positiva”, concluiu”. 

Vale a pena, também, ler um texto do colunista Didú Russo, “Salvaguardas, chegou a hora do Bom Senso”. 
Dois pontos muito importantes ressaltados pelo colunista: 

“Se saírem as Salvaguardas e os técnicos do MDIC já sinalizaram que seria uma decisão política e que viria em cotas e que provavelmente limitaria o mercado importador a algo como 40 milhões de litros/ano, o desastre estaria feito para os dois lados: 
1) O mercado ficaria reduzido em relação ao volume de hoje, por tanto os preços subiriam para nós consumidores. 
2) Os supermercados (60% da venda dos nacionais com 90 mil pontos de venda) partiriam para a retaliação, pois não são obrigados a vender vinho brasileiro. Já declararam isso. Os consumidores então nem se fale, já boicotam os nacionais neste momento. 
3) Os importadores e suas associações entrariam no dia seguinte com pedido de mandado de segurança. Ainda existe Poder Judiciário no país graças a Deus. Aconteceu com o Selo Fiscal e deu no que deu. É muito provável que o mesmo roteiro se repita. 
Este é o cenário do PERDE–PERDE. Ou seja, os dois lados querendo ganhar fazem com que todos percam”. 

“Mas acontece que eu sou otimista, eu sou do GANHA–GANHA, onde os dois lados entram em entendimento, cada um negociando o que lhe é mais importante, cedendo daqui, concedendo dali e todos saem ganhando. E acredito nisso pelo seguinte: 
1) Os produtores brasileiros já sentiram que o boicote acontecerá e que poderá quebrar de verdade muita gente além de desvalorizar os enormes investimentos dos grandes produtores. 
2) A possibilidade de um mandado judicial é muito grande e muito provável. O que deixaria os produtores nacionais sem nada na mão para negociar e com a imagem lá em baixo. 
3) Os importadores não querem de forma alguma um mercado limitado para baixo. Quem é que monta um negócio que não pode crescer e ainda terá que diminuir? 
Pois por mais absurdo que possa parecer, este cenário é possível neste governo, como os fatos estão mostrando. Os técnicos do MDIC deverão encaminhar suas decisões técnicas ao Ministro até o fim de julho quando o assunto então iria aos Ministros que participam da Camex (*) para avaliar e decidir. Só então haverá uma decisão”. 

(*) Camex – Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo. O Conselho de Ministros é composto pelos seguintes Ministérios: do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que o preside; Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento Agrário. 
Vinhos não comentados 
Algumas das dívidas mais antigas surgiram durante a nossa viagem pelos grandes vinhos do mundo. Tivemos que fazer algumas escolhas, quase sempre muito difíceis. Na França, como decidir entre Bordeaux e Bourgone? Ou por que não optar pelos vinhos do Rhone, os mais premiados pelo respeitado Robert Parker? Na Itália, escolhemos o Barolo, deixando de lado joias como o Brunello di Montalcino, o Barabresco, os espetaculares Super- Toscanos e mais uma quase interminável relação de grandes vinhos. 
Outra enrascada, um nó-górdio que nem a espada de Alexandre, o Grande, é capaz de dar jeito: continuamos obrigados a fazer escolhas… Sabedores que uma falha será inevitável, imaginamos uma saída criativa. Vamos escrever sobre as uvas viníferas, afinal, está será uma tarefa fácil, são cerca de 3500 variedades das quais, apenas, 1500 são usadas na produção de vinhos. Moleza! 
Começamos na próxima semana! Um dia terminamos (se não descobrirem mais algumas durante este longo tempo). Para ajudar, vamos fazer algumas simplificações, por exemplo, nada destas uvas que estão nas garrafas do dia a dia, já estão mais que conhecidas e não gastaremos nenhum tempo com elas. Buscaremos outros caminhos para ampliar nossos horizontes. Como um efeito colateral, apresentaremos mais alguns grandes vinhos. Preparem-se! 

Dica da Semana: o clima anda bom para vinhos encorpados e saborosos. 

Zorzal Malbec 2010 
País: Argentina / Gualtallary, Tupungato 
Vinícola: Zorzal 
Variedade: 100% Malbec 
Zorzal representa a intensidade, o romantismo e a paixão Argentina. Localizada em um dos vales de maior altitude da Argentina, os vinhos surpreendem pela tipicidade, estrutura e personalidade, características únicas de um terroir de mais de 1.300 metros acima do nível do mar. Cor rubi intenso, aroma de framboesa. Na boca é redondo e bem equilibrado. 
93 pts WS; 90 pts Descorchados 2012

Porque não consumimos vinhos diariamente?

Aproveitando a onda provocada pelas recentes tentativas de encarecer, ainda mais, a nossa apreciada bebida, vamos mergulhar num tema que está por trás de toda esta discussão: o baixo consumo de vinho no Brasil. 
Não é preciso ter muita imaginação para deduzir que o fator clima tem um papel preponderante – vinho é uma bebida adequada para climas mais frios. Este é um bom argumento, sem dúvida, mas não é determinante. Poderíamos consumir vinhos brancos leves ou espumantes, substituindo o nosso velho Chopp, por exemplo. 
Nos estados da região sul, onde o consumo é significativamente maior, encontramos o fator cultura: os imigrantes que colonizaram majoritariamente estes estados consumiam vinho na sua origem. Devemos a eles a existência da nossa indústria vinícola, que começou produzindo para consumo dos colonos. Este é outro fator de grande importância, para eles, o vinho faz parte da dieta, é um alimento como arroz ou feijão, e isto faz toda a diferença. O mesmo fator pode ser observado nos vizinhos Argentina e Uruguai que foram colonizados de forma semelhante. 
Alguns podem confrontar esta posição afirmando que é redundante, ou seja, não faz parte da dieta por razões climáticas (ou vice versa). Mas o X do problema é outro: o vinho é enquadrado pelo governo, como bebida alcoólica, um artigo de luxo, e não como um alimento. E isto muda tudo! 

O Custo de uma garrafa de vinho importado 
Didú Russo, fundador da Confraria dos Sommeliers e coordenador do Comitê do Vinho da Fecomercio SP, publicou em seu blog um estudo sobre a hipotética viagem de uma garrafa de vinho, do velho mundo, desde o seu produtor até ser consumida por alguém. O quadro a seguir faz um resumo destes custos: (valores em R$) 

O primeiro subtotal mostra desde o preço pago ao produtor até os custos obrigatórios para embarque num transporte marítimo. Alguns itens são fatores de encarecimento, como o container refrigerado, sem o qual o produto chegaria estragado. 
A partir do subtotal 2 vamos verificar o tamanho da bocarra governamental. A enxurrada de taxas, impostos e burocracia não tem outra função que alimentar a insaciável máquina. Copiando Didú Russo: 
“O Governo não faz nada além de burocratizar a operação, gerando corrupção, cobra IPI, PIS, COFINS, ICMS, IPI, CSLL, IRPJ, Imposto de Importação, sobreposições de IPI e de ICMS, taxas de registro do rótulo, de análise dos vinhos, Selo Fiscal, ST”. 
O importador pouco pode fazer e precisa administrar muito bem os seus custos para não onerar demasiadamente o vinho, sob o risco de torná-lo inacessível. Para muitos, estes custos não são visíveis; eis uma pequena amostra: viagem de compra, despesas de envio, frete nacional, armazenamento em local apropriado, enfrentar toda a burocracia estatal, divulgação, degustações e até o financiamento da venda para lojas, restaurantes e mercados. Por tudo isto, cobra R$ 8,92… Honestamente, nem sempre é um bom negócio! 
Chega a vez dos maiores gulosos: lojas, restaurantes, supermercados e assemelhados. Os custos são semelhantes aos do importador, mas outros problemas aparecem. Precisam manter a garrafa em local adequado, contratar Sommeliers ou vendedores especializados, ter o equipamento de serviço do vinho (taças, decantador, saca-rolhas, etc.) e por último, fixar um preço de venda final que cubra isto tudo e torne o vinho um produto de qualidade. Aquela garrafa que custou R$ 3,60 na origem nos será ofertada por R$ 60,00. Uma margem de R$ 38,62 sobre o preço de compra no importador. Nada mal (se alguém pagar). 
Resumindo: só de impostos pagamos 40% sobre o preço de venda aos lojistas (R$ 23,17), sem que nenhum benefício tenha sido gerado por este custo. Alimentou a burocracia somente. 
Comparando o valor na origem com o preço final de venda, o aumento foi de quase 17 vezes, um absurdo! 
Se um dia vingar a ideia de taxar o vinho como alimento, pagaremos menos de 20% em taxas e impostos (dependendo do estado) o que poderia alavancar um maior consumo. Este é o caminho a seguir. 

Dica da Semana: para estimular o consumo diário, nada melhor que o clássico bom e barato. 

HEMISFERIO CABERNET SAUVIGNON 2009 
País: Chile/Curicó 
Produtor: Miguel Torres 
Envelhecimento: 50% em carvalho Francês durante 6 meses. 
Tempo de guarda: 3 a 5 anos 
Harmonização: embutidos, carnes e churrascos. 
Coloração rubi intensa. No olfato remete a aromas do bosque e especiarias, sobre ricos fundos de couro. No palato os taninos são redondos, cheio de fruta e plantas. Miguel Torres foi um dos pioneiros na produção de vinhos finos no Chile, com vários prêmios em sua diversificada linha de vinhos.

Algumas conclusões, salvaguardas e uma degustação notável

Terminamos o nosso primeiro giro pelos grandes vinhos, na semana passada. Visitamos todos eles? Não, isto é quase uma missão impossível. Provavelmente cometemos algumas injustiças que esperamos reparar em futuras colunas. 
Curiosamente, nenhum leitor acusou a falta deste ou daquele vinho, mas o fizeram com relação a determinados países que não foram mencionados. Algumas explicações são necessárias. 
Produz-se vinho em quase todo lugar, mas nem sempre são produtos de qualidade, que mereçam ser mencionados. No Peru, por exemplo, um dos primeiros países sul americanos a ter uvas europeias plantadas em larga escala em seu território, nunca se desenvolveu uma indústria vinícola digna de nota. Todo o vinho produzido por lá é usado na produção do famoso Pisco, um destilado. 
Na última coluna foi mencionado que a uva Pinotage estava sendo experimentada no Zimbábue. Teve sucesso? Ainda não, apesar de terem obtidos alguns prêmios interessantes em competições internacionais. No máximo, uma promessa, como o México. 
A Bélgica foi outro país que gerou curiosidade: será que existem vinhos por lá? Sim! Principalmente brancos obtidos a partir da Chardonnay. Mas a produção é minúscula e mal atende a demanda interna. Nada que valha a pena mencionar. 
Por último a Inglaterra. O que acontece neste país? Até hoje, o povo inglês é o maior importador de vinhos do planeta, com uma perspectiva de 152 milhões de caixas em 2014, um recorde! Produzem vinho por lá? Quase uma obviedade, mas a produção é muito pequena, significando apenas 1% do que é importado… 
Algumas injustiças que ainda não foram reparadas (podem cobrar!): 
Os excelentes Côtes du Rhone; 
Brunello di Montalcino e Vino Noble di Montepulciano; 
O Champagne e outros espumantes; 
Contador, da Espanha, outro mito; 
Poderíamos nos estender por mais algumas páginas. Hoje ficamos aqui. 
Uma notícia alvissareira 
Informa José Paulo Gils, nosso olheiro para o assunto salvaguardas: 
A revista Veja, na edição desta semana (2270 de 23/05/2012) publicou uma nota na seção Holofote, assinada por Otávio Cabral, intitulada “Protecionismo negado”, a qual transcrevo abaixo. 
“Protecionismo negado 
O processo de concessão de salvaguarda ainda está na fase inicial, mas o Ministério do Desenvolvimento já descarta a possibilidade de atender ao pedido da indústria vinícola nacional de criação de uma cota para a bebida importada. Estudos preliminares mostram que o setor voltou a crescer e o vinho brasileiro aumentou sua presença em mercados emergentes, como a China e a Rússia. O máximo que o governo pode conceder é a desoneração de impostos para o setor. Aliás, a única salvaguarda em vigor no Brasil cairá ainda neste ano: a proibição da importação de coco seco sem casca”. 
Uma degustação surpreendente 
Na terça-feira dia 15 de maio, comparecemos a uma degustação no restaurante Aprazível, em Santa Teresa, Rio de Janeiro. O propósito era reunir as vinícolas que não concordaram com o pedido de salvaguardas. No mesmo dia, em outro local, acontecia o Circuito Brasileiro de Degustação, com as demais vinícolas. 
A iniciativa foi de Pedro Hermeto, proprietário do simpático Aprazível. Presentes as seguintes vinícolas: Vallontano, Anghebem, Chandon, Millantino, Adolfo Lona, Quinta da Neve, Máximo Boschi, Villagio Grando, Era dos Ventos, Antônio Dias, Don Abel, Cave Geisse, Don Guerrino e Dezem, cujos vinhos não chegaram a tempo. 

Alguns produtores estavam presentes dando um charme todo especial ao evento: Adolfo Lona, Silvânio Antônio Dias e Sergio de Bastiani da Don Abel. 
Destacaram-se os espumantes, cada vez melhores, um delicioso Cabernet da Antônio Dias e um branco obtido a partir de uma uva quase extinta, a Peverella, produzido pela Era dos Ventos: diferente e misterioso. 
O meu momento especial foi quando o simpático Adolfo Lona promoveu a degustação de um especialíssimo espumante, o Orus, algo que vou lembrar para sempre. Dificílimo de ser adquirido, sua produção limita-se a poucas garrafas quando é vinificado. O melhor é experimentar os outros produtos desta vinícola, especializada neste segmento. 
Dica da Semana: 
Uma das vinícolas mais tradicionais da Argentina ficou em segundo plano nas colunas dedicadas àquele país: Rutini. Vamos conhecer um pouco desta tradicional empresa e saborear um de seus vinhos mais vendidos. 

A bodega La Rural, foi fundada em 1885, por Felipe Rutini, imigrante Italiano, com o objetivo de produzir vinhos de qualidade empregando as técnicas aprendidas em seu país natal. Seu lema, Labor et Perseverantia, é mantido até hoje. 
O museu do vinho, sediado nas instalações da bodega, é uma visita obrigatória para quem for a Mendoza pela primeira vez. São mais de 4500 peças que retratam bem a dureza e a falta de recursos da época. 
Don Felipe faleceu em 1919 deixando um legado para seus descendentes que mantiveram o espírito pioneiro. Em 1925, começaram a plantar uvas na região de Tupungato, já se antecipando ao sucesso das frutas plantadas neste vale. 

Nos anos 90, a operação da família Rutini foi adquirida por uma grupo de investidores, entre eles Nicolas Catena e Jose Bengas Lynch que promovem a renovação da bodega e a construção de uma nova vinícola no vale de Tupungato. A Rutini, hoje, é um dos grandes produtores Mendocinos. As duas empresas, La Rural e a Rutini Wines, mantêm suas linhas de produtos de forma independente.

Dica da Semana: A dica de hoje é o 

Trumpeter Malbec/Syrah 2010. 
País de origem: Argentina/Mendoza 
Produtor: Rutini Wines 
Cepa(s): Malbec, Syrah/Shiraz (50/50) 
É o vinho da linha Trumpeter de maior sucesso no Brasil. Produzido com uvas de vinhedos de altitude (1200 metros), é sedoso e frutado com bom aporte dos aromas das barricas, excelente frescor e aromas sedutores de violetas, ameixas, framboesas, chocolate e cravo. 
Notas: Wine Spectator 84 pontos (2005) Wine Enthusiast 86 pontos (2004)

Expovinis 2012

Vamos conhecer o mais importante evento sobre vinhos no Brasil, a EXPOVINIS cuja 15ª edição, ocorreu em São Paulo, nos dias 24, 25 e 26 de Abril de 2012.
A feira é um grande evento privado, organizado por uma empresa especializada, nos moldes de outras exibições semelhantes em todo o mundo. A mais importante de todas é a VinItaly, já na sua 47ª edição prevista para abril de 2013.
Neste tipo de exposição há espaço para produtores, fabricantes de equipamentos e acessórios, negociantes e assemelhados, de todos os países. É uma feira de negócios, uma grande vitrine onde vinhos das mais diversas origens podem ser comparados lado a lado. São ministrados cursos e oferecidas palestras e degustações.
Dividida em duas grandes áreas, Internacional e Nacional, a edição de 2012 bateu todos os recordes de público e expositores: nada menos que 40 vinícolas brasileiras se apresentaram.
O ponto alto é a escolha dos 10 melhores vinhos (Top Ten) por um grupo de jurados de alto nível: Luis Lopes, fundador e diretor da Revista de Vinhos (Portugal), Andrés Rosberg, presidente da Associação Argentina de Sommeliers, Jorge Carrara (revista Prazeres da Mesa e site Basilico), José Maria Santana (revista Gosto), Gustavo Andrade de Paulo (ABS-SP), José Luiz Alvim Borges (ABS-SP), Ricardo Farias (ABS-Rio), Mauro Zanus (Embrapa-RS), Marcio Oliveira (SBAV-MG), José Luiz Pagliari (SBAV-SP/Senac-SP), Roberto Gerosa (portal iG) e Celito Guerra (Embrapa).
As categorias analisadas foram: Tintos, Brancos e Espumantes Nacionais; Espumante Importado; Branco Novo Mundo; Branco Velho Mundo; Rosado (geral), Tinto Novo Mundo, Tinto Velho Mundo e Fortificados e Doces.
Resultados:
ROSÉ: Château de Pourcieux Côtes de Provence – 2011
Produtor: Château de Pourcieux – França – Provence
TINTO NOVO MUNDO: The Bernard Series Small Barrel S.m.v. – 2009
Produtor: Bellingham – África do Sul – Paarl
TINTO NACIONAL: Testardi Syrah – 2010
Produtor: Miolo Wine Group – Brasil – Vale do São Francisco
TINTO VELHO MUNDO: Casa de Santa Vitória Touriga Nacional – 2008
Produtor: Casa de Santa Vitória – Portugal – Alentejo
ESPUMANTE NACIONAL: Quinta Don Bonifácio Habitat Brut
Produtor: Quinta Don Bonifácio – Brasil – Serra Gaúcha
ESPUMANTE IMPORTADO: Lanson Brut Rosé
Produtor: Lanson – França – Champagne
BRANCO VELHO MUNDO: Trimbach Riesling Cuvée Frederic Émile – 2004
Produtor: Pierre Trimbach – França – Alsácia
BRANCO NOVO MUNDO: Undurraga T.H. Sauvignon Blanc – 2011
Produtor: Viña Undurraga – Chile – San Antonio
BRANCO NACIONAL: Sanjo Maestrale Integrus – 2010
Produtor: Sanjo – Brasil – São Joaquim (SC)
DOCES E FORTIFICADOS: Medium Rich Single Harvest – 1998
Produtor: Henriques & Henriques – Portugal – Madeira

Uruguai: patinho feio ou aposta no futuro?

Retomando nosso passeio pelos países produtores, vamos conhecer os deliciosos vinhos uruguaios. Quarto maior produtor sul americano, vinificam desde 1870 quando o imigrante basco, Don Pascual Harriague, plantou as primeiras mudas. Durante muitos anos, o principal produto eram os vinhos simples obtidos a partir da uva Isabel, não vinífera, vendidos em garrafões. 

A partir de 1980 começou uma grande revolução neste setor que mudaria o perfil do vinho uruguaio: grandes vinícolas iniciam a produção de vinhos finos, de alta qualidade. Vale a pena conhecer este processo que, na verdade, aproveitou uma boa base instalada como a Escola de Agronomia (1906), a Escola Industrial de Enologia (1940), e o Sistema de Controle de Pragas (1957) – ao contrário de Chile e Argentina, a Filoxera fez grandes estragos no país. 
O passo decisivo foi a criação, em 1987, do Instituto de Vinhos do Uruguai, com objetivos simples e metas que todos os produtores podiam alcançar: 
a) difusão e promoção dos vinhos no exterior; 
b) aumento da produção de vinhos de qualidade; 
c) promoção do turismo enológico. 
Criou um sistema de classificação muito simples e extremamente efetivo, sendo considerado, por muitos, uma dos mais perfeitos: duas categorias apenas: 

  • Vino de calidad preferente (VCP) – deve ser obtido obrigatoriamente a partir de uvas viníferas e só podem ser comercializados em garrafas de 750 ml ou menores; 
  • Vino común (VC), ou tradicional vinho de mesa vendido em garrafões, tetra pack e embalagens similares. Em geral um vinho rosado. Os vinhos não podem receber nomes estrangeiros. 

Com estas regras simples, a produção vinícola cresceu de forma segura atingindo as metas propostas. São mais de 100.000 hectares de vinhedos plantados com Tannat (36%), Merlot (10%), Chardonnay (7%), Cabernet Sauvignon (6%), Sauvignon Blanc (6%), Cabernet Franc (4%) além das variedades não viníferas para produção do vinho comum. Existem 270 vinícolas, muitas já se destacando no cenário internacional. Todas com uma excelente relação qualidade x preço nos seus produtos. 
Refletindo sua própria história de lutas e conquistas para se tornarem um país independente, os produtores uruguaios enfrentaram uma série de fatores adversos para atingirem o nível de qualidade de hoje. Uma pergunta comum é saber o que os diferenciam da Argentina e do Chile: o clima é semelhante, geograficamente estão no mesmo paralelo de outras regiões produtoras, a cultura de consumo de vinho se equivale. Perdem, apenas, as defesas naturais proporcionadas pelos Andes, mas compensam com trabalho sério e dedicado, o que chamou a atenção dos principais consultores internacionais que já estão atuando na região. 

As principais empresas e seus vinhos de ponta 
Os vinhos do Uruguai têm personalidade própria, não pretendendo ser isto ou aquilo, o que os tornam únicos. Quase sempre baseados na uva Tannat, conhecida localmente como Harriague, de origem europeia e perfeitamente adaptada ao terroir local. Muito tânica e de complexa vinificação, produz vinhos de cor intensa e muito encorpados, com aromas herbais e frutas negras. Bem vinificado, seus taninos são aveludados e se presta a cortes com outras uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Syrah. 

Destacam-se as vinícolas Pisano, Bouza, Juanicó, Filgueira e J. Carrau, que é considerada a primeira a produzir vinhos finos. Estabelecida desde 1930, quando plantaram seus primeiros vinhedos, passou por várias fases, tendo inclusive produzido bons vinhos no Brasil, entre eles o conhecido Chateau La Cave. Em 1976 iniciaram um projeto de vinhos de alto nível capazes de competir com os melhores do mundo. Fundaram a Vinos Finos Juan Carrau, plantando novos vinhedos na região de Rivera, junto à fronteira com o Brasil, além das plantações existentes em Canelones, próximo à capital Montevidéu. 

Um dos seus vinhos mais conhecidos é o AMAT, elaborado com 100% de Tannat dos vinhedos em Cerro Chapéu, Rivera. Colhidas e selecionadas manualmente, o mosto é fermentado em tanques abertos com remonta manual evitando-se qualquer tipo de bombeamento mecânico. Amadurecido por 20 meses em barris novos de carvalho francês e americano (50% e 50%) é engarrafado sem filtração e descansa por 1 ano antes da comercialização. 

Notas de Degustação:coloração intensa e muito encorpado. Aromas concentrados de frutas vermelhas, ameixa seca e alcaçuz. A madeira aparece em discretas notas de coco e tabaco, domando os taninos que são finos e aveludados o que se traduz em grande elegância e longevidade. Um vinho para ser guardado e apreciado no futuro. Potente, é ideal para acompanhar assados, queijos fortes, embutidos, etc. Recebeu diversos prêmios internacionais. O mais importante foi a medalha de prata na difícil competição International Wine Challenge de 2003, com a safra 1999. 

Como se isto tudo não bastasse, tem uma excelente relação custo x benefício. Na Zahil, seu importador exclusivo:http://www.zahilrj.com.br/vinhos/uruguai/678.aspx Custa menos de R$ 150,00 (dados de 2012). Vale cada centavo! 

Dica da Semana: Para começar a gostar e entender os segredos destes deliciosos vinhos. 

Las Brujas Tannat Reserva 
Safra: 2009 
Produtor: Gimenez Mendez 
Região: Las Brujas, Canelones. 
Uva: 100% Tannat 
Envelhecimento: 3 meses em carvalho americano 
Vinho tinto uruguaio. Excelente equilíbrio entre a acidez, a fruta e os taninos. Sua coloração é vermelha escura com reflexos pretos. Um vinho com estilo, equilibrado e estruturado. Sabores que lembram marmelada, ameixas pretas e que preenchem o paladar. Ótimo acompanhamento para carnes de caça e carnes vermelhas bastante condimentadas.

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