O melhor é deixar a prosopopeia de lado. Hoje vamos começar a cumprir algumas promessas antes que entrem na relação dos arquivos mortos. Primeiro, as mais recentes.
Uma das colunas que mais nos surpreendeu foi a das garrafas. Movimentou bem a caixa postal e trouxe uma nova visão sobre a curiosidade de nossos leitores. Na sequência, fizemos um pequeno desafio sobre as garrafas de Chianti, envoltas em palha. Havia uma foto, logo abaixo, mostrando a garrafa sem a palha e revelando, para os mais atentos, uma das razões da curiosa embalagem, mas não todas. A brincadeira era completada na Dica da Semana, quando sugeríamos um Chianti em garrafa Bordalesa e perguntávamos onde estava a forma tradicional.
A primeira leitora a responder o teste foi a Mariana Almeida, de Uberlândia, sugerindo que a palha era uma forma de proteção, neste caso, para manter uma temperatura agradável para o consumo: acertou parcialmente, é uma forma de proteção, mas para outras finalidades.
A resposta completa foi dada por um dos meus confrades, Mario Ramos, numa verdadeira aula sobre esta tradicional garrafa italiana. Saboreiem:
“Caro Tuty,
A palha era originariamente usada para proteger as garrafas (frágeis, sopradas à mão) e colocá-las em pé em cima das mesas graças ao formato achatado da base de palha. Facilitava muito a guarda das mesmas, com o hábito de pendurá-las no teto, paredes ou hastes, economizando espaço. Depois por tradição. Posteriormente a uma fase de conceito baixo (e as garrafas já eram seguras e perfeitas) alguns produtores resolveram mudar para o formato bordalês, numa tentativa de recuperar o prestígio.
Mário”
Resolvida esta questão, vamos propor outra: Por que será que existe aquele recesso no fundo das garrafas de hoje? Para ajudar, existem algumas explicações, mas uma é a razão original, as demais seriam usos alternativos para este detalhe. Cartas para a redação! (não resisti ao chavão)…
O nosso comparsa José Paulo Gils está de volta:
O assunto não poderia ser outro que o polêmico tema das Salvaguardas. Gils chamou a nossa atenção para dois textos publicados no Blog Wine Report.
O primeiro, de Alexandre Lalas, intitula-se “A Luta Continua” e trata da audiência pública promovida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) no dia 28/06/2012 para julgar a necessidade de aplicação das salvaguardas. (http://www.winereport.com.br/winereports/a-luta-continua/2021)
Reproduzo, a seguir, os dois últimos parágrafos:
“Nos corredores do MDIC corre a certeza de que o pedido de aplicação de salvaguarda para o vinho nacional carece de embasamento técnico. No entanto, a pressão política exercida pela corrente gaúcha do Governo Federal pode fazer com que a salvaguarda seja adotada assim mesmo. Em recente entrevista a uma rádio gaúcha, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, garantiu que o pedido seria aceito, independente da posição do MDIC.
Caso a salvaguarda seja adotada, um boicote aos vinhos nacionais dos produtores que não se manifestaram contra o pedido pode causar sérios prejuízos à indústria vinícola nacional. Um abaixo-assinado contra o pedido já ultrapassou as 10 mil assinaturas”.
De lastimável, somente a declaração inoportuna do Ministro do Desenvolvimento Agrário, Sr. Pepe Vargas, também conhecido por Gilberto José Spier Vargas, gaúcho de Nova Petrópolis. Acho que não é preciso falar mais nada… O segundo texto, de Rogerio Rebouças, “Não há Caso” , comenta a atuação na audiência de dois representantes da indústria vinícola europeia, o Secretário-geral do Comitê Europeu das Empresas de Vinho (CEEV), Sr. José Ramon Fernandez e o Sr. Nicolas Ozanam Secretário-geral da Federação dos Exportadores de Vinhos e Espirituosos da França (FEVS).
(http://www.winereport.com.br/winereports/nao-ha-caso/2023)
Reproduzo alguns trechos abaixo:
“O que os europeus tentaram mostrar na audiência é que não existem as condições necessárias, como alega o IBRAVIN e demais entidades gaúchas, para a aplicação das Salvaguardas. “Com base em todos os argumentos técnicos apresentados não há caso”, afirma Ozanam. Fernandez garante que o momento é de deixar os técnicos analisarem com calma as informações fornecidas e não jogar gasolina no fogo, ao menos da parte dos produtores europeus. Acredita que a questão técnica prevalecerá e também o bom senso. Seu desejo é de que esta disputa não tivesse sido criada e que os esforços dos produtores brasileiros fossem direcionados, conjuntamente com os importadores e produtores estrangeiros, em prol do vinho e de seu consumo. “Preferia estar investindo em promoção e formação ao invés de estar pagando advogados em Brasília”, assegurou.
A decisão técnica deve acontecer até o final de julho. “Fomos firmes, mostramos a real situação e aguardamos a decisão do Ministério. O abaixo-assinado, a mobilização dos consumidores, importadores, lojistas e donos de restaurantes, associações de Sommeliers e amantes do vinho e da imprensa foi muito importante”, constatou entusiasmado o Secretário do CEEV. “Não vamos nos precipitar, vamos aguardar agora a decisão. O ideal seria que todos no Brasil se unissem em prol do vinho e que não desperdiçassem tanta energia e recursos neste tipo de confronto que não ajuda o mercado. Se a indústria brasileira do vinho crescesse e puxasse o consumo seria melhor para todos. Prefiro uma pauta positiva”, concluiu”.
Vale a pena, também, ler um texto do colunista Didú Russo, “Salvaguardas, chegou a hora do Bom Senso”.
Dois pontos muito importantes ressaltados pelo colunista:
“Se saírem as Salvaguardas e os técnicos do MDIC já sinalizaram que seria uma decisão política e que viria em cotas e que provavelmente limitaria o mercado importador a algo como 40 milhões de litros/ano, o desastre estaria feito para os dois lados:
1) O mercado ficaria reduzido em relação ao volume de hoje, por tanto os preços subiriam para nós consumidores.
2) Os supermercados (60% da venda dos nacionais com 90 mil pontos de venda) partiriam para a retaliação, pois não são obrigados a vender vinho brasileiro. Já declararam isso. Os consumidores então nem se fale, já boicotam os nacionais neste momento.
3) Os importadores e suas associações entrariam no dia seguinte com pedido de mandado de segurança. Ainda existe Poder Judiciário no país graças a Deus. Aconteceu com o Selo Fiscal e deu no que deu. É muito provável que o mesmo roteiro se repita.
Este é o cenário do PERDE–PERDE. Ou seja, os dois lados querendo ganhar fazem com que todos percam”.
“Mas acontece que eu sou otimista, eu sou do GANHA–GANHA, onde os dois lados entram em entendimento, cada um negociando o que lhe é mais importante, cedendo daqui, concedendo dali e todos saem ganhando. E acredito nisso pelo seguinte:
1) Os produtores brasileiros já sentiram que o boicote acontecerá e que poderá quebrar de verdade muita gente além de desvalorizar os enormes investimentos dos grandes produtores.
2) A possibilidade de um mandado judicial é muito grande e muito provável. O que deixaria os produtores nacionais sem nada na mão para negociar e com a imagem lá em baixo.
3) Os importadores não querem de forma alguma um mercado limitado para baixo. Quem é que monta um negócio que não pode crescer e ainda terá que diminuir?
Pois por mais absurdo que possa parecer, este cenário é possível neste governo, como os fatos estão mostrando. Os técnicos do MDIC deverão encaminhar suas decisões técnicas ao Ministro até o fim de julho quando o assunto então iria aos Ministros que participam da Camex (*) para avaliar e decidir. Só então haverá uma decisão”.
(*) Camex – Câmara de Comércio Exterior, do Conselho de Governo, tem por objetivo a formulação, a adoção, a implementação e a coordenação de políticas e atividades relativas ao comércio exterior de bens e serviços, incluindo o turismo. O Conselho de Ministros é composto pelos seguintes Ministérios: do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que o preside; Chefe da Casa Civil da Presidência da República; das Relações Exteriores; da Fazenda; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Desenvolvimento Agrário.
Vinhos não comentados
Algumas das dívidas mais antigas surgiram durante a nossa viagem pelos grandes vinhos do mundo. Tivemos que fazer algumas escolhas, quase sempre muito difíceis. Na França, como decidir entre Bordeaux e Bourgone? Ou por que não optar pelos vinhos do Rhone, os mais premiados pelo respeitado Robert Parker? Na Itália, escolhemos o Barolo, deixando de lado joias como o Brunello di Montalcino, o Barabresco, os espetaculares Super- Toscanos e mais uma quase interminável relação de grandes vinhos.
Outra enrascada, um nó-górdio que nem a espada de Alexandre, o Grande, é capaz de dar jeito: continuamos obrigados a fazer escolhas… Sabedores que uma falha será inevitável, imaginamos uma saída criativa. Vamos escrever sobre as uvas viníferas, afinal, está será uma tarefa fácil, são cerca de 3500 variedades das quais, apenas, 1500 são usadas na produção de vinhos. Moleza!
Começamos na próxima semana! Um dia terminamos (se não descobrirem mais algumas durante este longo tempo). Para ajudar, vamos fazer algumas simplificações, por exemplo, nada destas uvas que estão nas garrafas do dia a dia, já estão mais que conhecidas e não gastaremos nenhum tempo com elas. Buscaremos outros caminhos para ampliar nossos horizontes. Como um efeito colateral, apresentaremos mais alguns grandes vinhos. Preparem-se!
Dica da Semana: o clima anda bom para vinhos encorpados e saborosos.
Zorzal Malbec 2010
País: Argentina / Gualtallary, Tupungato
Vinícola: Zorzal
Variedade: 100% Malbec
Zorzal representa a intensidade, o romantismo e a paixão Argentina. Localizada em um dos vales de maior altitude da Argentina, os vinhos surpreendem pela tipicidade, estrutura e personalidade, características únicas de um terroir de mais de 1.300 metros acima do nível do mar. Cor rubi intenso, aroma de framboesa. Na boca é redondo e bem equilibrado.
93 pts WS; 90 pts Descorchados 2012